Revista Appai Educar - Ed 139

EDUCAÇÃOINCLUSIVA NAPRÁTICA Ano25–139-2022-CIRCULAÇÃO DIRIGIDA – DISTRIBUIÇÃOGRATUITA Qualopapeldaequipeescolar?Comoastecnologiasassistivasauxiliamna aprendizagemdaspessoascomdeficiência?Pararesponderessaseoutras perguntasconvidamosquemmaisentendedoassunto!

2 Língua Portuguesa Conselho Editorial Julio Cesar da Costa Ednaldo Carvalho Silva Jornalista Editora Antônia Lúcia Figueiredo (M.T. RJ 22685JP) Assistentes de Editorial Jéssica Almeida e Richard Günter Designer e Assistente Gráfico Luiz Cláudio de Oliveira Yasmin Gundim Revisão Sandro Gomes Andréa Schoch Professores, enviemseus projetos para a redação da Revista Appai Educar: End.: Rua Senador Dantas, 117/229 2º andar – Centro – Rio de Janeiro/RJ. CEP: 20031-911 E-mail: jornaleducar@appai.org.br redacao@appai.org.br www.appai.org.br EXPE DIEN TE

4 Língua Portuguesa Língua Portuguesa Por Sandro Gomes* *Sandro Gomes é graduado em Língua Portuguesa e Literaturas Brasileira, Portuguesa e Africana de Língua Portuguesa, Revisor da Revista Appai Educar, Escritor e Mestre em Literatura Brasileira pela Uerj. SOBRE FRASES E ORAÇÕES Sintaxe é a parte da língua que se ocupa do estudo das relações entre os elementos que compõem uma oração. Mas esses termos se organizam na língua falada e escrita a partir de um conjunto de elementos, que formam as sentenças ou frases, que podem ir de apenas uma palavra até construções mais complexas. Vamos aqui conhecer um pouco mais dessas bases sintáticas. A FRASE A frase é a entidade por meio da qual expressamos ideias através de palavras. Ela pode se apresentar de várias maneiras, segundo sua finalidade, podendo até ser formadas de apenas uma palavra, uma interjeição, por exemplo, como no caso seguinte: Arre! Aqui a frase é composta somente de uma fala atribuída a alguém, que aí apenas expressa em seu discurso uma emoção. Mas ela pode apresentar vários tipos de ideias e representar variadas formas de usar a comunicação. Vamos acompanhar outros tipos. Declarativas – Como o nome já diz, são frases que simplesmente declaram: O meu coração se acalma na sua presença. Exclamativas – Expressam admiração ou surpresa: Que água refrescante! Imperativas – Transmitem ordem ou ideia: Vá bem depressa! Interrogativas – Objetivam pergunta ou questionamento: Em que lugar? Optativas – Expressam opção ou desejo: Que tudo dê certo pra você. A ORAÇÃO A diferença principal para a frase é que, para configurar uma oração, é necessária a presença de um verbo, ainda que de forma elíptica ou através de uma locução verbal. Vejamos exemplos. Visitei a cidade semana passada. Obs.: Essa é uma oração simples, porque contém apenas uma ação (um único verbo). Visitei a cidade na semana em que te conheci. Agora usamos dois verbos, de forma que temos agora um período composto. Em alguns casos, um dos verbos está apenas subentendido, isto é, não aparece de fato. Usinas nucleares são perigosas, energias naturais, não (são perigosas). Uma oração às vezes é caracterizada por uma ação expressa através da conjugação de duas formas verbais, a chamada locução verbal, quando dois termos têm valor de um. É sempre composta por um verbo auxiliar (no caso, ir), que é o único que se conjuga, e uma das formas nominais (andando, no caso um gerúndio). Veja. Ia andando sem medo. Sobre as frases e suas formas mais complexas é isso. Em breve vamos trazer outros tópicos referentes ao estudo da sintaxe da Língua Portuguesa. Até a próxima, pessoal!

Revista Appai Educar 5 O impacto do Novo Ensino Médio para a educação brasileira Opinião  Os conceitos e opiniões emitidos em artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores. Rita Rangel* Em vigor a partir deste ano, o chamado Novo Ensino Médio reformula a matriz de referência curricular e propõe uma nova concepção para essa última fase da educação básica. Desde a sua aprovação, em 2017, o assunto gera dúvidas e reflexões. O que motivou tal mudança? Quais serão os desafios de agora em diante? O que muda para alunos e professores? E como as escolas terão que se adaptar? As respostam surgem a partir do entendimento do cenário contemporâneo e da compreensão das necessidades da educação brasileira. O século XXI tem exigido, mais do que nunca, rápidas mudanças e adaptações, o que impacta diretamente o mercado de trabalho, bem como os rumos da sociedade. A partir daí surgem as demandas com relação ao desenvolvimento de novas habilidades no que se refere aos estudantes e de novas práticas pedagógicas por parte dos professores e escolas. Complementando essa realidade, é importante ressaltar, também, as lacunas que o setor educacional tem apresentado nos últimos anos. Os indicadores de frequência e desempenho do Ministério da Educação (MEC) apontavam, em 2016 – antes da aprovação da reforma –, que 28% dos estudantes desta etapa encontravam-se commais de 2 anos de atraso escolar, enquanto 26% dos alunos abandonavam a escola ainda no 1º ano. Neste mesmo sentido, a variação positiva apresentada pelo Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) foi de apenas 0,3 ponto entre 2005 e 2011, e nenhum aumento nos últimos 10 anos. Manteve-se, portanto, estagnado e abaixo das metas estabelecidas. A partir desses dados, fica clara a desmotivação dos jovens com relação aos estudos, bem como a necessidade de uma reformulação curricular capaz de trazer à tona novos modelos de ensino. PRINCIPAIS MUDANÇAS CONTEMPLADAS NO NOVO ENSINO MÉDIO E COMO PODEM INFLUENCIAR A EDUCAÇÃO BRASILEIRA Responsável pelas diretrizes do Novo Ensino Médio, a Lei nº 13.415/2017 institui alterações que estabelecemmaior integração e flexibilidade curricular, além da oferta de itinerários formativos para os alunos. Ou seja, estruturas fundamentadas a partir de conjuntos de práticas e experiências educativas (projetos, oficinas, núcleos de estudo, entre outras possibilidades de trabalho), que os estudantes poderão escolher no Ensino Médio, tomando como base os eixos estruturantes e as áreas com que mais se identificam, como Linguagens e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais aplicadas e suas Tecnologias. Em suma, o currículo do Novo Ensino Médio contemplará as competências e habilidades relacionadas aos eixos estruturantes e às áreas de conhecimento. Parte da carga horária se aplica à formação geral básica, que contempla a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que, por sua vez, orienta a elaboração do currículo de cada rede e unidade escolar. Com isso, o Novo Ensino Médio pretende atender as necessidades e as expectativas dos jovens, fortalecendo seus papéis de protagonistas, enquanto participam ativamente do processo de aprendizagem, já que têm autonomia para escolher as áreas em que desejam aprofundar seus conhecimentos. Além disso, as práticas pedagógicas se organizarão tendo como premissa a aprendizagem, considerando a perspectiva de quem aprende, e não somente de quem ensina. De acordo com o cronograma do MEC, as mudanças serão aplicadas por etapas. Em 2022, as alterações serão obrigatórias apenas ao 1º ano. Em 2023, ao 2º. Já em 2024, além do 3º ano, as novas diretrizes contemplarão também o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). * Rita Rangel é gestora pedagógica da rede de colégios Santa Marcelina, instituição que alia tradição a uma proposta educacional disruptiva e alinhada às principais tendências do mercado de educação.

