O que seria de nós hoje em dia sem as mídias sociais?


Há quem diga que elas chegaram pra ficar. Outros vão mais fundo e afirmam que jamais o ser humano voltará a viver sem elas. Estamos falando, é claro, das mídias sociais. O que parece não deixar dúvida é que, quando alguém contar a história das primeiras décadas do século XXI, não poderá de maneira alguma deixar de falar nelas como um personagem fundamental para se entender o modo de vida da maior parte dos habitantes do planeta Terra.

O poder delas é tão aterrador que nem a barreira das gerações, um obstáculo a várias inovações, pôde com elas. Basta ver a quantidade de idosos que hoje preenchem seu tempo postando fotos, compartilhando postagens, tuitando e participando de grupos. Aliás, um sinal dessa força é o próprio Whatsapp, que passou de um aplicativo voltado para a comunicação rápida de mensagens a uma verdadeira rede social, onde ocorrem as mais variadas formas de mobilização.

As mudanças que as mídias sociais causaram não só nas relações comuns, mas em outros campos como o mercado de trabalho, a informação e os meios de produção, são relativamente fáceis de identificar. O que na verdade constitui um bom exercício de reflexão são as implicações humanas dessa transformação. Isso porque o grande espaço ocupado pelas mídias sociais na vida da maioria das pessoas levanta, por incrível que possa parecer, questões filosóficas importantes.

Basta refletir que, quando estamos nos comunicando, por exemplo, num grupo de familiares, estamos vivenciando um momento singular em que nossas emoções, preferências e sentimentos estão temporariamente transferidas para um lugar onde não estamos fisicamente. Se pensarmos na famosa frase de Vinícius de Moraes de que “a vida é a arte do encontro”, podemos constatar que possivelmente estaremos ignorando pessoas que estejam no mesmo ambiente que nós e que talvez poderiam nos proporcionar experiências marcantes. Será? O encontro passa a ser nos caracteres e emojis das redes sociais? Talvez, não faz mal a reflexão!

Mas sem dúvida um dos mais importantes benefícios das mídias sociais está na possibilidade de uma maior democratização da informação. Esta, aliás, nunca mais voltará a ser o que foi um dia, ou seja, um monopólio de grandes grupos empresariais. A liberdade de expor a opinião, e até mesmo de profissionais do jornalismo poderem fornecer a informação, criou um quadro onde as grandes narrativas deixaram de ser uma prerrogativa dos que possuíam mais poder e passaram a ser construídas também por outros setores da sociedade.

O reverso dessa moeda é tão relevante quanto a democratização da informação. Estamos falando, claro, das famosas “fake news”, as notícias falsas que se misturam às supostamente verdadeiras, criando um clima de confusão na cabeça das pessoas, até porque a maior parte dos usuários de redes sociais jamais recebeu qualquer tipo de treinamento para compreender a diferença entre as notícias legítimas e as que usurpam.

Uma situação que tem preocupado muito as autoridades pelo mundo a fora, sobretudo pelas ameaças que isso pode oferecer às democracias, haja vista que muitos atribuem às informações falsas resultados eleitorais inesperados e preocupantes, como a eleição de Trump, nos Estados Unidos, e o Brexit, no Reino Unido.

Polêmicas à parte, o lado sombrio das mídias sociais não pode reinar soberano diante de tantos processos que elas possibilitaram. Afinal, através de redes como Facebook, Instagram, Twitter, Whatsapp, só pra citar os mais famosos, quantas boas coisas aconteceram! Tantos encontros (a vida é ou não é a arte do encontro, hein, Vinícius?), declarações de amor, fotos que registram momentos de alegria, amigos que se reencontraram depois de longo tempo. Esse lado bom das mídias sociais não pode ser jogado fora junto com a água do bebê indesejado da notícia falsa.

Enfim, nesse dia em que se para pra refletir sobre o papel desse verdadeiro símbolo do século XXI que são as mídias sociais, vale a pena pensar na responsabilidade que cada um assume no momento em que faz uma conta numa delas. Só depende de fazermos desse novo (e já nem tão novo) meio de socialização apenas uma atividade humana, onde se celebra as coisas boas e construtivas da vida, e rejeitar qualquer forma de empregar o benefício que é dispor de mídias sociais em coisas que sirvam para destruir as sofridas conquistas da humanidade. O futuro chegou até nós e continua em nossas mãos estendê-lo positivamente às futuras gerações.


Por Sandro Gomes | Professor, escritor, mestre em literatura brasileira e revisor da Revista Appai Educar.


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