Revista Appai Educar - 143

Ano25–143-2022-CIRCULAÇÃO DIRIGIDA – DISTRIBUIÇÃOGRATUITA 100 ANOSDO NOBRASIL RÁDIO Entendacomoumdosprincipaismeiosdecomunicação,quejátevesuaextinçãoprevista, podeaprimorarosaspectosinte lectual,afetivo,social,culturalelúdicodosalunos

2 Língua Portuguesa Conselho Editorial Julio Cesar da Costa Ednaldo Carvalho Silva Jornalista Editora Antônia Lúcia Figueiredo (M.T. RJ 22685JP) Assistentes de Editorial Jéssica Almeida e Richard Günter Designer e Assistente Gráfico Luiz Cláudio de Oliveira Yasmin Gundim Revisão Sandro Gomes Andréa Schoch Professores, enviemseus projetos para a redação da Revista Appai Educar: End.: Rua Senador Dantas, 117/229 2º andar – Centro – Rio de Janeiro/RJ. CEP: 20031-911 E-mail: jornaleducar@appai.org.br redacao@appai.org.br www.appai.org.br EXPE DIEN TE

Língua Portuguesa Por Sandro Gomes* POR DENTRO DOS PREDICATIVOS Nossa lição de hoje é o predicativo, um termo integrante da oração, que tem a função de classificar ou qualificar o sujeito ou o objeto em uma sentença. Em geral são antecedidos por verbos que indicam estado, seja permanente ou não, os conhecidos verbos de ligação. Na sua função de qualificar outro termo, os predicativos podem ter a natureza de diversas classes gramaticais. Vamos ver algumas delas. Adjetivo: As pessoas continuam desinteressadas. Locução adjetiva: Eles são da região sul. Advérbio: Apesar de tudo, as mulheres permaneceram bem. Substantivo: Eles formam um casal. Pronome: O problema maior continua esse. Numeral: Todos no universo somos um. Repare como, nos exemplos acima, há a relação de proximidade entre os sujeitos e os predicativos, como se os verbos ocupassem um significado menos ativo. Seria possível intuir linguisticamente essa relação mesmo se o verbo não estivesse presente. Essa é uma característica das orações que utilizam predicativos. Veja. Eles são da região sul / Eles – região sul Asmulheres permanecerambem/ Asmulheres – bem É comum na escola que os professores indiquem para os alunos uma “lista de verbos de ligação”, ou seja, aqueles envolvidos em sentenças com predicativo do sujeito. Em geral ela contém os seguintes: Ser, estar, ficar, parecer, permanecer, continuar, andar, ficar, viver, tornar-se Em geral esse é um bom recurso para identificar essas frases, porém é preciso estar atento, pois alguns que não figuram nessas habituais “listas” podem também exercer, em alguns contextos, a tarefa de verbos de ligação. Observe. A viúva acha-se pensativa algumas vezes Eu me encontrara perdido naquele momento. Predicativo do objeto Os predicativos também podem realizar função semelhante com outro termo integrante da oração: os objetos. Veja alguns exemplos. Nós acreditamos na grandeza humana. O colecionador amava os livros raros. Repare que os predicativos (em azul) qualificam os termos que na oração exercem função de objeto (em negrito), não de sujeito. Amigos, sobrepredicativos é isso. Napróxima ediçãoaqui estaremos, trazendomaisumaquestãodessa fascinante línguaportuguesa. Atéapróxima, pessoal! *Sandro Gomes é graduado em Língua Portuguesa, Literaturas brasileira, portuguesa e africanas de língua portuguesa, redator e revisor da Revista Appai Educar, escritor e Mestre em Literatura Brasileira pela Uerj.

O impacto da educação bilíngue na formação dos estudantes Opinião  Os conceitos e opiniões emitidos em artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores. Por Cinthya Paolini Moscopf* As mudanças proporcionadas pela internet e a velocidade da comunicação trouxeram para o setor educacional a necessidade de inovação e, neste contexto, a educação bilíngue tem se mostrado uma tendência cada vez mais forte no Brasil. Segundo dados da Associação Brasileira do Ensino Bilíngue (Abebi), houve um aumento entre 6% e 10% no segmento de escolas bilíngues do país nos últimos cinco anos. Tendo em vista este cenário, a educação bilíngue trabalha a língua não apenas como um objeto de estudo, mas também como um meio de instrução, em que os estudantes têm contato com diferentes componentes curriculares, projetos, temas e assuntos de todas as disciplinas. Seja em uma escola bilíngue, ou em um colégio que oferece educação bilíngue de qualidade, a organização curricular não pode ser baseada na hierarquia linguística, mas sim nos princípios de integração de língua e conteúdo com o desenvolvimento de habilidades e competências que vão além do domínio do idioma. Ou seja, escolas que dispõem de um currículo único e integrado que é ministrado em duas línguas. Benefícios da educação bilíngue atenção, além de analisar e organizar as informações com mais facilidade. Isto porque, no que tange à questão linguística, há um processo de construção de conhecimento ao mesmo tempo em que se desenvolve a língua no estudante. Este é um processo A educação bilíngue já provou seus inúmeros benefícios, com destaque para o melhor desenvolvimento dos estudantes desde a infância. Um estudo realizado pela Universidade de Stanford, na Califórnia, intitulado “Bilingual Brains”, revelou que, por ter estimulada a neuroplasticidade constantemente, crianças bilíngues têm maior habilidade de bloquear distrações, reter a

