REVISTA APPAI EDUCAR EDIÇÃO 140

OPAPELDA CRECHE NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL Ano25–140-2022-CIRCULAÇÃO DIRIGIDA – DISTRIBUIÇÃOGRATUITA Entendaaimportânciadessenovoambienteedequeformaeducadores podemestimularoaprendizadonessafasetãoprimordialnavidadospequenos

2 Língua Portuguesa Conselho Editorial Julio Cesar da Costa Ednaldo Carvalho Silva Jornalista Editora Antônia Lúcia Figueiredo (M.T. RJ 22685JP) Assistentes de Editorial Jéssica Almeida e Richard Günter Designer e Assistente Gráfico Luiz Cláudio de Oliveira Yasmin Gundim Revisão Sandro Gomes Andréa Schoch Professores, enviemseus projetos para a redação da Revista Appai Educar: End.: Rua Senador Dantas, 117/229 2º andar – Centro – Rio de Janeiro/RJ. CEP: 20031-911 E-mail: jornaleducar@appai.org.br redacao@appai.org.br www.appai.org.br EXPE DIEN TE

Revista Appai Educar 3 Língua Portuguesa Por Sandro Gomes* *Sandro Gomes é graduado em Língua Portuguesa e Literaturas Brasileira, Portuguesa e Africana de Língua Portuguesa, Revisor da Revista Appai Educar, Escritor e Mestre em Literatura Brasileira pela Uerj. BREVE ESTUDO DOS COMPLEMENTOS VERBAIS Complementos Verbais são aqueles que completam o sentido de verbos transitivos, ou seja, aqueles que, por não apresentarem sentido completo, necessitam de algum tipo de continuidade. Podem ser: Diretos, quando completam o sentido de verbos que pedem complemento sem necessidade de preposição. Exemplo: Fechei os olhos diante daquela cena. Em alguns casos, o objeto direto pode ser antecedido por preposição. Veja: Louvemos a Deus por isso. (O objeto é um substantivo próprio.) Elogiei a todos pelo feito. (O objeto é um pronome indefinido.) Obs.: Repare que, nos dois exemplos, o verbo da oração pede complemento direto. Indiretos, quando o complemento tiver de ocorrer através de preposição. Exemplo: Ela não precisou de muito para atingir a meta. Há casos em que a preposição que caracteriza o objeto indireto aparece embutida na figura da crase. Observe: Entregaram àquele aluno o que lhe era de direito. Bitransitivos, quando os dois tipos de complemento são necessários. Enviei uma mensagem de última hora ao professor. Casos especiais de complementos verbais Objeto (direto ou indireto) Pleonástico Ocorre quando, para colocar em destaque um objeto, este é representado por um pronome pessoal. Acompanhe os exemplos: Os alunos, eu os encontrei na biblioteca. (objeto direto) A todas as crianças, nós lhes oferecemos o que comer. (objeto indireto) Obs.: Note que nas duas orações os objetos, que já haviam aparecido antes, são representados através de pronomes. A repetição de funções ocorre meramente por um objetivo de realçá-las no contexto. Objeto direto em verbos intransitivos? Por mais estranho que possa parecer, há alguns casos em que verbos intransitivos podem exigir um complemento, no caso, de forma direta, tudo dependendo do contexto. Veja. Arrependido, chorou lágrimas de crocodilo pelo que praticou. Pronomes oblíquos funcionando como complemento verbal • Os oblíquos o, a, os, as, bem como suas variações (lo, la, los, las, no, na, nos, nas), sempre exercem função de objeto direto. Exemplos: Achei-os no quarto. / Muito bom encontrá-las aqui. • Já os oblíquos me, te, se, nos, vos podem tanto aparecer como diretos quanto como indiretos. Nos dois exemplos abaixo, basta substituir os pronomes por substantivos para ficar clara a diferença de transitividade. Ele me (a mim – indireto) viu no transporte público. Viu-o (direto) no transporte público. Amigos, sobre Complemento Verbal é isso. Até a próxima, pessoal!

4 Revista Appai Educar Opinião A IMPORTÂNCIA DE DESENVOLVER A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL DESDE A EDUCAÇÃO BÁSICA PARA FORMAR PROFISSIONAIS CAPACITADOS ÀS NOVAS EXIGÊNCIAS DO MERCADO Camila Rossi* Atualmente, a competitividade domercado de trabalho demanda profissionais cada vez mais qualificados. Mas, o que é ser umprofissional competente? De acordo comum levantamento realizado pelo site de recrutamento CareerBuilder, as habilidades sociais são consideradas, por 77% das empresas, tão importantes quanto as técnicas no dia a dia do trabalho. Alémdisso, uma recente pesquisa desenvolvida pela empresa PageGroup revela que as habilidades comportamentaismais valorizadas por líderes empresariais da América Latina são trabalho em equipe, comunicação assertiva e inteligência emocional, sendo que, noBrasil, essa última é considerada amais importante delas. Nesse sentido, o setor educacional possui um papel fundamental para a formação integral de um profissional competente. Para atender às exigências atuais do mercado é imprescindível aplicar ferramentas educacionais desde a Educação Básica a fim de desenvolver no indivíduo, além das competências cognitivas, uma inteligência emocional consistente e prepará-lo por completo para os desafios. Damesmamaneira, a educação socioemocional pode auxiliar no desenvolvimento das soft skills, habilidades comportamentais referentes àmaneira como uma pessoa se relaciona coma outra e como lida com suas próprias emoções, aomesmo tempo. Tanto é que, hoje emdia, sãomuitomais valorizadas no ambiente de trabalho emcomparação às hard skills, que são as aptidões técnicas de umprofissional. Como desenvolver a inteligência emocional durante a formação escolar? O período escolar é a fase em que os estudantes absorvem a maior parte do conhecimento e experiência que irão levar para a vida pessoal e profissional.

