Trânsito também é assunto de criança!

Muitas vezes, crianças e jovens são vítimas de acidente de trânsito por terem pouca informação e conhecimento. Para suprir essa necessidade, produzimos um conteúdo exclusivo que vai contribuir de forma eficaz a sua abordagem em sala de aula


Todos os dias, o caminho da escola é um desafio para milhões de crianças e adolescentes brasileiros. Eles fazem uso de transporte público ou escolar, enquanto outros vão sozinhos, a pé, em grupos ou acompanhados de pais e responsáveis. Com o crescimento cada vez mais acelerado das cidades, os percursos, sejam curtos ou longos, podem ser cheios de perigos e obstáculos. Por isso, o cuidado e o respeito à sinalização e às leis são extremamente importantes.

Nesta edição, recebemos um sinal verde para a educação no trânsito e produzimos um conteúdo exclusivo que vai contribuir na sua abordagem em sala de aula para mitigar o problema. O professor pode abordar a temática de diferentes maneiras e de forma multidisciplinar em qualquer época do ano. O mais legal é que dá para unir o conhecimento e o estímulo de habilidades motoras e intelectuais através de atividades lúdicas. Além disso, proporcionar a prática de atividade física e até de cálculos matemáticos.

 

Qual a importância da Educação no Trânsito?

A ideia de abordar a Educação no Trânsito dentro das escolas está relacionada a formar cidadãos mais conscientes e preparados para enfrentar a vida e o cotidiano das cidades. Além disso, contribuir na construção de valores, como o respeito ao próximo para a proteção da vida. A abordagem nas escolas auxilia, ainda, na compreensão da criança em relação aos elementos e às situações vivenciadas no cotidiano.

Os ensinamentos sobre o tema devem começar nas séries iniciais e aliar teoria e prática. As crianças devem ser orientadas a ter um comportamento adequado em relação à segurança necessária nas vias públicas, tanto na condição de pedestre quanto na de passageiro. Aqueles que usam bicicletas, skates, patins e patinetes devem aprender que existem faixas para ciclistas e outros lugares apropriados e seguros para a diversão, que nem sempre são as vias públicas. Também não devem se esquecer de usar equipamentos de proteção e segurança.

 

Dados que preocupam e instigam

Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 6 mil crianças, de 0 a 14 anos, morrem e outras 140 mil sofrem acidentes no trânsito anualmente. Os dados de fatalidades no trânsito brasileiro são alarmantes. Esse quadro precisa ser alterado! E essa mudança começa na escola! Segundo pesquisas recentes, as principais causas desse tipo de incidente são, entre outras:

• Exceder a velocidade permitida e alertada pela sinalização
• Não usar o cinto de segurança
• Dirigir alcoolizado
• Dirigir drogado
• Praticar violência por intolerância
• Dirigir falando ao celular
• Conduzir o veículo com sono
• Estar desatento ao dirigir

 

É na escola que se aprende a ser um pedestre consciente

A Semana Nacional de Trânsito (SNT), conforme disposto no art. 326 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), é comemorada anualmente entre os dias 18 e 25 de setembro. Nesse período, são realizadas ações em todo o país com o objetivo de conscientizar todos os envolvidos no dia a dia do trânsito, sejam eles motoristas, passageiros, motociclistas, ciclistas ou pedestres.

Seguindo também as recomendações contidas no Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans) e considerando que os acidentes desse tipo constituem uma das maiores causas de mortes no mundo, a iniciativa visa preservar vidas, por meio de ações de conscientização voltadas para educação, engenharia e fiscalização de trânsito. Tais ações devem contemplar a discussão sobre questões relacionadas à infraestrutura viária brasileira, organização e alinhamento dos órgãos do Sistema Nacional de Trânsito (SNT), mobilidade urbana, convivência pacífica entre pedestres, ciclistas, motociclistas, entre outros aspectos.

No mês de setembro, ou em decorrência de algum fato novo, como algum acidente ocorrido nas imediações da escola, por exemplo, a temática deve ser intensificada para fomentar a educação para o trânsito! Fica a dica!

 

BNCC e a Educação para o Trânsito

Para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a educação para o trânsito é considerada uma temática contemporânea transversal ao currículo. O foco é estimular a aprendizagem e o desenvolvimento em relação ao tema, além de expressar ideias, desejos e sentimentos sobre suas vivências, por meio da linguagem oral e escrita, fotos imagéticas, desenhos e outras formas de expressão, e ainda comunicar suas ideias e sentimentos a pessoas e grupos diversos.

