Saúde mental nas escolas


Os constantes massacres ocorridos nas escolas do Brasil e do mundo, com o uso de armas de fogo e branca, não só interromperam centenas de vidas e sonhos, como desencadearam uma alta onda de estresse entre a sociedade e a comunidade escolar. Os mais recentes acontecimentos de violência nas escolas mostram-se diretamente associados à saúde mental dos alunos. A grande preocupação é o que fazer frente à carência de cuidados, práticas e intervenções disponíveis para educadores, pais, alunos e profissionais de saúde para enfrentarem essa crise.

Precisamos falar sobre isso. Entender. Refletir, rever, para assim conseguir prevenir a saúde mental nas instituições. Para isso, a equipe da Revista Appai Educar entrevistou especialistas da área pedagógica, profissionais da saúde, secretarias de educação, alunos, pais e os demais envolvidos nesse cenário. Descubra como está sendo feito esse gerenciamento no Brasil, como o professor pode ajudar dentro e fora da sala de aula, onde a escola pode buscar orientação e ajuda, e muitas outras questões acerca da temática.

Como está sendo feito o gerenciamento da crise no Brasil

Em meio a todo esse cenário de dor, revolta e angústias, alunos e professores se veem diante de um enfrentamento, cujas ações e políticas promovidas pelo governo ainda estão longe de gerar uma conscientização coletiva no que diz respeito à prevenção da saúde mental da comunidade escolar, sobretudo dos alunos.

Para a psicopedagoga e psicanalista em saúde e sociedade Cristiane Guedes, as escolas não estão preparadas para atender a qualquer tipo de necessidade em se tratando de saúde mental. “Temos ótimas equipes pedagógicas, ótimos professores que tentam de toda maneira fazer seu trabalho a contento, mas uma máquina administrativa completamente ‘desconectada’ da realidade do funcionamento saudável de uma escola”, afirma.

As ações alinhadas entre as secretarias de Educação e a direção das escolas acerca da saúde emocional dos alunos passam à margem de intervenções de saúde comportamental positiva, pois quase sempre os casos de indisciplina ou comportamento inadequados são tratados com políticas punitivas na maior parte dos casos de nenhum ou pouco efeito para a aprendizagem social e emocional.

Essa realidade traduz a precariedade e a escassez de práticas que produzam um efeito psicológico de melhora no comportamento e aprendizagem, sobretudo no que se refere ao alto índice de evasão por parte dos adolescentes.

Apesar de todo o projeto recair sobre os estados onde estão concentradas as principais metrópoles do Brasil, ouvimos alguns estados que têm se tornado referência no quesito prevenção à saúde mental, como a Secretaria de Estado de Educação do Amazonas (Seduc-AM), que conta com uma equipe interdisciplinar que atua na sede e nas coordenadorias, por meio da recém-criada Coordenadoria Psicossocial.

Essa equipe é composta por psicólogos, assistentes sociais e pedagogos que atuam com o acompanhamento de programas e projetos educacionais de saúde e no combate ao abandono escolar, além de apoio e orientação aos professores. “É imprescindível que o aluno e profissionais estejam em boas condições de saúde mental. O processo de ensino-aprendizagem ocorre satisfatoriamente quando todos estão bem. Dessa forma, promover ações que garantam condições para a saúde mental dos alunos é fundamental para que o ambiente escolar seja saudável e se garanta a permanência deles, o que só será possível se houver a oferta de educação de boa qualidade”, ratifica a assessoria da Seduc-AM.

Já a Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul (Seduc-RS) realiza, por meio do programa Cipave (Comissões Internas de Prevenção a Acidentes e Violência Escolar), desde 2015, trabalho de ações preventivas em escolas da rede estadual do Estado. Para isso, conta com uma rede de apoio que desenvolve programas focados na promoção da Cultura de Paz e nos Valores. “Ao longo das dinâmicas, direcionadas tanto para alunos como para professores, são trabalhadas questões como respeito, autoestima, autocuidado, combate a atitudes destrutivas, como agressões e automutilação, além de reduzir danos emocionais e físicos de quem convive com situações desta natureza”, relata a assessoria de comunicação da Seduc do estado gaúcho.

