Inteligência Artificial nas escolas

Os desafios e as oportunidades para os alunos e professores, e como essas novas tecnologias podem impactar no ensino e na aprendizagem


No universo educacional, uma nova inteligência artificial tem dividido opiniões. O ChatGPT está sendo questionado em diversas partes do mundo, principalmente quando falamos sobre o uso em dinâmicas de ensino e aprendizagem. Sabemos que o emprego da tecnologia no contexto escolar é um dos maiores debates entre os educadores do século XXI e que, para uma utilização responsável da tecnologia, a mediação desses profissionais é indispensável. 

O uso indevido de tecnologias na escola pode impactar negativamente a aprendizagem e com o ChatGPT não é diferente. Quando mal utilizado, ele pode dificultar o desenvolvimento do senso crítico, facilitar o plágio e aumentar a disseminação de notícias falsas. Por isso, precisamos refletir e debater como utilizar essa tecnologia de forma ética, crítica e criativa. Quando utilizada com intencionalidade, a novidade traz diversos benefícios.  

Para os gestores, o uso do ChatGPT pode facilitar diversos processos. Como, por exemplo, os modelos de documentação como as escalas de professores, relatórios de aprendizagem, roteiros para encontros de formação de docentes, registros de pauta para reuniões com famílias de prestação de contas, diversos tipos de convites e comunicados, planos de aula e muito mais! 

Lembrando que o ChatGPT pode criar paradigmas gerais que podem ser adaptados e personalizados posteriormente pelos gestores escolares. Para tornar o modelo o mais próximo possível da realidade de cada escola, os usuários podem inserir informações mais específicas. Quanto mais detalhes e dados fornecer, maior será a possibilidade do ChatGPT gerar uma base que atenda às suas necessidades. 

Além de auxiliar na criação de documentos do cotidiano do gestor escolar, o ChatGPT pode ajudar os educadores em outras tarefas. A autora de diversos livros – entre eles “A inteligência artificial irá suplantar a inteligência humana?” e “Desmistificando a inteligência artificial” – Dora Kauffman exemplifica o uso da tecnologia para criação de questionários para testar a compreensão dos alunos sobre determinado tópico ou ainda gerar tarefas diferenciadas, ou seja, personalizadas ao perfil de cada estudante. Além de produzir exemplos de respostas de referência às tarefas propostas pelos docentes, gerar questionários de múltipla escolha para avaliar a compreensão dos alunos, criar plano de aula com base na realidade de cada classe e desenvolver recursos visuais como imagens, pôsteres e/ou vídeos ilustrativos dos conteúdos a serem abordados. 

Como em outros contextos envolvendo o uso de tecnologias na educação, a especialista pontua que o ChatGPT deve ser encarado como auxiliar do professor e não como um substituto. “Cabe ao educador validar os resultados gerados pela tecnologia antes de aplicá-los efetivamente, evitando, dada a aparente consistência das respostas do ChatGPT, tomá-las como precisas e verdadeiras”, explica Dora. 

Uso consciente da ferramenta tecnológica na educação

Para exemplificar como a educação pode tirar proveito da inteligência artificial e enfrentar os desafios tecnológicos com responsabilidade e ética, o Colégio Presbiteriano Mackenzie de São Paulo adotou uma abordagem inovadora no projeto ChatGPT, eu escrevo para você. A ideia é investir no aprimoramento das habilidades linguísticas e comunicativas dos alunos e abordar temas essenciais relacionados à inteligência artificial, além de formar indivíduos conscientes e preparados para enfrentar um mundo em constante transformação. 

Idealizado pelo professor Luis Octavio Alves, a iniciativa aborda temas sobre o bem-estar dos jovens, o uso ético do chat no contexto escolar e social (incluindo o combate aos plágios e outras práticas inadequadas), a importância da privacidade de dados, a prevenção da reprodução de preconceitos nas ferramentas e a transparência no funcionamento da tecnologia. 

De acordo com o idealizador, para extrair o melhor das inteligências artificiais no ensino, um dos objetivos fundamentais do projeto é incentivar o aluno a aprimorar o domínio da língua portuguesa, incluindo os seus recursos expressivos e estilísticos. Esse aspecto torna-se ainda mais relevante ao considerarmos que a maioria das ferramentas que utiliza inteligência artificial é alimentada com base em textos em inglês, o que pode ocasionar erros e mal-entendidos. O colégio ressalta que é crucial que as instituições de ensino brasileiras compreendam os benefícios da tecnologia evitando cair na armadilha de negar os avanços proporcionados por essa transformação.  