6 Revista Appai Educar Ciências COMO TORNAR SUAS AULAS DE CIÊNCIAS AINDA MAIS DIVERTIDAS Professor faz o maior sucesso nas suas aulas de ciências e é nota 10 quando o assunto é criatividade. Confira algumas dicas e inspire-se!

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8 Revista Appai Educar Todo educador sabe a importância de trabalhar com estratégias pedagógicas focadas no aspecto lúdico. Afinal, o estímulo recebido durante as atividades faz com que o aluno consiga desenvolver a criatividade, permitindo resolver problemas de maneiras diferentes e facilitando a adaptação da pessoa a qualquer situação. A Revista Appai Educar conversou com o professor de ciências Lucio Panza, que desenvolve diversas atividades nas escolas municipais em que leciona e que podem servir como inspiração para você. Confira! Portfólio geográfico A ideia dessa atividade é explorar as primeiras noções de espaço geográfico e facilitar a compreensão do conteúdo curricular através de uma atividade lúdica, construtivista e descontraída. Para isso, você vai precisar de: moldes com as fichas de papel A4, lápis preto, lápis de cor, papel kraft e cola. Os alunos receberão duas folhas A4 de molde das fichas com as legendas dos espaços (minha rua, meu bairro, minha cidade, meu estado, meu país, meu continente e meu planeta) para recortar e pintar. O primeiro passo é começar a escrever os nomes desses espaços e depois fazer a colagem dos recortes das fichas de modo que fique em forma de escadinha, ou seja, em ordem crescente para a compreensão da questão de tamanho, expansão e território. Na capinha do portfólio é legal colar uma foto 3x4 do aluno ou ele pode se autodesenhar. Para finalizar, crie ummural expositivo dos portfólios.

Revista Appai Educar 9 Mapeando o cérebro humano Nessa atividade, a ideia é dar a base de neurociências e auxiliar no ensino das funções e localizações das estruturas corticais, além de estimular a criatividade e a coordenação motora. Para isso, você vai precisar de: folhas de papel A4 com a imagem, linhas de lã coloridas, tesoura e cola. Os alunos receberão uma pequena ficha com as legendas coloridas das funções relacionadas às determinadas estruturas corticais do cérebro, uma folha A4 com a imagem da cabeça de uma pessoa do sexo masculino e de outra do sexo feminino e linhas de lã nas cores da legenda para montagem do cérebro por dentro. Tudo para tratar a questão de uma maneira lúdica e divertida, contextualizando com situações e ocasiões comuns ao dia a dia. A origem da vida em história em quadrinhos O intuito dessa atividade é propiciar, através das histórias em quadrinhos, novas formas de ensino e aprendizagem na disciplina de ciências, com a finalidade de contribuir para melhoria da qualidade do ensino. A tarefa também desenvolve a criatividade e a coordenação motora dos alunos. Para isso, você vai precisar de: folhas de papel A4 com as tirinhas vazias, lápis preto e lápis de cor. O professor deve permitir uma abordagem distinta dos acontecimentos, misturando os fatos concretos com o que há de fantasia ou ficção e utilizar como parte de uma discussão introdutória sobre o conteúdo. O texto das tirinhas é uma adaptação da Hipótese Heterotrófica (uma das linhas de pensamento – podendo-se usar as outras) com linguagemmais simples e acessível à faixa etária e, através dele, os alunos podem construir por meio de desenhos a referida hipótese.

10 Revista Appai Educar Riquezas minerais do planeta Terra O objetivo dessa atividade é proporcionar a investigação científica e simular um ambiente museológico e laboratorial, além de reconhecer a presença e o uso dos minerais observados no nosso cotidiano. Para isso, você vai precisar de: uma coleção com as gemas de 180 pedras e minerais, relatório, lápis e caneta e manuais de pedras e minerais. Os alunos se organizarão em grupos e cada um deles receberá diversas amostras dos minerais e uma ficha de relatório de aula prática. Cada estudante escolherá ummineral para investigação e pesquisa. O ponto de partida é a catalogação, onde o aluno, a partir da observação, descreve o nome e a origem da amostra do mineral. A segunda etapa é estabelecer os primeiros contatos interdisciplinares com a matéria de química onde o aluno poderá identificar a composição, a cor e a raridade da amostra do mineral. A terceira etapa é a reprodução em cores dessas amostras, com os estudantes podendo desenvolver suas habilidades artísticas. A quarta etapa consiste na contextualização das propriedades de uso do mineral observado e suas ocorrências no dia a dia.