Revista Appai Educar 5 Portanto, investir nesta etapa pode ser decisivo no presente e no futuro. As habilidades mais complexas podem ser aprimoradas nesse período e de forma colaborativa, tais como argumentar e criticar com embasamento e pesquisar de modo aprofundado e criterioso. Este processo deve ocorrer de forma prática, mas sistematizada e como intencionalidade, para trazer resultados eficazes à aprendizagem do indivíduo, que, por sua vez, é o centro de todo este processo. Ou seja, no desenvolvimento socioemocional, as aprendizagens são avaliadas por meio de evidências e não pela quantidade de erros e acertos em uma prova ou teste. Sendo assim, uma escola que conduz ações para a formação do aluno investindo em suas habilidades, competências cognitivas e socioemocionais desenvolve, consequentemente, a inteligência emocional daquele estudante. Tais competências podem ser trabalhadas a partir das atividades propostas no cotidiano, com olhar e intencionalidade formativos, e podem ser avaliadas por rubricas. O impacto da pandemia na saúde emocional dos alunos Em 1º de janeiro deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu a Síndrome de Burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, entre as doenças ocupacionais da Classificação Internacional de Doenças (CID). Nesse sentido, as mudanças trazidas pela pandemia de Covid-19, como o isolamento social e o subsequente trabalho remoto, aumentaram a carga de trabalho de diversos profissionais. Este contexto apenas reforça a importância da inteligência emocional para lidar commomentos de pressão e carga de trabalho multiplicada. Dessa forma, para prevenir este diagnóstico no futuro, as instituições de ensino devem cada vez mais se atentar às individualidades de cada aluno para entender o que ele precisa no momento, além de realizar iniciativas de acolhimento, como rodas de conversa, assembleias e grupos focais para fortalecer o apoio individual e coletivo. No mesmo sentido, incentivar a autoconsciência, resiliência e o cuidado consigo mesmo também constituem objetos de conhecimento que possibilitam o desenvolvimento de estratégias de proteção ou de enfrentamento a situações novas ou desafiadoras. Assim, uma instituição que se preocupa com a formação integral de seus alunos e prioriza o desenvolvimento da inteligência emocional para prepará-los para o atual e exigente mercado de trabalho deve considerar seis pontos importantes em sua metodologia de aprendizagem: autogestão, relacionamento interpessoal, autoconsciência, abertura ao novo, projeto de vida e consciência social. Ao estimular cada um desses aspectos durante todo o processo de formação educacional de um indivíduo, certamente garantirá no futuro um profissional capacitado não apenas técnica, mas também emocionalmente, em condição de perceber e responder às exigências atuais com sensibilidade e prontidão para fazer a diferença no mundo. *Camila Rossi é coordenadora pedagógica da rede de colégios Santa Marcelina, instituição que alia tradição a uma proposta educacional disruptiva e alinhada às principais tendências do mercado de educação.  Os conceitos e opiniões emitidos em artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores.

6 Revista Appai Educar PEDAGOGIA CRIATIVA Professora mostra que dá para inovar em sala de aula mesmo com poucos recursos Educação Infantil Inovar na educação nem sempre está atrelado a grandes investimentos financeiros. Às vezes, um pouco de criatividade faz toda a diferença! E quemmostra isso na prática é a educadora dos anos iniciais e coordenadora pedagógica Debora Teixeira. Através do Instagram e de um blog, ela cria e compartilha recursos interativos, jogos, painéis e até lembranças para o seu público, que corresponde a mais de 150 mil professores. A docente conta que sempre gostou de criar e inovar. Dessa forma, influenciada por uma amiga que compartilha dicas de decoração de casa nas redes sociais, Debora abriu uma página para divulgar os inventos criativos do seu cotidiano em sala de aula. “Comecei compartilhando as ações feitas nas minhas aulas, mas percebi que alguns professores queriam reproduzir, porém a habilidade manual era uma barreira”, lembra.

Revista Appai Educar 7 Foi aí que a professora teve a ideia de ajudar a todos que pediam auxílio. Para isso ela começou a digitalizar suas ideias. “Recebia sugestões do Brasil inteiro e produzia para atender cada professor. Durante a pandemia o número de educadores que estavam na minha página no Instagram (@pedagogiasemverba) só aumentava. Além disso, percebi que esses educadores pediammuitas lembrancinhas, para enviar a proposta pedagógica e um gesto afetuoso para os seus alunos”, explica Debora. Como ela gosta de pensar e criar recursos interativos e jogos, ela desenvolveu também um blog para facilitar a entrega gratuita dos materiais e manter o contato com os professores no Instagram. “Iniciei e sigo entregando gratuitamente os materiais que crio. Ao longo do caminho a produção de arquivos começou a gerar custos, pago diferentes serviços para produzir os arquivos. Ano passado oficializei uma parceria e comecei a vender alguns para financiar o projeto gratuito. Hoje tenho mais de quatrocentos e quarenta arquivos gratuitos e sete produtos pagos”, pontua a educadora.

8 Revista Appai Educar Um dos materiais produzidos por Debora é o kit Higiene Bucal, um arquivo digital em formato de PDF pronto para imprimir. O documento contém painéis interativos para enriquecer a abordagem do tema saúde bucal com os pequenos. Composto por quatro painéis, o primeiro apresenta a sequência correta para uma boa escovação e cada etapa conta com ilustração. No segundo, a criança conseguirá desenhar nos dentes e apagar com a escova. Já o terceiro apresenta a língua e a possibilidade de interação, desenhando as placas bacterianas e apagando. E, por fim, o quarto painel permite passar um barbante entre os dentes para simular o fio dental. Legal, né? De acordo com Debora, o feedback que recebe dos professores de diferentes regiões do Brasil é o combustível para ela continuar fazendo esse trabalho.

