Letra ‘A’ de… África


Palavras de origem africana são utilizadas no processo de alfabetização

O trabalho desenvolvido há seis anos pela professora Denise Fernandes rendeu-lhe uma menção honrosa no Fórum da Diversidade Etnicorracial do Rio. O prêmio foi concedido pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro aos profissionais de Educação que atuam em prol da aplicação da Lei nº 10.639/03.

Quando ainda era professora alfabetizadora, Denise começou a perceber que muitos alunos tinham atitudes racistas sem que se dessem conta disso. Comentários do tipo “ela tem cabelo de Bombril” ou “não quero sentar perto dele porque ele é preto”  eram comuns em sala de aula. Foi então que a docente começou a desenvolver um trabalho que, além de ensinar a ler e a escrever, buscava conscientizar as crianças sobre as questões etnicorraciais do país.

A educadora começou a pesquisar sobre o assunto e as possíveis formas de fazer valer os artigos incluídos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação que tratam da obrigatoriedade do ensino da História e da Cultura Afro-brasileira nas escolas. Ela descobriu palavras, danças e alimentos trazidos pelos escravos e que estão presentes no cotidiano do povo brasileiro até os dias atuais.

Denise conta que no início foi difícil convencer os demais professores e a direção da escola em que trabalhava na época a tratar do assunto devido ao fato de que normalmente as pessoas associam a cultura africana somente à questão religiosa. “Foi preciso mostrar que a África é muito mais que seus cultos. Comecei, então, a destacar as brincadeiras, a dança, a comida e os dialetos que contribuíram para a formação do português falado hoje no Brasil”, relembra.

A pesquisa deu base para que a educadora, com o passar do tempo, desenvolvesse um alfabetário composto somente por palavras de origem africana. Assim, ao invés de indicar que o “A”, por exemplo, formava a palavra “avião”, o alfabetário mostrava que a mesma letra iniciava outra, “atabaque”, assim como o “B” formava a palavra “berimbau”. O mesmo aconteceu com o “dendê”, com a “capoeira”, com o “fubá” e com o “samba”.

Denise começou a sentir necessidade de criar um material mais consistente e que servisse de apoio também para outros profissionais. Foi aí que apresentou a proposta a Luís Dias, artista plástico e secretário na Escola Municipal Ondina Couto. Ele abraçou a ideia e começou a desenvolver a parte gráfica do que hoje é uma cartilha. “Através desse trabalho eu pude conhecer um pouco mais a minha cultura. Foi prazeroso fazer parte disso e ver o interesse dos professores em alfabetizar utilizando um material composto somente por palavras de origem africana e ilustrado por mim”, declara Luís.

A atividade desenvolvida teve repercussão entre os profissionais de educação de Nova Iguaçu, e a professora foi convidada para assumir diferentes cargos relacionados à formação continuada de educadores em História e Cultura Africana. Em dezembro de 2012, o trabalho recebeu menção honrosa do Fórum da Diversidade Etnicorracial do Rio pela aplicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nos artigos 26A e 79B. Atualmente, Denise assume o cargo de diretora escolar e diz que “o resultado mais importante do trabalho é a difusão da cultura africana e a contextualização das palavras de origem afro no cotidiano dos alunos”.


Por: Marcela Figueiredo
Escola Municipal Ondina Couto
Av. Brasil, 1.315 – Coreia – Mesquita/RJ
CEP: 26556-000
Tel.: (21) 3763-9792
E-mail: emocouto@mesquita.rj.gov.br
Direção: Denise Fernandes da Silva Paulino
Fotos cedidas pela escola

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