Recursos tecnológicos na educação



Um dia desses, ouvi uma comparação interessante: “Temos uma escola do século XIX com professores do século XX e alunos do século XXI”. A frase tem sentido, infelizmente, e é carregada de verdades…

Com raras exceções, as escolas estão estruturadas da mesma forma, com praticamente os mesmos recursos, há mais de 100 anos. É comum haver em salas de aula, especialmente das escolas públicas, um quadro verde ou negro e giz. As carteiras são posicionadas umas atrás das outras, de forma a manter cabeça atrás de cabeça, evitando assim que os alunos façam contato visual, e mantendo cada um deles voltados na direção do professor e do quadro, sem muita oportunidade para a comunicação horizontalizada. Muitos professores, dentro desse contexto, repetem metodologias de ensino originadas no século XX como legítimos transmissores do conhecimento.

Estudos comprovam que, nesse contexto jurássico, ao chegar à metade do tempo previsto de uma aula, 75% dos alunos de uma turma já estão completamente dispersos, e não conseguem mais prestar atenção ao que o professor está falando. E a pergunta é, por quê? Se nos atentarmos para a quantidade de novas tecnologias que surgiram e fazem parte da vida de cada um de nossos alunos, mas não fazem parte da vida do professor, muito menos da escola, vamos compreender que foi aberta uma fenda enorme, que acabou criando um abismo entre professores e alunos.

Para ilustrar, trago a história de um aluno chamado João Gabriel Alkmim, hoje com 22 anos, que conta um episódio da época do colegial: “Como aluno, eu vivia isso todos os dias. O professor dava a aula baseado em um livro cujo conteúdo apenas ele conhecia. Enquanto isso, a turma tinha que acompanhar a aula daquele professor no quadro, no caderno e no livro do aluno. Alguns poucos professores usavam o retroprojetor, para nem ter que escrever no quadro.” João Gabriel relata que sentia essa distância em relação aos professores, e mais, que, sendo um aluno conectado, que vivia na era digital, fazia buscas constantes com resultados vindos de muitos e diferentes lugares do mundo, o que tornava a sala de aula e essa relação com os professores um quadrado limitador que ele não sentia ter a ver com seu mundo, sua realidade dinâmica. Esse aluno relata também seu desespero ao ter que passar cinco horas do dia de frente para um quadro, um livro e um professor, enquanto fora da escola ele e os amigos estavam cercados das novas tecnologias, que se diversificavam infinitamente mais no campo do entretenimento do que no da educação.

João conta que, como as aulas eram 100% expositivas, ele estudava, mas não conseguia experimentar e nem observar aquele conteúdo de forma que se tornasse um conhecimento, que fosse significativo para ser apreendido. Sem aprender, esse aluno não questionava, e sem questionar, tudo continuava igual, sem transformação.

Culpa do professor? Não, posso afirmar que não, pois a maioria de nós (sou professora também) sente esse desconforto que se manifesta no clima escolar e na distração, comum nesses casos, pois o que não atrai distrai, afasta, separa e distância.

ENTÃO, QUAIS SÃO AS ALTERNATIVAS, QUE CAMINHOS TEMOS?

Temos aí um caminho sem volta, o das novas tecnologias, da Era Digital, portanto, aos Sistemas de Educação, às escolas e aos professores/educadores cabe:

  • Admitir que a geração dos NATIVOS DIGITAIS (alunos) tem uma forma diferente de pensar e de aprender, pois esses alunos não diferenciam o on-line do off-line, e que essa forma difere muito da maneira como pensam e aprendem os professores, os chamados IMIGRANTES DIGITAIS, ou seja, aqueles que chegaram mais tarde à tecnologia digital, normalmente por causa da faixa etária, e por isso mesmo têm menor facilidade de abandonar antigos métodos e certo receio do novo, preferindo ficar com o que já conhecem.

 

Em geral, os professores Imigrantes Digitais (nascidos entre 1946 a 1980) não têm a mesma facilidade com as tecnologias digitais que seus alunos das gerações Y (nascidos depois de 1980) ou Z (nascidos depois de 1995).

  • Abandonar a ideia de que professores são transmissores de conteúdo, em vez disso, fortalecer seu verdadeiro e intransferível papel para a era digital, que é o de conduzir os alunos aos caminhos da pesquisa (Projetos), dar orientação clara, promover trabalhos em grupo, buscando novas práticas de ensino e novos encaminhamentos que aproximem o aluno da escola, lembrando que a educação deve estar voltada para o tempo em que eles (alunos) vivem, a ERA DIGITAL.

  • Buscar conhecer as diferentes tecnologias digitais que estão à disposição – softwares para planejamento de aulas, objetos de aprendizagem, simuladores, ambientes virtuais de aprendizagem, dentre outros diferentes e infinitos recursos tecnológicos já conhecidos. O tempo/espaço destinado à educação continuada de professores é uma alternativa viável para que o professor possa ter acesso às novas tecnologias e aos recursos de aplicação para implementar seu conhecimento nesse sentido. E assim ir desenvolvendo diariamente habilidades para colocar a tecnologia a favor de uma educação para a ERA DIGITAL, uma educação que faça uso de todo tipo de recurso que possa enriquecer as aulas, que coloque o aluno como interlocutor ativo, protagonista, que pergunta e pesquisa, num processo que não separa o aprender do comunicar. Uma educação que não separa teoria de prática.

O João Gabriel, um aluno que logo completa 16 anos, sonhava com uma escola em que o professor de biologia pudesse explicar o que é uma célula usando uma ferramenta tecnológica, e assim pudesse mostrar a célula aumentada e colorida, com suas organelas em pleno funcionamento, com riqueza de detalhes e animação. Sonhava com uma escola sem papel, em que fosse possível substituir a pesada mochila carregada de livros e impressos por algo leve e compacto (um tablet, por exemplo), que armazenasse todos os materiais de estudo (cadernos, livros, provas, atividades…) numa única ferramenta. E o professor, igualmente equipado, com alguns cliques transformaria o processo de aprendizagem em um ato inesquecível, podendo inclusive deixar um espaço virtual aberto após as aulas, o ambiente virtual de aprendizagem, tornando possível revisar, perguntar e aprender em qualquer lugar e a qualquer hora.

Dessa forma, os Joões e Marias, representando simbolicamente cada um dos alunos da Era Digital, poderão entender a escola como um espaço de desenvolvimento e transformação.


Por Andréa Schoch | Mestre em educação, especializada em formação de professores e consultora Appai por meio da EAD.


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