Alunos criam células motivadoras e reduzem em mais de 99% o abandono escolar

A evasão escolar é uma realidade em instituições do mundo todo, mas nas estatísticas a situação brasileira aparece como a terceira maior do planeta. Como se isso fosse pouco, ainda sofremos com a falta de percepção do cidadão ao atribuir a reponsabilidade de retenção apenas ao gestor escolar.

Acreditando que se trata de um problema é de todos os atores envolvidos na comunidade escolar, alunos e professores da Escola Estadual Adrião do Vale Nuvens, em Santana do Cariri (CE), criaram o projeto Células motivadoras: conectando-se com o futuro, a fim de reduzir a evasão escolar na região. A atividade começou como um trabalho de formiguinha, em que os alunos iam até a casa dos colegas ausentes para incentivá-los a retomar a rotina dos estudos.

De acordo com o Censo Escolar 2018, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Brasil teve 1,3 milhão de matrículas a menos, contabilizando cerca de 2 milhões de crianças e adolescentes de 4 a 17 anos fora da escola. Dentre estes, a maior taxa é a daqueles de 15 a 17, o que constitui um número alarmante: 915.455 que hoje não estudam.

De acordo co m a direção do colégio do interior do Ceará, só em 2017 quase 80 alunos largaram as salas de aula. Conscientes do prejuízo social e intelectual produzido por esse afastamento dos colegas, três alunas do 2º ano do Ensino Médio decidiram colocar a mão na massa.

Ao chegar na casa dos faltosos, as jovens perceberam que motivos não faltavam para que eles justificassem o abandono. A pressão familiar pela busca de um primeiro emprego, a vulnerabilidade social, o baixo incentivo, a falta de estrutura da escola e a dificuldade de transporte foram os problemas mais identificados. No caso das meninas, em particular, a gravidez não planejada aparece como uma das principais causas.

Mas ouvir os motivos de cada um e incentivá-los a voltar ainda era pouco para as três estudantes. Foi então que veio o auxílio dos educadores na estruturação desse trabalho. Além das visitas, as meninas organizaram rodas de conversas, reuniram outros alunos e juntos passaram a escrever mensagens de incentivo, que acabaram ficando conhecidas como “Cartas Quentes”.

Em pouco tempo o número de alunos evadidos caiu para 59, em 2018, e despencou para apenas um caso no primeiro semestre deste ano. “Hoje, todas as turmas do colégio têm uma ‘célula motivadora’, um grupo de apoio feito de jovem para jovem para estimular a que todos continuem frequentando as aulas”, explica um dos professores, garantindo que o projeto segue a todo vapor. As meninas ainda pretendem expandir a iniciativa para outras duas escolas municipais de Santana do Cariri.

Além de fazer a diferença entre a comunidade escolar, o projeto Células motivadoras: conectando-se com o futuro foi um dos vencedores da 5ª edição do “Desafio Criativos da Escola 2019”. E, como incentivo, três estudantes e um professor orientador da iniciativa vão conhecer, em novembro, “A Cidade Eterna”, como Roma, na Itália, é conhecida por poetas e escritores.

Por Antônia Lúcia
Escola Estadual Adrião do Vale Nuvens
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