 

É possível empreender com a ajuda do ChatGPT?

Certamente os alunos do Colégio Estadual República Italiana, localizado em Porto Real, região Sul Fluminense do RJ, responderiam sim! Sabemos que há algumas décadas falar de inteligência artificial, robôs, era algo tão distante que beirava a descrença. Todavia, atualmente, o que vemos é um efetivo totalmente imerso em conhecer e usufruir, cada vez mais, dos benefícios que esses dispositivos oferecem em todas as áreas do conhecimento. Funcionando de maneira que nos faz lembrar o pensamento humano, esses algoritmos têm revolucionado a visão do mundo e dado a todos a oportunidade de ver sua vasta contribuição, especialmente na otimização do ensino e da aprendizagem. 

E como dissemos anteriormente, várias escolas têm feito uso dessas inteligências, seja para ajudar a personalizar a aprendizagem dos alunos ou na criação de atividades e recursos complementares que atendam às necessidades e interesses das turmas, tornando o ensino mais atraente e envolvente. E é o que vem realizando o professor de Empreendedorismo e Geografia Robson Paulino da Silva, no Colégio Estadual República Italiana, localizado em Porto Real, região Sul Fluminense do RJ, através do projeto Jogos de tabuleiro, com suas turmas do Ensino Médio.  

Habilidades empreendedoras

Com o objetivo de estimular o desenvolvimento de habilidades empreendedoras entre as turmas desse nível educacional, o professor lançou mão da gamificação, não somente pela proximidade dos educandos com essa prática, mas por ser uma atividade lúdica, educativa e eficaz para o ensino de conceitos empresariais e do empreendedorismo.  

“Começamos a montar o escopo do projeto pedindo uma sugestão para a inteligência artificial e no final, depois de muito debate e trabalho, praticamente não tínhamos quase nada da ideia criada pelo dispositivo, ou seja, foi somente um pontapé inicial”, revela Robson. Mas por outro lado, avalia o professor, o ChatGPT nos ajudou com subsídios para a elaboração dos jogos com conhecimentos que buscamos de forma muito fácil, o que contribuiu para manter os estudantes motivados e engajados em suas pesquisas. 

É o que garante a aluna Manuela Lima da Silva, da turma 2.002, integral. “Bom, eu particularmente achei gratificante o fato do nosso grupo ter concluído esse trabalho, mesmo com ideias que eram simples, até meio rasas, mas que acabaram se tornando incríveis na construção, execução e finalização do nosso jogo. Foi muito boa a participação, auxiliou muito no desenvolvimento, e eu falo por todas nós, adoramos criar do zero esse jogo”, comemora a aluna empreendedora. 

Preparando para os desafios do mercado de trabalho

Em sala de aula, divididos em grupos, os alunos recebiam o desafio de criarem um jogo lúdico, mas ao mesmo tempo que os levasse a ampliar seus conhecimentos sobre empreendedorismo e conceitos empresariais. Renata Vitória Graciani da Silva Sousa, da turma 2.002 do Colégio Estadual República Italiana – Integral, fala um pouco dessa experiência. “Eu achei legal fazer o jogo, meu grupo foi ótimo, todas as meninas ajudaram e deram ideias para fazer! A temática é boa, e você pode jogar com apenas no mínimo duas pessoas e no máximo quatro. Como não se precisa de tanta gente, fica ainda mais divertido, principalmente por você ficar preocupado em tirar a carta de falência da sua empresa”, exemplifica Renata.   

Na dinâmica do jogo, cada firma criada pelos grupos de alunos têm um capital representativo. E à medida que o jogo se inicia, ao rodar a roleta, os estudantes vão lançando mão dos cards, que podem apresentar algumas surpresas em seus direcionamentos, como por exemplo: pagamento da folha dos funcionários; o impacto do aumento do dólar nas finanças da empresa; necessidade de investimentos tecnológicos e de empréstimo ou a tão esperada figurinha comemorativa “aumento das vendas”. Para os alunos, rodar a roleta para ver se vai cair algo bom ou ruim é muito mais que diversão. “Espero que as pessoas também achem legal o nosso jogo”, sinaliza Renata torcendo para que pinte um investidor para o negócio de seu grupo. 