natural e subconsciente de aprendizado do idioma não nativo. Dessa forma, ao trabalhar com o processo de aquisição de língua de forma significativa e natural, são ativadas algumas áreas do cérebro responsáveis pelo desenvolvimento de funções cognitivas e executivas como memória, foco, atenção, pensamento crítico, analítico, criatividade, entre outras habilidades e competências desenvolvidas. É possível afirmar que é incontestável a contribuição da educação bilíngue e do domínio de uma língua adicional na inserção do indivíduo na sociedade. Além de aspectos ligados à auAprendizado para os professores toestima, existem oportunidades e portas que se abrem aos sujeitos bilíngues no convívio social e cultural. Além disso, já está claro que apenas a graduação curricular básica do Ensino Médio não é suficiente para um mercado altamente competitivo. Por isso, promover a formação acadêmica somada ao conhecimento e domínio da língua inglesa gera, certamente, novas oportunidades e vantagens na carreira. De acordo com o portal salary.com os salários para candidatos bilíngues são entre 5 e 20% superiores. Engana-se quem acredita que apenas para os estudantes a educação bilíngue proporciona benefícios. Os docentes têm a oportunidade de contextualizar o ensino do inglês com outras disciplinas, elaborando aulas que podem agregar a compreensão didática e expandir a visão de mundo de crianças e adolescentes. Além disso, ao se capacitar nesta modalidade, os professores valorizam suas carreiras e ampliam a perspectiva profissional, uma vez que estarão melhor preparados para cumprir as exigências do atual mercado de trabalho. A todo momento, novas descobertas confirmam a importância da educação bilíngue para o engajamento dos estudantes no processo de aprendizagem, propiciando uma experiência que promove a alta performance na aquisição de conhecimento. Dessa forma, a aquisição do inglês tornou-se fundamental para que, no futuro, eles se tornem profissionais mais dinâmicos e polivalentes. *Cinthya Paolini Moscopf é vice-diretora da rede de colégios Santa Marcelina, instituição que alia tradição a uma proposta educacional disruptiva e alinhada às principais tendências do mercado de educação.

TRANSFOR ARTE MAD Arte

DORA Para amenizar os efeitos da pandemia, escola dá um show de criatividade e de acolhimento aos alunos através de uma exposição de arte Muitos professores estão relatando os problemas encontrados nessa volta às aulas, principalmente por conta da ansiedade, depressão e falta de autoestima que os alunos estão apresentando devido à pandemia. Para amenizar esses efeitos e acolher os estudantes da Escola Municipal Padre Rafael Scarfó, localizada nomunicípio de Itaguaí, o professor de Arte Geilson Almeida desenvolveu um projeto que movimentou cerca 1.500 pessoas da comunidade escolar. Para isso, foram criadas telas de pinturas, colagens, esculturas, arquiteturas e desenhos, buscando despertar o talento e as habilidades de cada aluno, resgatando a autoestima adormecida. O educador explica que o primeiro passo foi fazer comque os alunos percebessemque estavam sendo acolhidos e que a escola estava ali para caminhar demãos dadas comeles. “Conversando coma secretária de Educação domunicípio, Nilce Ramos, percebi o quanto a sua equipe pedagógica trabalhava para esse objetivo. Pude observar e ver em seus olhos o afeto, quando ela falava dos alunos de Itaguaí. Eu precisava estar nessamesma sintonia, nesse resgate por meio do novo ensino e aprendizagem. Isso soou como uma dose de entusiasmo paramim”, lembra Geilson.

O professor começou a perceber através de suas aulas, que, além de todo o processo psicológico e traumático que a pandemia trouxe, a falta de autoestima e agressividade se tornarammais presentes e que as questões e valores sociais ficaram esquecidos, assim como a perspectiva de ummundo melhor. “Abraçar esses alunos com o fazer artístico foi fundamental para eles voltarem a se socializar e respeitar o outro”, afirma. Geilson queria ouvir e estar mais perto desses estudantes. Para isso, ele aproveitava o recreio e os tempos vagos para permanecer com os alunos, mostrando a eles a importância de cada um, e criou estratégias para motivá-los, através de aulas diversificadas e com interação social. Uma dessas atividades era fazer com que eles visitassem e entrevistassem outros departamentos e profissionais da escola, percebendo que todo o trabalho desenvolvido era para o bem-estar deles. Segundo o educador, ações simples como essas ajudam a valorizar o aluno, independente do seu papel social, ao dizer que ele contribui para a sociedade. “É despertar a autoestima e motivá-lo em busca de seus objetivos. A expressão artística ajuda a tornar nítidas as emoções, que propiciam conhecimento e contribuem para suavizar sentimentos de ansiedade, medo e estresse”, explica Geilson.

Após essas ações, o professor deu início aos trabalhos de criação de desenhos, telas de pinturas, colagens, esculturas, arquiteturas, buscando despertar o talento e as habilidades de cada aluno. Além disso, o docente aproveitou o tema “100 anos da Semana de Arte Moderna no Brasil” e ressaltou os artistas modernistas e suas obras, entre eles Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Oswald de Andrade. Os alunos produziram cerca de 300 telas de pinturas com objetivo de trazer uma reflexão social e cultural. A culminância foi aberta para toda a comunidade escolar, por meio de um festival de arte moderna. A secretária de Educação ressalta que a exposição mostra o potencial criativo e artístico que cada um dos estudantes tem. “Tenho certeza que esse trabalho faz com que a gente sonhe, chore e sorria ao mesmo tempo com tudo aquilo que estamos vendo”, afirma. A estudante do 8º ano Luiza da Silva conta que adorou a abordagem do projeto. “Essa exposição serviu para levantar a minha autoestima, mostrar os meus trabalhos para todos e o quanto sou talentosa”, explica. Já Mare Gleyce Botelho, a mãe da aluna Luiza Botelho, conta que foi nítido todo o carinho e esforço depositados na exposição. “Um trabalho maravilhoso despertando talentos em seus alunos. Como mãe e espectadora só tenho elogios. A exposição ficou lindíssima!”, finaliza. Por Jéssica Almeida Escola Municipal Padre Rafael Scarfó Rua Elvira Ciuffo Cicarino, s/nº – Vila Margarida Itaguaí/RJ CEP: 23820-000 Tel.: (21) 2688-2833 E-mail: escolapadreeafaelscarfo@itaguai.rj.gov.br Fotos cedidas pelo professor

REDUZIR, REUTI E RECICLAR Saiba como deixar um legado impactante na sua escola e formar uma geração mais consciente Sustentabilidade Quando falamos em sustentabilidade, um dos primeiros pensamentos que nos vêm à cabeça é ponderar sobre o uso demasiado de papéis e plásticos, porém os reais cuidados necessários não se resumem a estes materiais. Isso porque, infelizmente, vivemos em um planeta que está pedindo socorro constantemente. E a tendência é que nas próximas gerações encontremos a situação ainda mais grave, caso não sejam tomadas atitudes drásticas. Mas uma coisa é certa: não há solução simples para problemas complexos, contudo podemos partir de uma certeza: a educação é fundamental para se atingir essa meta. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), plano de ação firmado em 2015 pelos países que integram a Organização das Nações Unidas (ONU) como ummarco civilizatório a ser atingido até 2030, vêm se consolidando como um amplo esforço de foco, mobilização, sistematização, acompanhamento, pressão para que prevaleçam boas ideias capazes de produzir transformações. E a escola está inserida nesse cenário. Isso porque, entre os 17 ODS, o de número 4 se refere exclusivamente à educação, embora o tema seja transversal.

