Educação dos filhos: o poder da sintonia


Logo que a criança chega à escola, é possível avaliar a qualidade da comunicação praticada em casa, não importa a idade. Tudo começa na família, afinal são apenas 4 horas na escola. O restante do tempo, aproximadamente 20 horas, a criança passa sob os cuidados dos pais ou responsáveis. Vamos iniciar a nossa conversa compreendendo como a comunicação tem seu processo iniciado no seio familiar.

A origem da comunicação entre pais e filhos

Assim que nos tornamos adultos e formamos nossa própria família, é comum levarmos conosco o modelo de comunicação aplicado pelos nossos pais durante nosso processo de educação como filhos.

A nova família se forma, os nossos filhos nascem e nós acionamos o “piloto automático” da comunicação e saímos “operando por instrumentos”, repetindo termos, frases e expressões não verbais usados pelos nossos pais, muitos dos quais, apesar de discordarmos na essência, acabamos replicando com nossos filhos, numa comunicação que pode trazer efeitos desastrosos para a formação deles. Sabemos que ninguém deseja isso de forma consciente.

A boa notícia é que é possível romper o círculo vicioso de uma comunicação que se mostra ineficiente e inadequada, buscando outras alternativas virtuosas para dar qualidade à comunicação, gerando sintonia na relação entre pais e filhos.

Para ajudar os pais com algumas sugestões, valho-me das experiências que tive como mãe de duas filhas, hoje adultas, e das aprendizagens como professora, que se basearam nos ensinamentos de grandes estudiosos sobre educação de filhos, com especial destaque para a psicóloga Maria Tereza Maldonado, uma forte influência em minha vida pessoal e profissional, que com muita sabedoria deixou registrada uma obra de valor singular sobre como os pais podem ajudar os filhos a se desenvolver plenamente, usando para isso a linguagem do sentir. Recomendo a leitura dessa obra-prima¹.

Case

Lembro-me de um episódio ocorrido com A. C., uma das minhas filhas, quando ela completava 5 anos de vida e na época frequentava a pré-escola. Caminhando comigo na grama naquele dia, ela levava um brinquedo de que gostava muito, que acabou escapando de suas mãos e rolando para o meio da rua.

Infelizmente um carro trafegava naquele momento e passou por cima do brinquedo, amassando-o parcialmente. A. C. começou a chorar desconsolada ao ver o objeto danificado. Depois que o carro passou, eu o apanhei do chão.

Com o brinquedo resgatado, parei e disse a ela que compreendia sua tristeza por causa do ocorrido, pois sabia o quanto ela gostava do “Pintinho Amarelinho”, e lhe propus levar o brinquedo ao doutor “Conserta Brinquedos” (um senhor que fazia ajustes de brinquedos), quem sabe ele poderia resolver a situação. Ela concordou com a cabeça, mas ainda chorava sentida.

Logo atrás de nós, vinha uma outra mãe, a M. F., nossa vizinha de condomínio. Ela se adiantou e disse a A. C. que não precisava chorar, já que tinha um montão de brinquedos em casa, era só escolher outro e tudo estaria resolvido.

As intenções de M. F. eram boas, ela tentava, à maneira dela, resolver a situação, porém não conseguiu entrar em sintonia com o que A. C. estava sentindo naquele momento. Esse tipo de situação, retratada pela impossibilidade do adulto de compreender e acolher o sentimento da criança, é mais comum do que se imagina, justamente porque trazemos dentro de nós uma série de máximas advindas da forma como nossos pais se comunicavam conosco, e que vez por outra se manifestam.

Como então romper com esse modelo indesejável?

Conclusão

Maldonado explica que é preciso haver o “desenvolvimento da sensibilidade para enxergar não só a nossa maneira de ver, mas também para captar a visão subjetiva dos outros”. É preciso exercitar a compreensão da “perspectiva do outro”, procurando “entender o que o outro pensa e sente”, fazendo uso de uma comunicação de qualidade, carregada de empatia e capaz de abrir os canais de comunicação por meio de mensagens que expressem a sintonia entre pais e filhos. E a escola agradece!


Por Andréa Schoch | Mestre em educação, especializada em formação de professores e consultora Appai por meio da EAD.

¹Maldonado, Maria Tereza. Comunicação entre Pais e Filhos, Editora: Saraiva, SP, 2002.


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