 

Um projeto piloto visionário

A Prefeitura de Paranavaí/PR trabalha com um projeto experimental na Escola Municipal Deusdete Ferreira de Cerqueira Neto. Com o intuito de disseminar o conhecimento sobre o trânsito às crianças, o projeto Ética, Cidadania e Educação para o Trânsito está sendo desenvolvido pela Secretaria de Segurança e Trânsito, em parceria com a Secretaria de Educação.

Criar uma cultura de respeito às leis de trânsito é um dos objetivos do projeto. “Esperamos que, através dos pequenos, todo esse conhecimento chegue aos pais também. Além disso, estamos trabalhando o futuro das crianças, já que daqui a alguns anos todos poderão ser condutores”, disse o secretário de Segurança e Trânsito, Heron Radke.

Os agentes de trânsito passam de sala em sala para trabalhar com as crianças temas como: o uso da faixa de pedestres; a importância da utilização do cinto de segurança; a proibição do celular enquanto se dirige, entre outros temas. As palestras são realizadas com o auxílio dos professores.

Alunos de 4 a 12 anos participam do projeto e recebem semanalmente as visitas dos guardas municipais e agentes de trânsito. Para a diretora da escola, Sidineia Caetano Figueiredo, os resultados têm sido muito satisfatórios. “Essas aulas têm servido para mudar o pensamento dos pais e crianças a respeito dessa questão. Aumentou o respeito pelas instituições e podemos perceber que diminuiu o número de infrações. Os pequenos agora estão cobrando dos responsáveis, estão sempre de olho no que estão fazendo”, salientou.

Por enquanto, o colégio é o único lugar onde há esse trabalho, mas as secretarias já estudam a implantação dessa atividade em outras unidades municipais. “Esse é um projeto piloto, por isso está sendo executado apenas na escola do Conjunto Luiz Lorenzetti. Porém, devido aos resultados que temos percebido, já estudamos expandi-lo para as demais unidades municipais”, afirmou Heron.

 

Como aplicar o tema nas escolas?

Através do Instagram e de um blog, a educadora dos anos iniciais e coordenadora pedagógica Debora Teixeira cria e compartilha recursos interativos, jogos, painéis e até lembranças para o seu público, que corresponde a mais de 150 mil professores. E claro que a educação no trânsito não poderia ficar de fora dos conteúdos desenvolvidos por ela. Confira alguns pontos que você encontra no site Pedagogia sem verba:

Semáforo lúdico e divertido:
A educadora explica que o semáforo é um objeto importantíssimo para a segurança da sociedade no trânsito e aparece em muitos planejamentos por proporcionar a exploração de características de diferentes áreas do conhecimento, como cores, formas, movimento e textura.

O desafio desta proposta é bem simples: fazer com que as luzes do semáforo acendam com a lanterna do celular. A atividade proporciona diversos desdobramentos e habilidades alinhadas à BNCC. Entre elas explorar as formas de deslocamento no espaço (pular, saltar, dançar), combinando movimentos e seguindo orientações. Além de criar movimentos, gestos, olhares, mímicas em brincadeiras, jogos e atividades artísticas, como a dança, o teatro e a música.

Sequência de carrinhos:
A ideia aqui é propor para a criança que pinte os quadrados na ordem que desejar seguindo uma regra importantíssima, a de não pode repetir cor na mesma linha. Em seguida ela também deverá pintar os carrinhos e, após a montagem, é só brincar! Os objetivos da atividade são ampliar o vocabulário, explorar o mundo apontando o que lhe chama atenção, identificar cores e formas, encorajar a postura investigativa e expressar-se de maneira intencional por meio da fala, movimentos e registros.
Os principais desdobramentos para essa atividade são contar histórias que apresentem diferentes meios de transporte, rodas de conversa, exibir imagens reais destes veículos, listar coletivamente os mais conhecidos da turma, brincar de faz de conta (as crianças assumirão os personagens presentes no trânsito e irão descolar-se no espaço seguindo as regras do trânsito) e criar pistas no chão para que os pequenos brinquem de carrinho.