Revista Appai Educar 11 Por Jéssica Almeida * Lucio Panza é especialista no ensino de Ciências e Biologia pela UFRJ e Biociências e Saúde pela Fundação Osvaldo Cruz. Atualmente leciona na Escola Municipal Getúlio Vargas em Bangu, onde desenvolve projetos, presta consultoria e assessoria pedagógica para o grupo Somos Educação. Contato: professorpanza@gmail.com. Fotos: Banco de imagens gratuitas do Freepik e cedidas pelo professor. Exposição em cordel dos problemas ambientais na comunidade local A ideia aqui é identificar os dilemas ambientais no entorno da comunidade e propor soluções para melhorias, além de viabilizar a cidadania plena e seu papel crítico na sociedade. Para desenvolver essa atividade, você vai precisar de: smartphones ou tablets, cartolina, barbante e pregadores de roupa. A proposta de trabalho consiste em fotografar ações que os alunos considerem negativas no ambiente no percurso de sua casa até a escola ou vice-versa. Posteriormente deverão enviar o material para o professor através de aplicativo de mensagens ou por e-mail (a impressão ficará a cargo do docente). Em classe, os estudantes, com a orientação do professor, selecionarão as fotografias e colarão na cartolina para emoldurar e expor esse material em cordel. A última etapa é o debate em sala de aula sobre possíveis soluções e melhorias para as ações ambientais negativas que foram encontradas. E você, professor, curtiu essas ideias? Tem outras sugestões de como abordar a disciplina de maneira lúdica em sala de aula? Envie o seu projeto ou ideia para a nossa equipe através do e-mail redacao@appai. org.br. Vamos adorar conhecer!

12 Revista Appai Educar Sustentabilidade PROJETO ECO: UM NOVO CULTIVO NO CIEP 498 Atingir o desenvolvimento sustentável é um dos objetivos da Agenda 2030 e da população mundial, a fim de promover o uso equilibrado e racional dos recursos naturais. E nesse quesito o Ciep 498 – Irmã Dulce, localizado em Itaguaí, vem fazendo a sua lição de casa e dando a sua contribuição ao criar uma horta e plantar mais de mil pés de hortaliças nos domínios da escola. As mudas variadas, doadas ao Ciep 498, fazemparte do Projeto ECO – Projeto Escola Criativa e de Oportunidades, que é uma parceria entre a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (Seeduc-RJ) e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Durante a aula ambiental, alunos, professores, amigos da escola e funcionários realizaram o plantio das 1.100 mudas entre os sete canteiros construídos, totalizando mais de 70 metros quadrados de área plantada de pés de alface, mostarda, couve, rúcula, salsa, cebolinha, coentro, manjericão, almeirão, bertalha, espinafre e beterraba.

Revista Appai Educar 13 De acordo com a direção da escola, essa é uma experiência cujos frutos contribuirão não somente nas refeições dos alunos, mas sobretudo na aproximação das famílias com a escola. “Estamos muito felizes com esse trabalho. Nossa horta está plantada, viva e será utilizada para o fortalecimento da alimentação escolar, enquanto o projeto será multiplicado para outras famílias, pois somos Escola ECO, somos Escola Empreendedora”, disse a diretora Paula Oliveira diretora- -geral do Ciep. Acompanhando de perto todo o passo a passo, desde o preparo do terreno à plantação das mudas, o professor Mário Pinheiro não escondia seu entusiasmo juntamente como seu Jorge, que antes da implantação da horta atuava como voluntário na escola e agora será o responsável pela suamanutenção, juntamente com a participação dos educandos. Amissãomultiplicadora do Projeto Eco para omunicípio de Itaguaí, onde está situado Ciep 498, embreve será colhida por toda a comunidade escolar, Por Antônia Lúcia Ciep 498 – Irmã Dulce Rua Pt. Antônio Antunes da Rocha, 1 – Chaperó – Itaguaí/RJ CEP: 23830-060 Tel.: (21) 2688-7618 Fonte: Seeduc/RJ conforme afirma o secretário de Educação Alexandre Valle. “A Eco é uma realidade para os estudantes do Ciep 498. Agora, eles poderão desfrutar dessa atividade que chega para somar e agregar ainda mais ao ensino desses jovens. Nosso trabalho não vai parar por aqui, pois esse é o primeiro de muitos projetos que Itaguaí receberá”, declara o secretário.

14 Revista Appai Educar Tema Transversal MUDANÇAS CLIMÁTICAS Diversas atividades para trabalhar em sala de aula o aquecimento global, o efeito estufa e a reflexão crítica sobre mudanças climáticas causadas pelo homem

Revista Appai Educar 15 Falar sobre o aquecimento global e suas consequências no futuro às vezes parece uma temática redundante sem pouco efeito dentro da nossa realidade. Mas não há como negar que a ciência já comprovou que a humanidade não vai ter como fugir da caótica previsão que se estabelecerá se, de forma coletiva, nossas atitudes com o planeta não forem revistas com responsabilidade. Fato é: não há como reduzir esse efeito, mas há como diminuí-lo para que não avance em grandes proporções, já que a tendência é sempre a de se aumentar o consumo de produção por conta da grande expectativa causada pelo aumento da população global.

16 Revista Appai Educar Entre as piores consequências estão: a redução da biodiversidade, aumento do número de casos de desastres naturais e desertificação. Só para se ter uma ideia, a saúde humana, a infraestrutura das comunidades, os sistemas de transporte, os suprimentos de água e a comida são exemplos de áreas que podem ser prejudicadas por esse fenômeno que preocupa os cientistas. No entanto, desafios maiores podem afetar alguns grupos sociais, como as pessoas que vivem em áreas mais pobres e vulneráveis. Os governos já trabalham em ações conjuntas com outros países para tentar frear essa tragédia causada pelo homem, mas precisamos lembrar que os estudantes de hoje são os futuros governantes de amanhã, e se forem ensinados desde o princípio sobre as noções básicas de sustentabilidade e economia energética, eles se tornarão adultos conscientes. Para isso, separamos nessa matéria diversas atividades para trabalhar em sala de aula o aquecimento global, o efeito estufa e a reflexão crítica sobre mudanças climáticas causadas pelo homem.