Revista Appai Educar 9 “Recebo mensagens lindas, relatos incríveis que tocam a alma. Alguns docentes mandam até áudio orando por mim, outros enviam presentes para a minha filha. Somos uma rede! Atualmente até os estudantes em pedagogia chegaram no meu perfil e interagem comigo por diferentes motivos. Fico encantada!”, conta. Se você é professor e quer conhecer mais sobre o trabalho da Debora, basta procurar no Instagram por @pedagogiasemverba. Por lá você encontra diversos materiais que vão deixar a sua aula ainda mais divertida! Por Jéssica Almeida Fotos cedidas pela professora

10 Revista Appai Educar BNCC E A IMPRENSA MIRIM Língua Portuguesa

Revista Appai Educar 11 Saiba como o texto jornalístico pode contribuir para o aprendizado e a formação dos alunos

12 Revista Appai Educar Muito se discute a utilização dos jornais como complemento de projetos pedagógicos em sala de aula. Quem viveu a escola até meados da primeira década dos anos 2000, certamente lembra das atividades em que se fazia recortes e colagens dos periódicos, que também servia como fonte de pesquisa em det erminados casos, como a produção de textos. Hoje em dia quase não se usa de forma física, mas a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) desafia sua utilização até hoje (vamos ver isso mais à frente). Os jornais também funcionaram como fontes de inspiração de muitas turmas que resolveram produzir seus próprios periódicos em sala de aula. O intuito era diverso e completamente versátil em relação à aplicabilidade nas disciplinas. Com essa matéria, você vai se inspirar na hora de criar seu material de língua portuguesa cumprindo as normas da BNCC. Para começar, é primordial folhear, apreciar, ler e entender a estrutura dos jornais. Afinal, quais são os objetivos deles? São inúmeros em circulação pública e cada um tem sua particularidade, seja no conteúdo, na linguagem ou nas imagens. Para essa atividade, vamos seguir a habilidade sugerida pela BNCC, pois em seu documento normativo do Ministério da Educação (MEC) ela aborda elementos do jornalismo em vários aspectos, sugerindo que os professores de língua portuguesa podem desenvolver em suas propostas pedagógicas gêneros textuais, entre eles: poemas, crônicas, notícias, reportagens e textos científicos. Na prática, a Base traz algumas habilidades a serem desenvolvidas nas linguagens, como produzir resenhas críticas, mas também desperta atenção em novas ondas de acontecimentos, como as fake news. Por isso, um dos tópicos sugere analisar o fenômeno da disseminação de notícias falsas nas redes sociais e desenvolver estratégias para reconhecê-las, a partir da verificação/avaliação do veículo, fonte, data e local da publicação, autoria, URL, a análise da formatação, a comparação de diferentes fontes, a consulta a sites de curadoria que atestem a fidedignidade do relato dos fatos e denunciem boatos, entre outros. Trata-se, em relação a este campo, de ampliar e qualificar a participação das crianças, adolescentes e jovens nas práticas relativas ao trato com a informação e opinião, que estão no centro da esfera jornalística/midiática. Para além de construir conhecimentos e desenvolver habilidades envolvidas na escuta, leitura e produção de textos que circulam no campo, o que se pretende é propiciar experiências que permitam desenvolver nos adolescentes e jovens a sensibilidade para que se interessem pelos fatos que acontecem na sua comunidade, na sua cidade e no mundo e afetam as vidas das pessoas, incorporem em suas vidas a prática de escuta, leitura e produção de textos pertencentes a gêneros da esfera jornalística em diferentes fontes, veículos e mídias, e desenvolvam autonomia e pensamento crítico para se situar em relação a interesses e posicionamentos diversos e possam produzir textos noticiosos e opinativos e participar de discussões e debates de forma ética e respeitosa Sobre o Campo Jornalístico Midiático (BNCC, p. 140)

Revista Appai Educar 13 Assim, explorar esse campo possibilita uma qualificação que está pautada na formação do pensamento crítico, na seleção confiável de fontes, na análise de produção e circulação de informações, no olhar crítico sobre o consumo, na atuação não somente como consumidores, mas também produtores de informações, além de dados que estão pautados pelos princípios da ética e cidadania consciente. Além do mais, o aluno que se desenvolve lendo jornal absorve o senso crítico, que o leva a questionar a veracidade e a natureza das fontes de informação de conteúdos jornalísticos e outros de origens diversas. O objetivo dessa ementa da BNCC é tornar os estudantes conscientes da atuação dos veículos de comunicação. A prática constante de leitura de jornais e a busca contínua por informações podemmotivar uma atitude engajada e interessada pelo que acontece além dos muros de uma instituição educacional.

14 Revista Appai Educar Dica de ouro: os alunos adoram praticar A professora de português da 5ª série Marilice Fernandes Heidemann, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Albano Kanzler, de Jaraguá do Sul (SC), teve uma grata surpresa. Diante desse desafio da BNCC, sua preocupação era desenvolver esses conteúdos de forma interessante, sabendo que os estudantes apresentavammuita resistência para ler e escrever. Então, um recurso apareceu como um presente. A mãe de uma aluna enviou para a turma exemplares de jornais, que acabaram se tornando o pote de ouro para a aprendizagem, pois ao analisá-los percebeu-se o quanto eles transbordavam gêneros textuais e o quanto poderiam ser valiosos. A partir desse pontapé inicial, a professora buscou desenvolver os diversos tópicos com a turma. “Elenquei os conteúdos da BNCC que deveriam ser trabalhados e outros que constantemente devíamos recapitular, na perspectiva linguística, e conversei com os alunos sobre o que eles conheciam desses gêneros. Com base nos conhecimentos prévios, pedi a eles que escrevessem seus primeiros textos de forma coletiva. Procurei incentivá- -los, organizando as falas e coordenando o grupo. Os alunos compararam os textos e, em seguida, reescreveram os conteúdos individualmente, revisando-os e os aprimorando, para fins de publicação”, explicou Marilice.

Revista Appai Educar 15 Após dividir os alunos, ela promoveu pesquisas sobre os gêneros textuais notícia, reportagens, crônicas e os levou ao Núcleo de Tecnologia Municipal (NTM), onde fizeram leituras dos textos de alguns autores, analisando a parte gramatical, como o escritor constrói cada parágrafo, qual enfoque dado e as características específicas de cada estilo. “Li os gêneros textuais, tentando passar o máximo de emoção possível, pois acredito que leitura e escrita vêm do coração, da vivência e da emoção”, relatou a professora.