Caminhão do gás:
Aqui cada botijão de gás traz consigo uma tabuada da adição. A ideia aqui é ter uma tabuada móvel no caderno dos pequenos. Para a educadora, isso facilita a consulta, afinal a garotada pode pegá-la e deixá-la na mesa ou em outra página do caderno e/ou atividade. Nesta tarefa, ao puxar um botijão de gás você encontra a surpresa, a tabuada. O objetivo é proporcionar uma atividade contextualizada na vida do aluno e reconhecer e executar noções matemáticas presentes no dia a dia. Além de explorar as operações numéricas assim como ferramentas necessárias no cotidiano.

Sobre os possíveis desdobramentos, Debora sugere uma roda de conversa que encoraje os pequenos a refletirem sobre as formas de comércio presentes do bairro em que moram, além de explicar sobre os seus pontos fixos e móveis. Ela também propõe que o professor imprima o arquivo e, antes de preencher a tabuada, brinque com os elementos tanto para somar quanto para subtrair e lembre-se que este caminhão pode ir sendo “carregado” ao longo de um período. O que determinará o tempo será o avanço dos pequenos.

Para baixar esses e outros materiais criados pela professora Debora Teixeira ou para mais informações, acesse: pedagogiasemverba.com.

 

A chave para o respeito à vida

Na Revista Appai Educar o tema já foi abordado diversas vezes. Uma delas foi no artigo da editoria “Opinião” com a pedagoga Maria José Finardi. Ela destacou a importância de abordar o assunto nas escolas e reforçou que o cuidado e o respeito à sinalização e às leis são decisivos. Leia aqui o artigo completo.

A Escola Municipal Pedro Lessa também abordou o tema e enfatizou algumas regras de trânsito. As atividades começam com um espetáculo, onde foram passados conceitos sobre segurança, e as crianças aprendem de forma lúdica como percorrer o caminho de casa para a escola com tranquilidade. O assunto foi escolhido com objetivo de reduzir o índice de acidentes dessa natureza. Descubra como funciona o projeto lendo a matéria completa.

 

Ações continuadas de educação para o trânsito nas escolas

Atualmente a Suécia é um dos países com os menores índices desse tipo de acidente em comparação com os números mundo a fora. Entretanto, para chegar a esse patamar requereu-se muito mais que a inserção de programas de conscientização entre a população. O caminho demandou a disseminação da cultura de cultivar a segurança no trânsito no dia a dia do cidadão.

Autoridades locais explicam que não se trata de uma obrigação ou uma imposição do governo, e sim um direito de todos a ser exercido desde sempre. Um dos pilares dessa cultura está centrada na educação para o trânsito entre as crianças, trabalhada desde a Educação Infantil até o Ensino Médio como parte da grade curricular dos alunos, com o objetivo de semear o respeito entre os usuários da via e o cumprimento das regras, que é fundamental.

 

Conexão DNIT – Programa Nacional de Educação para o Trânsito

No Brasil, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), através do Conexão DNIT (Programa Nacional de Educação para o Trânsito) – cujo intuito é o compartilhamento de conhecimentos, ações e estímulos pedagógicos buscando o desenvolvimento de práticas continuadas de educação para o trânsito nas escolas de todo o país –, traz dicas para que professores de qualquer área e ano escolar possam inserir as atividades no seu planejamento.

Além dos bancos de práticas pedagógicas, todas gratuitas, o programa viabiliza a inserção de tarefas em qualquer disciplina, por ser um tema transversal. Por exemplo, um professor do 5º ano que queira abordar o conteúdo sobre “Cálculo de porcentagens e a representação fracionária” pode fazer isso com o recurso do item “Contabilizando velocidades”. Para consultar essa e outras atividades, aprender como acessar e conhecer todos os conteúdos disponíveis basta realizar seu acesso e cadastro gratuito no aplicativo ou no portal web do Programa.

 

Educação e cidadania na prática

Algumas cidades brasileiras já desenvolvem ações educativas juntos às escolas de suas regiões, promovendo a prática dessa questão através de ações realizadas nas minicidades do trânsito, cujo objetivo é ser um apoio prático na circulação viária dos pequenos, como é o caso do projeto Detranzinho realizado em Curitiba, PR.

Com cinco mil metros quadrados de área que simula ao máximo o cotidiano do trânsito de uma cidade, milhares de alunos estão tendo a chance de aprender de maneira lúdica os direitos e deveres do cidadão, bem como serem multiplicadores em seus lares de todo ensinamento acerca do cotidiano das vias, calçadas e sinalizações.