Seguindo uma mesma linha de promoção à saúde, o Colégio Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), de São Paulo, busca atender a demanda através do projeto Galp (Grupo de Apoio Linguístico Psicopedagógico), onde os alunos participam do encontro semanal. Lá, os estudantes têm espaço para falar de suas ansiedades, questões familiares, sociais, entre outras, ao mesmo tempo que são trabalhados na estimulação das Funções Executivas. Essa atividade visa à melhora da autoestima e dos resultados acadêmicos, procurando potencializar as possibilidades individuais. “Oferecemos, a todos os alunos, palestras e eventos como a Semana da Saúde Física e Mental, trazendo temas atuais como depressão, uso de drogas, suicídio e outros, para melhor informar aos jovens e dirimir possíveis dificuldades que enfrentem.

Nosso objetivo é ajudar na formação de cidadãos responsáveis, fortalecidos também nas questões emocionais”, relata a orientadora psicopedagógica do Fecap, Ana Rita Bruni. Diante dessas ações, é possível averiguar que, ao longo do trabalho, com a melhora da autoestima e sendo valorizados em suas potencialidades, os jovens tiveram diminuídos os seus conflitos internos e externos. Além disso, os professores também contam com um trabalho em grupo para discutir sobre suas questões, bem como podem marcar horários individualmente para falar, de modo mais reservado, como lidar com tais assuntos. “Estamos sempre em busca de aprimorar nosso trabalho frente a todo o corpo docente e discente para que juntos possamos minimizar as demandas socioemocionais tão frequentes na sociedade atual”, ratifica Bruni.

Nas escolas de ensino fundamental do Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de Educação (SME) atua por meio do Núcleo Interdisciplinar de Apoio às Unidades Escolares (Niap) onde se dão as relações de ensino e aprendizagem a partir dos saberes da Psicologia, Serviço Social e da Pedagogia. Mediante análises e experiências de trabalho de questões que envolvem o universo escolar, o Niap atua em 4 eixos de atividade: Convivências e Conflitos na Escola; Juventude e Escola; Direitos Humanos e Escola; Aprendizagens, Atenção Psicossocial e Escola, que norteiam as ações junto a toda a comunidade escolar e contribuem para os cuidados necessários em saúde mental para alunos, funcionários e familiares de toda a rede de ensino. De acordo com a assessoria da SME “o trabalho é desenvolvido por equipes regionais, compostas por assistentes sociais, professores e psicólogos, com atuação em toda a cidade do Rio de Janeiro, através das onze Coordenadorias Regionais de Educação”, ressalva a assessoria.

O estigma em torno da saúde mental ainda é um obstáculo

Em pleno século XXI, diante da educação 4.0, o estigma em torno da saúde mental ainda é um obstáculo a ser superado por alunos e professores. Tal fato não ser encarado pelos alunos como algo que faz parte da sua constituição orgânica colabora para distanciá-los de procurar auxílio, pois o receio de ser visto como diferente ou como uma pessoa com problemas faz com que os estudantes levem muito tempo para procurar ajuda, como explica o médico neuropediatra Giuseppe Pastura, em uma entrevista exclusiva para essa edição da Revista Appai Educar. “É importante que os alunos sejam acolhidos e tenham confiança tanto nos serviços de orientação educacional de cada escola como pela própria família. Se o estudante não sente que terá apoio por parte da escola ou de seus pais, não conseguirá relatar seus problemas e atrasará todo o processo de diagnóstico e tratamento”, enfatiza.

De acordo com um estudo de 2014 do Centro de Saúde e Cuidados de Saúde nas Escolas, realizado nos Estados Unidos, os alunos que recebem intervenções de saúde comportamental positiva percebem melhorias em uma gama de comportamentos relacionados ao desempenho acadêmico, além de notas ou notas de teste. Aqui no Brasil, especialistas afirmam que este processo está caminhando bem. “Não é o ideal, mas tem avançado. Cada vez mais professores e familiares têm acesso a informações sobre saúde mental e investem em prevenção. Os programas de inclusão escolar são importantes para promover o acolhimento e proporcionar o desenvolvimento acadêmico das crianças com déficits de aprendizado. Além disso, é importante enfatizar o papel de medidas simples, como a prática desportiva supervisionada, que ajuda muito o aprendizado e o bem-estar geral de nossas crianças”, explica o neuropediatra.