ILIZAR

Vale ressaltar que a meta 4.7 propõe que até 2030 é preciso garantir que todos os estudantes adquiram conhecimentos e habilidades necessárias para promover o desenvolvimento sustentável. Por esta razão, é de extrema importância avançar nessa temática, tendo em vista que os anos de forComo abordar a política dos 3 Rs na escola? mação são o momento chave para se aprender a importância da sustentabilidade e refletir sobre o aquecimento global, a escassez de água, as montanhas de lixo se acumulando enquanto os recursos se esgotam. Logo, a escola tem um papel fundamental neste processo. Reutilizar: o segundo passo é buscar reutilizar aquilo que não foi possível reduzir. Fazendo uso da criatividade, é viável encontrar novas funções para objetos que antes seriam jogados fora. Reciclar: depois de tentar reduzir e reutilizar, a última atitude possível é optar por enviar o produto para reciclagem, por meio da coleta seletiva. Além de diminuir o impacto dos resíduos sobre o meio ambiente, isso também ajuda economicamente catadores e cooperativas. O nome “3 Rs” vem da abreviação das três medidas a serem adotadas por todos para a melhoria do meio ambiente: Reduzir, Reutilizar e Reciclar. A política foi criada para que as pessoas diminuam a produção de lixo. Trata-se de um incentivo ou uma campanha para influenciar a população a poluir menos o meio ambiente através de um consumo consciente e também de ummanejo sustentável dos produtos e materiais utilizados no dia a dia. Reduzir: para reduzir os resíduos, é preciso primeiro frear o consumo. Isso é extremamente complexo em uma sociedade que nos estimula a comprar o tempo todo. Portanto, é importante plantar essa semente nos alunos desde cedo. Estudos recentes comprovamque o uso da interdisciplinaridade funciona como fator de transformação pessoal, e não apenas como uma ferramenta de integração entre teorias. Tratando- -se o tema da sustentabilidade de maneira integrada comas ciências humanas, exatas, arte, literatura e demais áreas do conhecimento, é possível se aproximar mais do aluno e levar a discussão para além da sala de aula.

Como a sua escola se posiciona? Existemmuitas formas da escola introduzir a reciclagem no dia a dia dos alunos de maneira convidativa, como promover palestras com ambientalistas, funcionários da prefeitura ou membros de associação de catadores, por exemplo. Outra ideia divertida é realizar mutirões de limpeza e educação ambiental, onde os alunos participem do processo de coleta de resíduos, entrando em contato com a realidade da comunidade e levantando a discussão sobre o tema. Atividades lúdicas também fazem o maior sucesso. Realizar gincanas, onde as provas estimulem a coleta, reciclagem e reaproveitamento de materiais sempre dá certo. Além disso, também é interessante abordar a importância da redução do consumo de papel e ensinar pelo exemplo. Algumas formas de fazer isso:

Incentivando o reaproveitamento de livros e materiais impressos Orientando os alunos a destinarem seus cadernos usados para a reciclagem Cultivando uma cultura de somente usar material impresso quando for imprescindível Investindo na substituição de papéis-toalha por secadores de mão nos banheiros. O que, além de econômico, é mais higiênico Substituindo a papelada por um sistema de gestão automatizado, que permita que documentos como boletins e diários de classe sejam acessados digitalmente Educação ambiental nas escolas: entenda a importância LEIA MAIS No cenário empresarial tem sido muito utilizada a sigla ESG para avaliar investimentos, profissionais e companhias. As três letras são as iniciais de Enviromental, Social e Governance (governança ambiental, social e corporativa) e resgatam as nossas responsabilidades como seres humanos. Essas palavras mostram quanto uma empresa está comprometida em ter uma operação mais sustentável em termos ambientais, sociais e de governança. Esse comprometimento deve ser aprendido e empregado nas organizações, as quais pretendemmanter competitividade e alinhamento com seu público. Tal termo não deveria ser uma novidade, tendo em vista que a educação precisa ser iniciada em casa, deixando para a escola seu desenvolvimento e por consequência uma ação natural no âmbito profissional, mas isso não vem acontecendo. ESG: OTEMA DOMOMENTO

Outro ponto para que o ESG esteja tão em evidência é em decorrência da nova leva de investidores que têm um perfil mais consciente: os investidores millennials. Essa geração está entrando no mercado de trabalho e assumindo cargos de gestão e docência e não consegue entender um ambiente que não esteja engajado com essas preocupações. Por isso, integrar o tripé ESG ao setor de educação é mais do que cuidar dos colaboradores e preservar o meio ambiente com práticas sustentáveis: é uma verdadeira oportunidade de embutir essa cultura das escolas. Renata Frischer Vilenky, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV) e construtora de pontes entre pessoas e negócios, lista alguns passos possíveis para que seja aplicada a temática em sala de aula. Trabalhar com a criação de hortas verticais e plantar pequenos alimentos em casa ou, na aula de química, testar o uso de carvão ativo para filtrar a água. Assim oferecemos aprendizagem aplicada, através de processos baratos e fáceis de fazer. Na aula de matemática ensine cálculo usando desde troca de materiais necessários para as outras aulas até a questão da redução do lixo que a sala consegue alcançar. Na aula de artes pode-se construir pequenas maquetes de casas ou lojas físicas usando lixo reciclável. Na aula de história pode-se trazer o contexto atual dos países que aplicam economia circular, para que os alunos entendam o benefício para a sociedade e se engajem na causa no Brasil. Veja alguns exemplos práticos Exemplo de aplicação de economia circular: Upcycle Brasil Gerar sabão a partir do óleo de cozinha: Reportagem da Bahia no G1 Como fazer uma horta vertical em casa: Vídeo YouTube Como criar filtro caseiro: Vídeo do guia do sobrevivente ■ Por Richard Günter Fontes: ONU | Abrasca | Escolas do Futuro

