Semana Nacional do Livro: queda de vendas, fechamento de livrarias e precariedade na Biblioteca Nacional


Na mesma semana em que passam quase despercebidos os 208 anos da Biblioteca Nacional e em que se comemora o Dia Nacional do Livro, a Saraiva, maior livraria do país, anuncia o fechamento de 20 lojas. Enquanto isso a Cultura, sua principal concorrente, entra em recuperação judicial após fechar o espaço ícone na Rua Senador Dantas, no Centro do Rio, adaptada no histórico Cinema Vitória.

Queda das Líderes

A Saraiva, líder do país, responsável por 30% do mercado nacional, amarga um prejuízo de quase R$ 38 milhões só no segundo trimestre. Já a estimativa é que a Cultura, segunda maior, com 16% do mercado, chegue ao fim deste ano com uma dívida de R$ 285 milhões. Esta rede, em julho do ano passado, adquiriu o braço brasileiro da francesa Fnac para, logo depois, ir fechando uma a uma das lojas físicas desta cadeia. A explicação para isso pode estar na mecânica dessa transação, feita como se fosse uma compra inversa. É que, ao invés de a “compradora” pagar pela aquisição, ela teria recebido, segundo o mercado, R$ 130 milhões da antiga dona para que assumisse as operações da francesa após anos de prejuízos no mercado brasileiro.

Sem receber, crise se alastra pelas editoras fornecedoras

Por sua vez esse quadro abala ainda mais a situação das editoras, muitas sem receber ou com atraso pelos livros fornecidos. Sendo assim, a crise vivida por essas redes já escoa pelas editoras que baseiam justamente nessas três maiores o grosso de suas receitas. Desde março deste ano que várias redes já informavam às editoras que não teriam como pagar em dia pelos livros já recebidos e buscavam uma renegociação, num presságio da crise que se agravaria meses depois no setor.

Biblioteca Nacional teme mesmo destino que Museu da Quinta

Se os locais de venda apresentam problemas, o mesmo pode-se dizer dos espaços de acervo. A aniversariante Biblioteca Nacional (sétima maior do mundo) não tem muito o que comemorar. Funcionários temem que seu acervo tenha um destino parecido para o irmão Museu Nacional, ambos criados com a vinda da Família Imperial para o Brasil. E essa preocupação não é infundada. Em 2012 a biblioteca já tinha sofrido um princípio de incêndio.

A fachada do prédio de 1910 teve que ser reformada às pressas enquanto ameaçava cair. Mesma sorte não teve o teto do salão de obras raras que desabou em agosto. A refrigeração, tão importante para manter o acervo, funciona de forma precária. Infiltrações no prédio histórico são comuns. Porém a maior preocupação é mesmo com a precária rede elétrica. Para agravar, a empresa licitada para restauração da fiação faliu, tendo feito somente 40% do trabalho emergencial.


Por Luiz André Ferreira | Jornalista, professor, apresentador da Rádio Appai e Mestre em Projetos Socioambientais e Bens Culturais.


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