O maravilhoso mundo da sétima arte


Projeto Cineclube nas Escolas promove análise da linguagem cinematográfica e a produção com alunos e professores

Não há como negar que as séries televisivas e os filmes disponibilizados por streaming se tornaram uma febre no mundo todo. Aqui na Revista Appai Educar diversas matérias já foram abordadas, como as leis educacionais que incluem o cinema no currículo escolar primário na Argentina, dicas de filmes para estudar história no vestibular, além de sugestões de orientação pedagógica para trabalhar o pensamento crítico em sala de aula, utilizando longas-metragens, seriados e novelas. Após essa divulgação, o professor-associado da Appai José Leandro Cardoso entrou em contato com a redação e apresentou o seu projeto, que é um sucesso entre a garotada e os professores!

José Leandro participa como professor articulador do “Cineclube nas Escolas” desde 2011, quando foram criados os dez primeiros Ginásios Experimentais Cariocas. O programa disponibiliza um acervo de filmes de curta e longa-metragem de produção nacional e livros sobre cinema, além de equipamentos para exibição (projetor, telão e som) e câmeras filmadoras para produção. O objetivo é que as escolas participantes atuem como espaço exibidor, estimulem a análise da linguagem cinematográfica e a produção com os estudantes.

O intuito da atividade é a apropriação da linguagem, tanto por professores, quanto por estudantes, mas experimentar é a palavra-chave. Os estudantes são estimulados a brincar com as possibilidades de captação de imagens em diferentes planos e movimentos de câmera, a produzir seus roteiros e a realizar o trabalho em equipe.

Em geral, sobretudo por questões ligadas à faixa etária e à segurança dos alunos, as aulas ocorrem dentro do espaço escolar. As saídas de campo ocorrem quando há condições no entorno das escolas ou quando é disponibilizado o transporte para os locais de exibição e para os festivais que ocorrem na cidade, como o Anima Mundi e a Mostra Geração do Festival do Rio.

O projeto foi inspirado na experiência da Cinemateca Francesa em levar o cinema para as escolas, priorizando a abordagem como linguagem e objeto de estudo, integrado com as demais áreas do conhecimento. Criando, assim, a oportunidade de os estudantes terem acesso a produções que não estão disponíveis no circuito comercial e televisivo. Os professores recebem formação complementar para atuarem com a linguagem do cinema, através de cursos oferecidos em parcerias com produtoras e organizações da sociedade civil.

O “Cineclube nas Escolas” teve início no ano de 2008, no âmbito da Gerência de Mídia e Educação da Secretaria Municipal de Educação (SME-RJ), gerenciada por Simone Monteiro e coordenada por Adelaide Léo, na primeira fase de implantação, e, atualmente, por Luciana Bessa. Foi implantado em cinquenta escolas e depois ampliado para as Escolas do Amanhã e para os GECs. Nesse momento, está presente em duzentas e setenta escolas, nos dois segmentos do Ensino Fundamental.

As escolas participantes estão distribuídas entre as onze Coordenadorias Regionais de Educação da cidade. Elas recebem o convite para participar e devem ter, pelo menos, um professor articulador e uma equipe de alunos monitores, bem como disponibilizar espaços para exibição e para as aulas.

“Os diálogos que a linguagem do cinema possibilita no espaço escolar são fundamentais para construir uma educação realmente integrada com a sociedade.” – José Leandro R. Cardoso

Indagado sobre a importância dos alunos e professores aprenderem sobre a sétima arte, José Leandro é enfático: “Nesses anos atuando no projeto, tive a oportunidade de participar de cursos e eventos que contribuíram muito para a minha formação docente, sobretudo no que se refere ao trabalho em conjunto e à possibilidade de estabelecer parcerias com os colegas. Isso nem sempre é uma realidade na maioria das escolas. Os diálogos que a linguagem do cinema possibilita no espaço escolar são fundamentais para construir uma educação realmente integrada com a sociedade. Quando o professor leva o cinema para a sala de aula para ilustrar uma guerra medieval e cobra um questionário ou um resumo dos seus alunos, ele está limitando as imagens ao conteúdo da sua disciplina. A ampliação do uso dessa linguagem se dá a partir do momento em que os alunos são levados a olhar e pensar na abordagem, nos planos, nas escolhas, nas questões suscitadas e nos elementos narrativos do filme. As conexões com o conhecimento ganham outra dimensão. É preciso ouvir o que os estudantes viram e o que eles puderam apreender do que viram. A educação pode e deve ser feita com a participação efetiva deles. E o cinema oferece essa possibilidade, a ampliação do olhar e da visão que os alunos têm sobre o mundo. A percepção da sua realidade e das possibilidades de construção de conhecimento a partir das suas próprias experiências. A escola ganha outros sentidos e os diálogos entre professores e alunos são ampliados. Os resultados dependem de cada experiência”, finaliza.

Para Luiz Cláudio Motta, professor de Geografia da Escola Municipal Grécia e de linguagem audiovisual da oficina de vídeo do Núcleo de Arte Grécia (NAG), o “Cineclube nas escolas”, que é um projeto criado pela Mídia da secretaria de educação, estimula o trabalho em grupo e traz para o aluno a responsabilidade de produzir sessões interativas. “Considero isso muito importante, já que sou cineclubista desde 2007. O “Cineclube Subúrbio em Transe” foi criado por mim e meus alunos do NAG, uma unidade de extensão da secretaria de educação do Rio de Janeiro. No ano seguinte foi criado o projeto “Cineclube nas escolas”, o que estimulou o trabalho em conjunto entre os dois projetos. Portanto, atividades como essa são muito importantes para a comunidade escolar”, aponta.

Já Teresa Vitória Fernandes Alves, professora de História e regente de Sala de Leitura, acredita que trabalhar com o cineclube na escola gera uma sensação de descoberta, tanto nos alunos quanto nos professores que se envolvem no projeto. “Reparar como nossos alunos conseguem perceber situações que passam desapercebidas, no momento em que paramos para conversar, é o que realmente faz o trabalho crescer. O amadurecimento que eles deixam marcado em suas falas prova o crescimento de todos os envolvidos”, enaltece.

O projeto estabeleceu importantes parcerias ao longo desses anos, tanto para exibição (alguns cineclubes escolares são espaços exibidores de festivais e de lançamentos de filmes), quanto para a produção cinematográfica, sendo eles: Anima Escola; Imagens em movimento; Coletivo Cidadela; Cineduc; Taturana filmes; Cinead; Anima Mundi; Mostra Geração; Pequeno Cineasta; Visões Periféricas; Mostra Joaquim Venâncio (Fiocruz); Fife.

Aos professores que desejam aprimorar seus conhecimentos na sétima arte,
seguem cinco obras indicadas pelo professor José Leandro:
  1. Cinema e educação | Por Rosália Duarte (Editora Autêntica)
  2. O olhar e a cena | Por Ismail Xavier (Editora Cosac & Naify)
  3. O mestre ignorante | Por Jacques Rancière (Editora Autêntica)
  4. A linguagem secreta do cinema | Por Jean-Claude Carrière (Editora Nova Fronteira)
  5. A Hipótese-cinema | Por Alain Bergala (em francês, com tradução livre disponível em PDF)
* Confira a lista completa do acervo em:

Cine Benjamim | Escola Municipal Benjamim Constant
Praça Marechal Hermes s/nº – Santo Cristo – Rio de Janeiro/RJ
Tel.: (21) 2263-3188
E-mail: embconstant@rioeduca.net
CEP: 20220-430
Prof. Articulador do Projeto: José Leandro Cardoso
Diretora: Adriana Almeida
Fotos cedidas pela escola

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