O papel social do professor na escola e fora dela

Dentro do papel desempenhado pela educação, a escola necessita garantir ao corpo discente um apoio, que muitas vezes está aquém da gerência ou da gestão escolar, isso por vários motivos, que vão desde a falta de políticas públicas voltadas para a prevenção da saúde mental nos colégios, passando pelo despreparo do professor, bem como da família.

Ainda assim, professores mesmo sem um apoio de profissionais ligados à área da saúde mental – fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas, psicopedagogos – precisam dar aos alunos esse tipo de apoio. Pois quase sempre a criança ou adolescente se sente mais seguro ao conversar e ter apoio do professor, ainda que haja a orientação de um psicólogo, assistente social ou outro profissional.

Isso reforça a tese de que a escola precisa ter um corpo interdisciplinar em sua grade curricular, com profissionais que se envolvam e se relacionem uns com os outros buscando ajudar os alunos que estão vivenciando ou apresentando algum traço de ansiedade ou de distorção na sua conduta diária.

De acordo com muitos educadores, essa sintonia de confiança que existe entre o professor e o aluno, nesses casos comportamentais, torna a situação ainda mais delicada, uma vez que normalmente a atitude do estudante com o comportamento fora dos padrões é, quase sempre, entendida como opositora à orientação disciplinar da instituição. Será que o professor tem condições de avaliar, medir e perceber as razões desse comportamento? É o que explica a bióloga, neurofisiologista e psicopedagoga Marta Relvas. Para ela, o docente é quem costuma perceber os primeiros sinais, mas a responsabilidade de reconhecimento dessas mudanças não deve ser somente dele. “O professor pode avaliar as situações, mas é importante saber que não cabe apenas a ele intervir. É preciso reconhecer que muitos problemas estão além das questões da sala de aula. Então, é preciso buscar diálogos com a coordenação pedagógica para que exista conversa também com os pais, pois todos precisam estar envolvidos”.

Marta Relvas ressalta que há uma necessidade de compreensão dos estudos da neurociência aplicada à educação escolar para que o educador consiga reconhecer esses estudantes que possam apresentar alterações comportamentais ou de neurodesenvolvimento. “O professor só irá reconhecer se conseguir exercer a observação detalhada dos comportamentos e relacionamentos entre todos”, esclarece.

A psicanalista Cristiane Guedes completa afirmando que as escolas, além da equipe pedagógica, deveriam dispor de um Serviço de Orientação Educacional, tendo como profissional especializado para o cargo um psicopedagogo. Isso tanto pelos objetivos da psicologia, quanto da pedagogia. “Seria um profissional que estaria apto a fazer a ponte entre o que se entende enquanto formação do sujeito aprendente em seu funcionamento bio, psico e social, que é a tríade do desenvolvimento humano. O amparo ao qual me refiro está nas condições de um trabalho preventivo, engajado no desenvolvimento da criança e ou adolescente. Quando entendemos a saúde mental na escola, devemos compreender as necessidades básicas de conforto, segurança e, antes de tudo, do sentimento de proteção e amparo”, garante Cristiane.

De onde vêm as muitas facetas da violência na vida do educando

É sabido que ter um professor especialista em educação mental não é uma prioridade do Ministério da Educação e Cultura, como se pode constatar ao avaliar as secretarias de Educação, até porque o foco está na saúde e não na doença. Entretanto, a inexistência de uma política na escola canalizada para a prevenção da saúde mental tem deixado rastros cada vez mais trágicos.

São casos de suicídio, evasão, exclusão, bullyng, violências físicas até assassinatos em massa de alunos e professores. Essa situação tem estabelecido casos de agressões generalizadas cometidas por funcionários, professores contra alunos, alunos contra professores e alunos contra alunos. Isso sem falar na violência entre pais e filhos e na comunitária, ocorrida nos bairros das cidades.

