Da aula pra mesa

Unindo a teoria e a prática, crianças aprendem sobre o funcionamento dos alimentos no corpo e mudam seus hábitos


Para quem não está sabendo da novidade, na primeira edição de 2021 lançamos a editoria Vale a pena ler de novo. A ideia é resgatar uma matéria da Revista Appai Educar direto do túnel do tempo para mostrar que os projetos desenvolvidos pelos professores nunca saem de moda e inspirar os demais colegas de profissão, mesmo em período de ensino híbrido. Hoje vamos relembrar uma matéria da edição 116, publicada em 2019, que mostra como o professor pode ensinar e incentivar os alunos com hábitos saudáveis através do entendimento do funcionamento do nosso corpo.

Emanuel passou a ler todos os rótulos de alimentos em casa e só comia o que tinha cálcio e vitaminas. O que exibia porcentagem de gordura ele dispensava, parou de consumir até Danoninho, que as crianças adoram. Começou a pesquisar mais sobre a comida consumida no cotidiano e foi descobrindo outras opções. E sabe como esse menino mudou seus hábitos alimentares? A partir de tudo que aprendeu no Colégio Átrios, localizado em Nilópolis. A garotada entendeu na prática como o nosso corpo funciona, a função de cada alimento e a partir daí foi sendo criada uma bagagem de informações para auxiliar em produções textuais.

A professora e idealizadora do projeto, Fernanda Augusto, conta que uma das principais motivações foi o interesse da turma por assuntos científicos. “Era comum as crianças reagirem empolgadas, levantando as mãos para questionar e ir à frente para compartilhar o que sabiam. Perguntas e mais perguntas, respostas e mais respostas não paravam de surgir”, relata. Diante desse entusiasmo, a docente desenvolveu um projeto de Língua Portuguesa e Ciências a partir da relação dos próprios alunos com os alimentos, tendo como tema “Ossos fortes”. Para isso, ele foi dividido em 8 etapas:

 

Instigando a curiosidade

Em uma roda de conversa – que atualmente pode ser feita de forma on-line – as crianças do primeiro ano do Ensino Fundamental I foram questionadas sobre o que faz o corpo ficar em pé. Cada uma compartilhou sua hipótese e argumentou sobre ela. Este também foi um momento para o levantamento dos conhecimentos prévios das crianças sobre o tema abordado, com elas sendo estimuladas a comunicar oralmente suas ideias e ouvir as dos colegas. Em seguida, foram listadas as respostas. Após argumentarem, a turma recebeu uma caixa misteriosa onde os alunos encontrariam uma pista sobre o que procuravam.

 

Quebra-cabeça do esqueleto humano

A pista era um quebra-cabeça gigante do esqueleto humano. Após descobrirem isso, as crianças foram questionadas sobre o que os ossos precisam para se manter fortes. Registraram-se as diferentes respostas e em seguida foi lido para a turma um texto informativo científico sobre a importância do cálcio para essas partes do corpo. A partir daí iniciou-se o trabalho com a leitura dos rótulos, que havia sido previamente solicitada às famílias para este momento.

 

Leitura de rótulos

Alguns rótulos de alimentos foram distribuídos para as crianças, que buscaram informações sobre o cálcio na tabela de valor nutricional. Segundo a professora, foi um momento de muitas surpresas e surgimento de curiosidade sobre novas palavras contidas nos rótulos, tais como: sódio, proteínas, carboidratos. A cada descoberta dos alimentos, fontes de cálcio, por exemplo, as crianças realizavam a construção de um cartaz inserindo a embalagem ao lado do quebra-cabeça do esqueleto humano.

 

Trabalhando com encartes de supermercado

Foi proposto que montassem individualmente o quebra-cabeça do esqueleto humano, em tamanho reduzido no caderno de desenho. No segundo momento, os pequenos foram agrupados em trios para pesquisarem nos encartes alimentos ricos em cálcio. Eles recortaram várias figuras e colaram em torno do esqueleto montado por eles próprios. “Utilizamos também tablets para acessar a internet, como recurso de ampliação da pesquisa”, explicou a professora.

 

Participação surpresa

Sérgio Curto, fisioterapeuta e pai da aluna Karine, foi convidado pela escola para conversar com a turma e responder algumas perguntas sobre a função dos ossos e a importância de mantê-los fortes. No atual momento que estamos vivendo, essa participação pode ser feita de forma on-line. Segundo a educadora, os alunos ficaram alvoroçados e curiosos com o visitante, que também ensinou os nomes de ossos do corpo. As crianças participaram ativamente realizando perguntas e no final do dia levaram para casa uma pesquisa: quais alimentos roubam o cálcio dos ossos? A prática da pesquisa teve como um dos objetivos ampliar o repertório de informações dos estudantes sobre o assunto para suas produções textuais.

 

A pesquisa

As crianças compartilharam o resultado de sua pesquisa e descobriram que algumas das coisas que eles mais gostam de comer estão entre os vilões da nossa saúde, como, por exemplo, o chocolate, a batata frita e o refrigerante. Afinal, se esses alimentos são consumidos em excesso, diminuem a capacidade do organismo de absorver o cálcio. “O resultado dessas descobertas teve bastante repercussão no cotidiano das crianças, que desse dia em diante passaram a ser mais seletivas na compra da merenda na cantina da escola e também a tomar conta do que os outros comiam”, relata a professora. Após apresentação da pesquisa, passaram aos textos.

 

Produção de texto escrito

Na sétima etapa do projeto, a prioridade foi a produção escrita em si. As crianças desenvolveram seus textos com autonomia, sem se preocupar, inicialmente, com aspectos gramaticais e ortográficos. Após a produção individual, foram fotografados e compartilhados com a turma para correção coletiva. Juntos observaram os trabalhos e em seguida foi proposta a construção de um quadro comparativo com duas colunas de palavras: uma listando aquelas de maior recorrência de erro (no uso de “s” e “ss”) e outra corrigida.

 

Reescrita

A última etapa do projeto foi marcada pela leitura individual dos textos de cada aluno em voz alta. Em seguida, conversaram sobre a legitimidade de algumas informações neles contidas, como por exemplo a citação do sal e do arroz como fontes de cálcio.

A educadora conta que, após o projeto, houve um crescente interesse das crianças em saber mais sobre o valor nutricional do que consumiam em casa. As famílias relataram que, nas idas aos supermercados, eles retiravam os produtos da prateleira para ler os rótulos e se empolgavam ao descobrir outros alimentos fontes de cálcio. Passaram a ser comuns frases como: “Compra, mãe, compra, pai, esse alimento é bom para os ossos!”.

Fernanda ressalta ainda que percebeu que o projeto proporcionou uma aprendizagem significativa na compreensão sobre o significado que a língua e a grafia têm na sua realidade imediata elevando o nível de interesse das crianças pelas propostas envolvendo a leitura e a escrita.

E você, professor, o que achou dessa sugestão? Dá para trabalhar de forma remota e incentivar esse aprendizado e a mudança de hábitos alimentares entre os alunos nos encontros on-line ou grupos de WhatsApp? E se você realizar essa atividade, envie um relato contando mais detalhes para o nosso e-mail redacao@appai.org.br ou use a hashtag #souappai nas suas redes sociais. Vamos adorar ler e divulgar em nossas próximas edições!


Por Jéssica Almeida
Colégio Átrios
Estrada General Mena Barreto, nº 330 – Centro – Nilópolis/RJ
CEP: 26535-330
Tel.: (21) 2691-2571
Site: www.colegioatrios.com.br
Fotos cedidas pela professora e banco de imagens gratuito do Freepik


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