Revista Appai Educar 17 Partindo do princípio, ainda há um certo desentendimento quando se fala sobre aquecimento global e efeito estufa. Muitos acreditam que este último é causado pela atividade industrial. Mas na verdade esse é um fenômeno atmosférico natural responsável pela manutenção da vida na Terra. Sem a presença dele, a temperatura no planeta seria muito baixa, em torno de -18ºC, o que impossibilitaria o desenvolvimento de seres vivos. Já o aquecimento global é o aumento da temperatura média do planeta por causa da emissão desenfreada desses gases. Esse agravamento está diretamente ligado às atividades industriais, que dependem da queima de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, que passam a emitir substâncias poluentes de forma excessiva. Diariamente, a radiação do sol chega aqui na atmosfera da Terra. Parte dessa energia retorna para o espaço, enquanto outra é sugada pelo solo e pelos oceanos, o que gera o aquecimento. Esse calor é retido pelos gases naturais na atmosfera, e isso deixa a temperatura no ponto exato para a nossa existência. Por mais que esse efeito seja natural e essencial, a emissão desenfreada de gases industriais eleva a temperatura do planeta e causa o aquecimento global. Depois da industrialização da sociedade, gases de efeito estufa de forma desregrada passaram a ser emitidos. Além disso, a demanda intensiva por recursos naturais sobrecarregou o planeta, com inúmeras pessoas usando carros para se locomover e com necessidades básicas de alimentação, energia, entre outras demandas. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), em todos os cenários, exceto no de emissões mais baixas (SSP1-1,9), um aquecimento global de 1,5°C será ultrapassado num futuro próximo (entre 2023 e 2040) e permanecerá acima dessa marca até o final do século. E essa é uma consequência ocasionada pelas atividades humanas, nada tem a ver com o desenvolvimento natural da Terra. No gráfico abaixo, podemos ver o aumento da temperatura e a previsão, de acordo comos cientistas. ANO 1960 0,05 0,06 2000 0,42 1980 0,28 2020 0,98 1970 2010 0,72 1990 0,45 2030 Estimativa 1,1 2040 1,5 ºC Fonte: National Oceanic and Atmospheric Administration (Noaa)

18 Revista Appai Educar Consequências irreparáveis Entre os principais problemas causados pelo aquecimento global estão: Temperaturas mais altas: à medida que a concentração dos gases de efeito estufa aumenta, o mesmo acontece com a temperatura da superfície global. O último período de dez anos (2011-2020) foi o mais quente já registrado, como vimos acima. Desde os anos 1980, cada década tem ultrapassado a anterior. Incêndios, por exemplo, começam com mais facilidade e se espalhammais rapidamente nessas condições. Tempestades mais severas: conforme as temperaturas aumentam, mais umidade evapora, agravando chuvas e inundações extremas e causando precipitações mais destrutivas. Com frequência, essas tempestades destroem casas e comunidades, provocando mortes e enormes perdas econômicas. Aumento da seca: as mudanças climáticas afetam a disponibilidade de água, tornando-a mais escassa emmais regiões. O aquecimento global agrava os períodos de seca em lugares onde a falta do precioso líquido já é comum e leva a um risco maior de colapsos agrícolas, afetando plantações, e ecológicos, aumentando a vulnerabilidade dos ecossistemas. Uma das consequências é a elevação dos preços dos alimentos. Um oceano cada vez mais quente e maior: o oceano absorve a maior parte do calor gerado pelo aquecimento global. A taxa de aquecimento dos mares aumentou muito nas duas últimas décadas, em todas as profundidades. À medida que essa temperatura sobe, o volume aumenta, já que a água se expande quando aquecida. O derretimento de placas de gelo também provoca o aumento do nível do mar, ameaçando comunidades litorâneas, insulares e a vida marinha. Perda de espécies: ummilhão de espécies estão em risco de extinção nas próximas décadas. Incêndios florestais, clima extremo, além de doenças e pragas invasoras estão entre as várias ameaças relacionadas às mudanças climáticas. Algumas espécies conseguirão se deslocar e sobreviver, mas outras não. Não há comida suficiente: a pesca, a agricultura e a criação de gado podem ser destruídas ou se tornaremmenos produtivas. Com o oceano ficando mais ácido, os recursos marinhos que alimentam bilhões de pessoas estão em risco. O estresse térmico pode diminuir a quantidade de água e as áreas de pastagem, causando o declínio da produção agrícola e afetando o gado. Mais riscos para a saúde: os impactos climáticos já estão prejudicando a saúde, com poluição do ar, doenças, deslocamento forçado, pressões sobre a saúde mental e aumento da fome e subnutrição em locais onde as pessoas não conseguem cultivar ou encontrar alimentos suficientes.

Revista Appai Educar 19 É possível falar sério de forma lúdica Os alunos da Escola Estadual Dr. Leôncio Gomes de Araújo, em São Lourenço da Mata, região metropolitana de Recife, assistiram em casa uma reportagem em que o cientista Stephen Hawking, falecido em 2018, afirmava que emmil anos a Terra se tornará inóspita devido à degradação ambiental e que os seres humanos terão de migrar para outro planeta (hipótese em que o empresário Elon Musk já vem trabalhando com a ideia de explorar Marte a partir de 2025). Os estudantes acabaram levando esse questionamento para a sala de aula. A professora de matemática e física Vanessa Delfino viu na dúvida dos alunos uma oportunidade de discutir a questão ambiental com o Ensino Fundamental II e criou um projeto para conscientização sobre os problemas ambientais causados por seres humanos, seus impactos e as atitudes que podem mudar essa realidade. Com base em pesquisas, debates e até uma visita ao planetário, os estudantes buscaram entender o que torna um planeta habitável ou não. Depois, foram ao entorno da escola para descobrir o que os moradores entendiam sobre o tema. O resultado, elaborado em gráficos, foi apresentado à comunidade escolar. “Eles queriam saber o que podemos fazer para consertar nosso planeta, porque para eles não é certo abandonar a Terra. Eles querem poder continuar morando aqui”, disse. A exemplo do projeto da professora Vanessa, é possível trabalhar o aquecimento global de forma interdisciplinar e com várias abordagens possíveis. Um ponto fundamental é que os alunos compreendam como os dados que embasam os estudos sobre o tema são gerados e também testemmétodos científicos para obter essas informações, a fim de compreender que conhecimento é algo construído, não achado.