Toda essa correlação de agressividade tem tido as escolas como palcos desse reflexo orquestrado pelos distúrbios mental e social. A gestão desse tipo de crise, quase sempre mal resolvida, não por falta de empenho por parte dos professores e diretores, mas, sobretudo, por falta de um trabalho de esclarecimento e aperfeiçoamento acerca da prevenção precoce e cuidados rotineiros que o tema necessita, tem sido uma porta aberta para o número crescente de ações cada vez mais violentas e repetitivas.

Cristiane Guedes destaca que a prevenção em saúde mental na escola deve ter como foco a não exclusão. Para tanto, é necessário que se estabeleçam critérios para quem ocupa determinadas funções de orientação. “Sem dúvida, não é tão somente esse investimento em profissionais que irá livrar a sociedade de determinadas notícias sobre tragédias. Mas, sem dúvida também, acolheriam e minimizariam as dores de um silêncio, que é significativo e solitário no desenvolvimento de nossas crianças. O que torna fundamental o trabalho especializado em saúde mental na escola. Porque permitiria que os profissionais pudessem dar o suporte não só aos alunos, mas também à comunidade educativa”, garante a psicanalista em Saúde e Sociedade.

Muro da fachada da Escola Municipal Bernardo de Vasconcelos, antes e depois das artes de grafite feitas pelos alunos

A reforma da quadra foi o pontapé inicial do mutirão de transformação da Escola Bernardo de Vasconcelos

Já o especialista em educação Waldir Romero ressalta que as escolas não são bolhas, por isso não estão isoladas da sociedade e, infelizmente, a violência está por toda parte. “A dialogicidade é uma ferramenta fundamental para enfrentar esse quadro. É imprescindível ter um projeto de estado, para além de partidos e governos, de 20 anos. As famílias e a comunidade estão à mercê de um conjunto imenso de violências. Os alunos chegam à escola estimulados pela mídia. Os professores, em geral, não sabem lidar com essa situação. A escola tem uma estrutura fabril o que tenciona muito as relações”, afirma.

Para o especialista, o projeto proposto para a escola precisa estar inserido na realidade da comunidade, incluindo os saberes e as lideranças locais. “É necessária também uma proposta de formação para os responsáveis dos alunos e uma qualificação de lideranças para influenciar os jovens. Incluir as múltiplas linguagens e educar para a diversidade e o respeito é algo indispensável. Esse processo é demorado, mas possível”, garante.

Foi com esse objetivo que a Escola Municipal Bernardo de Vasconcelos, na Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro, desenvolveu o projeto pedagógico Ser e Pertencer. Em 2017, os professores Daniela Azini e Marcelo Martins resolveram montar uma chapa e assumir a escola com uma proposta de gestão mais democrática, aberta à comunidade escolar e ao protagonismo dos alunos. A ideia era valorizar o espaço da escola e fazer nascer um sentimento de pertencimento a ela por parte dos estudantes.

Para isso, uma parceria entre alunos, pais, professores e funcionários possibilitou diversas melhorias dentro do espaço de estudo, desde o ambiente físico até as práticas metodológicas nas salas de aula. As ações de transformação contaram com o trabalho conjunto de toda a comunidade escolar. A reforma da quadra, por exemplo, foi realizada por alunos e professores, desde a arrecadação do dinheiro para o material até a conclusão das obras.

A mudança na cor da escola também contou com esse apoio. Junto com um artista local, ex-aluno da instituição, os estudantes realizaram artes de grafite nas paredes e muros, com histórias africanas, do mundo, do colégio e deles próprios. “Todas essas mudanças tornaram os jovens muito mais felizes. Hoje eles constroem uma outra relação com esse espaço, o de cuidado também, o que se transfere para a relação deles com os professores, direção, funcionários. Aquele ambiente escuro, cinza, triste, despertava uma agressividade”, ressaltou Daniela.

