A atuação do psicopedagogo frente ao insucesso escolar

Glaucio Martins da S. Bandeira


A Psicopedagogia emerge da indispensabilidade de compreender os processos de aprendizagem dos sujeitos e sua relação com os aspectos sociais, cognitivos, emocionais, culturais e orgânicos. Não há como tecer comentários sobre aprendizagem escolar e prática psicopedagógica banindo esses aspectos, pois são orientadores da vida cotidiana e orientam as relações humanas. Nesse sentido, o psicopedagogo surge também como o profissional responsável pela formação do indivíduo no ambiente escolar, em ações preventivas junto aos alunos, no suporte pedagógico a pais, professores e equipe gestora. O diagnóstico institucional objetivando o reconhecimento dos impasses que estão prejudicando o processo de ensino e aprendizagem satisfatório e eficaz também será competência desse profissional.

Mas o que é insucesso escolar? De formal geral, é a incapacidade do aprendente (aluno) de corresponder aos objetivos escolares estabelecidos podendo se manifestar de diferentes formas e apresentar causas distintas.

Podemos destacar a falta de recursos, materiais didáticos, precariedade da infraestrutura escolar, a má remuneração dos profissionais, o que leva muitas vezes a uma abordagem metodológica arcaica e pouco motivadora. Ou seja, o velho método tradicional que ainda é aplicado aos alunos tem contribuído de forma negativa nesse processo.

Porém o insucesso escolar vai muito, além disso, quando nos deparamos com o perfil socioeconômico do educando: a fome, problemas emocionais e financeiros, moradia precária, os problemas familiares, todos esses fatores têm influenciado de maneira direta na aprendizagem desses indivíduos. Pra que sejam minimizados esses problemas é preciso que o psicopedagogo conheça a criança, o meio em que ela vive, a sua relação com a família, com a qual é necessário criar vínculos de confiança e trazê-la para o espaço escolar, dando visibilidade ao aluno. Diagnosticar de onde surgiram essas dificuldades e, a partir disso, organizar métodos para auxiliar nesse processo, facilitar a aprendizagem e o desempenho desse aluno. Sendo importante respeitar o tempo de cada indivíduo, suas individualidades e peculiaridades quanto ao processo de aprendizagem.

Na medida em que surgem novos alunos que apresentam dificuldades na aprendizagem ou com necessidades educacionais especiais, sem falar os que já existem, a quantidade de profissionais psicopedagogos existentes não dá conta, ou seja, não se consegue superar e nem acompanhar com a mesma velocidade em que essas dificuldades se expandem. É urgente e necessário buscar soluções que atendam essa clientela, capacitando/preparando esses profissionais a fim de ultrapassar essas dificuldades de aprendizagem que cercam esses educandos. Nesse sentindo, o psicopedagogo também irá atuar na formação continuada dos professores e demais profissionais que laboram no ambiente escolar.

Uma avaliação psicopedagógica requer cuidados, é preciso utilizar instrumentos adequados e fazer conexão dos pontos positivos e negativos encontrados, além de ter um olhar atento para confrontar os dados, a fim de entender o caso e avaliar a criança. Antes de tudo, quero aqui reforçar que é fundamental trabalhar o acolhimento, fazendo uma escuta da família dessa criança. Não apenas ouvir, mas entender sua história. Existem ações e estratégias que permitem que o psicopedagogo identifique as questões que geram dúvidas e dificuldades enfrentadas pelo aluno.

Através de provas operatórias piagetianas é possível discernir o nível cognitivo em que a criança se encontra, levando em conta a sua faixa etária. Trabalhar momentos lúdicos, através de jogos, dinâmicas e recursos diversos também serão itens importantes nesse processo, pois durante essa atividade o psicopedagogo observa, como comportamento do aluno, suas situações de bloqueios, sentimentos, concentração, resistência, frustrações, ganhos, perdas e também os aspectos cognitivos essenciais que ele aprende. A utilização de outras atividades e instrumentos com o objetivo de confirmar ou excluir as hipóteses levantadas também é importante e requer uma sensibilidade muito grande desse profissional, pois não existe uma “fórmula mágica”, cada indivíduo é único e assim que ele deve ser visto.

É indispensável ao final de todo o processo ligar as observações feitas, os dados escolares e de outros profissionais que acompanham essa criança, para enfim elaborar um perfil, fundamentado em todo esse processo.

Entender as estruturas cognitivas e os aspectos sociais e emocionais que interferem na aprendizagem desse aluno dará novas oportunidades para que ele possa trilhar pelos diferentes canais sensoriais que ele mesmo desconhece, desfrutando de uma aprendizagem prazerosa, eficaz e significativa.

Conclui-se que o psicopedagogo deve trabalhar de maneira conjunta, ou seja, além do caráter multidisciplinar com psicólogos, fonoaudiólogos, médicos etc. A parceria com a gestão escolar, família, corpo docente, é importante para que todos se envolvam no único objetivo que é o de proporcionar ao aluno a sensação de ter adquirido as ferramentas necessárias para organizar e buscar o seu próprio saber.


Glaucio Martins da Silva Bandeira é mestrando pela UFF, Professor, Psicopedagogo, Psicanalista Clínico, Gerontologista especialista em saúde mental.


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