Para a intolerância, mais democracia, mais escola


Os ponteiros nebulosos do relógio da intolerância parecem ter-se fixado sobre os tempos atuais. A cada segundo, uma notícia sobre eventos diversos, em distintas culturas e sociedades, retrata o descaso com a dignidade alheia e o desrespeito às opções individuais e coletivas daqueles que se mostram “diferentes” do padrão “aceitável” (sic). Aparência física, religião e orientação sexual formam um tripé dos mais atacados. Porém, o leque é ainda mais vasto e atualmente tudo parece convergir para a política.

A Política – essa forma de movimentação dos indivíduos em sua polis, hoje em dia traduzida como cidade – é o espaço propício da articulação tanto dos iguais quanto dos diferentes. Mas para reservar espaços de representação em pé de igualdade para grupos distintos é preciso haver espírito democrático. E aí chegamos a ela: a deusa Democracia. Se na Antiguidade Clássica – Atenas, por exemplo – tanto ela, quanto o exercício político, estavam relegados a um nicho social, hoje seu conceito e aplicação são bem mais amplos, não se restringindo tão somente ao direito de votar, mas sendo estendido à participação ativa na sociedade de todo e qualquer cidadão.

Contudo, se juridicamente garantido aos iguais e aos diferentes, na prática, falta ao espírito democrático individual e coletivo um ingrediente primordial para um mínimo de harmonia social: a empatia. Colocar-se no lugar do outro no sentido de compreender seus anseios e suas lutas físicas, sociais, psíquicas e econômicas requer desprendimento, coragem, orientação e treino. Aí entra a escola!

Essa instituição milenar é um espaço ímpar para a junção de todos os conceitos expostos acima. Sendo o locus perfeito para transpor o teórico e atingir a prática do bom senso, necessita de valorização através de políticas públicas para ter acesso às benesses do século XXI, tornando-se interessante às novas gerações e debatendo as mazelas dos tempos históricos, inclusive as que vivemos. Para isso, política e democracia devem ser mais que meros temas trabalhados em aulas de História, Sociologia e Filosofia. Têm que constar no cotidiano escolar, na vivência ativa de alunos, docentes e equipe administrativa. Devem ser parte de um projeto de escola onde a percepção do humano é o centro das relações de ensino-aprendizagem. Logo, é também dever da escola incentivar a construção das relações humanas de respeito e empatia entre os indivíduos a partir dos debates político e democrático.

O espaço educacional da escola tem, portanto, a vocação e a missão de incentivar em seus ambientes o combate a toda forma de intolerância com ações preventivas e corretivas, demonstrando os equívocos do tempo presente à luz da leitura histórica do passado.

Sendo a escola, pela sua heterogeneidade, local de conflitos por excelência, é mais que necessária, portanto urgente, a preparação de toda a comunidade educacional e a formação continuada de todos os profissionais que ganham a vida se dedicando a educar, na luta para que o relógio do tempo não emperre diante das horas intolerantes que vivemos.


Rafael Clemente é diretor adjunto na Seeduc-RJ, mestre em Ciências Sociais e graduado em História.


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