A Inteligência Artificial pode contribuir para a modernização do sistema de ensino, mas não substitui o ser humano  

Por Martin Oyanguren*


O uso de novas tecnologias, como a inteligência artificial, não é necessariamente uma novidade na educação, mas o avanço do chatGPT e o possível impacto de seu uso se tornou um dos assuntos mais debatidos e comentados do setor educacional. Se inicialmente muitos especialistas, pesquisadores e docentes se mostraram contrários a essa novidade – sugerindo até a sua proibição –, agora, passado o susto inicial, vivemos um novo cenário. Nele, outras ideias para o emprego dessas ferramentas começam a surgir, e o seu uso apresenta-se como uma realidade mais amigável, que, inclusive, pode contribuir com os sistemas atuais de ensino. 

A verdade é que a inteligência artificial está presente na educação há muito tempo. Bem antes das ferramentas que ganharam visibilidade nos últimos meses. Ela faz parte, por exemplo, do dia a dia de diversas edtechs que lançam mão dessa tecnologia para personalizar o ensino e o aprendizado. Muitas inovações, como soluções relacionadas a gamificação e realidade aumentada, agregaram facilidades ao ensino e à gestão escolar, trazendo resultados extremamente positivos. Portanto, cabe a nós ponderarmos o medo ou receio em aplicar essas mudanças e buscar os benefícios e funcionalidades que cada solução pode apresentar, sempre levando em conta os prós e os contras. 

A inteligência artificial deve ser encarada como uma ferramenta para tornar o ensino mais dinâmico. Um recurso com potencial de facilitar a rotina de todos os participantes do sistema educacional, oferecendo aos gestores, por exemplo, auxílio e rapidez em funções administrativas e na coleta e análise de dados sobre o desempenho dos alunos. Isso permite identificar as necessidades individuais de cada estudante e, assim, adaptar o ritmo, o conteúdo e o estilo de ensino em suas instituições. Já aos professores, abre portas em atividades de rotina como a correção das avaliações e a construção de planos de aula e atividades, reduzindo o tempo investido nessas tarefas diárias e proporcionando mais qualidade de vida e formas de estimular o interesse e participação colaborativa dos alunos. 

Em relação aos estudantes, não podemos nos limitar ao pensamento de que a inteligência artificial será usada apenas para facilitar a redação e criação de textos, pois suas funcionalidades, se bem acompanhadas pelos docentes, podem ser aplicadas de diversas maneiras, com múltiplos benefícios. Alguns exemplos são a criação de tutoriais e de jogos educativos que ofereçam uma forma independente de aprender e que apresentem feedbacks instantâneos sobre desempenho. Ainda há uso para o desenvolvimento de tutorias online, aulas personalizadas e apresentação de novas habilidades para uma aprendizagem mais inclusiva e envolvente, proporcionando acesso a recursos para alunos com necessidades especiais ou dificuldades de aprendizado. 

É importante destacar que a inteligência artificial, assim como qualquer outra nova ferramenta ou solução educacional, não deve ser vista como alternativa única e definitiva, mas como algo complementar ao ensino tradicional. A melhor compreensão das possibilidades de aplicação pode torná-la uma grande aliada e contribuir para a promoção de uma aprendizagem muito mais colaborativa e moderna, tornando a dinâmica de estudo entre alunos e professores ainda mais interessante. 

Nesse cenário cada vez mais tecnológico, o professor continua tendo papel de protagonista. Um personagem essencial para a educação e que vai orientar os alunos sobre o direcionamento das disciplinas e o uso dessas inovações. Reforçado por novas soluções, o docente passa a atuar cada vez mais ativamente como motivador e mediador do conhecimento. Ninguém substitui o professor na tarefa de estimular o pensamento crítico dos alunos, seja através do raciocínio lógico, da criatividade ou de tantos outros estímulos que auxiliem o desenvolvimento da autonomia intelectual e da autoconfiança para superar problemas e desenvolver habilidades além da sala de aula. 

As mudanças fazem parte de um processo evolutivo, e ainda estamos apenas na etapa inicial de mais uma delas. O papel da IA na educação deve ser debatido nas instituições, e essa reflexão irá motivar atualizações entre os professores, gestores e alunos. Uma discussão conjunta que pode contribuir para um entendimento mais concreto sobre o tema e sobre as melhores práticas de uso. Já presente em nosso dia a dia da educação, a inteligência artificial é disruptiva e veio para ficar. Sendo assim, será parte importante no ensino ainda que muitos não gostem. Porém, com a devida orientação, acompanhamento e, principalmente, mediação dos responsáveis pela educação (gestores e professores), essas novas abordagens e ferramentas podem ajudar e contribuir não apenas para atualizações sobre ensino tradicional ou como lidamos com a evolução da educação, mas possibilitar o acompanhamento das mudanças de pensamento, ampliação de repertórios, aprendizagens e comportamentos. Tudo, sempre, como uma ferramenta do ser humano, que continuará sendo o protagonista da transmissão e geração de conhecimento. 


*Martin Oyanguren é CEO do Educacional – Ecossistema de Tecnologia e Inovação, área de negócios da Positivo Tecnologia dedicados à educação e VP da Positivo Tecnologia. 


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