Golfinhos no Pantanal Fluminense

Cinturão verde é um dos encantos da Baía


Pantanal Fluminense

Nem adianta brincar dizendo que é exagero e história de pescador. Golfinhos sobrevivem na Baía de Guanabara em sua parte mais viva, que é a que se conecta com o Manguezal de Guapimirim, considerado o “Pantanal Fluminense”. Mas não pense que é fácil! Expedições para observação desses cetáceos só são possíveis ciceroneadas pelos conhecimentos dos pescadores-guardiões, que sabem o ponto exato em que se refugiam esses animais ariscos e desconfiados a respeito da presença humana. Essa comunidade de golfinhos sobrevive resguardada pela renovação de água neste trecho promovida pelo manguezal. 

Resguardando a Baía

Um dos maiores defensores da região é o antigo pescador e hoje ambientalista Alaildo Malafaia, que atua na Cooperativa Manguezal, formada por mais de 400 famílias que sobrevivem no entorno e na Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim, de forma sustentável e harmônica com o ambiente. “Quando falam que a baía está morrendo, eu morro um pouco junto. Dói meu coração. A conscientização me fez ver que sou apaixonado por essa região que, além dos moradores, começa a atrair visitantes”, conversou com a nossa coluna o pescador. Malafaia ressalta que a associação negativa aos mangues está sendo vencida e reclama por uma maior divulgação do chamado “Pantanal Fluminense”, afirmando que turistas estão descobrindo os encantos da região antes dos cariocas. 

Sobrevida da baía

O cinturão verde resguardando partes do fundo da baía é um dos fatores que garantem sua sobrevida. O trecho preservado engloba Guapimirim, Magé, Itaboraí e São Gonçalo. É fato que a poluição e a ocupação desordenada são grandes ameaças, mas plenamente compensadas pelo verde ainda resistente na orla e nos maciços desses municípios, resguardados pela Área de Proteção Ambiental. 

Vale destacar o município de Guapimirim, que dá nome à APA, é uma das cidades mais novas do país, com cerca de três décadas de vida, mas uma veterana em vegetação original. Guapi, como é chamada pelos íntimos, tem quase 80% de seu território em áreas de proteção ambiental. Além da APA, abriga partes de dois parques: o Estadual dos Três Picos e o Nacional da Serra dos Órgãos. 

Alguns projetos desenvolvidos na região também garantem a vida. Um deles é o Mangue Doce, que trabalhará em três eixos: restauração ecológica dos serviços ambientais; capacitação em meliponicultura (produção de mel) – na geração de renda para a comunidade; e educação ambiental. A atividade prevê ainda o plantio de cerca de 2,5 mil mudas de espécies nativas do manguezal, com o envolvimento de professores e estudantes, e também a mobilização de pescadores, inclusive gerando renda. 

Outro deles é o Viva Água – Baía de Guanabara, que completa um ano de atividades socioambientais nessa região hidrográfica. O projeto conta atualmente com 172 mil hectares de cobertura florestal, o que corresponde a 36% de todo o território, além de 154 mil hectares de campos e pastagens, sendo uma importante fonte de serviços socioambientais para o Rio de Janeiro. O território também possui 112 mil hectares de ocupação urbana. 

O programa apoia produtores rurais, pescadores, artesãos, pesquisadores, ambientalistas e empreendedores interessados em desenvolver cadeias produtivas sustentáveis, como o turismo responsável, a meliponicultura e a agroecologia. Entre as iniciativas positivas não podemos esquecer as ações desenvolvidas na Reserva Ecológica de Guapiaçu (Regua), no município de Cachoeiras de Macacu, que recuperou uma antiga fazenda degradada por meio do plantio de mais de 650 mil árvores em seus 430 hectares. O local protege nascentes do rio Guapiaçu, que deságua na Baía de Guanabara.  


*Luiz André Ferreira é Professor e Mestre em Projetos Socioambientais.

Obs.: Toda a informação contida no artigo é de responsabilidade do autor. 


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