Educação empreendedora: uma chave para transformar

Saiba como incentivar alunos a buscar o autoconhecimento para se tornarem pensadores conscientes e críticos a fim de conseguirem formular soluções de forma autônoma


Professor, você já parou pra pensar por que investir em conhecimento, pensamento crítico e aprendizagem socioemocional é tão importante para o aluno? Quando a escola aposta nesse quesito todo mundo sai ganhando! Afinal, ajudamos a formar cidadãos autônomos e proativos, além de auxiliar no desenvolvimento de relações interpessoais saudáveis e na construção de um mundo melhor. E todo esse movimento tem um nome: educação empreendedora. Que nada mais é do que uma ferramenta para os educadores despertarem e motivarem os alunos para a construção de ideias inovadoras, auxiliando a formação de cidadãos críticos, autônomos, transformadores e empreendedores.

Por isso, falar em educação empreendedora é abrir espaço para que alunos e professores se apropriem de novos horizontes, ampliem possibilidades e expandam a criatividade através desse conceito, com intuito de ir além daquilo que foi proposto. Esse alargamento conceitual tem como um dos seus objetivos estimular o pensamento crítico, a análise de problemas e a busca por soluções ágeis.

No livro “Educação empreendedora: conceitos, modelos e práticas”, Rose Mary A. Lopes explica que essa abordagem é “um processo dinâmico de conscientização, reflexão, associação e aplicação que envolve transformar a experiência e o conhecimento em resultados aprendidos e funcionais”. Dessa forma, adotando essa proposta em sala de aula é possível fazer com que os alunos estudem os conteúdos previstos no currículo ao mesmo tempo em que se desenvolvem como cidadãos ativos, responsáveis, resilientes e colaborativos.

Alinhado a este cenário, a professora Carla Celestino explica que a interdisciplinaridade é um dos caminhos para se chegar a essa expansão de saberes e olhares. “É uma educação voltada à formação de maneira ampla, contemplando as disciplinas curriculares, mas inserindo outras tais que irão ajudar o aluno a desenvolver habilidades, competências e adquirir conhecimentos que servirão para sua vida, independente da profissão que desempenhará no futuro. Ao meu ver, o início deveria ser a multidisciplinaridade, que é tão falada, mas pouco praticada no ambiente escolar”, afirma Carla.

 

Educação empreendedora: sua importância e benefícios

A geração Z – pessoas nascidas a partir da segunda metade da década de 1990 – tem sede de conhecimento, grande familiaridade com as novas tecnologias e cada vez mais interesse pelo empreendedorismo. E o acesso a esse tipo de educação permite que esses jovens sintam mais segurança para iniciar seus projetos. A coordenadora do Núcleo de Empreendedorismo da Eseg (Escola Superior de Engenharia e Gestão), Leila Canegusuco, explica que para empreender é importante estudar e se preparar para montar um negócio. O que envolve planejar sua estrutura, monitorar seu crescimento e propor estratégias para aumentar seu desenvolvimento. “E a educação empreendedora é justamente a base para a formação de cidadãos mais conscientes, participativos e produtivos, uma vez que contribui para os estudantes inovarem de forma eficiente, com soluções viáveis e facilmente implementadas”, pontua.

 

 

Quem é o protagonista?

“Ser protagonista da sua própria história”. Essa é atualmente uma das frases mais citadas, sobretudo pelos jovens ao fazerem referência a sua jornada estudantil ou cotidiana. Entretanto, o currículo básico nacional ainda deixa bastante a desejar no quesito “como lidar com o imprevisto”, que está intrinsicamente ligado ao tema educação empreendedora.

Na opinião da professora Carla, com relação a esse cenário que a educação empreendedora oferece, o currículo básico do Ensino Fundamental tem buscado dar voz e vez ao protagonismo infantojuvenil, à criatividade e aos sentimentos. “Mas entendo que ainda é um movimento

que está acontecendo e precisa se ampliar drasticamente. Porém, o professor e o gestor também precisam estar preparados para tal. Eles, na sua maioria, não são empreendedores e nem sabem como ser. Pois ser empreendedor é algo aprendido e não inato”, adverte a professora.