De acordo com o diretor-geral do Detran-PR Wagner Mesquita, na minicidade há também bicicletas e miniveículos elétricos, doação de uma empresa fabricante de automóveis. “Essa proposta é um avanço em direção às ações educativas do Detran, já que não tínhamos um espaço adequado para isso antes. É uma forma de aplicar a segurança no trânsito desde cedo. As crianças aprendem aqui e passam a fiscalizar os pais no dia a dia”, esclareceu Wagner.

 

Volta Redonda revitaliza minicidade do trânsito

Localizada na região sudeste do Estado do Rio, Volta Redonda retoma a revitalização da minicidade de trânsito do município, criada em 2000. De acordo com as secretarias envolvidas no projeto, o objetivo é fazer com que a atividade educativa retome sua contribuição junto às escolas, alunos e professores na busca por uma vida mais segura.

Segundo o secretário, a recuperação do espaço faz parte das ações por um trânsito mais seguro. “Vamos investir nessa questão, para reduzir o número de acidentes, pois quando as crianças começam a receber as informações corretas, tendem a ser melhores motoristas no futuro. Sem contar que podem se tornar multiplicadores do conhecimento adquirido, passando para a família e os amigos”, relatou o secretário Luiz Henrique.

 

Resende abre a pista educacional

O Centro Educacional de Trânsito Armando José da Silva, um espaço lúdico e interativo localizado dentro do Parque Tobogã, no bairro Vila Julieta, realiza atividades de agendamento das escolas interessadas a levar seus alunos para aprender sobre as leis de trânsito. No local, os estudantes participam de uma série de atividades e ações com o objetivo de transformá-los em multiplicadores, dentro da sociedade, dos valores, boas condutas, comportamento e práticas de cidadania no trânsito.

O espaço reproduz uma cidade, com dois semáforos e 106 placas de trânsito. Entre elas, as de regulamentação, advertência, serviço, educativas, orientação/indicação e 13 faixas de pedestre. “No Centro, os alunos vivenciam situações reais, como dirigir um carro em uma minicidade, atravessar na faixa de pedestre e conhecer o significado das placas. É uma oportunidade de sensibilizar as crianças para o respeito às leis de trânsito através do brincar”, disse a gerente de projetos pedagógicos Cláudia Alvarenga.

Podem fazer o treinamento escolas das redes públicas municipal e estadual e do setor privado. A faixa etária dos estudantes vai de dois a 14 anos, compreendendo os alunos da Educação Infantil (creche e pré-escola) ao Ensino Fundamental. O atendimento acontece mediante agendamento prévio, de acordo com a disponibilidade de horário, de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas, pelo telefone 3354-3512.

 

Minicidade do trânsito: um recurso didático-pedagógico

Quem também está atento a essas e outras questões de segurança, através do projeto O Trânsito e Eu educando as crianças, é o Instituto Renault, que, de acordo com informações do seu site, em 10 anos desde sua criação já educou mais de 260 mil alunos em oito municípios brasileiros e nas ações itinerantes promovidas em diversos pontos, que vão desde eventos em locais fechados até em outros mais acessíveis, como parques.

Foto: https://institutorenault.com.br/seguranca-no-transito/o-transito-e-eu

Voltado para a faixa etária de 7 a 11 anos, a atividade, que tem o reconhecimento da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), é realizada dentro e fora das salas de aula das escolas parceiras do projeto, se dividindo em teoria e prática. Num primeiro momento as crianças têm acesso ao conteúdo escrito com o apoio de materiais disponibilizados pelo instituto. Numa segunda ocasião os alunos são levados por seus professores à minicidade e, de forma lúdica e muito divertida, recebem as noções básicas de segurança e convivência no trânsito. Tudo isso cercado de uma estrutura que os aproxima do cotidiano.

O programa também disponibiliza para download PDFs de cartilhas, jogos e vários materiais, temas e conteúdos do projeto para serem usados pelos professores, a fim de auxiliar na prática educativa e conscientização dos pequenos acerca da cultura e promoção da segurança no trânsito. Conheça e saiba mais.


Por Antônia Lúcia, Jéssica Almeida e Richard Günter
Fontes: MEC | Ministério da Saúde | BNCC | Detran
Fotos: Freepik | Divulgação/assessoria


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