 

Inteligência artificial e a experiência de aprendizagem integrada

Um outro ponto muito discutido entre a comunidade escolar foi entender como a Inteligência Artificial pode ser utilizada para melhorar a experiência de aprendizagem. Para o desenvolvedor do projeto, Robson Paulino, à medida que as etapas do projeto eram realizadas ficava mais claro entender a participação dos algoritmos como um apoio a mais no aprimoramento e expansão desse ensino. “A tecnologia serviu como uma ferramenta de busca e síntese de informações, sobretudo na área de empreendedorismo”, ressalta. 

Todavia, quando se fala de habilidades necessárias para seguir adiante, não tem como deixar de fora a inteligência artificial. Mas como trabalhar essa realidade hoje com aos alunos? Na opinião do professor Robson, uma das principais ferramentas de qualificação para esse futuro é o conhecimento e o direcionamento por parte dos educadores no aperfeiçoamento do domínio da informática.  

“A inteligência artificial e a internet não são os problemas, a questão está em como os estudantes estão utilizando essas ferramentas e dispositivos, quase sempre sem o direcionamento do mediador. E aí configura-se um dos papéis do professor. Orientar esse aluno para um uso correto, produtivo, podendo contar com a tecnologia. Inúmeras pessoas têm se tornado profissionais incríveis, cada dia melhores, graças ao que a internet oferece. Só precisamos trilhar o caminho correto”, destaca o professor Robson Paulino.   

Inteligência artificial e seu potencial revolucionador

Para Regina Silva, diretora pedagógica da Educacional – Ecossistema de Tecnologia e Inovação, esses recursos evidenciam um enorme potencial para revolucionar a educação. Todavia, isso não anula os desafios presentes e futuros. “Com a recente popularização de tecnologias de inteligência artificial generativa, como o ChatGPT, além de outras, o debate sobre assuntos associados ao uso dessas ferramentas vem à tona em diferentes esferas e contextos. Podemos dizer que essas inovações apresentam um enorme potencial para revolucionar a educação, permitindo a personalização e a adaptação às necessidades individuais de cada aluno, além de auxiliar os professores em suas práticas pedagógicas. No entanto, a inserção da inteligência artificial na educação também enfrenta desafios que precisam ser superados para que esses potenciais sejam plenamente realizados”, alerta Regina. 

Quando se trata de desafios, independente da área, eles serão sempre uma etapa a ser vencida. Na educação certamente não é diferente. Um dos exemplos apontados pela diretora pedagógica refere-se à adaptação dos currículos e as práticas pedagógicas para incluir a inteligência artificial como uma ferramenta de ensino, quebrando paradigmas e desmistificando preconceitos que ainda existem em relação à tecnologia na educação. “É importante garantir que ela seja utilizada de forma ética e responsável na educação, respeitando os direitos dos alunos e protegendo a privacidade dos dados pessoais. Nesse sentido, é fundamental fornecer aos professores a formação e a competência necessárias para o uso dessas ferramentas de maneira eficaz e responsável”, conclui Regina Silva. 

Na edição de junho da Revista Appai Educar, em entrevista exclusiva, Regina Silva abordará as oportunidades proporcionadas pela inteligência artificial para o aprimoramento da educação, além de compartilhar estratégias para os professores se prepararem para a integração dessa tecnologia em sala de aula e identificar áreas de melhoria. Além de insights valiosos sobre como essas ferramentas podem ser utilizadas como aliadas na busca por uma educação mais eficiente e personalizada.

Para complementar ainda mais, veja o que a Appai preparou para você!

Se você é associado da Appai e quer potencializar as suas formas de ensino, conheça o Curso EAD Appai: ChatGPT e aplicações para a educação. Ministrado por Renata Capovilla, o intuito do curso é fazer com que você seja capaz de reconhecer como funciona a inteligência artificial. Além de compreender a relação entre o ChatGPT e a educação, diferençar um chatbot do ChatGPT, identificar como utilizar a ferramenta com aplicações para o ensino e identificar a importância de fazer boas perguntas para o melhor funcionamento da ferramenta. O curso está disponível na plataforma EAD, para você fazer quando e onde quiser!   


Por Antônia Figueiredo e Jéssica Almeida 

 

Fontes: Guia Definitivo da Gestão Escolar 2023 da Árvore, Porvir e Assessoria de Imprensa Instituto PresbiterianoColégio Estadual República Italiana, Porto Real, região Sul Fluminense do RJ | Projeto: Jogo de tabuleiro educacional | Professor:  Robson Paulino da SilvaRegina Silva, diretora Pedagógica da Educacional – Ecossistema de Tecnologia e Inovação. 


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