Como concorrer com o celular na disputa da atenção dos alunos?


Esse panorama vai se agravando com o avançar das séries. Antes uma forma de controle era limitar o acesso do Wi Fi dentro dos estabelecimentos escolares. Algumas permitiam apenas na biblioteca e laboratórios específicos, como forma de blindar a sala de aula. Porém, esse portal de proteção acabou sendo rompido com o barateamento dos planos de dados com ofertas de combos familiares e vendas de pré-pagos. Sendo assim, fizeram diminuir ainda mais este controle e proliferar a utilização em todas as dependências.

Esse panorama também era bem diferente entre as escolas do governo e as particulares. No entanto, como efeito colateral dessa inclusão, as redes públicas e privadas estão cada vez mais próximas conforme demonstram os dados do PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) feita pelo IBGE.

Três quartos dos alunos da rede pública no país já acessam a internet regularmente. Isso representa 75% dos matriculados. Porém, entre os das escolas particulares quase todos já dispõem desse recurso, fechando o índice em 97,4%. Detalhe: A pesquisa só levou em consideração alunos acima dos 10 anos de idade.

Entre os estudantes, a parcela que tinha celular superou 68,0%. No entanto aí está a diferença social: os alunos da rede pública ainda possuem patamar bem mais baixo 59,4% enquanto os da privada em 90,3%.

Na população em geral, o celular com internet está presente em 66,3% na faixa entre 10 e 13 anos, 82,5%, entre 14 e 17 anos, 85,4%, entre 18 e 19 anos, de 85,2% entre 20 a 24 anos.

Mudança de Comportamento

Nas escolas que liberavam o Wi Fi no pátio era nítida a percepção de que os alunos ficavam “aparentemente” mais calmos. Como efeito colateral imediatamente diminuíam as correrias e brincadeiras. Até as brigas eram, reduzidas. O que nitidamente não acabou foi o bullying já que este imediatamente ganhou a versão ciber, ainda mais silenciosa para a percepção dos professores.

É que uma outra pesquisa, esta da Universidade da Coreia do Sul, apresentada nos Estados Unidos, aponta que adolescentes viciados nessas tecnologias têm maior chance de sofrerem com problemas como depressão, ansiedade, insônia e impulsividade. Esses estudos avançaram do comportamental para o físico e através de ressonância magnética: conseguiram comprovar que a dependência virtual provoca alterações no equilíbrio químico do cérebro.

Celulares diminuem ou aumentam a interação?

Os mais críticos enxergam neste comportamento o fim da interação. Mas será? Se observamos a necessidade mais forte de socialização nesta faixa etária faz com que continuem em grupos, juntos, amontoados… embora estejam cada um compenetrado com o seu celular. Mas isso não quer dizer que não haja comunicação. Ela acontece entre eles, porém de outra forma.

A própria pesquisa do IBGE justifica isso, mostrando que as pessoas não estão isoladas. Ou seja, 94,2% dos que utilizam a internet é para trocas mensagens de texto, áudio, imagens, seguida pelo compartilhamento de músicas, clipes, vídeos, programas, séries e filme (76,4%).

Já as salas de aula até podem ficar mais silenciosas ( com menor quantidade de “papos paralelos”) porém tem hora em que nós professores temos a sensação de que estamos falando sozinhos ou para uma quantidade mínima de estudantes. Um ditado antigo diz que “se não pode com o inimigo, junte-se a ele”. Uma forma de tentar chegar até os alunos pode ser usando justamente o mesmo artifício: o celular. Pesquisas mostram que quando o professor consegue transportar alguma das atividades de sua aula analógica para o ambiente digital o resultado costuma ser positivo.

Brasileiros: 200 minutos por dia em aplicativos

Dados desse estudo do IBGE apontam que os brasileiros gastam cerca de 3 horas e meia por dia em aplicativos. Embora não tenha feito o recorte específico entre os estudantes, quem trabalha com educação pode literalmente afirmar que entre adolescentes esse tempo é muito maior.

Quem mais é viciado em internet?

O perfil dos usuários também apresentou variações. Os não estudados (sem instrução) representam 11,2% dos ouvidos, os com fundamental completo 43,6%. O curioso é o grupo com superior incompleto representa 97,1% enquanto os já com a graduação completa chegam a 95,7%. Isso pode ser facilmente explicado pois enquanto eles estão estudando a demanda por pesquisa é maior do que após formados.

Celular: mais usado como acesso à Internet

O aparelho móvel é o principal meio de navegação dos brasileiros mesmo dentro de casa, representando 97,2% ( presentes em quase 47 milhões de residências). O computador ficou em segundo lugar estando em mais da metade (57,8%) desses domicílios. Enquanto isso, o tablet está na terceira posição (17,8%), seguido pela televisão com acesso a internet (11,7%).

A pesquisa é referente ao ano de 2016 portanto como sabemos que o comportamento em tecnologia segue a velocidade da luz, possivelmente o quadro, hoje em 2018, já deve ter avançado.


 Luiz André Ferreira, Jornalista/professor, apresentador da Rádio Appai e Mestre em Projetos Socioambientais e Bens Culturais.


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