Educação Inclusiva

Especialistas apontam estratégias para ambientes de aprendizado diversificados


Em um cenário educacional em constante evolução, a promoção da inclusão torna-se um pilar fundamental para o desenvolvimento de ambientes de aprendizado verdadeiramente diversificados. Sob o tema “Educação inclusiva: estratégias para ambientes de aprendizado diversificados”, surge um manual abrangente que visa contribuir na forma como concebemos o processo educacional. Este guia não apenas aborda a importância da inclusão, mas também se destaca por apresentar estratégias inovadoras destinadas a criar ambientes acolhedores para todos os alunos. Nessa busca pela equidade, a educação inclusiva emerge como um catalisador para o florescimento intelectual, onde cada indivíduo, independentemente de suas características, encontra espaço e suporte para prosperar. 

Para aprofundar nossa compreensão sobre as nuances e a eficácia das estratégias de educação inclusiva, convidamos Luciana Cordeiro Felipetto, fonoaudióloga clínica e educacional, psicopedagoga, Mestre em Ciências da Educação, autora do livro “A descoberta do mundo das letras” e coautora de “Neurociência e saúde educacional: vencendo limites”. 

Nosso segundo convidado é Geraldo Peçanha de Almeida, psicanalista pela Sociedade Internacional de Psicanálise de São Paulo, pedagogo, Mestre em Teoria Literária e Doutor em Crítica Literária, além de integrante da Academia Internacional de Literatura Brasileira.  Autor dos livros “A dignidade pedagógica. Uma pedagogia que aponta caminhos para a restauração e a reconfiguração da liberdade” e “Minha escola recebeu alunos para a inclusão. Que faço agora?”. 

Com vasta experiência e conhecimento aprofundado no campo, Luciana Cordeiro Felipetto e Geraldo Peçanha irão compartilhar insights valiosos sobre como implementar com sucesso práticas inclusivas, adaptando-as a diferentes contextos educacionais. Suas reflexões fornecerão uma visão especializada sobre a importância da inclusão e como as estratégias delineadas no manual podem moldar positivamente o futuro da educação para uma geração mais diversificada e participativa. 

Outro convidado nosso é André Codea, Mestre em Ciência da Motricidade Humana, Pós-graduado em Anatomia Humana, Biomecânica e Gestão Escolar e professor nas áreas de Neurociência Pedagógica e Docência do Ensino Fundamental, além de coautor no curso de Neurociência da Educação pelo CBI of Miami. Ele vai abordar a eficácia da conexão entre pedagogia e neurociência na promoção de uma sinfonia harmoniosa, na redefinição dos alicerces da educação, independente de fronteiras disciplinares, com intuito de uma compreensão mais profunda do processo de aprendizagem. 

Desvendando a Educação Inclusiva

Em um mundo cada vez mais consciente da necessidade de promover a igualdade e a inclusão, a Educação Inclusiva emerge como uma abordagem transformadora, redefinindo as estratégias educacionais para tornar os ambientes de aprendizado mais acolhedores e acessíveis a todos os alunos, independentemente de suas características individuais. O manual “Educação Inclusiva: estratégias para ambientes de aprendizado diversificados” surge como uma bússola para educadores, apresentando práticas inovadoras destinadas a criar espaços educacionais verdadeiramente diversos.  

Luciana Cordeiro Felipetto, especialista no assunto, afirma que definir a Educação Inclusiva é compreender o ato de capacitar educadores, práticas pedagógicas e metodologias para atender a um público diversificado na educação especial. Segundo ela, este público abrange desde crianças a adultos com necessidades particulares, englobando uma vasta gama de condições, como altas habilidades, superdotação, transtornos de aprendizagem e neurodesenvolvimento, incluindo autismo e TDAH.  

 

“A inclusão vai além de simplesmente admitir todos os alunos nas salas de aula, por ser uma missão que exige expertise e prática dos educadores, além de contribuir para a equiparação do direito de todos a uma educação de qualidade e ao acesso irrestrito às oportunidades educacionais e sociais dos cidadãos, tornando a sociedade um lugar mais justo e empático, com as mesmas possibilidades e condições para todos, independentemente de sua neurodiversidade, sexo, raça ou cor”, atesta Luciana Cordeiro Felipetto. 