LONGEVIDADE NA PRÁTICA Atualmente o maior desafio da “ciência da longevidade” não está pautado na estimativa em números de anos que o indivíduo pode viver. E sim de que forma estamos buscando e vivenciando esse prolongamento da vida no nosso dia a dia, a fim de colhermos os benefícios não somente na maioridade, mas em todos os ciclos e fases da nossa existência – infância, adolescência, vida adulta e velhice. Para nos mostrar de uma maneira bem objetiva como essa prática longeva começa muito mais cedo que imaginamos e o que podemos fazer para alcançar êxito nesse quesito, a Revista Appai Educar convidou a Doutora em Ciências Cardiovasculares Erika Alvarenga Corrêa Gomes, médica especializada em Cardiologia e Medicina do Esporte, que vai conversar com a gente e explicar o que é praticar longevidade. Longevidade RAE – Dra. Erika, como a ciência pode nos auxiliar desde a infância, passando pela adolescência, a fim de que possamos desfrutar dessa “construção da longevidade” em todas as fases de nossa vida, e não apenas na maioridade? Dra. Erika – Hoje sabemos que os nossos hábitos influenciam a nossa evolução, o nosso desenvolvimento. Costumes alimentares, por exemplo, são criados na infância. A utilização de sal nas refeições, açúcar nas bebidas são iniciados pelos responsáveis pelas crianças que desenvolvem seu paladar a partir desses hábitos. Assim como a alimentação, a prática de exercícios, os cuidados com higiene, o acompanhamento médico e de outros profissionais de saúde são iniciados na infância. É importante manter essas práticas na adolescência. Uma vez que sejammantidas, esse cuidado com a saúde faz parte da rotina do adulto contribuindo para uma vida saudável. RAE – Em que medida o treinamento físico contribui para um coração com “mais longevidade”?

Dra. Erika – O treinamento físico gera adaptações no sistema cardiovascular. O coração contrai melhor, o músculo cardíaco fica mais forte não havendo necessidade de aumentar tanto a frequência cardíaca para uma certa demanda. As artérias se adaptammelhor ao volume de sangue, diminuindo a resistência e até colaborando para a redução da pressão arterial. Se a prática de exercício é mantida, esses efeitos são conservados e o impacto do envelhecimento, como a maior rigidez das artérias, é menor. RAE – Existe idade ideal para começar e finalizar a prática da longevidade? Dra. Erika – Os cuidados com a saúde devem ser realizados durante todas as fases da vida – criança, jovem, adulto e idoso. Isso não diz respeito apenas à realização de exames e avaliação médica, mas também à alimentação balanceada, mas sobretudo à prática de exercício, bem como cuidados com o corpo e a mente. RAE – De acordo com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) é aconselhável que adultos façam atividade física moderada de 150 a 300 minutos ou de 75 a 150 minutos de prática intensa, quando não houver contraindicação. Qual a diferença entre atividade física e exercício físico? Dra. Erika – Atividade física é qualquer movimento de contração muscular que promova gasto ener-gético, como andar para o trabalho, subir escadas, carregar sacola de compras. Já exercício é uma atividade física organizada com o objetivo de gerar força, condicionamento ou manutenção da saúde, como caminhada, musculação, corrida, sempre objetivando maior bem-estar, consequentemente longevidade. RAE – A busca por uma vida longa começa bemcedo, comhábitos e rotinas que contribuempara umafastamento ou prevenção das doenças. O treinamento

físico realizado na parte damanhã e à noite emhomens emulheres fazemalguma diferença ou interferência nessa busca pela longevidade saudável? Dra. Erika – Existem trabalhos mostrando que os efeitos do exercício na perda de gordura e na pressão arterial podem ser diferentes de acordo com o horário da realização. No entanto, a longo prazo esse impacto ainda parece ser pequeno. O mais importante é a constância. Ajustar os horários e praticar exercício regularmente. RAE – O infarto do miocárdio é a mais temida doença cardíaca. No entanto, outros males podem causar risco à saúde e até morte súbita. Uma vida de histórico saudável, através de boas práticas de atividades físicas, aliada a uma alimentação saudável, pode desacelerar esse quadro e consequentemente aumentar essa longevidade? Dra. Erika – Com certeza. Nossa genética, nossa história familiar não podemos mudar. Já nosso estilo de vida é a parte que podemos controlar, tais como sono, alimentação, exercício. Evitar tabagismo e o consumo de álcool são atitudes fundamentais para que tenhamos longevidade em todas as fases da nossa trajetória de vida. RAE – O quanto uma alimentação equilibrada contribui para uma vida saudável e longeva? Dra. Erika – A alimentação é fundamental para a saúde. É através dos alimentos que obtemos os nutrientes necessários para gerar a energia para realizar as atividades do dia a dia. Além disso, a hidratação é muito importante, uma vez que cerca 70% do corpo humano é composto por água. RAE – O que é ter uma alimentação saudável? Dra. Erika – Uma alimentação saudável é baseada na nossa demanda, de acordo com as nossas atividades, o gasto energético e a presença de doenças. Alimentação não deve ser um castigo. As pessoas relacionam dieta à proibição. O que comemos deve ser baseado em equilíbrio. RAE – Qual o peso da saúde física e mental para se alcançar uma longevidade saudável? Dra. Erika – Saúde física é fundamental para que se tenha autonomia. Caminhar sem auxílio, poder carregar uma bolsa, subir escadas, se movimentar e realizar atividades sem depender de ajuda é importante para uma longevidade saudável. Assim

