O primeiro livro ninguém esquece!


Um dia de autógrafos é sempre marcante para profissionais tarimbados na escrita: avalie para as crianças das séries iniciais da educação básica! Vamos além. Imagine, então, a profusão de emoções palpitando nos corações dos responsáveis dos pequenos, em especial os avós – “pais” pela segunda vez? Não esqueçamos da satisfação da equipe pedagógica que desenvolveu o projeto com as turminhas, incentivando-as a superar todos os obstáculos. De fato, todos e todas foram premiados com o projeto Leitor pra vida toda! em que os alunos foram autores, com os livros sendo publicados pela editora Estante Mágica. A proposta foi uma realização do Centro Educacional Itauá (CEI), localizado em Campo Grande, na Zona Oeste.

Entre uma chamada e outra, a professora Marilza Nery, da direção-geral da instituição juntamente com o professor Paulo Nery, apresentava outras potencialidades do alunado do segundo segmento do Ensino Fundamental, na “Descoberta de Talentos”, para deleite dos familiares e toda a comunidade escolar.

O investimento da escola foi bastante interessante, criativo e estimulante. Afinal, quem não gostaria de ter um livro de sua autoria? Com o projeto Leitor pra vida toda! o foco era mostrar o quanto a leitura traz conhecimentos ao mesmo tempo em que é libertadora. Ao propiciar às crianças a intimidade com os livros, buscou-se conscientizá-las da importância da leitura em suas vidas. Esta “intimidade” e interatividade com este suporte chamado livro demanda tempo, tato, afetos, criatividade, percepções, capacitação dos profissionais de educação e parcerias, não só da família, mas de uma editora que atendesse as expectativas da proposta pedagógica da escola.

Em suas pesquisas sobre metodologias criativas para potencializar a leitura, Marilza interessou-se pelo trabalho da editora Estante Mágica. A empresa disponibiliza projetos pedagógicos que desenvolvem competências cognitivas, interpessoais e intrapessoais, transformando a sala de aula e entusiasmando os alunos. Definidos os projetos, estes são compartilhados na plataforma do portal, com a qual os alunos podem interagir. Estabelecidos os projetos pedagógicos por série e construídos os planos de aula pelo corpo docente, o trabalho foi tomando consistência ao longo de seis meses. Cada estudante construiu seus personagens, sua narrativa foi tomando forma, ritmo, fluxo. Tudo dentro das expectativas da criança. Os pais acompanhavam o transcorrer do processo pela plataforma virtual.

O livro é composto de capa dura com o título e nome do autor, contracapa e 16 páginas impressas. Destas, seis são ilustradas pela criança, seis com a história e uma com a fotografia do autor e pequena biografia. E para completar as fortes emoções com esta produção, Marilza informou que a publicação não ficaria restrita ao ambiente familiar. Ela foi projetada para se tornar um produto paradidático autoral do aluno na escola. Haja autoestima!

A escola tem um forte trabalho de inclusão, atendendo crianças com variados comprometimentos, como TDAH, dislexia, disgrafia, entre outros. “Trabalho árduo, mas muito gratificante”, afiançou Paulo Nery, da direção da instituição. Este tema se insere no Projeto Político-Pedagógico da escola e tem como premissa observar que, “independente da condição, todos têm direito a uma educação de qualidade, com amor e profissionalismo”, pontuou o diretor do CEI, que teve como uma das autoras-mirins a pequena Manuela, de três anos, autista, que escreveu o livro “A diferença é o que nos une!”.

Na história, a princesinha Manu passa a integrar a Terra da Brincadeira. Entretanto, houve estranhamentos. Apesar de a acharem linda e meiga, a percebiam diferente e não sabiam como lidar com o que não conheciam, principalmente com o jeitinho só dela de brincar. Irrequieta, “não parava num só lugar”, e os colegas se questionavam das razões para este comportamento. Alegre, ela olhava tudo, “mas não via como a gente!”.

Todavia, este seu jeito de “olhar e não ver” começou a fazer “escola”. Foi sendo imitada – gestos, modo de ver e apreciar tudo. Não como um possível bullying, o que seria incabível, já que a escola tem todo um cuidado pedagógico com a questão da inclusão como salientado acima, utilizando elementos como espaço adaptado, formação continuada, debates sistemáticos e muita interatividade entre a comunidade escolar e os familiares dos alunos.

Mas, retornando ao contexto da história, os habitantes da Terra da Brincadeira aprenderam a lidar com a princesa Manu. Viram a existência de diferenças, mas também entenderam que, ao invés de se afastarem, deveriam se aproximar respeitando as particularidades, porque na realidade ninguém é igual a ninguém, mas ao mesmo tempo todos têm muito em comum. Os adultos bem que poderiam voltar-se para as crianças e aprender a escutá-las, pois certamente aprenderiam muito…

Outros alunos, cada um do seu jeito, contavam histórias que tinham a ver com alguma coisa do seu cotidiano. Algo que chamava a atenção de sua sensibilidade e que, em alguma medida, estava sendo debatido naquele livro. São casos como os do João Vitor, 9 anos, do 5º ano, que trabalhou o tema da criança adotada, e de Arthur, do Pré-2, outro autista, que retratou a chegada da irmã Elena, recém-nascida. Agora é esperar os próximos lançamentos, pois os adolescentes do segundo segmento do Ensino Fundamental gostaram da ideia de lançarem suas próprias narrativas, disponibilizadas por meio da publicação de um livro, que seria transformado em um material paradidático e exclusivo das turminhas do Itauá.



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