Indisciplina na escola

Os conflitos em sala de aula


COMO SURGEM?

Para nós, professores e pais, não há nada mais natural do que enfrentar conflitos diariamente, pois onde há gente há também relacionamentos, e estes geram impasses e desentendimentos. Mas como surgem esses problemas nos relacionamentos?

A psicóloga, palestrante e autora Maria Tereza Maldonado, que se dedica a esse tema, explica que impasses e conflitos surgem em relacionamentos em que há maior intimidade, entre aqueles que convivem diariamente, e inevitavelmente acabam deixando aflorar sentimentos e emoções, tais como ciúme, rivalidade, raiva, carinho, ternura, medo. Em geral, as crianças esperam que o adulto – geralmente aquele com quem mais convivem, com quem têm mais vínculos – satisfaça às suas necessidades fundamentais de cuidado, atendimento e carinho. Conforme a autora, cada um de nós busca o “seu lugar ao sol”. É próprio do humano o desejo de ser querido pelas pessoas que exercem papel significado em sua vida. Os pais e professores têm esse lugar especial na vida das crianças, por isso precisamos aprender as melhores formas de lidar com os impasses e conflitos que surgem, pois ocorrem exatamente para testar como vai o tal “lugar ao sol” de cada um.

As crianças brigam ou se aborrecem por quase nada no dia a dia, e surgem falas do tipo: “Você deixou ele ir primeiro de novo”, “Ele ganhou mais doces” ou “Eu fiquei com o livro mais feio”. Todas essas expressões são na verdade pedidos de ajuda, solicitações de atenção, e isso não é ruim, pois expressar o que se está sentindo faz bem e dá sinais ao adulto de que deve tomar determinado caminho para minimizar o conflito e, se necessário, reafirmar o lugar que cada um tem no lar ou mesmo na classe escolar.

A forma como lidamos e encaramos os conflitos também refletem a qualidade dos nossos relacionamentos, pois demandam sabedoria e maturidade.

MODOS DE RESOLVER OS CONFLITOS

Maldonado apresenta formas de resolver conflitos baseadas na distribuição de poder. Vamos conhecer três dessas diferentes formas:

  1. Autoritarismo: o manejo autoritário ocorre quando as minhas necessidades são colocadas em primeiro lugar e eu imponho a minha vontade sem me importar com a situação do outro. Eu mando e domino sem me importar com as necessidades do outro.
  2. Permissividade: vejo sempre as minhas necessidades como menos importantes, o outro sempre domina e eu me coloco como submisso e aceito até mesmo imposições e tiranias. Coloco-me sempre em segundo plano, dentro de um manejo permissivo.
  3. Resolução conjunta: ocorre quando vejo as minhas necessidades e as dos outros como igualmente importantes. Nesse caso, vou procurar, juntamente com o outro, descobrir em meio ao conflito de que maneira a questão pode ser resolvida sem que ninguém seja prejudicado. Nesse caso, não haverá apenas um dominante e um dominado; a ideia é que todos participem, em busca de uma resolução que atenda a todos, numa relação mais igualitária.

Nos relacionamentos do nosso dia a dia, quer seja em casa ou na escola, vamos perceber como cada um consegue resolver os conflitos que surgem. Digo “como cada um consegue”, pois as pessoas não agem de determinada forma porque querem ou por prazer, mas porque não “aprenderam” outra maneira de lidar com as situações. Cada um dá o que tem naquele momento. Conheço “n” exemplos de pessoas que agiam de forma equivocada na resolução de conflitos por puro desconhecimento, mas que, ao serem apresentadas às novas possibilidades de resolução, repensaram e mudaram de atitude, e colheram bons frutos dessa mudança.

A DISTRIBUIÇÃO DE PODER NA PRÁTICA

AUTORITARISMO

Na relação pais e filhos, ou mesmo professor e alunos, o AUTORITARISMO aparece quando, por exemplo, o pai ou o professor nunca considera a necessidade do filho ou aluno e impõe soluções e decisões de modo arbitrário, isto é, age dentro da lógica do “vai ser assim porque eu quero e acabou”, gerando uma insatisfação crônica para a criança. Observe, não há motivos concretos para tal decisão, e isso gera um sentimento de injustiça, de falta de consideração. Nesse caso, cria-se um campo de luta na disputa pelo poder, que culmina com ambos medindo forças. “Vamos ver quem pode mais”. Algo bem distante do ato de educar, de desenvolver.

Importante: É fundamental saber DIFERENCIAR AUTORITARISMO DE AUTORIDADE.

Autoritarismo resulta do posicionamento intolerante, arbitrário, imposto. Já a autoridade é conquistada por meio do respeito, não se trata de obediência por medo ou mesmo por imposição. Os pais e professores devem ser autoridade, ser respeitados e ouvidos. Içami Tiba, famoso psiquiatra infantil, explica a importância da autoridade e do carinho no processo educativo: “Autoridade e carinho são apenas dois critérios diferentes: um refere-se ao afeto no relacionamento e o outro, à posição de poder”.

PERMISSIVIDADE

Já na permissividade, os filhos ou alunos detêm o poder. Eles dominam a situação completamente, e os pais ou professores se colocam em posição de passividade, de insuficiência de limites.

RESOLUÇÃO CONJUNTA

Nesse caso, como o nome bem define, procura-se uma solução em que as opiniões tanto de pais quanto de filhos, ou tanto de professores quanto de alunos, sejam igualmente consideradas. As duas partes são ouvidas, sem que uma delas tenha que ser oprimida para que a outra possa ter os desejos satisfeitos.

A resolução conjunta coloca o adulto como um aprendiz ensinante, que acredita na capacidade de a criança ajudar a encontrar soluções. Isso não quer dizer que qualquer coisa que a criança diga será realizada. O que ocorre é que se abre um diálogo, em que ambos se colocam, mas há sabedoria e maturidade do adulto para mostrar à criança aquilo que muitas vezes ela não enxerga, por falta de experiência e vivência. Ao mesmo tempo, o adulto também vê e aproveita de forma positiva as ideias criativas apresentadas pela criança, podendo aplicá-las ou, em alguns casos, adaptá-las para a aplicação.

Em nosso próximo texto, vamos apresentar exemplos práticos de aplicação de cada uma das formas de resolver conflitos e suas consequências.

Até lá!


Por Andréa Schoch | Mestre em educação, especializada em formação de professores e consultora Appai por meio da EAD.


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