Universidade 42, pioneira na exclusão dos professores em sala de aula

Em um primeiro momento, parece que as pessoas enlouqueceram. Sala sem professor, sem livros, alunos sem uma grade de disciplinas, conclusão do curso sem diploma. O caos está instalado. Ou será que o avanço tecnológico chegou e nós perdemos o bonde? Ishiii, coisa antiga. Ou será o “taime”? Ou quem sabe tenha sido apenas a falta de um clique.

Essas e outras respostas certamente ainda não teremos. Mas o que já se sabe de concreto é que a mais nova universidade colaborativa, em que os alunos avaliam entre si seus apontamentos, já está com a sua segunda unidade instalada no Vale do Silício, na Califórnia, nos Estados Unidos.

Conhecida como “42” – em referência ao filme “O Guia de Mochileiro das Galáxias”, em cuja trama ficcional o número 42 é a resposta dada pelo computador Pensador Profundo a dois jovens sobre a questão fundamental da vida –, a universidade tem um método de ensino totalmente colaborativo. Bem diferente do sistema tradicional, quem estuda lá está livre das aulas fixas e pode escolher o projeto de que vai participar, tendo como opção de criação a programação de website ou a de jogos para a plataforma on-line.

Tudo na instituição foi projetado para reproduzir com o máximo de fidelidade um ambiente tradicional de trabalho encontrado nas empresas do ramo, inclusive a avaliação final do projeto onde a colaboração mútua será primordial para o resultado da conclusão. Esse período de finalização pode variar entre três e cinco anos. Dentro de uma escala interna, os alunos têm que atingir o nível 21 do projeto já predeterminado pela instituição.

Numa acirrada disputa pelo preenchimento das vagas abertas, a primeira unidade teve 70 mil inscritos. Desse total apenas 3 mil, ou seja, menos de 5% conseguiram fazer parte desse sonho do bilionário francês Xavier Niel, fundador da instituição e dono da empresa de telecomunicações Iliad.

Para que esse método de ensino fosse implantado, mais de 100 milhões de dólares foram investidos, algo em torno de mais de 340 milhões de reais. Com um custo bastante ousado, o projeto não poderia deixar de acompanhar esse arrojo. A nova unidade deve receber cerca de 1.000 alunos norte-americanos famintos em criar e colaborar com o desenvolvimento da inteligência artificial ditada pelos algoritmos e seus indexadores. Para Niel, o investidor-mor desse projeto, e seus sócios, o método de aprendizagem incentiva os estudantes a serem receptores ativos de conhecimento, ao contrário do modelo atual. Segundo ele, ex-alunos da instituição conseguiram empregos em empresas renomadas, como IBM, Tesla e Amazon.

Mas tem gente chiando
De acordo com especialistas da área, essa nova metodologia pode acarretar prejuízos aos alunos pela supressão da figura do professor ou orientador. Mesmo porque equilibrar ou mediar o embate entre as diferentes avaliações feitas pelos alunos pode ser um sério problema para aqueles grupos de estudantes que têm dificuldade de trabalhar em equipe e, sobretudo, de aceitar críticas. Mas, em contrapartida, todos reconhecem a ousadia do idealizador do projeto e seu pioneirismo neste formato. O que todos esperam é que a médio e longo prazo os resultados sejam favoráveis a todos, inclusive à figura do tão querido professor.

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