Jogos e Tecnologia na Conscientização da Acessibilidade

A inovadora abordagem dos alunos do Fundamental II na promoção da inclusão


Como parte da atividade implementada pela rede municipal chamada de o “Mês da Acessibilidade”, alunos do Fundamental II e professores da escola Irena Sendler, localizada em Mesquita, Rio de Janeiro, mostraram que se pode adquirir um profundo entendimento, criar e ainda desenvolver habilidades técnicas e inovadoras sobre diversas deficiências de maneira lúdica e prazerosa. Orientados pelos professores Thiago Ribeiro de Carvalho e Antônio Amaral, de Geografia, e Jahi Cezar, de História, eles mostraram o quanto a tecnologia pode ser uma grande aliada na promoção da conscientização acerca das Pessoas com Deficiência (PCD).  

O uso da tecnologia na solução de problemas

Tudo teve início a partir do cumprimento do calendário da rede municipal de ensino, que realizou o “Mês da Acessibilidade” em suas escolas, repassando aos docentes a responsabilidade de conduzirem atividades relacionadas ao tema com as suas turmas. O formato e a aplicabilidade ficariam por conta de cada docente.  

Por ser um dos defensores de jogos, da gamificação, como ferramenta no processo de aprendizado, por acreditar que a educação deve ser mais envolvente e significativa e entendendo que essa geração de alunos está continuamente imersa no universo dos videogames, Thiago se perguntou por que não aproveitar essa afinidade para promover a conscientização sobre as PCDs?  

O professor pontua que, diante dessa perspectiva, os alunos, com a orientação dele e dos outros dois colegas docentes acima citados, poderiam criar uma experiência única, juntando aprendizagem ao lúdico, utilizando a plataforma digital Genially, que oferece recursos gratuitos. 

Como se deu o processo em sala de aula

“Os alunos foram divididos em grupos, cada um deles responsáveis por escolher e elaborar perguntas e apresentar respostas ao problema, a fim de criar um jogo estilo escape room, um ambiente onde as pessoas precisam resolver enigmas usando pistas para solucionar o mistério e conseguir sair da sala. “Eles tiveram que criar o problema e elaborar as perguntas, dentro da subtemática da acessibilidade que pensavam em trabalhar. A escolha era livre, tanto que alguns optaram por autismo, enquanto outros abordaram o daltonismo e, a partir daí, a ideia era criar perguntas que levassem outras crianças a uma maior conscientização, o que perpassou pelas diferenças de cada uma, nomenclatura correta e outros aspectos relevantes sobre aquela deficiência”, ressalta Thiago. 

Na turma 902, o professor Antônio liderou um projeto de conscientização, envolvendo a criação de cartazes e entrevistas nas ruas do centro da cidade de Mesquita, abordando o tema da acessibilidade. Enquanto isso, Thiago e Jahi ficaram responsáveis pela atividade dos alunos da 901, envolvendo a criação dos jogos. “Falei aos estudantes que, se eles fossem bem-sucedidos, encaminharia o trabalho deles para avaliação na Revista Digital Appai Educar”, o que os deixou ainda mais motivados. 

Os diversos temas abordados, incluindo síndrome de Down, autismo, deficiência motora, baixa visão e daltonismo, foram escolhidos pelos próprios alunos, que inicialmente conduziram as pesquisas em grupos, utilizando tablets fornecidos pela escola. Em outra fase do projeto, os estudantes foram incumbidos de elaborar perguntas, podendo escolher entre as mais relevantes encontradas na internet ou criar outras originais sobre seus temas.  

Desafios e conquistas do processo

“Nós, os professores, estabelecemos um mínimo de 5 perguntas por grupo, a fim de que não ficasse algo muito extenso e difícil de concluir”, ressalta o professor Thiago. “Posteriormente, cada equipe criou um cadastro e usou a Genially para desenvolver um jogo de escape com base em seu tema. A plataforma apresentou algumas dificuldades quando utilizada em tablets, então auxiliamos cada grupo usando um notebook. Ao final, tínhamos cinco jogos prontos e revisados”. 

O que muitas vezes é aparentemente simples na prática pode ser desafiador, explica o professor ao falar, por exemplo, do acesso limitado ou inexistente de alguns alunos a dispositivos digitais. “Vários deles não possuíam sequer endereços de e-mail para se cadastrarem na plataforma. Dedicamos algumas aulas para ajudá-los incluindo a criação de endereços eletrônicos necessários para as etapas subsequentes e para outras atividades desenvolvidas fora do projeto da acessibilidade”, explica Thiago. 

De acordo com os professores, os alunos envolvidos no desenvolvimento dos jogos e na seleção ou criação de perguntas têm, em média, cerca de 15 anos de idade. “Isso mostra como essa garotada tem potencial criativo, basta um apoio efetivo”, frisa o professor Thiago, acrescentando que, na semana seguinte à conclusão dos jogos, a turma 901 organizou uma apresentação no auditório da escola, onde recebeu todas as outras do Ensino Fundamental II para disputar os jogos de escape que os estudantes criaram, totalizando aproximadamente 120 alunos da Irena Sendler, que é uma das unidades de ensino integral do município. 

 

Conquistas individuais e coletivas

Ao desenvolver os jogos, os alunos não apenas desenvolveram habilidades técnicas e criativas, mas também adquiriram um profundo entendimento sobre diversas deficiências. Este processo não se limitou à mera criação de entretenimento, pois proporcionou aos estudantes uma valiosa imersão na importância da acessibilidade. Além disso, a experiência os conduziu a uma conscientização mais ampla sobre o respeito nas interações com pessoas com deficiência, destacando a necessidade crucial de adquirir conhecimento para combater preconceitos. Essas conquistas individuais transcenderam a seara dos jogos, estendendo-se para a esfera social, uma vez que os alunos também dominaram a utilização de uma plataforma versátil com aplicabilidade em diversas atividades. 

Para os docentes, seguindo a ideia de Paulo Freire, que enfatiza a educação coletiva, os alunos puderam compartilhar os conhecimentos adquiridos com todos os colegas do Ensino Fundamental II. “Tenho certeza de que esse trabalho terá um impacto duradouro em suas vidas. Esses estudantes contribuíram para uma aprendizagem coletiva, na qual muitas outras pessoas tiveram acesso a informações que desconheciam, tudo de maneira envolvente e prazerosa, utilizando uma linguagem com a qual se identificaram”, comemoram os professores envolvidos. 


Por Antônia Figueiredo 

Escola Municipal Irena Sendler
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CEP: 26554-520 
Tel.: (21) 2797-9010 


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