Ao definir Educação Inclusiva e seu papel na sociedade, Geraldo Peçanha revela que por muito tempo a educação especial era tida como a possibilidade de ensinar algo àquele que, em tese, não poderia aprender. Segundo ele, nesse sentido tudo é levado na direção de desenvolver técnicas alternativas de ensino pra que a aprendizagem fosse alcançada. “Essa ideia teria que ser superada. Ou melhor, tem que ser superada. Apesar de ela ainda estar muito presente nas famílias que buscam melhorar a vida de seus filhos deficientes, essa questão já é ultrapassada porque reduz a inclusão ao trabalho escolar – e não é isso. Mas, há outro lado dessa história que é o direcionamento do tema da inclusão que paira hoje na sociedade. Essa ideia nos leva a crer que inclusão é um trabalho escolar. Novamente outro erro, e nesse caso mais grave que o primeiro, pois ao mitigar um processo tão amplo ao trabalho escolar nós acabamos reduzindo também o potencial da pessoa deficiente”, frisa Peçanha.  

De acordo com o psicanalista, a escola não é o todo da vida, mas uma parte dela. “Muitos alunos com deficiência talvez não apresentem resultados acadêmicos desejados, mas poderão se tornar artistas, atletas, músicos, dentre tantas outras coisas cujas habilidades quase sempre não podem ser apresentadas, desenvolvidas ou construídas somente na escola. A inclusão é, de fato, um processo social, de um todo que se aglomera e aglutina em torno da pessoa deficiente. Deixar essa função somente para a escola é o maior erro nessa questão”, atesta Peçanha. 

 

Inclusão com Empatia  

Ao falar sobre as práticas inclusivas em sala de aula, Peçanha afirma que suas recomendações para educadores incluem a melhoria das habilidades de compaixão e misericórdia. Pois o autor de “Minha escola recebeu alunos para a inclusão. Que faço agora?”  garante que essas competências socioemocionais são essenciais para construir um contexto social inclusivo no Brasil. “O processo de inclusão demanda paciência, compreensão, tolerância e espera, uma vez que cada criança se desenvolve em seu próprio tempo e dentro de suas possibilidades. A sociedade imediatista perdeu essa compreensão, o que está impactando negativamente nas pessoas com deficiência. É crucial que a escola entenda bem a natureza desse processo, que difere dos prazos e planejamentos tradicionais da educação”, adverte Peçanha, acrescentando que, para aprimorar suas habilidades em inclusão, os educadores devem ampliar sua visão de mundo, observar ao seu redor e contemplar a vida. Não se deve focar apenas em livros, teorias e orientações formais, mas olhar as coisas com amorosidade. Ao enxergar as injustiças e desafios enfrentados pelos típicos, os educadores devem questionar as oportunidades disponíveis para os atípicos. “A busca dos novos educadores deve ser direcionada para a conscientização e visibilidade dos alunos com deficiência na sociedade”, pontua ressaltando que os benefícios da educação inclusiva para os alunos atípicos são fundamentais, oferecendo-lhes oportunidades que antes eram inexistentes. “Essas possibilidades proporcionam uma transformação gradual na vida desses alunos, permitindo que ganhem novas chances e perspectivas”, afirma o mestre. 

De acordo com Felipetto, para os educadores que desejam adotar práticas inclusivas algumas recomendações são fundamentais. A especialista destaca, por exemplo, a importância do conhecimento contínuo e da capacitação, enfatizando a compreensão de metodologias ativas e a criação de Planos de Desenvolvimento Individual (PDI) ou Planos Educacionais Individualizados (PEI) para cada aluno. Luciana também ressalta a necessidade de superar preconceitos e desmistificar a condição, cobrando a implementação das diretrizes de Educação Inclusiva e o cumprimento da legislação. 

Colaboração e Tecnologia na Aprendizagem Inclusiva

Com o mundo cada vez mais digital, a promoção da inclusão demanda investimentos em recursos tecnológicos, como teclados virtuais, salas multifuncionais e sistemas informatizados. Para a autora do livroA descoberta do mundo das letras” – cuja finalidade é trazer identidade às pessoas com dislexia por meio de uma historinha em que a personagem principal é uma criança que apresenta esse transtorno – o uso de tecnologias para apoiar a aprendizagem inclusiva e a adaptação de materiais para diferentes tipos de deficiência passa pela colaboração entre escola, professores, pais e profissionais multidisciplinares. “A parceria entre esses agentes não apenas facilita, mas é fundamental para uma comunicação eficaz. Uma vez que o desenvolvimento de PDIs, como a fórmula essencial, alinhando objetivos, metas pessoais e estratégias para que cada aluno desenvolva suas potencialidades, requer a colaboração desses atores, permitindo práticas mais assertivas e individualizadas, promovendo a inclusão real no ambiente educacional”, destaca.  

