Objeto Direto com Preposição?

Por Sandro Gomes*


orações subordinadas

É verdade que a gente sempre aprende que a característica principal de um objeto direto é exatamente a de complementar o sentido de um verbo sem a presença de uma preposição. Mas o fato é que há alguns casos em que, mesmo a regência verbal normalmente não solicitando um complemento preposicionado, o contexto torna necessária a presença da preposição. Vamos abordar nesse texto alguns desses casos.

– Casos envolvendo pronomes substantivo, indefinido ou interrogativo. Veja o exemplo.

O porta-voz agrediu a todos que participaram.

O verbo “agredir” pede um complemento direto, afinal quem agride, agride alguém ou alguma coisa. No entanto, no contexto do exemplo acima a preposição é oportuna.

– Casos de verbos que exprimam emoções ou sentimentos. Acompanhe.

Jamais odeie a alguém desse jeito!

Quem odeia, odeia alguém. Poderíamos usar uma frase como “Odeio frutos do mar.” Ninguém sentirá a necessidade de uma preposição, mas no exemplo citado ela se faz necessária.

– Alguns termos pedem a preposição quando antecipados numa oração. Veja.

A gente cínica ninguém abraça.

Apesar do verbo “abraçar” funcionar como transitivo direto (quem abraça, abraça alguém ou alguma coisa), a antecipação do objeto em relação ao verbo torna fundamental o uso da preposição.

– Em casos em que se pretende eliminar ambiguidade. Observe o exemplo.

Nessa disputa, venceram aos turcos os gregos.

Numa expressão mais convencional poderíamos dizer simplesmente “Os gregos venceram os turcos.”. Mas a estilística da frase acima sugeriu uma ambiguidade de compreensão, o que foi resolvido com o uso da preposição (aos turcos), mesmo que o verbo “vencer” não pedisse complemento indireto (afinal, quem vence, vence alguém).

– Em vários casos em que se usa a palavra “Deus” a preposição se faz importante, como no exemplo a seguir.

Ame a Deus acima de tudo!

Quem ama, ama alguém ou alguma coisa, logo é um verbo transitivo direto. Mas na oração acima esse objeto aparece preposicionado, sem nenhum estranhamento para quem lê ou escuta a frase.

Viu como não constitui nenhum absurdo? A transitividade dos verbos é algo que se fixa com o uso da língua, mas, como acabamos de ver, essa mesma prática linguística pode dar origem a casos em que a lógica habitual dá lugar a outras características. O objeto direto com preposição é uma delas. Amigos, é isso. Numa próxima oportunidade, traremos outro ponto interessante da nossa língua portuguesa. Até a próxima, pessoal!


*Sandro Gomes é graduado em língua portuguesa, literaturas brasileira, portuguesa e africana de língua portuguesa, redator e revisor da Revista Appai Educar, escritor e Mestre em Literatura Brasileira pela Uerj. 


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