20 Revista Appai Educar 5 atividades pedagógicas para você aplicar com seus alunos *Fonte: Nova Escola AQUECIMENTO GLOBAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS Indicado para: 6º ano, Geografia Habilidade da BNCC: EF06GE11 Analise as razões e as consequências do aquecimento global nesta aula. Sua tarefa inicial será apresentar o tema e explicar aos alunos como funciona o efeito estufa. Converse sobre os casos que influenciam esse fenômeno e sugira uma experiência. Peça que eles encham dois copos com água. No primeiro, vão colocar uma pedra de gelo, que ficará em contato direto com o recipiente; no outro copo, eles devem pôr uma pedra de gelo em uma peneira, suspensa na borda do copo, sem tocar a água. Converse com os alunos para entender como esse exemplo se relaciona com o efeito estufa na atmosfera. ■ Acesse aqui o plano de aula completo PREVISÃO DO TEMPO Indicado: 8º ano, Ciências Habilidade da BNCC: EF08CI15 Explique para a sala como funcionam as estações meteorológicas. Um vídeo pode ser um bom recurso para levar esse conteúdo aos alunos, lembrando que a abordagem da aula é uma versão simplificada de como a humanidade conhece e interpreta as condições atmosféricas. Mostre aos estudantes um quadro com panoramas meteorológicos em gráficos e sugira que eles façam suas previsões a partir da representação que você colocou à disposição da sala. As estratégias que eles usaram para compreender os gráficos podem ser debatidas durante uma videochamada ou por arquivos de áudio. ■ Acesse aqui o plano de aula completo

Revista Appai Educar 21 Por Richard Günter Fontes: Nova Escola | ONU | eCycle | Clima info COMO O MUNDO SE ORGANIZA DIANTE DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Indicado para: 7º ano, Ciências Habilidade da BNCC: EF07CI13 Desta vez o áudio é o estímulo inicial para apresentar o tema da aula aos alunos. Compartilhe com eles o episódio sobre mudanças climáticas do “Rock com ciência”, um conhecido podcast (aproveite para explicar o que é e como se faz um), além de outros textos de aprofundamento sugeridos no plano. Pergunte à turma que ações conhecem de combate às mudanças climáticas. Com o podcast e materiais de referência, desafie os estudantes a fazer uma proposta também em áudio de um programa sobre mudanças climáticas, com foco no combate aos seus efeitos. Se não houver a possibilidade de trabalhar em grupo, peça para que gravem individualmente, com o equipamento que tiverem em casa, seja celular ou gravador. Uma alternativa off-line é pedir apenas um roteiro escrito com o que eles gostariam de fazer sobre o tema da aula. ■ Acesse aqui o plano de aula completo INVERSÃO TÉRMICA Indicado para: 8º ano, Ciências Habilidade da BNCC: EF08CI16 Uma notícia introduz o tema desta aula, explicando como a poluição fica pior no inverno e causa prejuízos à saúde. Pergunte aos estudantes por que eles acreditam que isso acontece. Você pode dividi-los em grupos ou separar a sala entre os alunos que vão fazer uma pesquisa sobre inversão térmica e representar esse fenômeno em um desenho explicativo, e uma outra parte que vai encontrar quais são as fontes dos poluentes atmosféricos e como controlá-los. Com as respostas dos alunos, sistematize os conhecimentos em uma representação da inversão térmica, explicando o conceito e as ideias compartilhadas durante a aula para a turma, o que pode ser feito via videochamada. ■ Acesse aqui o plano de aula completo CLIMA LOCAL X CLIMA GLOBAL Indicado para: 8º ano, Ciências Habilidade da BNCC: EF08CI16 Compartilhe com a turma a imagem de uma plantação de cacau na Bahia e questione: “Como as mudanças climáticas afetam as vegetações? Como o clima global se relaciona ou influencia o clima de uma região?”. Na atividade seguinte, divida os alunos em três equipes que trabalharão no formato de estações, fazendo com que os grupos “rodem” entre elas. No ensino remoto, uma alternativa é pedir a atividade individual ou dividir em grupos de cinco integrantes para criar um infográfico abordando a ação do homem e o aquecimento global. ■ Acesse aqui o plano de aula completo Para complementar o conteúdo, leia amatéria de capa da edição 112: “Plástico: vilão oumocinho?”

22 Revista Appai Educar Matéria de Capa - Inclusão EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA PRÁTICA

Revista Appai Educar 23 Qual o papel da equipe escolar? Como as tecnologias assistivas auxiliam na aprendizagem das pessoas com deficiência? Para responder essas e outras perguntas convidamos quem mais entende do assunto!

24 Revista Appai Educar Até o início do século 21, o sistema educacional brasileiro era composto pela escola regular e pela escola especial. O aluno frequentava uma ou a outra. Na última década, isso foi modificado com a proposta inclusiva, e um único tipo de escola foi adotado: a regular, que acolhe todos os alunos, apresenta meios e recursos adequados e oferece apoio àqueles que encontram barreiras para a aprendizagem. Na teoria essa proposta tem tudo para dar certo, mas na prática muitas questões ainda precisam ser debatidas. Por isso, a Revista Appai Educar conversou com professores, pais e especialistas para entender melhor o assunto e trazer informações para uma educação de qualidade para todos. Confira! Antes de mais nada a Educação Inclusiva precisa ser entendida em seu sentido mais amplo, onde não estamos falando apenas sobre a inclusão escolar de estudantes com deficiência, com transtorno do espectro autista ou com altas habilidades, mas sim a garantia de acesso, de permanência e de qualidade de ensino a todos os estudantes, independentemente de suas condições sociais, étnicas, sexuais ou por qualquer outra característica que possa levar a situações de exclusão escolar. É o que explica a pedagoga e especialista em Deficiência Intelectual e Deficiência Auditiva Fabiana Leme. Ela ressalta ainda que utilizar os termos Educação Especial e Educação Inclusiva como sinônimos é um equívoco. “A Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva tem o papel de realizar diferentes serviços para a promoção da inclusão escolar e tem definido como o público alvo de suas ações os estudantes com deficiência, com transtorno do espectro autista ou com altas habilidades. Esses serviços são complementares ou suplementares à sala de aula comum e podem acontecer no turno em que o estudante está, como, por exemplo, intérprete de Libras, mediador escolar, professor de apoio, serviço de itinerância, ou no contraturno, como as salas de recursos ou de Atendimento Educacional Especializado”, afirma Fabiana Leme.