E as mudanças não ficaram apenas no espaço físico. Diversas rodas de conversas sobre temas como bullying e depressão entraram em pauta dentro da escola. Além disso, outra prática adquirida foi uma nova abordagem pedagógica em que a história do bairro da Penha e dos moradores entrassem nos ensinamentos. Para a diretora, a relação com a realidade deles é essencial. “A gente está falando de uma escola inserida numa localidade que sempre aparece na mídia de forma negativa, associada à violência. A comunidade é sempre colocada nesse lugar da marginalização, da criminalização e isso afeta diretamente os adolescentes. O aluno não entra na escola e deixa as emoções do lado de fora, então a instituição precisa criar estratégias e projetos pedagógicos que se aproximem e dialoguem com essas questões, de modo que torne significativa a presença e o aprendizado desse aluno”, concluiu.

Para Fernanda Lucas, docente do Instituto de Educação General Flores da Cunha, é preciso qualificar constantemente a assistência ao alunado e professorado. “Para prevenir a saúde mental temos que qualificar para as necessidades diárias. Cada caso é um caso e deve ser visto de forma íntima. Quando a escola promove conversação reflexiva sobre um problema, ela gera ótimos resultados. Em meus quase 20 anos de atuação, vi muitas instituições diminuírem casos de violência, de alunos indisciplinados e a quantidade de professores insatisfeitos. Mas afirmo que, para se alcançar bons resultados, não pode ser algo planejado eventualmente, tem que ser enraizado na essência escolar”, enfatiza Fernanda.

De acordo com Camila Borges, aluna do Ensino Médio, os projetos voltados para a saúde mental na escola mudaram radicalmente a forma de ver o próximo. “Todo mundo tem um problema, mas quando se discute e reflete sobre o assunto a gente consegue se colocar na posição do outro. E com isso percebi que a prática do bullying tem diminuído aqui na escola. Agora a gente tenta criar até grupos no Facebook para evitar ciberbullying.

E também percebo que isso tem mudado a postura dos professores, tenho a sensação de que eles estão mais próximos da gente”, reflete a jovem.

Já dona Alcida Borges, mãe de Camila, relata que a filha ficou engajada nos projetos e já até levou as discussões adaptando para as reuniões da associação do bairro onde mora, Rubem Berta Cohab. “O Diretor da Associação gostou da ideia, e minha filha adaptou para os problemas do conjunto residencial. E o primeiro resultado que eu vi foi um consenso na escolha da pintura do prédio. Foi muito democrático. Não tivemos estresse”, comenta Alcida.

Diante dessa discussão: como andam as pesquisas sobre a saúde mental do profissional docente?

Mais de 60% dos professores já precisaram se afastar por problemas de saúde, como ansiedade, estresse e insônia, segundo um estudo realizado pela Nova Escola. Já a desvalorização da carreira e o acúmulo de problemas de saúde também trazem efeitos de longo prazo e prejudicam o processo de ensino e aprendizagem. De acordo com o relatório “Políticas Eficientes para Professores”, divulgado em 2018 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas 2,4% dos jovens brasileiros de 15 anos querem ser professores. E somente 23% dos professores recomendariam a profissão aos jovens.

Se a satisfação com a carreira pudesse ter uma nota de 0 a 10, os professores dariam nota 7, com pequenas variações de acordo com a rede, a etapa de ensino e o tempo de carreira. Professores da rede particular, do Ensino Fundamental I e com até 10 anos de carreira estão mais satisfeitos, enquanto docentes das redes estaduais e do Ensino Médio deram nota de aproximadamente 6,5. Os dados são da pesquisa “Profissão Docente”, feita em parceria entre o Todos pela Educação e o Itaú Social, realizada pelo Ibope Inteligência em cooperação com a Conhecimento Social.

Dos quase 6 mil entrevistados, 53% dos professores relatam que os casos de afastamento no trabalho por motivos de saúde eram relacionados à saúde mental:

*Pesquisa realizada em 2018 com 5.800 professores

Manual de orientação para o professor

A Organização Mundial de Saúde (OMS) desenvolveu o documento de “Prevenção ao Suicídio: Manual para Professores e Educadores”. O intuito é orientar o educador para o enfrentamento de situações que envolvem o risco de suicídio.