Já Peçanha afirma que o termo “multidisciplinaridade” pode ser problemático, pois muitas vezes implica várias abordagens simultâneas, o que pode atrapalhar o desenvolvimento de crianças com necessidades mais complexas e exigentes. “O exemplo de um pai com um filho autista ilustra a importância de escolher abordagens específicas, como a construção do vínculo familiar, em detrimento de terapias múltiplas. O sucesso desse caso destaca que terapias multidisciplinares são apoios, não substitutos para a família, e que a abordagem individualizada pode ser crucial para o desenvolvimento integral da criança”, aponta. 

Quanto ao uso de tecnologias para apoiar a aprendizagem inclusiva e as adaptações de materiais e recursos para pessoas com deficiência (PCD), Geraldo Peçanha diz que depende da colaboração entre escola, professores, pais e profissionais multidisciplinares. No entanto, segundo ele, é crucial encontrar um equilíbrio, pois, assim como trazem benefícios, as tecnologias também podem causar prejuízos. “O desafio primordial na inclusão é a socialização, que demanda relacionamento, trocas reais e colaboração efetiva, elementos que nem sempre podem ser mediados pela tecnologia. A dependência excessiva dela pode afetar a capacidade dos indivíduos, tanto típicos quanto atípicos, de se relacionarem de maneira significativa no mundo real”, critica. 

 

Conexão entre Pedagogia e Neurociência

André Codea atesta a conexão entre pedagogia e neurociência como um ponto norteador no processo de aquisição de novos conhecimentos, habilidades ou atitudes. Segundo ele, as linhas entre essas duas disciplinas se entrelaçam em uma sinfonia harmoniosa, redefinindo os alicerces da educação. “Em termos gerais, entendo a pedagogia como uma ciência que estuda a educação, seu processo, seus agentes, suas finalidades, seus meios e seus fins. No outro espectro, a neurociência aborda o sistema nervoso, sua estrutura, seu funcionamento e suas relações com o comportamento. Ambas têm como ponto comum a aprendizagem, que pode ser entendida como um processo de aquisição de novos conhecimentos, habilidades ou atitudes”, elucida o Mestre em Ciência da Motricidade Humana. 

Ainda de acordo com Codea, a conexão entre essas duas áreas se dá justamente a partir da compreensão de que o aprendizado é um processo neurobiológico. “Ou seja, ele ocorre no cérebro, é influenciado por fatores biológicos, como a genética, a estrutura e o funcionamento do sistema nervoso, com fortes influências do ambiente, representado pelas experiências vivenciadas. Porém, permeando este fato neurobiológico, há também a compreensão da influência da subjetividade e da complementaridade dos saberes como elementos que se entrelaçam à nossa constituição orgânica. O entendimento da conexão entre pedagogia e neurociência pode ajudar na descoberta de como o aprendizado ocorre e no desenvolvimento de práticas pedagógicas mais eficazes”, garante o especialista. 

 

A Relação entre Pedagogia e Neurociência

“Não é desconhecido que há variados processos cognitivos envolvidos no aprendizado”, afirma Codea, ao explicar que as intricadas conexões neurais que formam a base do conhecimento, por meio da memória e da aprendizagem, permitem que os educadores possam alinhar suas práticas pedagógicas a esses princípios fundamentais. “O cérebro assimila informações quando aprende, e a memória consolida este aprendizado para uso futuro. Os profissionais da educação, por meio da formação continuada, podem otimizar seus métodos para uma aprendizagem mais eficaz. Assim, em uma dimensão teórica, a neurociência fornece uma base científica para a compreensão do aprendizado através do entendimento dos processos neurobiológicos envolvidos, o que pode ajudar os educadores a desenvolverem práticas pedagógicas mais efetivas, em especial para aqueles alunos que necessitam de um olhar mais atento em termos de inclusão”, assegura. 