como o corpo, a saúde mental deve ser estimulada. As funções cognitivas de percepção, memória, linguagem, aprendizado e atenção são de grande importância em todas as fases da vida. Além disso, o cuidado com as emoções é tão relevante quanto com a saúde física. Tristeza, alegria, euforia, depressão, ansiedade devem ser acompanhadas e tratadas independentemente da idade. RAE – O que fazer para que essa cultura da longevidade seja uma sequência ininterrupta, a fim de colhermos os benefícios de uma vida saudável, antes, durante e depois da maioridade? Dra. Erika – Coma evolução tecnológica, crianças e adolescentes passammuitas horas do dia emcelulares, tablets, computadores, televisão e outros dispositivos. Hoje esse tempo é chamado de “lazer sedentário”. É importante que pais e responsáveis estimulem uma vida ativa, incluindo exercícios, esportes e brincadeiras que contribuempara o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças. No entanto, essa atividade precisa ser prazerosa para o adolescente, para o adulto e para o idoso, a fimde que ela se torne parte da rotina, assimcomo todas as outras tarefas. Omesmo vale para os adultos, é importante escolher práticas que lhe proporcionembem-estar acima de tudo. RAE – Em alguns casos, o exercício pode ser considerado remédio? Dra. Erika – Sem dúvidas. O exercício e a alimentação são intervenções não-farmacológicas. São a base de qualquer tratamento. Emmuitos casos, associado ao uso de remédios, em outros é capaz de tratar as doenças sem sua utilização. Para saber mais sobre longevidade e suas práticas clique nos links das matérias abaixo na Revista Appai Educar. Lembrando que a cada edição convidaremos um especialista para que nos esclareça e ajude a tirar todas as dúvidas sobre o que é longevidade na prática. Até a próxima, e boa leitura! ■Por Antônia Lúcia Erika Alvarenga Corrêa Gomes Médica - Cardiologia e Medicina do Esporte Doutora em Ciências Cardiovasculares Esportista - corrida, tênis e natação Consultas presencial e on-line linktr.ee/dra.erika_alvarenga https://www.appai.org.br/appai-educacao-revista- -appai-educar-edicao-130-habitos-que-aumentam- -a-longevidade-2/ https://www.appai.org.br/appai-educacao-revista- -appai-educar-edicao-118-saude-em-movimento/ https://www.appai.org.br/appai-educacao-revista- -appai-educar-edicao-140-longevidade-na-pratica- -o-futuro-da-sua-saude-comeca-agora/

100 ANOS DO RÁDIO NO BRASIL Entenda como um dos principais meios de comunicação, que já teve sua extinção prevista, pode aprimorar os aspectos intelectual, afetivo, social, cultural e lúdico dos alunos Matéria de Capa Um século de transmissões, informações, músicas, histórias e muito amor envolvido entre o rádio e seus milhares de ouvintes. Seja com seus radinhos de “pilha” ou a eletricidade, esse caminhar junto tem em seu enredo um roteiro que se confunde com a própria história de vida dos brasileiros. Independente do teor da informação, a “voz” do locutor, o atento ouvido do receptor aparecem sempre como as principais testemunhas de todos os fatos ao longo desses 100 anos. Para retratar um pouco mais essa paixão, a Revista Appai Educar convidou alguns especialistas da área, radialistas, comunicólogos e, não podia faltar, é claro, ouvintes apaixonados por esse veículo a juntos celebrarmos e contarmos as histórias das emissoras pioneiras até os dias atuais, uma vez que falar do centenário do rádio no Brasil

é relembrar a primeira transmissão histórica das comemorações da Independência, realizada pela rádio Sociedade em 1923. Enquanto essa emissora focava em um eixo educativo, com aulas de disciplinas escolares na programação, a Mayrink Veiga se dedicava ao chamado rádio espetáculo. O rádio como apoio educativo De acordo com um dos nossos convida-d os, o jornalista e radialista Luiz AndréFerreira, a virada de chave revolucionou a transmissão radiofônica no Brasil, que num primeiromomento surgiu apenas para ter um viés instrutivo.“O rádio nasceu nomodelo educativo, basta saber que esse era o lema de Roquette-Pinto. ‘Rádio – a escola de quem não tem escola’”, recorda Luiz André, acrescentando que ter uma emissora educativa fazia parte de um plano maior do que apenas entreter, mas, sobretudo, alfabetizar, letrar os muitos brasileiros basicamente semialfabetizados. “Pouquíssimas pessoas que sabiam ler. No entanto, como a tecnologia era nova e em pequena escala industrial no mundo, o aparelho era muito caro. Dessa forma só os muito ricos tinham acesso. E esses eram os únicos que já podiam também dispor do ensino. Com o tempo, o Brasil rural começava a dar os passos da modernização perpassando ainda pelo período Vargas e a inspiração que adotou a partir da experiência alemã de controle através da comunicação. Sendo assim foram sendo permitidos os primeiros comerciais através de mudanças na legislação e incentivos para o desenvolvimento”, destaca Luiz André.

Surgem as emissoras comerciais Como nos dias atuais, a evolução ou revolução, independente da área, não vem sem o maciço apoio das políticas públicas e privadas, e com o rádio não foi diferente. “Com a ascensão radiofônica, mesmo ainda em tímida escala de audiência, principalmente por parte dos menos favorecidos, surgem as emissoras comerciais, como a Mayrink Veiga, com programações mais populares. Ao mesmo tempo em que os aparelhos barateavam já dando acesso à classe média mais alta. Com o surgimento desses empreendimentos, fica impossível à pioneira Rádio Sociedade do Rio de Janeiro concorrer com as demais e manter seus custos. Roquette-Pinto, então, lhe entrega em doação para o Ministério da Educação e ela é rebatizada de Rádio MEC, que está no ar até hoje, uma das mais antigas do mundo em pleno funcionamento”, explica Ferreira. A partir dos anos 1930, com a regulamentação da publicidade no Brasil, a rádio tornou-se, se não a referência, um dos veículos mais acessados pela comunicação publicitária. Contudo, a entrada da TV em nosso meio, nos lares, mudou o cenário do veículo, da mesma forma que, com a chegada da internet, transformaram-se os hábitos de consumo dos programas de televisão. 1930: o rádio tornou-se, se não a referência, um dos veículos mais acessados pela comunicação publicitária. A chegada da TV na Era Rádio Todavia sabemos que é difícil não haver essa comparação entre um veículo e outro, mesmo sabendo que cada um deles, embora sendo de comunicação de massa, tem suas peculiaridades e particularidades, isso sem falar no tipo de público. Porém, o que vale ressaltar é que a TV já surgiu comercial e em geral as emissoras apareciam como braços de rádios já consolidadas e de grande faturamento e audiência, como a Tupi, do pioneiro Assis Chateaubriand, e a Record, de São Paulo, conforme aponta Luiz André. “Quanto ao surgimento da concorrência de outras mídias, o rádio é o mais ‘camaleão’. Se adaptou, se renovou e resistiu ao surgimento de todas as outras: foi assim com a chegada da TV, com a popularização dos discos e agora, quando todos pensavam que iria padecer com a internet, é dos tradicionais o que mais rápido se reposicionou, com as instalações de câmeras nos estúdios, desenvolvimento de sites corporativos complementares, oferecimento por streaming e principalmente os podcasts, que nada mais são do que produtos radiofônicos trabalhados em outro formato, mas com a linguagem e estrutura genuinamente do rádio”, argumenta.