16 Revista Appai Educar “Iniciei, com o apoio do livro didático, o trabalho com notícias e sobre sua formação para a escrita. Recortamos algumas para leitura. Debatemos, interpretamos e comparamos com a aprendizagem do livro. Os alunos pintaram partes de uma notícia: manchete, olho, lead e desenvolvimento, reconhecendo como estava escrita cada parte, para, depois, reescrevê-la com sua interpretação. Após, fizeram ummural com os textos trabalhados”, disse a coordenadora do projeto. Outro ponto interessante da atividade foi quando a professora propôs olhar os jornais da cidade e do estado para analisar sua organização (cadernos de esporte, economia, política etc.). Os alunos também avaliaram alguns produtos voltados ao público infantil, a fim de perceber sua importância para a aprendizagem, sua estética e seus temas. Os estudantes também escreveram notícias de fatos narrados por jornais da TV e as apresentaram para a turma, num noticiário imaginário, confeccionado com caixas pelos próprios alunos. Sob outra perspectiva do livro didático, uma nova missão foi posta: produzir uma crônica, gênero textual narrativo que tem por base fatos do cotidiano, com uma visão própria do escritor. Os alunos procuraram reconhecer, numa crônica, a visão do autor, seu comentário e sua interpretação de algo acontecido no dia a dia. Para dar suporte, Marilice realizou leituras semanais desse gênero publicadas em jornais e livros. Para aguçar ainda mais a curiosidade dos alunos, a professora também programou uma visita técnica na sede do Jornal do Vale do Itapocu, para que a turma conhecesse a redação e fosse inSuplementos de um jornal são cadernos ou fascículos separados, inclusos no conjunto, com periodicidade diferente do habitual. centivada a dar continuidade ao trabalho. Os estudantes entrevistaram a dona do jornal, editores, repórteres e fotógrafos, perguntando sobre todas as etapas que envolvem a produção de um periódico até chegar às mãos dos leitores. Logo nasceram outro desafio e uma parceria irrecusável. Os alunos foram convidados a produzir um “suplemento” infantil, batizado, de forma original pela turma, de “Eduk Kids”. Diante dessa oportunidade, a primeira definição para iniciar a produção do conteúdo foi uma pesquisa de público alvo. “Fizemos uma única pergunta aos colegas do 3º e 4º ano: ‘O que você gostaria de ler e ver num suplemento de jornal para criança e adolescente?’. Com isso, a turma percebeu também a importância da participação coletiva e do compartilhamento do ensino e da aprendizagem com outros colegas. Os alunos das outras classes adoraram participar, sentindo-se importantes por darem suas opiniões”, refletiu a professora. Após uma intensa aprendizagem, os gêneros textuais foram distribuídos entre duplas e realizaram uma exposição para análise dos grupos, buscando o melhor a ser incluído no suplemento final. Críticas, notícias, dicas de livros, games, moda, animais e até ilustrações foram produzidos. “Com nossa joia pronta, levei ao jornal parceiro. Uma semana depois, recebemos o ‘boneco’ do suplemento para análise e leituras de correção. Corrigido e pronto, o ‘Eduk Kids’ foi enviado para a redação e, por fim, para a diagramação e impressão”, relembrou Marilice.

Revista Appai Educar 17 Uma semana depois, a escola recebeu o jornal impresso. O suplemento mereceu chamada na capa. Gritos, palmas, parabéns e muita emoção com o resultado. “Nosso trabalho estava pronto e em forma de jornal! Era o esforço de um grupo, do 5º ano, mas com a participação de colegas, professores e alunos das outras classes. Processo de ensino e aprendizagem gerando emoção e garantindo conhecimento”, enalteceu. A turma foi de sala em sala para entregar o periódico para cada aluno, mas o trabalho não parou. Eles ainda fizeram um cartão de agradecimento para o jornal parceiro, torcendo para que o projeto tomasse corpo em outras escolas, para divulgação dos seus trabalhos. De acordo coma professora, para executar o projeto buscou-se a Proposta Curricular, fonte interna da escola emque estão determinados os conteúdos de trabalho para cada ano. Também foramestudados os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e as diretrizes da parte linguística, gramatical e ortográfica dos gêneros textuais que seriam trabalhados. Foramutilizados ainda livros sobre didática, avaliação e estratégias de ensino. O boneco é uma prova impressa do seu arquivo, simulando, de forma aproximada, como ele deve ficar em seu formato final (ou seja, impresso). O boneco é usado para identificar e prevenir falhas que não foram ou não poderiam ser identificados sem a geração de um “protótipo”. PARA AGREGAR AINDAMAIS SUA ATIVIDADE Para completar as sugestões, explique aos alunos quais são as etapas do jornalismo e os cuidados seguidos para produzir uma notícia. Oriente-os para que prestem atenção aos termos: PAUTA: Relação de assuntos ou temas que nortearão o trabalho jornalístico. Em geral, a pauta é definida em uma reunião a partir da qual o jornalista começará a executar sua atividade de apuração e checagem. Pode surgir a partir de um fato, de uma pista passada por alguém ou mesmo da curiosidade do repórter. FONTE: Portadores de informação consultados pelos jornalistas para elaborar reportagens. Podem ser autoridades, especialistas ou mesmo documentos, dados e gráficos. As fontes transmitem as informações aos repórteres e, no caso de pessoas, podem ou não ser identificadas (quando a identidade da fonte é preservada, para evitar retaliações, por exemplo, chamamos de fonte “em off”).

18 Revista Appai Educar CHECAGEM: Processo de verificação das informações, para garantir que sejam confiáveis. O próprio jornalista que está escrevendo uma reportagem precisa procurar diversas fontes para confirmar uma mesma informação. Além disso, existe no jornalismo a figura do editor, que vai ler, ouvir e ver tudo o que foi produzido pelo repórter e também questionar a veracidade das informações antes de divulgá- -las ao público. Assista o vídeo Conhecer para Defender

Revista Appai Educar 19 Vale ressaltar que este material focou na produção de jornais, mas o campo permite explorar a divulgação científica, a comunicação oral, a produção de publicidade fictícia etc., o que abre caminho para outros formatos e domínios que a criatividade permitir. ■ Por Richard Günter Fontes: BNCC | MEC | Educamídia | Instituto Palavra Aberta

20 Revista Appai Educar Tema Transversal FUTEBOL MAR GOLAÇO FORA DAS 4 LINHAS Projeto estimula a valorização da cultura corporal e do pertencimento através do patrimônio regional Em ano de copa do mundo, cresce o interesse da população por um dos esportes mais populares do mundo, o futebol. Mesmo não se sabendo ao certo a sua real origem, ele abrange mais de 3,5 bilhões de torcedores e 300 mil clubes espalhados pelo planeta. Trazido para o Brasil por Charles Miller, em 1894, o desporto conquistou o título de paixão nacional, e até hoje continua sendo o principal esporte na opinião dos brasileiros. Esse amor ultrapassou há muito os estádios, os campos de várzea e as quadras, chegando às salas de aula através da disciplina de Educação Física e dos projetos interdisciplinares. É o que estão vivenciando os alunos e professores da escola Professor Washington Manoel de Souza, localizada em Queimados, através do projeto Queimados Futebol Clube 100 anos.