Para André Codea, em uma dimensão prática, a neurociência pode ser usada para desenvolver estratégias pedagógicas específicas para variados grupos, entendendo que todos os alunos são diferentes entre si. “A compreensão das diferenças no desenvolvimento neurológico de crianças com deficiências pode ajudar os educadores a desenvolverem práticas pedagógicas mais adequadas a elas. Ao unir essas perspectivas, torna-se claro que a neurociência não é uma disciplina isolada. É a bússola que pode guiar os educadores no vasto oceano do conhecimento, direcionando-os para métodos de ensino mais eficientes e personalizados”, constata o autor do livro “Neurodidática: fundamentos e princípios”, enfatizando que a neurociência complementa a ação psicopedagógica na medida em que permite explicar condutas e comportamentos dos indivíduos a partir das correlações destes com o funcionamento cerebral, bem como a partir de análises tanto das funções cerebrais superiores quanto dos dispositivos básicos da aprendizagem. 

 

“Com o propósito de enfatizar e fortalecer a intrínseca relação entre pedagogia e neurociência, meu livro ‘Neurodidática – fundamentos e princípios’ busca apresentar uma abordagem inovadora no contexto brasileiro acerca dessa questão. Essa área surge da convergência entre a neurociência pedagógica e a didática, disciplinas cruciais no cenário educacional contemporâneo. A obra se revela como um recurso indispensável para aqueles que buscam orientações sobre a aplicação da neurociência pedagógica na prática escolar”, menciona André Codea.  

Ainda segundo o autor, a demanda do século XXI por novas metodologias de ensino e pela evolução na relação entre professor e aluno tornam essenciais o entendimento e a aplicação da neurociência pedagógica como suporte às ações docentes em sala de aula. “O livro, ao apresentar diversos fundamentos e princípios dessa área, visa preencher essa lacuna, oferecendo ideias embasadas no funcionamento do cérebro. Tais conceitos não apenas podem, mas devem ser aplicados no cotidiano do professor, simplificando suas práticas e aprimorando a experiência de aprendizado do aluno”.  

A proposta é ir além da teoria, proporcionando ferramentas concretas para enriquecer a prática pedagógica diária. É cada vez mais notório que a compreensão da relação entre pedagogia e neurociência pode contribuir para o desenvolvimento de ações mais eficazes e inclusivas. Diversos meios, como o EAD Appai, a Revista Educar, workshops, livros ou portais educacionais, como, por exemplo, o “Bora Neurar!” têm contribuído para disseminar conhecimentos fundamentais. Essas iniciativas não apenas capacitam educadores, mas também desempenham um papel vital ao compartilhar experiências e melhores práticas relacionadas à Educação Inclusiva.  

“Esses canais proporcionam visibilidade crucial para a questão, permitindo que a sociedade compreenda as necessidades e desafios enfrentados por alunos com necessidades especiais. Ao evidenciar estudos de caso e experiências bem-sucedidas, esses canais contribuem para a construção de um diálogo informativo e enriquecedor. Eles se tornam essenciais para disseminar informações, dar voz a quem já possui experiência e promover uma abordagem mais inclusiva na educação”, assegura Peçanha. 


Por Antônia Figueiredo 

Luciana Cordeiro Felipetto é fonoaudióloga clínica e educacional, psicopedagoga, Mestre em Ciências da Educação, escritora do livro “A descoberta do mundo das letras” e coautora de “Neurociência e saúde educacional: vencendo limites”, volumes 1 e 2, publicados pela WAK Editora. 

Geraldo Peçanha de Almeida é psicanalista pela Sociedade Internacional de Psicanálise de São Paulo, pedagogo pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), de São Paulo, Mestre em Teoria Literária pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) e Doutor em Crítica Literária pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Em 2020 passou a integrar a Academia Internacional de Literatura Brasileira, com sede em Nova Iorque, que tem Paulo Freire como patrono.  Entre os livros lançados estão “A Dignidade Pedagógica. Uma pedagogia que aponta caminhos para a restauração e a reconfiguração da liberdade” e “Minha escola recebeu alunos para a inclusão. Que faço agora?”. 

André Codea é Mestre em Ciência da Motricidade Humana pela Universidade Castelo Branco, Pós-graduado em Anatomia Humana e Biomecânica pela Universidade Castelo Branco, Pós-graduado em Gestão Escolar pela UFF, Profissional de Educação Física (Licenciatura Plena em Educação Física pela UFRJ). Professor nas áreas de Neurociência Pedagógica e Docência do Ensino Fundamental, coautor no curso de Neurociência da Educação pelo CBI of Miami. 


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