A força do rádio enfatiza a identidade cultural Os programas de auditório deram ao rádio, e a seus convidados, um status jamais visto em todo o meio comunicacional, que ia desde reforçar a identidade cultural de uma região até projetar e lançar artistas que fizeram sucesso mundo a fora, se consolidando como um dos maiores veículos de massa. Esse momento deu um grande protagonismo à chamada Era de Ouro do rádio no Brasil, com suas contribuições social, cultural e informativa, avalia Luiz André Ferreira. “A Era de Ouro do Rádio só aconteceu naquele formato pelo incentivo e interesse do governo Vargas em desenvolvimento e na integração do país. O poder público não agiu apenas como regulador ou incentivador. Botou a mão na massa! O presidente encampou uma emissora privada, a Nacional, e investiu nela toda a força do Serviço de Propaganda. Ou seja, a Era de Ouro foi capitaneada através dessa rádio, tornando quase impossível a concorrência em pé de igualdade com quaisquer outras. Assim ela detinha todos os melhores talentos e recursos do país. Um cast imenso com os maiores atores, autores, cantores, apresentadores, jornalistas, músicos, maestros, produtores”, pontua Ferreira. Dessa maneira, segundo o radialista, a emissora surgiu como integradora nacional e mantenedora de um regime que durou 15 anos. Lembrando que estamos falando de um país continental em que as demais rádios eram locais, telefonia a longa distância quase impossível e caras demais, correios com dificuldade de acesso, poucas estradas e precárias, os jornais da capital (Rio de Janeiro) chegavam a determinados pontos com quase ummês de atraso. “Ou seja, coube ao rádio manter a integração e criar uma identidade nacional num país tão diverso e separado”, frisa.

Era de Ouro do rádio A chegada da Rádio Nacional abriu caminho para o início da Era de Ouro no Brasil, com a criação de novos programas e produtos inovadores como as radionovelas (com destaque de sucesso para “O direito de nascer”) e o Repórter Esso, principal radiojornal do país, e a liderança de audiência nesse período. Todo esse movimento teve uma grande representatividade para a história da comunicação brasileira. “Esse tripé popularizado e implantado pela Nacional na chamada Era de Ouro não só ditou a programação das concorrentes, mas a de toda a comunicação de massa até hoje. Os formatos e modelos dos 5 eixos da programação em todo o país são o que rege até hoje a grade da televisão e também influencia os formatos das lives da internet, tais como os programas de auditório, música, dramaturgia, jornalismo e transmissão esportiva”, esclarece o jornalista Luiz André Ferreira. Radionovelas continuam inspirando Engana-se quem acha que elas são coisas do passado. Na era dos podcasts, ressuscitaram e passaram por um processo de modernização. Inspirados em radionovelas, os alunos da 5ª série da Escola La Fontaine, localizada em Jundiaí-SP, realizam suas próprias produções. De acordo com Giba Pedroza, educador e contador de histórias, “a turma se envolve com a escolha e adaptação de textos clássicos da literatura infantil e juvenil, que são divididos em quatro capítulos nas ‘radionovelinhas’. Com a criação e produção, alunos ainda aprimoram vocabulário, escrita e desenvolvem organização”, diz o professor. Segundo a docente de Língua Portuguesa Maria Ângela Biazin, uma das coordenadoras do projeto, “a radionovela proporciona uma aula diferente e desperta nos alunos o gosto pela leitura, que abre porta para tudo, ao trabalharem o entendimento de texto, a ortografia e a oralidade”.

A aluna Maria Fernanda, de 10 anos, que é uma das narradoras, corrobora a opinião da educadora. “Meu vocabulário está aumentando, eu estou aprendendo novas palavras. Tenho de saber falar corretamente”. Já a roteirista Eduarda, que tem a mesma idade, reforça que criar as falas das personagens é algo diferente do que faz no dia a dia da escola e que isso a estimula a escrever melhor. Giba também acredita nas radionovelinhas como ferramenta educativa. “Eu fiquei muito feliz porque o rádio é um instrumento educacional muito forte, que estimula a imaginação”, afirma. Durante o ensaio, isso pode ser comprovado. O aluno Rafael se transforma em um gigante loiro de cerca de seis metros de altura e olhos azuis, na trama em que é um dos atores. Maria Ângela Biazin também cita a criatividade e a organização como benefícios que a prática traz para os alunos e ressalta que isso se reflete nas demais atividades na escola. “Na classe, precisamos de muita criatividade em todos os momentos, não só na aula de português. Já a organização traz disciplina à turma”. E conclui: “Eles gostam muito (das aulas de rádio) porque sai do natural. Para os estudantes, escola é carteira e lousa. De repente, eles estão fazendo um trabalho em que demonstram toda a potencialidade que têm”. Já os alunos da escola Elite, no Rio de Janeiro, desenvolvem o projeto conhecido como Palco Elite, que tem como propósito desenvolver os aspectos intelectual, afetivo, social, cultural e lúdico, além de preparar os jovens para o mercado de trabalho e para o empreendedorismo. Na visão da coordenadora do Ensino Fundamental, anos finais da instituição, Luiza Itabayana, a produção das radionovelas, em um formato repaginado, trouxe ferramentas tecnológicas que são associadas a um tipo de comunicação consolidada na pandemia: os podcasts. Mesmo com a mudança de formato, os alunos ainda trabalham pontos importantes, como produção, edição e sonoplastia e, mesmo sem a proximidade física, desenvolvem o espírito de

equipe – algo fundamental não só na fase estudantil, mas também na vida adulta. “Foi uma adaptação ao momento que estamos vivendo. Um ajuste que traz tecnologia através das radionovelas, que voltaram por meio dos podcasts de uma forma moderna. Esse modelo nos permitiu não perder a essência da proatividade, do protagonismo e do desenvolvimento de múltiplas habilidades dos estudantes. Eles desenvolveram a oratória, realizaram pesquisas históricas e produziram as sonoplastias”, explica Luiza. Carlos Magno, coordenador e professor do projeto, diz que em um primeiro momento foi desafiador motivar os alunos. “A ideia dos podcasts tem um vínculo muito próximo com a realidade atual dos estudantes. Quando se perceberam inseridos em tudo que está acontecendo no momento, sobretudo com artistas, jornalistas, enfim, grandes personalidades adotando o modelo, os jovens viram o quão grande pode se tornar esse formato de comunicação. Aí, efetivamente, conseguimos trazê-los para esse mundo onde atuaram com afinco”, conclui. O professor conta que o formato de 2021 trouxe gratas surpresas. “Descobrimos grandes potencialidades em alunos que não tinham uma participação tão efetiva no dia a dia, mas que se mostraram excelentes sob o ponto de vista técnico. Outro ponto marcante foi a dicotomia. Enquanto algumas turmas optaram pela tecnologia, com toques digitalizados, outras buscaram o tradicional, produzindo os próprios efeitos sonoros, e os resultados também ficarammuito bons. Eles puderam trabalhar a autoanálise. Nesse formato você faz e ouve. Ou seja, os alunos adquiriram uma percepção de autocrítica”.