 

Habilidades que fazem a diferença

Cada vez mais o empreendedorismo, com a sua postura, e o seu modo de agir no mundo, demanda de seus atores a promoção de uma cultura participativa, solidária, agregadora, inventiva e geradora de riquezas.  “Está além do ler, do escrever, do papel. Está imersa no agir”, analisa Carla, antecipando algumas habilidades comuns ao empreendedorismo, que podem colaborar para a ampliação dessa prática dentro e fora do ambiente escolar.

“Entre eles, ser otimista, criativo, entender que correr riscos faz parte de determinadas situações inevitáveis e é necessário saber lidar com eles, com os imprevistos, buscar oportunidades, resolver problemas, liderar, ser colaborativo, ser flexível, ter determinação”, completa a professora.

 

Como implementar a educação empreendedora nas escolas?

A educação empreendedora pode ser trabalhada desde a Educação Infantil até o EJA, o que vai diferenciar é a complexidade das atividades. Além disso, é importante tratar dos conteúdos de maneira contextualizada com a realidade e o interesse dos estudantes, considerando que as turmas são heterogêneas.

Confira algumas dicas de como abordar a temática em sala de aula:

Educação Infantil: o educador pode convidar os pequenos para conversar, opinar e decidir qual brincadeira fazer em determinado momento. Outra sugestão é a criação de diversos espaços e dar às crianças oportunidade de escolher em qual quer brincar, começando um trabalho de desenvolvimento de autonomia.

Ensino Fundamental I: o professor pode abordar a temática durante a resolução de um problema de Ciências ou de Matemática, por exemplo. Ou na discussão de projetos sobre descarte de produtos, origens e culturas, o que é ser criança etc.

Ensino Fundamental II: o docente pode aproveitar a comunicação e participação nos combinados da turma, no desenvolvimento de aplicativos e até nos debates sobre dilemas contemporâneos.

Ensino Médio: que tal propor melhorias para o próprio ambiente escolar? O educador pode fazer isso através de projetos interdisciplinares sobre sustentabilidade.

Educação de Jovens e Adultos (EJA): a educação empreendedora pode ser explorada também com temas como trabalho, negócios e meio empresarial, assuntos passíveis de serem explorados no Ensino Médio também, especialmente no último ano.

 

Alunos x Escola: as intenções empreendedoras

A temática se faz presente há muito tempo, mas somente a nova geração tem contato imediato com este universo. Isso se deve também à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que indica prioridade na abordagem deste assunto. Portanto, trazer essa realidade empreendedora para o mundo do aluno pouco a pouco fará com que esse conceito se torne próximo. Quando a metodologia pedagógica tem essa preocupação, ela cria atividades que são capazes de favorecer o desenvolvimento desse tipo de mentalidade.

Por outro lado, não podemos esquecer que a preparação docente é primordial para que o objetivo seja cumprido. Logo, utilizar ferramentas e recursos tecnológicos para diversificar as atividades dentro da sala de aula certamente atrairá a atenção e o interesse dos alunos. A partir disso, é preciso “brincar” com as possibilidades e sugerir missões diferentes.

A grande sacada é usar o ambiente acadêmico para ir além do material didático tradicional. Assim, cada um desenvolve seu potencial de criação, ou seja, os alunos passam a ter mais autonomia no processo de aprendizado.

Nesse sentido, a escola pode escolher entre inserir disciplinas específicas na sua grade ou promover oportunidades em todas as aulas, além de encontros extras. O essencial é colocar o estudante em uma posição mais ativa e proporcionar uma educação empreendedora, que seja útil para a atuação profissional no futuro.

Para Janaína Oliveira, professora do fundamental II na disciplina de matemática do Instituto de Educação, em Porto Alegre, a prática empreendedora na educação está relacionada a uma ideia inovadora no mercado de ensino, que se propõe a estimular o desenvolvimento de habilidades que são comuns ao empreendedor. “Na verdade, é como enxergar que empreender é um processo constante de aprendizagem”, ratifica.