Revista Appai Educar 25 Reinventando antigas práticas docentes e pedagógicas? A especialista explica que a escola não teve seu início considerando ser um espaço inclusivo. “Inicialmente era voltada para uma elite, onde nem mesmo as mulheres tinham permissão de frequentar. A aceitação do conceito de universalização do ensino como umdireito humano é recente na história da humanidade, surgindo somente a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, fruto de intensas mobilizações sociais”, pontua. De acordo com Fabiana, levamos quase 50 anos para que as pessoas com deficiência e os movimentos de apoio fossem considerados na pauta dos Direitos Humanos e com reflexos na educação. “De fato a escola já buscava ummovimento muito intenso na reinvenção das suas práticas. Com a ampliação do acesso das pessoas com deficiência à escola, as questões sobre acessibilidade e uma educação mais humanizada ganharammais intensidade. Antes era um assunto restrito às instituições especializadas e agora é discutido na educação por diferentes ângulos”, explica a especialista.

26 Revista Appai Educar A Educação Inclusiva ao longo dos últimos anos Atualmente a discussão sobre o tema, tanto pelos professores, quanto pela equipe escolar e a família, tem se ampliado significativamente. Para Fabiana, a busca por informação e formação tem se intensificado e, após se vivenciar o ensino remoto durante a pandemia, algumas fronteiras de compartilhamento de conhecimentos e experiência foram ampliadas. “Outro ponto que acho bem importante destacar é a mudança de postura dos professores, que hoje buscam uma discussão em torno de uma prática mais colaborativa em oposição a uma mais solitária em sua sala de aula”, afirma. As dificuldades da implementação das leis de Educação Inclusiva Sabemos que a escola pública no Brasil enfrenta muitos desafios de ordem estrutural, de recursos e de profissionais capacitados, e que esses obstáculos impactam na qualidade da educação que temos no país. A especialista ressalta que ao longo dos anos avançamos muito principalmente no acesso à Educação Básica. “Quando analisamos o número de novas matrículas, podemos perceber que as pessoas que estavam fora da escola estão tendo mais oportunidades. Mas ainda temos muito para avançar. Não basta garantir acesso à escola, precisamos qualificar a permanência com uma aprendizagem de fato para todos os estudantes”, destaca Fabiana. A legislação no Brasil é bem abrangente, demodo que a responsabilidade do poder público na gestão de políticas públicas é direcionada a garantir a equidade na educação tanto na instituição pública quanto na privada. “Mas para a construção de uma escola realmente inclusiva precisamos de políticas que viabilizema organização dos recursos, as formações e orientemas práticas gerais de ensino. Porém somente a legislação não garante que o coletivo escolar realmente respeite e considere a diversidade dentro do seu cotidiano”, explica Fabiana. Para ela, a visão e a cultura escolar são muito importantes e é preciso desenvolver na sociedade e consequentemente na escola uma prática inclusiva. “É preciso que toda a comunidade escolar compreenda a importância e o papel de cada um na construção coletiva deste espaço de aprendizagem, onde as pessoas não são segregadas por suas características e sim aprendam na convivência, valorizando a diversidade humana e respeitando suas expressões”, pontua.

Revista Appai Educar 27 Saltando as barreiras Nessa reportagem também abordaremos algumas das questões ligadas às necessidades educacionais das pessoas com deficiência, entre elas a comunicacional. Iniciemos pelas barreiras nas informações, que já começam na nomenclatura desses atores e perpassammuitos outros parâmetros ligados a atitudes, ações e comportamentos ou bloqueios, impedindo a participação social da pessoa. Seja na satisfação, na fruição e no exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre outros. Como toda mudança, a educação especial também vem passado ao longo dos anos por várias fases evolutivas desde a marginalização até a reabilitação. É o que dizem os especialistas no assunto, sobretudo no que diz respeito ao quesito barreiras x pessoas com deficiências. Esse muro cresce ainda mais, nomeadamente porque as pessoas não sabem como se referir a esse “público” sem causar qualquer tipo de constrangimento ou estranheza, tanto para o ouvinte, como para o locutor. Atualmente, de acordo com a leis vigentes, o termo correto a ser utilizado é “pessoas com deficiência”, segundo ficou estabelecido através do Decreto nº 6.949, de 2009, que promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, e seu Protocolo Facultativo, como texto constitucional.

28 Revista Appai Educar Entraves na aquisição da aprendizagem e da inclusão Barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços públicos e privados abertos ao público ou de uso coletivo. Barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos e privados. Barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios de transportes. Barreiras nas comunicações e na informação: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de informações por intermédio de sistemas de comunicação e de tecnologia da informação. Barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas. Barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o acesso da pessoa com deficiência às tecnologias. Abaixo acompanharemos alguns itens listados pelos especialistas e identificados como barreiras na aquisição da aprendizagem e na inclusão desses alunos, independente da deficiência. O papel de excelência da rede de apoio E nesse aspecto a Educação Inclusiva tem sido um caminho bilateral para abarcar a diversidade, mediante a edificação de uma escola que vislumbre e busque propostas que proporcione benefícios para todos, prezando por um ambiente mais acolhedor e ajustável. Nesse cenário, destaca-se a importância da presença do papel desempenhado pela rede de apoio para as crianças com necessidades educacionais especiais. Quando falamos de rede de apoio, o próprio nome diz muito do que se espera dessa teia colaboradora, entrelaçada, sem comprometer a mobilidade e a individualidade do outro sujeito. Um dos principais objetivos disso, segundo especialistas, é ajudar a garantir aos protagonistas – aluno e professor – um ambiente onde ambos poderão vivenciar experiências e descobertas que lhes proporcionem vivências em conjunto, a fim de que haja, respeitando o tempo do aluno, um desenvolvimento global para ele.