De escritores para atores de programa de rádio A Escola Municipal José de Alencar, localizada em Laranjeiras, também já desenvolveu um projeto sobre o rádio. Idealizado pelas professoras de Artes Cênicas, Célia Damiana, e de Língua Portuguesa, Isabela Gouvêa, os alunos desenvolveram e escreveram novos finais para as fábulas “A cigarra e a formiga”, “A coruja e a águia” e “O velho, o menino e o burro”. Além disso, fizeram desenhos, ilustraram as novas histórias e criaram uma fotonovela. E todo esse material se transformou em um livro. A partir dessa primeira etapa do projeto, por que não investir emumprograma de rádio, permitindo que os alunos se tornassemnarradores e atores das próprias histórias que escreveram? “É uma outra mídia, trabalha coma entonação e comos distintos gêneros textuais, alémdemostrar que a narrativa do rádio é diferente daquela que você redige para o livro”, comenta a professora Isabela Gouvêa. Esse novo desafio foi uma oportunidade de os estudantes trabalharem os seus recursos vocais, através de interpretação, dramatização e percepção. A docente de Artes Cênicas ensinou a eles o que era um texto radiofônico. O principal objetivo desse projeto foi trabalhar a autoestima, a valorização, a organização, a independência e principalmente a confiança. “Cada aluno é capaz, porém muitos não sabem usar isso a seu favor. E cabe a nós com o trabalho pedagógico mostrar-lhes a importância que têm e, acima de tudo, que devem acreditar em si próprios”, afirma Damiana. O programa foi gravado no estúdio da Amarc Brasil (Associação Mundial de Rádios Comunitárias). Os alunos escreveram as histórias

radiofônicas, e a ida ao local foi importante para que eles conhecessem de perto o espaço dedicado às ondas de rádio. A professora Damiana festejou o fato de conseguir que os estudantes tivessem uma experiência e vivência na prática. As educadoras contam que os alunos ficaram maravilhados com o resultado do trabalho e tiveram uma melhora considerável tanto no desempenho da escrita como na leitura. Como trabalhar o tema nas escolas? O rádio pode ser empregado em sala de aula para exercitar a imaginação, a produção textual e até a improvisação ao vivo. Uma rádio escola, por exemplo, pode servir como um canal de diálogo entre os estudantes, a direção escolar e os professores, visando a interdisciplinaridade e o despertar de aptidões. Além de músicas para entretenimento durante os intervalos, ela pode servir para transmitir recados entre os alunos e abordar temas importantes que poderão servir de diálogos em sala de aula. O professor também pode propor aos estudantes que busquem conteúdos sobre pautas de temas específicos, como o bullying e o meio ambiente, ou ainda entrevistas com convidados especiais, que podem ser um autor de livro, um ex-aluno ou alguém que tenha relação com o conteúdo estudado. A partir daí os estudantes podem ser divididos em grupos para pesquisar, escrever o roteiro e depois gravar o programa de rádio. Você também pode utilizar recursos do próprio celular, como aplicativos de mensagens, ou disponibilizar em uma plataforma digital da escola.

RÁDIO NA ESCOLA Séries envolvidas: do Ensino Infantil ao Médio Material necessário: um computador ou notebook, um ou dois microfones, caixas de som, amplificador (opcional), mesa de som estéreo, softwares de edição de áudio e programação (existem alguns gratuitos, como o Audacity e o ZaraRadio) e painéis de espuma para isolamento acústico do estúdio Organize uma reunião com a equipe gestora e com os professores para discutir a iniciativa e decidir pontos importantes, como o público a que o projeto se destina, se os programas serão transmitidos apenas internamente, por meio do sistema de som da escola, ou também no site ou rede social. Nesse caso, é possível atingir toda a comunidade, a interna e a externa. Convide o docente mais interessado no projeto ou aquele com conhecimento sobre o veículo para ser o coordenador. Ele precisa ter disponibilidade no contraturno para orientar a produção – por isso, é melhor ser um docente com jornada integral –, organizar as reuniões de pauta, dividir as tarefas entre os grupos, colocar o programa no ar e avaliar o trabalho dos alunos. Aproveite essa etapa para definir com ele a duração, o horário e a frequência dos programas. 1ª etapa: definição das diretrizes 2ª etapa: escolha do coordenador

3ª etapa: levantamento da infraestrutura 4ª etapa: equipe e conteúdos 5ª etapa: divulgação Avaliação É possível utilizar equipamentos de que a escola já dispõe, como caixas de som, computador e microfone. Os outros deverão ser comprados ou pedidos em doação. O aconselhável é reservar uma sala exclusiva para o estúdio, com bom isolamento acústico. Se ela estiver próxima de outros ambientes, a orientação é revestir as paredes com placas de espuma. Convide todos os estudantes para participar do projeto, porém a adesão deve ser opcional. Para que os filhos possam comparecer à escola no contraturno, peça autorização dos pais por escrito – e aproveite para convidá-los a participar da iniciativa, enviando propostas de pauta. Convoque a comunidade para sugerir o nome da emissora e faça uma votação. Caso a opção seja por tratar de temas relacionados a conteúdos disciplinares, envolva o coordenador pedagógico e os demais professores no projeto. Eles orientarão sobre os assuntos a serem pesquisados e a melhor forma de fazer isso. É importante manter a regularidade das transmissões para fazer uma divulgação efetiva da iniciativa. Para isso, utilize as reuniões e os eventos da escola, a imprensa local e o mural de instituições parceiras. Com o professor responsável, faça periodicamente um balanço do desempenho dos alunos. Observe se eles desenvolveram habilidades em pesquisa, produção de texto para rádio e trabalho em equipe. É interessante pedir sugestões e críticas à comunidade para aprimorar a atividade. Fonte: Nova Escola