Revista Appai Educar 21 RCA A S 100 anos de história De acordo com a professora e Mestre em Educação Denise Guerra, idealizadora do projeto, juntamente com a Maria de Fátima Muniz, docente de História aposentada da rede de Queimados, um dos principais objetivos do projeto é oferecer práticas socioesportivas e da cultura corporal brasileira, a fim de promover experiências em diferenciados momentos e grupos sociais, que cultivem o não preconceito, bem como a paz e a tolerância. Iniciado no primeiro bimestre do ano letivo, o projeto está sendo desenvolvido com seis turmas do Fundamental II. “Planejamos as etapas teóricas com uma proposta de pesquisa, e a partir daí demos início à fase prática, com o estudo da história geral e dos símbolos do Queimados Futebol Clube (escudo, mascote, uniforme, bandeira). Também fizemos uma visita à sede da agremiação, um dia antes do seu aniversário, a fim de saber ainda mais sobre ele e também homenageá-lo”, afirma a professora Denise.

22 Revista Appai Educar Futebol e o fenômeno sociocultural Em sala de aula, o projeto tambémultrapassou as quatro linhas comaulas práticas que buscavam explorar as diversas possibilidades de pensar o fenômeno sociocultural Futebol – Futebol de botão, Futebol de lençol, Futebol indígena cabeçobol, Futmesa, Futebol de 5 para cegos, Futsal, Futebol de campo –, comas variadas modalidades que o esporte oferece aos seus participantes. Para o aluno Júlio César (turma 701), a realização do projeto pelos 100 anos do clube é algo histórico. “O QFC é umdos times mais antigos da Baixada Fluminense e está de parabéns pelo centenário!". Ainda durante as aulas, os alunos receberam a visita de pelo menos um jogador do Queimados Futebol Clube para um café da manhã e uma roda de conversas, com direito a perguntas sobre o dia a dia dos jogadores, seus sonhos, conquistas e perspectivas futuras. Para o aluno Luiz Guilherme, da turma 601, esse bate-papo só aumentou ainda mais o sonho de um dia fazer parte dessa grande equipe. “Eu sonho em jogar aí”, admitiu Luiz Guilherme emocionado. Esse mesmo sentimento foi demonstrado por Lorrane Rodrigues, da turma 802. “Fico imaginando as pessoas que criaram o QFC e os jogadores que já passaram por aqui. Que orgulho desse patrimônio esportivo que representa a nossa cidade ter chegado no seu centenário! Parabéns, QFC!”, enalteceu a aluna. O trabalho de pesquisa não apenas serviu como base para a disseminação do conhecimento, mas, sobretudo, para o fortalecimento da cultura local entre os educandos Alunos e professores em aula passeio, a fim de agregar conteúdo para a culminância do tema

Revista Appai Educar 23 Vivências prática e teórica do projeto Outros momentos que complementaram a vivência prática e teórica do projeto deram-se durante as saídas pedagógicas para práticas de futsal e/ou futebol de campo no Queimados Futebol clube e Vila Olímpica de Queimados, que gerou muitos elogios, como este do aluno Gabriel Souza, da turma 902: “A quadra do QFC é muito boa para se jogar, inclusive eu já treinei lá. Feliz aniversário, Queimadão, sucesso para mais cem anos!”, felicita Gabriel. Um passeio ao Engenhão – Estádio Nilton Santos, Museu Olímpico e Paralímpico – também colaborou para acrescentar conteúdos à pesquisa sobre o tema, além de complementar a exposição dos vários trabalhos feitos pelos alunos durante o ano letivo e da realização de um campeonato amistoso de futsal entre as diversas turmas que movimentou a comunidade escolar. As aulas práticas complementaram a vivência e o estímulo às diferenças

24 Revista Appai Educar A importância dos esportes na escola Ao falar sobre o papel do esporte na vida escolar, ensino e aprendizagem do aluno, a professora Denise ratificou a sua importância como democratização de acesso às habilidades motoras, atenção à saúde física e mental, autoconhecimento, autoestima e a socialização. “Entendemos que, de uma forma geral, o esporte na escola é voltado a objetivos educativos e recreativos, podendo levar o aluno ao conhecimento do âmbito competitivo e a um despertar potencial para a prática esportiva. São trabalhados de forma contundente aspectos do desenvolvimento psicomotor, social, afetivo e cognitivo. Nossos objetivos se iniciam com a democratização do acesso, pois todos e todas, independente de qualquer condição, têm direito de participar e se beneficiar das aulas de educação física, pois o princípio da inclusão é inegociável. Com a expansão das habilidades motoras, atenção à saúde física e mental, autoconhecimento, autoestima e a socialização, ocorre o desenvolvimento do espírito de equipe no qual os alunos aprendem a lidar com as vitórias e as derrotas”, pontua Guerra. Além do estímulo ao respeito e às diferenças, de acordo com a equipe pedagógica, com a implementação do projeto houve uma significativa melhora no comportamento, na concentração e nas atividades escolares em geral junto aos alunos. “Trabalhamos com a conscientização de que as atividades físicas são muito importantes para a saúde e o combate ao sedentarismo. O esporte, enquanto fenômeno sociocultural de múltiplas possibilidades, pode contribuir para o processo formativo integral dos discentes”, confirma a mestre em Educação.