Revista Appai Educar 29 A função de cada ator nessa rede A rede de apoio inclusiva, relatam os especialistas, vai muito além da escola, do aluno e da família. Esse mosaico perpassa por um conjunto de ajustes e adaptações pedagógicas, operacionais e estruturais. A comunidade escolar precisa estar alinhada com o grupo de professores da linha de frente, isto é, da sala de aula, tanto quanto a direção, os pais, a administração e todos os atores que compõem a escola. A quebra no envolvimento de um desses “elos humanos” pode comprometer todo o processo, ainda que aparentemente não pareça. “É muito importante que essa rede seja presente, ativa”, diz Ana Flávia, mãe de um aluno autista. “Na escola em que meu filho estuda, as ‘tias’ do refeitório, por exemplo, vão muito além de preparar o alimento para os alunos com ou sem deficiência. Elas estão sempre conversando com eles, buscando entender suas preferências alimentares, interagindo, brincando, trocando saberes, que necessariamente não estão tão presentes na sala de aula, mas não são menos importantes na vida do aluno”, revela Flávia. Fortalecer a rede e o espaço de respeito do outro A unificação da rede de apoio fortalece o espaço de respeito do outro, da individualidade, mas também da coletividade, por ser composta de uma equipe multidisciplinar e não apenas aluno e professor. A educadora Carla Gaviani afirma que, quanto mais ampla for essa rede, no sentido multidisciplinar, melhores serão os resultados vivenciados por parte de todos os envolvidos. “Hoje os profissionais de diversas áreas que trabalham com o aluno, sejammédicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, psicoterapeutas, nutricionistas, psiquiatras, especialistas em equinoterapia, terapia ocupacional, comunicação alternativa, Braille ou libras, familiares, amigos da escola, entre outros, têm ampliado e fortalecido essa rede em prol de uma melhor qualidade de vida, saúde e bem-estar dos alunos deficientes e não deficientes”, assegura Carla.

30 Revista Appai Educar O papel da equipe escolar É importante para a escola, professores, equipe pedagógica, pais e alunos saber que não estão sozinhos nesse desafio. Daí a relevância do papel da escola e da equipe escolar em envolver áreas, profissionais e pessoas que vão cooperar para garantir ao professor os meios para melhor compreender os obstáculos, respeitar o tempo de cada um e valorizar os talentos de seus alunos em sala, compreendendo e caminhando juntos nesse grande espiral do movimento inclusivo. Essa participação ativa move, aciona e dá continuidade ao envolvimento desses profissionais, esclarece Gaviani. “É muito bom o professor saber que ao seu lado há pessoas o apoiando nesse trabalho pessoal de melhor compreender os desafios e talentos de seus alunos, a fim de ajudá-los em seus desenvolvimentos acadêmico, cognitivo, social e pessoal”, revela a educadora. Segundo especialistas, a atuação dessa rede permite, dessa forma, uma melhor adequação não somente de recursos humanos, mas também um alinhamento com quaisquer outras ações paralelas como suporte para o professor atuar em sala de aula. “O que dará ao docente uma visão mais ampliada, a fim de buscar meios e metodologias que o capacitarão a avançar e aperfeiçoar o desenvolvimento do aluno com a cooperação dessas várias frentes”, afirma Carla. Através do projeto Inclutopia, Fabiana disponibiliza gratuitamente dicas, aulas abertas e até arquivos para imprimir

Revista Appai Educar 31 Os benefícios da Educação Inclusiva para quem não tem deficiência A sociedade é diversa, e o respeito e a valorização da diversidade são as bases da construção de uma sociedade mais justa. Por isso, uma cultura realmente inclusiva na escola possibilita que os estudantes possam vivenciar relações sociais mais humanizadas, pautadas no respeito, na ética e na valorização das diferentes vozes que a compõem. “Em uma escola inclusiva de qualidade o investimento na formação do professor deve ser um dos pilares. Neste sentido ter um docente mais capacitado e em um ambiente commais recursos vai favorecer a aprendizagem de todos os estudantes”, esclarece Fabiana Leme. A pedagoga acredita que chegaremos a um tempo onde não vamos mais precisar utilizar o termo Educação Inclusiva, pois não teremos dúvidas de que todas as pessoas terão o direito de acesso a um ensino de qualidade. Para ela, a escola é um dos pilares de transformação social, pois atua diretamente na formação das novas gerações, e o nosso trabalho é para que este espaço se torne cada dia mais significativo para todos. Utilizando as redes sociais para conectar educadores e familiares Fabiana conta tambémque sempre acreditou que a informação e a formação são os elementos fundamentais para garantir a inclusão escolar para os estudantes comdeficiência ou com transtorno do espectro autista. Foi então que em2018 deu início a um projeto voltado para divulgar esse conhecimento nas redes sociais. “Aos poucos fui me conectando a educadores e familiares de diferentes regiões de nosso país e pude perceber que realmente havia uma carência de informações qualificadas”, lembra. Em 2019 o projeto ganhou o nome de Inclutopia e semanalmente são encaminhadas dicas gratuitas através do Whatsapp ou Telegram, aulas abertas em formatos de lives, artigos no blog e até arquivos gratuitos para imprimir. “Neste percurso a metodologia sempre foi a escuta ativa das pessoas que buscavam diferentes informações e fontes confiáveis. Tem sido uma experiência muito enriquecedora, pois estamos em contato e conhecendo as práticas de diferentes localidades de nosso país que muitas vezes, apesar da distância geográfica, compartilham as mesmas dificuldades”, conta Fabiana.