O documento reforça que “qualquer mudança súbita ou dramática que afete o desempenho, a capacidade de prestar atenção ou o comportamento de crianças ou adolescentes deve ser levado seriamente”, e também lista alguns sinais que podem ser identificados por um professor ou funcionário da escola, como: falta de interesse nas atividades habituais, declínio geral das notas, diminuição no esforço/interesse, má conduta em sala de aula, faltas não explicadas e/ou repetidas, consumo excessivo de drogas (incluindo cigarro e bebida alcoólica) e incidentes envolvendo a polícia.

Para ter acesso, basta inserir no campo de busca do Google: “Prevenção ao Suicídio: Manual para Professores e Educadores”. O documento está disponível em PDF, que pode ser utilizado on-line, ou, se preferir, é só baixar.

Onde a escola pode buscar orientação e ajuda?

Identificando alguma mudança de comportamento, situação de conflito ou vulnerabilidade no aluno, o professor ou outro funcionário deve buscar ajuda na unidade de saúde mais próxima. “O contato tem que ser direto. Algumas escolas ainda não exploram isso, mas estamos tentando fortalecer essa relação”, afirma Elisabete Alves, coordenadora do Programa Saúde nas Escolas (PSE) Carioca.

O trabalho do PSE, por meio de parcerias entre a SMS, a Smeel e a Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH), possibilita a promoção de ações (capacitações, rodas de conversa etc.) nas unidades educacionais, com a presença de profissionais de saúde para discutir determinados assuntos com a comunidade escolar, de acordo com o interesse ou demanda específica de cada local.

O programa é voltado para os estudantes da Educação Básica, gestores e profissionais de educação e saúde, comunidade escolar e, de forma mais amplificada, estudantes da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica e da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Para mais informações, acesse o site do Ministério da Educação (MEC) e procure por “Programa Saúde nas Escolas”.

Atendimento gratuito

A Prefeitura do Rio também oferece um serviço gratuito para acolhimento às crises em saúde mental, atendimento e reinserção social de pessoas com transtornos mentais e/ou decorrentes do uso prejudicial de álcool e/ou outras drogas. Os CAPs (Centros de Atenção Psicossocial) oferecem atendimento interdisciplinar, compostos por uma equipe que reúne médicos, assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras, entre outros, em articulação com as demais unidades de saúde e com unidades de outros setores (educação, assistência social etc.) quando necessário, sempre incluindo a família e a comunidade nas estratégias de cuidado.

São 34 CAPs dentro do município do Rio de Janeiro, que funcionam de segunda a sexta, com atendimento das 8 às 17 horas. Os CAPs III têm funcionamento 24 horas, durante os sete dias da semana, oferecendo a possibilidade de acolhimento noturno para a clientela já atendida, conforme avaliação da equipe. O acesso aos centros pode ser feito por demanda espontânea, por intermédio de uma unidade de atenção primária ou especializada, por encaminhamento de uma emergência ou após uma internação clínica/psiquiátrica.

Para mais informações, endereços e telefones, acesse: www.rio.rj.gov.br/web/sms/caps.

A saúde do adulto se planta na infância

Vale ressaltar que todo mês de janeiro, iniciativas que envolvem a promoção de saúde mental são enaltecidas em diversas instituições, para combater esse mal. Assim como o Outubro Rosa, o Janeiro Branco também ganha destaque para abordar a temática, proporcionando reflexão para se esclarecer e agir diante das circunstâncias. Apesar do dia Mundial da Saúde Mental ser comemorado em outubro, o primeiro mês do ano foi escolhido por ser um período terapêutico e por se tratar de um começo, quando as pessoas estão esperançosas e focadas em mudanças.

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Por isso, professor, aproveite a data para planejar uma aula sobre a temática em sua instituição de ensino, bem como propor atividade extracurricular. Depois de realizado, mande-nos um e-mail relatando seu projeto pedagógico. Até logo!

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Por Antônia Lúcia, Jéssica Almeida, Luiza Morato e Richard Günter
Fontes: MultiRio, Prefeitura do Rio, Organização Mundial de Saúde.


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