Revista Appai Educar 25 Integrando vidas Segundo Denise, o esporte na vida contemporânea, enquanto fenômeno sociocultural, tem se apresentado como grande estimulador e agregador de comunidades e povos diferenciados. Observa-se na realidade das escolas da educação básica brasileira o grande interesse dos alunos pelas aulas de educação física, bem como pelas diversas práticas que esta disciplina oferece. Para ela, deste modo, a utilização do esporte e dos eventos esportivos (como as olimpíadas, copas do mundo, jogos amistosos etc.) para integração de grupos sociais, difusão de ideias e valores e como incentivador de práticas benéficas à humanidade tem sido uma constante com resultados positivos, já que com frequência os esportistas levam ao campo/ quadra protestos, campanhas sociais, contra ou a favor de alguma pauta importante para a sociedade. “Posto que vivemos numa sociedade multiétnica e enquanto comunidade escolar atuante e integrada aos movimentos socioeducacionais da atualidade, faz-se importante destacar a necessidade de se construir, também a partir do esporte, ações afirmativas para fomentar o reconhecimento e valorização da identidade nacional/regional, da cultura corporal, da cultura brasileira em geral e do pertencimento histórico-cultural e patrimonial dos estudantes da educação básica”, finaliza Denise Guerra. Por Antônia Lúcia E. M. Prof. Washington Manoel de Souza Rua Eloy Teixeira, 306 – Queimados/RJ CEP: 26383-080 Tel.: (21) 2779-9687 Fotos: Banco de imagens gratuitas Freepik Através do esporte muitos conteúdos puderam ser vistos de maneira interdisciplinar

26 Revista Appai Educar O PAPEL DA CR NO DESENVOLV INFANTIL Matéria de Capa / Educação Infantil

Revista Appai Educar 27 RECHE VIMENTO Entenda a importância desse novo ambiente e de que forma educadores podem estimular o aprendizado nessa fase tão primordial na vida dos pequenos

28 Revista Appai Educar Como acontece a inserção da criança nesse novo ambiente? De que forma a creche estimula a linguagem e o desenvolvimento motor das crianças? Quais são as brincadeiras mais indicadas para cada idade? Qual a importância da pré-alfabetização? Qual a rotina ideal para cada faixa etária? Para responder essas e outras perguntas a equipe da Revista Appai Educar conversou com especialistas no assunto que vão trazer informações e dicas fundamentais para os profissionais que desejam atuar nesse segmento. Confira! Oprimeiro tópico desse tema a ser debatido é a inserção dos pequenos nesse novo ambiente, que precisa ocorrer de forma gradativa. Durante esse processo de adaptação, a equipe da creche recebe a criança e a sua família num lugar pensado para ela, de acordo com a sua faixa etária. É nesse período também que ela descobre um novo ambiente por meio da observação do espaço, dos adultos e das outras crianças que, até então, não faziam parte do seu cotidiano. A pedagoga da Creche Fiocruz, Andréa Queli dos Santos Veloso, explica que esse espaço deve proporcionar um ambiente de trocas e estímulos que favoreçam a interação e socialização dos pequenos. “Nesse sentido, propostas como rodas de conversas, contações de histórias, relatos sobre situações ocorridas no final de semana, vivências familiares e experiências do dia a dia na creche contribuem para a ampliação do vocabulário da criança e de suas possibilidades de expressão e comunicação”, pontua. O primeiro espaço de socialização da criança A revista Educar conversou com Clara Bousada, que é professora de Educação Infantil bilíngue e compartilha dicas de pedagogia através das redes sociais, somandomais de 180mil seguidores. Ela ressalta que a creche tem um papel importantíssimo na primeira infância. “Muitas vezes, é o primeiro espaço de socialização da criança depois da família, onde ela descobre que há um novo mundo para além daquele que ela já conhece. A partir da interação com as outras crianças e a mediação dos adultos, os bebês vão se constituindo cada vez mais como sujeitos de desejos, sentimentos, opiniões”, explica. A pedagoga destaca ainda que não devemos ver a creche como apenas uma preparação para a pré-escola, mas sim como um espaço importante por si só, em que os pequenos terão a oportunidade de se desenvolver acompanhados de olhares de profissionais que são especialistas em educação. “Os ganhos de frequentar uma boa creche são motores, emocionais, cognitivos e sociais. Por isso, considero bastante relevante o seu papel no desenvolvimento infantil”, garante Clara. Clara Bousada é professora de Educação Infantil bilíngue

Revista Appai Educar 29 A parceria entre escola e família é essencial para um bom desenvolvimento da criança. Clara destaca que muitas pessoas acham que a família apenas educa e a escola apenas ensina, mas na verdade ambas desempenham papéis importantes nas duas funções. “No meu ponto de vista, a escola deve sempre buscar acolher as famílias, suas necessidades e desejos, mas, ao mesmo tempo, se manter segura e confiante de que é ali que estão os profissionais que estudaram sobre pedagogia e educação. Por outro lado, a família deve se manter o mais próximo possível, acompanhando o desenvolvimento da criança, mas também confiando no trabalho que é feito na creche que escolheram. Transparência e diálogo são fundamentais nessa relação. Uma vez que essa parceria é estabelecida, os dois lados se complementam e andam juntos”, afirma a educadora. Família só educa? Escola só ensina?

30 Revista Appai Educar Como aproveitar ao máximo o desenvolvimento de cada criança? De acordo com Clara, esse é um grande desafio do professor, principalmente em turmas com muitos alunos. Para ela, equilibrar a atenção individual e a dinâmica coletiva nem sempre é fácil, mas é necessário. Cada criança merece um olhar individualizado, sensível e atento dentro daquele grupo, uma ação que respeite suas particularidades. “Um exemplo simples é escolher uma delas para observar mais atentamente durante um momento no pátio ou dentro de alguma proposta. Se você tiver uma auxiliar em sala, avise que, naquela oportunidade, irá se dedicar um pouco mais a olhar uma criança específica – ou um pequeno grupo de 2 ou 3. Observe seus movimentos, registre suas pesquisas, anote falas ou expressões”, exemplifica. A pedagoga dá outra dica: dentro de sala, se dedique a chamar uma ou duas crianças de cada vez para umas propostas individualizadas, pois nesses momentos você poderá ter seu olhar atento especificamente ali. “Claro que isso depende de certa estrutura de equipe de sala, mas é possível achar pequenas brechas para realizar esses movimentos em alguns dias”, garante Clara.

