Praia da Luz ilumina aula aberta

“O mundo é uma sala de aula, e, para aprender, é necessário olhar ao nosso redor.”


Já pensou em ter uma aula na praia? Não? Pois é, considere que, também lá, você pode aprender história, ciências, geografia, matemática, produção textual. Uma aula-passeio, bem ao estilo Céléstin Freinet (1896/1966). Este educador francês, no início do século XX, trouxe esta, e outras novidades, para dentro da escola, para que ela fizesse com que os alunos correlacionassem o conteúdo teórico com o seu entorno. Tal perspectiva foi adotada pela Escola Municipal Marinheiro Marcílio, do bairro de Itaúna, no município de São Gonçalo. Para muitos poderia ser uma “loucura”, mas esta iniciativa se mostrou um projeto pedagógico de rica motivação e aprendizagens.

A empreitada pedagógica, organizada pela escola, e que é a primeira de uma série, foi nominada de projeto Aula aberta. Iniciado no primeiro semestre deste ano, o trabalho tem por finalidade levar o processo pedagógico para fora dos “muros da escola”, “entendendo que o mundo é nossa sala de aula, e que, para aprender, é necessário, muitas vezes, olhar ao nosso redor, utilizando os próprios elementos oferecidos pela nossa realidade”, afirmou Cristina Brito Botelho, diretora-geral.

Com o tema gerador “Dia do Meio Ambiente” (6 de junho), a escola levou seus alunos para uma aula diferente, tendo como desdobramento a baía de Guanabara, o que possibilitou a abordagem de diversos assuntos. Entre eles, a formação geológica e a ocupação do território pelos chamados “povos dos sambaquis”. Também permitiu dialogar acerca de períodos da história brasileira após a chegada/invasão dos portugueses até a atualidade, com a poluição e o adensamento populacional caracterizando a região.

O locus escolhido para a primeira aula aberta foi a Praia da Luz, por conta de algumas especificidades. Ela se localiza na baía de Guanabara; é relativamente próxima da escola, portanto, bem conhecida como área de lazer da comunidade escolar; por ter ruínas de construções históricas (Capela de Nossa Senhora da Luz); abrigar espécimes da fauna e da flora brasileira; e, por, infelizmente, encontrar-se em péssimo estado de conservação, devido às toneladas de esgoto in natura despejadas em suas águas diariamente.

 

Planejamento

– Para realizar a aula aberta, os docentes definiram como objetivo principal fazer com que o conhecimento ficasse o mais compreensível possível para os discentes – “coisa que nem sempre conseguimos em uma sala de aula tradicional”, enfatizou Cristina, afirmando que dessa forma poderiam potencializar a abordagem multidisciplinar do problema em questão.

A partir daí, elaboraram um meticuloso roteiro – desde o horário de saída e retorno, até a duração de cada atividade proposta. Após a avaliação e aprovação dos docentes envolvidos, partiu-se para a segunda etapa. Cada professor do projeto deveria elaborar um plano de aula. Como argamassa dos trabalhos, a criatividade e parceria de todos. No percurso, explicações, esclarecimentos de possíveis dúvidas, recomendações, selfies e muita alegria.

A aula a céu aberto trouxe motivação e inúmeras aprendizagens para os alunos da Escola Municipal Marinheiro Marcílio

No campo

– O primeiro ponto de parada foi a história da Capela de Nossa Senhora da Luz, apresentada pelo professor José Leonardo, de História. Com um “toque” de guia turístico, ele aproveitou a oportunidade para abordar alguns aspectos sobre o surgimento do município de São Gonçalo e da história do Brasil.

Ao desembarcarem foram oferecidas atividades promovidas pelo professor de Ciências Carlos Augusto. Entre elas, a análise de material orgânico encontrado pelos alunos na areia da praia e uma gincana em que duplas se alternavam para ver quem coletava maior quantidade de lixo da baía (alguns bem peculiares). Este foi um dos muitos momentos de grande participação dos jovens. Claro, além da agitação da hora do almoço, oferecido pela D. Neuza Moreti, mãe da diretora adjunta Nubia Moreti.

A retomada das atividades, após breve descanso da refeição, foi uma aula de Geometria com o professor Josias Mutz, que utilizou a técnica de dobradura de sólidos geométricos para explicar alguns elementos matemáticos.

Ao desembarcarem foram oferecidas diversas atividades, como a análise de material orgânico encontrado pelos alunos na areia da praia

Já a professora de Português Adriana Cabral conquistou a seleta plateia com uma oficina de contação de histórias sobre Meio Ambiente. Aproveitando o clima, a docente de Produção Textual Lana Vladima lançou um concurso de redação, tendo como tema a própria “aula aberta”. As atividades pedagógicas foram encerradas pelo professor José Leonardo, que trabalhou questões sobre a formação geológica e histórica da baía de Guanabara, fornecendo dados mais atualizados sobre a degradação da região.

A finalização do encontro ao ar livre foi celebrada com um lanche coletivo para marcar a despedida de um dia prazeroso, com sabor de “quero mais” na boca e no imaginário de todos. Esta foi a sensação relatada pela aluna Evellyn Vitória, da turma 702, que afirmou ter gostado muito daquela vivência pedagógica: “Ainda mais se tratando de Ciências, que falou sobre a importância de cuidar do meio ambiente. Eu achei isso muito legal. Só um ponto me deixou triste: o fato de ter tanto lixo na praia, porque, em si, ela é maravilhosa!”.

Os estudantes participaram de gincana para ver quem coletava maior quantidade de lixo da baía, alguns bem peculiares

Esta visão foi reforçada pela colega Kethellin Cristina, que revelou nunca ter ido à Praia da Luz. “Foi uma experiência muito boa. Fizemos coleta de lixo, teve o almoço, lanchamos depois. Foi uma coisa positiva. Senti a natureza. Nós só temos que cuidar mais do meio ambiente”.

O professor de História e Geografia José Leonardo ressaltou que: “Experiências como essas são excelentes tanto para os alunos como para os professores”. Para ele, isso os impulsiona a “sair da mesmice que às vezes o sistema educacional nos impõe. A dinâmica é trabalhosa, porém muito prazerosa e recompensadora. Saímos revigorados”, concluiu.


Por Sandra Martins
Escola Municipal Marinheiro Marcílio
Estrada das Palmeiras, s/nº – Itaúna, São Gonçalo/RJ
CEP: 24475-002
Tel.: (21) 2614-4580
E-mail: nubiamoreti@gmail.com
Diretora-geral: Cristina Brito Botelho
Fotos cedidas pela escola


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