Produzir e compartilhar conteúdo pedagógico com smartphone por falar em aplicativos de mensagens, eles podem ser uma ótima ferramenta para produzir e compartilhar programas de rádio emmeios digitais. O maior benefício ao trabalhar com esse recurso na educação é a experiência que o aluno já possui com o podcast. Eles sabem como usar os serviços de streaming de áudio e estão o tempo todo conectados. Hoje a vida das pessoas é influenciada pelos memes, pelas redes sociais, pelo conteúdo dinâmico e de fácil acesso. Por isso faz sentido o uso desse recurso para lecionar, porque ele mobiliza afetos e faz parte da vida dos estudantes. Além disso, o áudio é uma oportunidade de exercitar a fantasia, a imaginação, a criatividade, sem a necessidade de expor sua imagem. Para muitos alunos, isso faz toda a diferença e oferece ao professor uma ferramenta para incentivá-los a dar os primeiros passos em ações de autoconhecimento. Por meio da gravação e audição de conteúdo, o educador dá voz aos discentes, promovendo autonomia e enriquecendo a aprendizagem. O professor Olavo Vitorino, que leciona para o Ensino Fundamental II de uma escola da rede privada de Natal/RN, teve a iniciativa de criar o podcast “Geografia em Rede”, em que esclarece dúvidas de seus alunos e traz complementos e curiosidades a partir do que foi discutido numa aula. “O áudio é muito didático, simples e direto. Por meio dele po-

Por Antônia Lúcia, Jéssica Almeida e Richard Günter ‒ Luiz André Ferreira é jornalista, radialista, professor e mestre em Educação Sustentável. Fotos: Banco de imagens gratuitas do Freepik. demos fazer breves explicações e temos a rapidez de poder compartilhá-lo pelo aplicativo de mensagens”, ratifica o educador. Para o alunado, fazer comas própriasmãos o podcast é uma oportunidade de promover produções autorais e de experimentar outra linguagem. “Eles trabalhama articulação e a desinibição, tambémaprendema expor uma ideia e argumentar, desenvolvendo o pensamento crítico”, esclareceOlavo. Para compartilhar a produção no aplicativo, é preciso estar atento à duração do conteúdo, pois, ao produzir áudios de até 5minutos, eles tambémexercitama capacidade de síntese e a objetividade. Já em relação aos formatos, as opções são as mais variadas. De acordo como docente, é possível organizar um podcast narrativo de ficção, uma entrevista comalguémou apenas uma apresentação de um tema feita pelo narrador. Em toda forma, é imprescindível prestar atenção aos elementos do gênero: a formalidade/informalidade do apresentador, as modulações na voz, os efeitos sonoros, amúsica de fundo e assimpor diante. “O professor tambémpode sugerir um tema ou fazer uma pergunta, e cada um dos estudantes temque responder ou abordar por umviés. Depois, ele compartilha seu trecho no grupo e o docente pode compilar todos emumúnico áudio, comessematerial ficando disponível para os alunos estudaremamatéria”, preconiza Olavo. Envie o seu projeto! E você, professor, já utilizou o tema em sala aula? Conte para a equipe da Revista Appai Educar como foi, enviando um e-mail para redação@ appai.org.br. Vamos adorar conhecer mais sobre o projeto que desenvolve!

Inclusão / Entrevista Representações sociais e práticas inclusivas”. Para tratar de um dos pontos mais sensíveis no cotidiano social, práticas inclusivas, a Revista Appai Educar entrevistou a Mestre Denise Guerra, que lançou o livro: Educação Física Escolar – Representações sociais e práticas inclusivas, pela Appris Editora. A obra é o resultado de pesquisa acadêmica acerca do tema e horas práticas de vivências em sala de aula. Revista Appai Educar - Em que você se baseou para a escolha desse tema? Denise Guerra - Inicialmente pelo exercício profissional como musicoterapeuta, psicomotricista e professora de Educação Física na educação especial e inclusiva. Participei como profissional de escola especial (Apae-Rio), escola pública com sistema de integração, e agora nas escolas públicas com perspectiva inclusiva. Observando que as práticas motoras para pessoas com deficiência não possuem ummarco específico na história, mas foram influenciadas pelos esportes adaptados alavancando progressos nas habilidades motoras e na integração social, e que estes recursos não chegaram nas escolas com a mesma ênfase, apontamos algumas perguntas de partida para a pesquisa deste tema: 1) como os professores de Educação Física estão se colocando diante do desafio de ministrar suas aulas aos alunos com deficiência intelectual incluídos no ensino regular? 2) as práticas inclusivas evidenciadas no trabalho dos professores de Educação Física seriam inovadoras ou tradicionais? 3) quais representações sociais são constatadas nas práticas inclusivas destes professores com alunos com deficiência intelectual? Revista Appai Educar - De que forma a Educação Física escolar perpassa o eixo das representações sociais de práticas inclusivas? Denise Guerra - Neste ponto é preciso inserir, mesmo que brevemente, alguns conhecimentos sobre a Teoria das Representações Sociais (TRS), que, vista de uma forma geral, é uma teoria científica sobre o senso comum, “que nos possibilita entender e explicar a maneira que os indivíduos e grupos elaboram, transformam e comunicam suas realidades sociais” (RATEAU, 2012). A TRS foi criada por Serge Moscovici, apresentada na obra de 1961: A psicanálise, sua imagem e seu público. Temos mais de um conceito sobre a TRS, desenvolvidos pelo próprio Moscovici e pesquisadores colaboradores. Acerca desta teoria Moscovici (1961; 2012) considera o seguinte: “As representações sociais são entidades quase tangíveis; circulam, se cruzam e se cristalizam continuamente através da fala, do gesto, do encontro no universo cotidiano. A maioria das relações sociais efetuadas, objetos produzidos e consumidos, comunicações, trocas estão impregnadas delas. Como sabemos, correspondem, por um lado, à ENTREVISTA COMAMESTRE DENISE GUERRA, AUTORA DE “EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

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