Na sua escola tem um imigrante?

Saiba como lidar com as barreiras das línguas dos alunos estrangeiros


Nos últimos dez anos, o Brasil recebeu centenas de imigrantes de acordo com a ONU. E neste reflexo, é muito provável que você tenha esbarrado com algum deles, seja na vizinhança, no trabalho, no comércio ou até mesmo na escola. Mas já parou para pensar que o maior problema na hora de recepcioná-los talvez esteja ligado diretamente à questão do diálogo? A dificuldade de comunicação possivelmente será um entrave quando um estrangeiro chegar na sua escola.

Com a vinda desses novos alunos, você vai se deparar com a barreira inicial da língua. Os menores, pela sua facilidade de aprendizagem e pela convivência diária com o idioma nas dinâmicas da escola, superam os obstáculos da comunicação logo nos meses iniciais, ou até nas semanas seguintes a sua chegada. Já os pais e responsáveis nem sempre se deparam com a mesma facilidade. Apesar disso, eles são peças essenciais para apoiar a aprendizagem dos estudantes, já que precisam recorrer à troca de informações sobre o desenvolvimento, comportamentos e situações dos alunos em relação ao ambiente escolar.

Mas antes de iniciarmos, precisamos responder uma questão que muito vem sendo feita e que seria interessante esclarecer de uma vez por todas. Os imigrantes têm o mesmo direito à educação que as pessoas nascidas no Brasil? A resposta é sim. E este é um dos benefícios assegurados pelo sistema educacional brasileiro. A nossa legislação, nos artigos 5º e 6º da Constituição Federal, nos artigos 53 e 55 do Estatuto da Criança e do Adolescente e nos artigos 2° e 3° da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), determina que os estrangeiros têm o mesmo direito de acesso à educação que as pessoas nascidas no Brasil. A recente Lei de Migração reforça essa garantia, e os artigos 43 e 44 da Lei dos Refugiados determinam que a falta de documentos não pode impedir o acesso à matrícula nas escolas.

Pensando na gestão escolar, separamos diversas atividades que professores estão aplicando com seus novos alunos ao se depararem com um imigrante em sala de aula.

Promova conhecimento da cultura do aluno estrangeiro e sinalize a situação do seu país de origem, como uma crise, um desastre ambiental ou ainda uma guerra civil. Essa ação enfatiza que a diversidade cultural tem que ser valorizada, respeitada e que temos muito a aprender com as diferenças. Programe oficinas de filosofia, teatro, coral e dança.

Não esqueça de aprimorar o ensino da língua estrangeira. Reforce as aulas de inglês e espanhol. Para isso você pode buscar parcerias com universidades, onde os alunos universitários de Letras podem promover palestras e aulões para introduzir a linguagem.

O bullying é uma prática comum entre as crianças na escola e, com a chegada dos estrangeiros, pode ficar mais evidenciada. Assim, discuta o conceito de empatia e estimule os alunos para que vivenciem na prática com os colegas.

Para que os estudantes se sintam acolhidos desde a sua chegada na escola, coloque sinalizações em outras línguas. Assim, eles têm um pouco mais de autonomia para se localizar no ambiente escolar.

Incentive o protagonismo dos alunos. Você pode promovê-los a tradutores junto aos colegas e aos pais no dia a dia escolar, tornando-os colaboradores essenciais para se estabelecer uma plena comunicação entre os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Essas atividades colaborativas ajudam a criar laços fortes e afetivos, proporcionando melhor trabalho em equipe, um apoiando o outro para enfrentarem as dificuldades.

 

Uma Construção Educacional Histórica

A Polícia Federal brasileira estima que haja cerca de 750 mil imigrantes no Brasil, o que representa um percentual de 0,04%, já que o nosso país tem aproximadamente 207 milhões de habitantes. Um aumento considerável de imigrantes se teve a partir das complicações civis relacionados a Haiti, Síria, Bolívia e Venezuela, este último estando ligado à vinda de mais de 60 mil pessoas.

A chegada em massa de venezuelanos nos últimos anos e uma decisão judicial que chegou a fechar a fronteira de Roraima com a Venezuela por algumas horas mostraram que houve picos de até 500 pessoas entrando por dia no Brasil. O governo federal calcula que a maioria dos que cruzaram nossas fronteiras nos últimos dois anos já foram embora. Ainda assim, os que seguem aqui representam uma quantidade significativa: até o final de 2018, mais de 11 mil já haviam conseguido residência e quase 33 mil pediram refúgio.

Diante desta realidade, a Escola Municipal Professor Waldir Garcia, na capital amazonense, teve um aumento na matrícula de alunos imigrantes. Grande parte deles vindos do Haiti, após o país ser parcialmente destruído por um terremoto, em 2010. Já em 2017, chegaram os venezuelanos. Hoje, dos mais de 200 alunos matriculados, 35 são estrangeiros, o que representa cerca de 17% da comunidade estudantil.

Nos anos iniciais do recebimento dos novos alunos, a diretora da Escola, Lúcia Cristina Cortez, que é professora de português e especialista em gestão escolar, revela que cometeu equívocos ao lecionar pra eles, pois o corpo docente era autoritário, conteudista, individualista, impessoal e com padrão rígido de avaliação e disciplina. A partir de 2016, foi então proposta a modificação da orientação pedagógica escolar. Assim, passaram a reescrever o projeto político-pedagógico para contemplar a missão, reconhecendo o novo corpo discente, dados sobre a aprendizagem, relações familiares, recursos, diretrizes pedagógicas e um plano de ação inclusivo. “Redefinimos nosso currículo. Passamos a promover uma gestão democrática e a educação integral. Nessa perspectiva, nossa escola valoriza as múltiplas dimensões do desenvolvimento humano, como também a promoção de diversidade de práticas, agentes, espaços e saberes”, relata Lúcia.

Através da implementação dessas ações inovadoras e transformadoras a escola passou a vivenciar a inclusão social e cultural, a escuta e o acolhimento das diferenças no espaço escolar numa perspectiva de diálogo intercultural. “Somos facilitadores entre os estudantes, respeitando suas individualidades, diferenças e identidades. Cumprimos nosso papel social, que é formar para autonomia e cidadania. Todos juntos aprendemos com as diferenças”, sintetiza a Diretora Lúcia.


Por Richard Günter
Fontes: Gestão Escolar | Nova Escola | Uol | Seeduc


Deixar comentário

Podemos ajudar?