Professores, os Verdadeiros Heróis


Foto de reprodução: Paula Giolito / O Globo

 

Esta semana, eu conversava com uma colega, professora, que me confidenciou o quanto estava assustada e preocupada com os apelidos racistas utilizados pelos alunos durante o recreio, na escola em que trabalha. Foi então que me lembrei da história do professor Luiz Henrique Rosa, ocorrida há alguns anos, e compartilhei com ela.

Luiz Henrique, professor de Biologia, atuava numa escola municipal da Zona Norte do Rio de Janeiro, com estudantes do ensino fundamental. Acompanhando diariamente os alunos, percebeu uma agressividade assustadora, expressa também por meio de apelidos e depreciações racistas entre os colegas. Foi então que, motivado pelo desejo de fazer algo, teve a brilhante ideia de pedir a todos do ensino fundamental que escrevessem em uma folha de papel os apelidos que já tinham ouvido na escola. Para surpresa geral, dos 400 apelidos registrados, 360 tinham conotação racista (dentre eles: “macaco”, “galinha de asfalto” e “asfalto”).

Estudioso da história dos negros no Brasil, ciente das depreciações racistas observadas entre os alunos, e observando a falta de interesse geral por conhecer mais sobre a data de aniversário da Revolta de Vassouras (fato importante que retrata a rebelião escrava de 1838), Luiz aproveitou a oportunidade e criou o projeto “Qual é a Graça?”.

O professor desenvolveu um brilhante trabalho, em duas etapas:
Primeiramente, apresentou os quase 200 nomes dos escravos que participaram da Revolta de 1838 e ofereceu aos alunos a oportunidade de “adotar” o nome de um escravo, num gesto simbólico de apadrinhamento. Os alunos foram instruídos a escrever o que escolheram, e logo depois esse nome foi transposto para um pedaço de mármore para que cada estudante pudesse colá-lo no muro da escola, criando assim um grande mural, como expressa a foto de abertura desse texto.

Na segunda etapa, próximo do mesmo muro, Luiz Henrique propôs aos alunos cultivarem plantas e especiarias ligadas à história do Brasil (como canela e noz-moscada). Apresentou a história (dentro da linha do tempo) do cultivo do pau-brasil, cana-de-açúcar e café. E, por fim, convidou-os a plantar couve e alface, para que, além de acompanharem o crescimento dessas verduras num ciclo de 90 dias, pudessem também perceber o período de tempo (de viagem) que os navios negreiros perfaziam, no trajeto de Moçambique ao Brasil. Durante esse percurso, os escravos sofriam maus-tratos atrozes e desumanos, acorrentados nos porões durante dias, semanas, meses.

Dessa forma, o professor trabalhou não apenas o desenvolvimento dos vegetais, mas também as agruras da escravidão. O professor relatou que, com o passar dos dias, os alunos olhavam para as plantas que cresciam e perguntavam se os escravos ainda estavam amarrados, acorrentados. Relacionar o período do crescimento das plantas com o sofrimento pelo qual passavam os escravos no porão dos navios fez surgir na escola a conscientização do quanto padeceram os cativos.

Para resumir a história, o projeto se tornou tão marcante que foi adotado pelos demais professores da escola, numa esfera transdisciplinar, com grande ganho para aquele grupo de pessoas.

Depois de conhecer a história de Luiz Henrique, a minha colega saiu com os olhos brilhantes, dizendo que estava cheia de boas ideias. E eu fiquei de cá, pensando nos nossos professores e professoras que, de forma criativa e inteligente, buscam plantar sementes do bem, que florescem e transformam as vidas por onde passam. Nossos verdadeiros heróis!


Por Andréa Schoch | Mestre em educação, especializada em formação de professores e consultora Appai por meio da EAD.


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