O desafio de educar no século XXI


“Nem tanto ao mar nem tanto ao céu. Equilíbrio é necessário.”

 

“Os alunos de hoje não são mais os mesmos”. Ouvi essa frase inúmeras vezes, e também inúmeras vezes fiquei me perguntando: com tantas mudanças ocorrendo nos últimos anos, como os alunos poderão ser os mesmos? Nem eu nem vocês, pais e professores, somos os mesmos. Esse é o primeiro paradigma que precisa ser desconstruído quando o assunto em pauta é o desafio de educar no Terceiro Milênio. Mas, afinal, quem é o aluno, quem é o filho do século XXI?

Segundo Michel Serres, filósofo e professor da Universidade de Stanford, na Califórnia, esses alunos são “a geração do pequeno polegar”. Você lembrou do Pequeno Polegar, o famoso pequenino das histórias infantis, do tamanho de um dedo polegar? Na verdade, não foi a esse polegar que Serres se referiu, mas sim à nova geração, que interage com a mídia e com as novas tecnologias como a própria extensão do corpo. Dia desses, estava eu no hall de uma escola aguardando uma amiga professora e observei alguns alunos, de uns 11 ou 12 anos aproximadamente, que digitavam mensagens usando apenas os polegares, tanto o da direita quanto o da esquerda, com velocidade e destreza invejáveis. Eu estava ao lado da geração POLEGARZINHA.

Essa é uma geração que se comunica, aprende e pensa de forma diferente das anteriores. Querem um exemplo ilustrativo? Era muito comum que os pais da geração passada orientassem os filhos a não falarem à mesa, pois isso era considerado sinal de má educação. Num belo dia, a família de Ana (nome fictício de uma menina de 9 anos) receberia para o jantar um casal de amigos. Os pais a orientaram a não fazer nenhum comentário durante a refeição. A noite caiu, as visitas chegaram e o jantar foi servido. Ana sentou-se à mesa em frente ao pai. Tudo ia muito bem, até que Ana fez menção de falar com o pai, mas ele a olhou de forma tão sisuda e reprovativa que ela pensou em desistir do propósito. Porém, não conformada, Ana tentou novamente se comunicar com o pai, e dessa vez o olhar foi ainda mais fulminante que o anterior. Resignada, ela desistiu de vez e terminou a refeição em silêncio. Quando as visitas foram embora, o pai de Ana veio conversar com ela: “Filha, agora você já pode falar”. Ana o olhou com tristeza e disse: “Agora não adianta mais, pai, você já comeu a lesma que estava na folha de alface…”. É muito provável que, se Ana fosse uma representante da geração Polegarzinha, não teria se calado, muito menos ficaria intimidada com os olhares reprovativos do pai.

Esse é apenas um exemplo para ilustrar que aquilo que funcionava para nossos pais e avós não cabe para essa nova geração, pois esses jovens e adolescentes têm outra forma de estar na vida, de trabalhar com o cérebro. Lá no passado dos nossos avós, por exemplo, tudo de novo que era aprendido era primeiro revisado e só então comunicado. Hoje, com a entrada das novas tecnologias, redes e mídias sociais, a nova geração aprende pela própria comunicação, e faz isso em velocidade considerável. Por isso a comunicação assume outro formato nesta era, e por vezes as atitudes dessa geração é confundida com falta de educação ou mesmo indisciplina, quando, na verdade, o que mudou foi a forma de pensar e a maneira de se expressar.

Cabe aqui uma importante ressalva. Essa observação sobre como nossos pais e avós nos educaram não é de forma alguma uma crítica aos valores sólidos que nos foram ensinados e que são ATEMPORAIS, tais como honestidade, verdade, respeito, dentre tantos outros. Trato aqui de FORMA, a forma como falo, como olho, como processo o pensar. É preciso refletir sobre a rigidez desnecessária aplicada a algumas situações da vida, que, em vez de FORMAR, DEFORMAM o caráter. É preciso que a nossa geração, a de pais e avós, esteja de mente e coração abertos para aprender, compreender essa nova geração e, com sabedoria e inteligência, ajudá-la a construir o próprio porvir.

Não se trata de passar a mão na cabeça, de dizer senta e espera que tudo virá a sua mão, ou até mesmo ser tolerante com aquilo que vai contra valores atemporais, e sim rever nossa forma de ser e agir, usando a flexibilidade, quebrando velhos paradigmas sem sentido, e assim estimular a nova geração, orientando-a e incentivando-a sempre: “Vai que você consegue, você pode!”.

 

Até a próxima, com mais sobre a nova geração. Aguardem!


Por Andréa Schoch | Mestre em educação, especializada em formação de professores e consultora Appai por meio da EAD.


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