Empresas já consolidadas também precisam lidar com novos desafios a todo momento e se reinventar para continuar em um caminho de sucesso. Na escola, o problema é que o risco tende a ser visto como uma coisa negativa e que foge do padrão de ensino convencional, no qual os erros são sempre “punidos” com notas baixas. “Os alunos que são avaliados dessa forma não têm espaço para se desenvolver além do que é proposto”, exemplifica Janaína, acrescentando que uma educação empreendedora preza por estimular o pensamento crítico, a análise de problemas mais complexos e a busca por soluções inteligentes para eles.

“O cenário pedagógico é fundamental para adentrar esse assunto, pois é a partir dele que conseguiremos visualizar os interesses dos alunos e agregar com aprendizagem para que eles se tornem pensadores conscientes e críticos a fim de conseguirem, por si sós, formular soluções”, preconiza Janaína.

Professor, se no dia a dia você se preocupa em criar espaços de participação e protagonismo para crianças e adolescentes com propostas que fazem sentido para eles, já está no caminho da educação empreendedora. Mas, além do protagonismo dos educandos e da contextualização, a experiência é parte crucial dessa abordagem. O educador e especialista em produção e edição de materiais pedagógicos, Samuel Andrade, ressalta que “oferecer situações desafiadoras que vão exigir uma atitude criativa dos estudantes ou que demandam uma colaboração mais efetiva é a chave para o processo ser bem-sucedido e completo”.

 

Formação continuada

Em Canguçu, interior do estado do Rio Grande do Sul, o programa “Boas Práticas de Empreendedorismo para a Educação” contou com a participação de professores de mais de 10 escolas. As atividades possibilitaram o compartilhamento de ferramentas metodológicas testadas e aprovadas pela equipe pedagógica do Programa de Aprendizagem Profissional Rural.

Para marcar o final do curso, foi realizada uma mostra de boas práticas, com exposição da aplicação prática das ideias empreendedoras na educação. Diversos depoimentos mostraram, por exemplo, ações como o uso da internet para ampliar os conhecimentos, o crescimento na participação dos alunos na construção pedagógica, reflexão sobre qualidade de vida, entrevistas com produtores rurais e conscientização ambiental.

A representante da Secretaria de Educação de Canguçu, Elizane Pegoraro Bertineti, reforça que o projeto em parceria com o Instituto Crescer Legal proporciona muitos aprendizados, tanto para os estudantes como em relação à formação dos professores.

Na edição de 2021, a programação iniciou de forma remota e teve também encontros presenciais. Conforme a gerente do Instituto, Nádia Fengler Solf, o programa soma 29 professores participantes das duas edições. “E estamos planejando uma terceira edição do curso para 2022”, revelou.

Conduzido pelo educador social Adriano Emmel, o curso aborda os seguintes temas: autoconhecimento, inteligência emocional, curiosidade, diagnóstico, planejamento estratégico, habilidades e competências socioemocionais, empatia, resiliência, comunicação, comunicação não violenta, convivência e vínculos, tecnologia em sala de aula, educação inclusiva, inovação, metodologias ativas, autonomia, observação e organização, confiança, respeito, abertura para o novo, engajamento com os outros, trabalho em equipe, avaliação e devolutivas formativas e eventos de integração.

Professores Empreendedores: em 2021 receberam os certificados os professores Daiane Peter da Silveira, Patricia Lacerda do Amaral, Moisés Blödorn, Liliane Redu Knuth, Ivone dos Santos Marques, Raquel Coelho Tessmer, Carla Mantovani Furtado, Queli Rejane da Silva Konzgen, Marina Werhli Guterres, Paloma Schmechel Milech Romer, Sandra Mara Nunes Porto, Franciéle da Silva Ribeiro, Berenice Schug Dias Machado, Izabel Cristina Menegoni Nunes e Laís Blank Wachholz.

 

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Por Antônia Lúcia, Jéssica Almeida e Richard Günter
Fontes: Instituto Crescer Legal, Colégio Etapa e Nova Escola
Fotos: Banco de imagens gratuitas do Freepik.


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