32 Revista Appai Educar Utilizando as tecnologias assistivas para ajudar seus alunos com deficiência Todos os alunos, semexceção, devem frequentar as salas de aula do ensino regular. Isso acontece por causa da Lei Brasileira de Inclusão, que promove a inserção escolar de forma radical, completa e sistemática. O Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece uma meta específica para a educação inclusiva. A Meta 4 normatiza o Atendimento Educacional Especializado (AEE) e orienta a comunidade educativa e as políticas públicas voltadas para educandos comdeficiência (intelectual, física, auditiva, visual emúltipla), Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) e altas habilidades. A Lei Brasileira de Inclusão utiliza essa terminologia para se referir às deficiências que o aluno possui: se um é cego, sua característica seria não enxergar. Se é surdo, seria não ouvir. Se possui mobilidade reduzida nas mãos, sua especificidade seria não poder segurar um lápis ou caneta. E para garantir o acesso desses alunos com deficiência ao currículo, você deve se aprofundar no requisito referente aos “serviços e adaptações razoáveis”, como diz na Lei.

Revista Appai Educar 33 O que quer dizer adaptação razoável? Adaptações, modificações e ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus desproporcional e indevido, quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar que a pessoa com deficiência possa gozar ou exercer, em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos e liberdades fundamentais. (BRASIL, 2015) O documento deixa claro em suas metas o papel da Educação enquanto direito e ummeio esVeja alguns exemplos dessa tecnologia • O teclado virtual pode ser utilizado na tela do computador com auxílio de uma caneta especial para estudantes commobilidade reduzida. • O head mouse é um programa desenvolvido para permitir que alguém que não tem os movimentos dos braços possa usar o computador e navegar pela internet sem ajuda de outras pessoas, sendo acionado com ummovimento e um piscar de olhos. • DOSVOX é um sistema destinado a auxiliar no uso de computadores através da utilização de sintetizador de voz. • O software PRO DEAF faz tradução de texto e voz da língua portuguesa para Libras, a língua brasileira de sinais, para facilitar a comunicação entre pessoas com deficiência auditiva e ouvintes. • OaplicativoHandTalk funciona como umtradutor simultâneo dos dois idiomas. A ferramenta está disponível gratuitamente noGoogle Play e na AppStore. sencial para que todos os outros direitos se concretizem. A escola detém um papel essencial de fomentar espaços e proporcionar inclusão, convivendo com toda a diversidade e propiciando também trabalhos pedagógicos que tratem da educação inclusiva. Sabemos, porém, que essa não é uma tarefa fácil. Todavia, a tecnologia assistiva vem justamente para contribuir nesse processo, pois ela é uma área do conhecimento interdisciplinar que engloba recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços comobjetivo de ampliar a participação dos alunos comdeficiência emobilidade reduzida, garantindo autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social do estudante comdeficiência. É preciso ressaltar que é necessário o fortalecimento de formação dos professores, buscando criar uma rede de apoio entre educação e saúde para aprimorar os conhecimentos docentes, flexibilização de material e intervenções com os alunos. VALE RESSALTAR O correto é “pessoa com deficiência”. O uso de termos como “deficiente” ou “portador de deficiência” remete a uma ideia que resume a pessoa à sua deficiência.

34 Revista Appai Educar Outro ponto a ser enfatizado é que Tecnologia Educacional é diferente de Tecnologia Assistiva, pois só pode ser considerada assistiva quando for utilizada por um aluno com deficiência e tiver por objetivo romper barreiras sensoriais, motoras ou cognitivas que limitem e/ou impeçam seu acesso a informações ou conhecimentos. Ou seja, se a tecnologia favorecer seu aluno no acesso e na participação ativa e autônoma em projetos pedagógicos, então está no caminho certo. Sendo assim, são exemplos de TA no contexto educacional: os mouses diferenciados, teclados virtuais com varreduras e acionadores, softwares de comunicação alternativa, leitores de texto, textos ampliados, em Braille ou com símbolos, mobiliário acessível, recursos de mobilidade pessoal (rampa, corrimão, banheiro especial), entre outros. Recurso de alfabetização A Marina de Souza estava no Ensino Médio quando conheceu o Teclado Inteligente Multifuncional (TiX). Ela tem paralisia cerebral e não consegue falar. Quando se deparou pela primeira vez com o produto, numa feira tecnológica em São Paulo, fez um teste e percebeu que com o instrumento conseguia digitar o próprio nome no computador. De acordo com seu pai, Alcides de Souza, a sensação foi fantástica e os dois decidiram contar com essa tecnologia assistiva na educação da Marina. “O TiX a ajudou a terminar o Ensino Médio e a iniciar e concluir o seu bacharelado no curso de Gestão em TI”. Recém-formada, Marina conseguiu um emprego na Prefeitura de São Paulo. Em seu trabalho de graduação, ela destacou a importância da tecnologia assistiva na vida de pessoas com deficiência. Em Porto Alegre, a professora do Ensino Fundamental I Solange Martins, que atualmente leciona na Escola Municipal Coelho Neto, passou a utilizar o mouse adaptado com acionador. O produto foi solicitado através do suporte da assistência social da unidade escolar. Solange conta que precisou de um curso preparatório para lidar com a novidade.

Revista Appai Educar 35 O mouse adaptado foi essencial para que os alunos com deficiência fossem de fato incluídos nas atividades do laboratório “Minha aluna ficava sem fazer as atividades no laboratório porque não conseguia utilizar o mouse. O impedimento dela é motor, então fui atrás, pesquisei e encontrei esse acessório que foi fundamental na vida dela e dos futuros alunos”, diz Solange. O curso preparatório, de acordo com a professora, foi introdutório acerca da parte técnica do O Teclado Inteligente ajuda Marina, que tem paralisia cerebral, a utilizar o computador na escola aparelho, que não apresentou complexidade. “A partir daí, sua inserção na escola acarretou em uma formação continuada para toda a equipe docente nessa área de recursos assistivos. Essa temática era praticamente desconhecida. E foi incrível para todos, pois conseguimos assimilar a diferença entre a tecnologia e a educação inclusiva”, relata Solange. Por Antônia Lúcia, Jéssica Almeida e Richard Günter * Fabiana Leme possui especialização em acessibilidade e atua nos serviços de apoio à Inclusão Escolar há mais de 25 anos. É idealizadora do Inclutopia, atuando na curadoria dos conteúdos pedagógicos. Contato: Instagram (@inclutopia). Fontes: MEC e Instituto Itard. Fotos: Banco de imagens gratuitas do Freepik.

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