Revista Appai Educar 31 Expandindo conhecimento através das redes sociais A professora conta que encontrou na área da Educação uma forma de ajudar pessoas e, através das redes sociais, uma maneira de ir além da sala de aula, expandindo conhecimento com outros colegas de profissão. “Nós, professores, temos nosso compromisso de construir planejamentos para nossas aulas, de acordo com os objetivos da faixa etária e com a intencionalidade pedagógica das propostas. Porém, de nada faz sentido um planejamento maravilhoso, cheio de conteúdo, mas que não se conecte coma sua sala de aula, comas suas crianças”, pontua. Clara ressalta ainda que gosta da ideia de construir o planejamento a partir daquilo que interessa a sua turma, e, mesmo assim, com flexibilidade para mudar completamente o rumo caso algo mais interessante surja num momento. “O planejamento é um guia, uma base, e é importantíssimo que seja feito. Mas é só na hora da prática que podemos de fato escutar as crianças e decidir juntos os caminhos que serão tomados. Por isso não gosto da ideia de planejamentos únicos e rígidos para diferentes turmas. Acho que cada professor deve ter sua autoria e seguir de acordo com seu grupo”, destaca. Como estimular a linguagem e o desenvolvimento motor das crianças? Apedagoga conta que recebemuitos relatos de professores que utilizam em sala de aula as dicas que ela compartilha em suas redes sociais. “Comecei ajudando muito quem ainda cursava pedagogia, com os conteúdos, a forma de estudar, a organização. Agora, é ótimo quando consigo dividir também a minha rotina em sala de aula, então várias professoras me falam que usaram ideias minhas em suas turmas ou refletiram de forma diferente sobre determinado tema depois que eu levantei aquele assunto etc. É uma troca muito rica! E é 100% uma via de mão dupla, pois eu aprendo muito com elas também. É bom demais ver como nós professoras podemos ser mais fortes quando estamos juntas compartilhando saberes e experiências”, relata Clara. Uma pergunta e muitas respostas, quando pensamos nas variadas formas de estimulo à linguagem e ao desenvolvimento motor das crianças. Essas e outras indagações vão muito além do campo da teoria, até porque cada

32 Revista Appai Educar indivíduo tem sua especificidade, seu tempo cognitivo, seus desejos e suas necessidades. Entretanto, especialistas afirmam que a infância é a idade do possível, da construção, da descoberta por si mesma e/ou através da participação de terceiros – professores, ambiente escolar – abrindo janelas para novas experiências e transformações. Dentro desse aspecto, as creches – entendidas como a comunidade escolar formada por diversos atores, professores, funcionários, família e amigos – protagonizam um papel essencial na contribuição do desenvolvimento desse público infantil. A creche, enquanto instituição, recebe, sobretudo dos pais que lá deixaram seus pequenos, a responsabilidade da promoção de uma teia de cuidados que vai desde o acolher, do observar, do brincar, do ensinar, até o salvaguardar aquela vida na ausência da família. Essa percepção de responsabilidade dada à escola vai além do papel pedagógico do ensino e aprendizagem na vida dos pequenos e dos pais no desenrolar da primeira infância. Essa chegada da criança a esse novo universo cria, sobretudo para os pais, muitas perspectivas, medos, inseguranças e fantasmas. “A primeira vez que deixei meu

Revista Appai Educar 33 filho na creche eu não sei dizer o que mais me amedrontou. Se foi a ideia de ficar longe dele, mesmo que fosse por algumas horas, ou o fato de deixá-lo com pessoas que até então eu conhecia muito pouco”, frisa Daiane, mãe do pequeno Antonio. Qual a importância da rotina para o desenvolvimento infantil? Psicólogos e profissionais da área afirmam que a rotina da creche é de suma importância, tanto para a criança como também para a família, que num primeiro momento ainda se sente muito insegura, mesmo com toda a visitação prévia e o período de acolhimento geralmente ofertado pela instituição. Segundo especialistas, a criança precisa ter a sensação de previsibilidade. Isso porque, desde o nascimento, a família já vem construindo essa proximidade com a rotina, quando supre as necessidades básicas da criança ao dar de mamar, ao trocar a fralda, ao conversar, sorrir, brincar, tranquilizar quando estão agitados – seja com a música, contação de histórias ou um ninar nos braços. Toda essa sensaçãopresumível que o dia a dia oferece é fundamental na contribuição para o desenvolvimento cognitivo da criança, sobretudo no que se refere à autoestima, à autoconfiança e à autorregulação emocional, uma vez que o desenvolvimento do cérebro exige um estímulo responsivo, ou seja, que envolva resposta. Ações e atitudes que mais incentivam esse desenvolvimento de 0 a 3 Para a psicóloga e Secretária Nacional de Promoção do Desenvolvimento Humano do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), Ely Harasawa, a boa relação emocional entre pais e filhos no desenvolvimento na primeira infância – até os 3 anos – tem o maior impacto. “Ao confiar no adulto, a criança aprende a regular suas emoções, explorar o mundo com confiança e se comunicar. Crianças apoiadas têm mais chances de serem adultos positivos e seguros”, afirma. A faixa de 0 a 3 anos não é apenas parte da primeira infância, vai muito além. É o que dizem os especialistas ao afirmarem que a fase inicial é essencial para desenvolver a inteligência das crianças. “Esse é o melhor momento, quando o cérebro responde prontamente. O órgão está pronto para ser estimulado, desenvolver-se”, explica o médico neurocientista e diretor do Instituto do Cérebro do Rio Grande de Sul Jaderson Costa da Costa, na página do MDS sobre a primeira infância.

34 Revista Appai Educar Todo dia, tudo igual Desde que nasce é bom acostumar seu filho a seguir uma rotina: estabelecer a hora do banho, de dormir, de comer. Criança gosta disso porque ajuda a formar uma sequência entre os acontecimentos diários, permitindo que ela possa se organizar. Além disso, a rotina está associada a hábitos saudáveis, que são importantes para o seu crescimento, como ter oito horas de sono e se alimentar direito. Algumas dicas de desenvolvimento na faixa etária de 0 a 3 anos dadas pela Revista Crescer: clique para saber mais Livro amigo Opapel dos pais é fundamental para que as crianças amem ler – e aprendama fazer dos livros umprazer, não uma obrigação. Os de plástico, no banho, podemser usados já a partir do terceiromês de vida. A partir do sexto, quando o bebê já consegue levar objetos à boca comas mãos, deixe livros de pano no berço – além de poder mordê-los, ele não conseguirá arrancar as páginas! Em todas as idades, fale da capa, das figuras, deixe que a criança vire as páginas, ou seja, estimule ao máximo que ela interaja com esse companheiro.

Revista Appai Educar 35 Brincadeiras de crianças, como é bom! A letra da música, “Brincadeira de criança”, do grupo Molejo, talvez mostre de forma lúdica como o brincar é tão prioritário na vida da criança e na memória do adulto. Essa ação é tão vital no desenvolvimento cognitivo dos pequenos que, em 1999, durante a 8ª Conferência Internacional de Ludotecas em Tóquio, por iniciativa da então presidente da International Toy Library Association (ITLA) – Freda Kim –, foi criado o Dia Internacional do Brincar. De improviso Criar personagens e sonhar commundos fantásticos. Tudo isso é importante para desenvolver a criatividade dos pequenos. Contribui, inclusive, para a resolução de problemas. Para tornar a narrativa ainda mais empolgante, que tal testar a capacidade de improviso de vocês dois? Separe figuras de objetos, paisagens, cores, alimentos e animais, que podem ser desenhadas ou recortadas de revistas. Brincar, guardar, brincar Enquanto seu filho brinca, insista para que ele se envolva em um jogo por vez, o que contribui para a concentração. Não quer mais jogar boliche? Hora de colocar os pinos na caixa para só depois começar uma brincadeira nova. A partir dos 2 anos, seu filho pode ajudar a guardar o brinquedo que estava usando antes de pegar um outro, pois assim ele desenvolve também o senso de organização. Saiba mais dicas na Revista Crescer. Pergunte sempre Ao buscar seu filho na escola, você diz: “Como foi seu dia?”. E ele responde: “Legal”. Não era exatamente o que você queria ouvir, certo? Para fugir das respostas genéricas, elabore as questões de maneira que a criança precise expressar o que pensa e justificar sua resposta. Pergunte: “O que você fez de mais legal na escola hoje?”. E ela será obrigada a desenvolver um raciocíniomais elaborado, exigindo que trabalhe habilidades linguísticas e lógicas. Aos 3 anos, ela já consegue relatar experiências pelas quais passou e dizer se foram boas ou ruins.

36 Revista Appai Educar Reconhecida no calendário da Unicef, a data reforça a cada ano essa relevância do brincar, com o intuito de sensibilizar a sociedade sobre a importân- Ler histórias – desde bebê. Brincadeira de esconde-esconde. Brincadeiras de baterasmãos. Cantar para o bebê – músicas que tragam alegria e diversão. Passear pela casa, apontando e falando o nome dos objetos que encontrar. Brincar de texturas diferentes, usando materiais que as crianças não corram o risco de engolir, como esponja e pedaços grandes de tecidos de roupas. Criar um circuito de escalada engatinhando, usando travesseiros, almofadas e cobertores para formar uma montanha para o bebê atravessar. Criar fantoches com meias nas mãos. Brincar de equilibrar uma folha de papel na cabeça. Brincar de ciranda. cia dos inúmeros benefícios dessa atividade na vida infantil. Sendo assim, nunca é demais relembrar algumas brincadeiras nessa faixa etária. Vamos recordar algumas? Brincar de mímica de objetos, animais ou ações (sentar, cantar, nadar, estátua). Brincar de continue a música. Brincar de imitar sons dos animais. Criar um circuito em casa, com atividades como se arrastar embaixo da mesa, pular em um pé só, rolar no chão e pular pequenos obstáculos, como uma vassoura no chão. Brincar de vivo ou morto, e tantas outras diversões que podem e devem ser vivenciadas em todas as fases da criança, uma vez que elas têm um papel ímpar na contribuição do estímulo motor, cognitivo e sensorial dos pequenos, além de proporcionar prazer, alegria e, sobretudo, momentos de muitas risadas, aprendizagens de maneira lúdica, interação e diversão, assim como a troca de afeto e seus muitos efeitos, tanto para quem incentiva a brincadeira, quanto para quem a recebe como estímulo da interação. Educadores de creche também precisam de formação continuada Com carinho, afeto e tempo para a criança poder brincar e explorar o mundo, o papel da creche certamente será efetivo. A função do educador que trabalha com os pequenos é justamente proporcionar um novo universo de socialização commuita aprendizagem.

Revista Appai Educar 37 A grande maioria dos profissionais que iniciam nesse cargo acaba migrando para a função de professor conforme adquire experiência. Essa vivência é muito valiosa porque não está atrelada somente a educar com cuidado e carinho. Há uma série de afazeres que os docentes precisam dominar. Zelar pela organização do ambiente, especialmente o das crianças, se estão todas seguras e se precisam de algo, como troca de fraldas, idas ao banheiro e afins, são algumas ações. Mas há também o cuidado com o auxílio no preparo da alimentação dos alunos, ajudando na elaboração de receitas adequadas para o desenvolvimento deles. Essa meta deve ser exercida junto à área social da creche com um profissional de nutrição. Além disso, o educador infantil deve cuidar da rotina higiênica das crianças, supervisionando escovação, limpeza do corpo, trocas de fraldas e tudo o que envolva esse aspecto. E claro, outro ponto fundamental para se trabalhar com os pequenos é elaborar brincadeiras lúdicas e educativas. “A tia da creche”, muitas vezes, é o primeiro contato da criança com o mundo externo. E é por meio da escolinha que os pequenos desenvolvem habilidades motoras, aprendem a se relacionar com outraspessoasdamesma idadee têm contato com experiências diferentes daquelas vivenciadasemcasa. Por isso, é tão importantedar atençãoà formaçãodeprofessores. A responsabilidade é infinitamente grande, pois esses profissionais podem ser os principais influenciadores na formação do cidadão. Por isso, o estudo de práticas pedagógicas é o caminho certeiro para orientar esses professores durante todo o processo educacional.

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