Dominando a matemática com dominó

Entenda como o tradicional jogo de mesa foi adaptado para ser usado em sala de aula


No exercício da docência, problemas comuns como falta de concentração e de interesse, em especial no ensino de Matemática, são uma barreira a ser rompida a cada aula, já que os professores se deparam com uma grande dificuldade de explicar um conteúdo devido à falta de domínio em operações básicas de muitos dos alunos.

Diante deste cenário, aulas comuns apenas no quadro branco acabam sendo desinteressantes, fazendo-se necessária uma abordagem criativa e mais atrativa dos conteúdos, diversificando as aulas e os espaços de ensino aprendizagem (além da sala de aula comum), assim como as avaliações (além das tradicionais). Pensando nisso tudo, o professor Couto passou a abordar a temática através de jogos.

Se embasando em teorias de grandes autores como D’ambrosio e Smole, que afirmam que jogos bem planejados ajudam a desmistificar a matemática como sendo extremamente difícil e inalcançável, foi então proposto o projeto Dominando a matemática com dominó. “Apesar de se encontrar alguns já prontos e até existir um gerador de dominós no site “Só Matemática”, não foi encontrado nenhum que tivesse esse tema, então foi desenvolvido um outro, mais bem detalhado, que tivesse a mesma lógica de um dominó comum e que contemplasse o conteúdo abordado”, explica o professor.

Assim, o objetivo proposto foi explorar os gráficos de forma precisa, prática e ágil, através do uso de software de geometria dinâmica chamado Geogebra, para que se pudesse investir menos tempo em processos manuais, que apesar de necessários podiam demandar muito tempo sem apoio tecnológico. Além disso, utilizar o dominó para trabalhar em equipe e de forma lúdica com estímulo ao compartilhamento do aprendizado, atendendo conforme currículo mínimo da Seeduc-RJ.

Numa primeira aula, ao invés de expor diretamente a lei de formação de uma função do 2º grau, foi apresentada uma situação-problema que envolve área, levando os alunos a uma abordagem que demandaria, além de cálculos, a modelagem de um problema, no qual se verificou uma função e em seguida uma equação do 2º grau.

Numa sondagem inicial, para detectar como a turma estava, foi aplicada uma avaliação oral, com uso do Geogebra no celular do aluno e com apoio do laptop do professor, na qual era dada uma função para o estudante gerar o gráfico no seu próprio aparelho e, logo após, gerar no laptop do professor um outro gráfico a partir de um arquivo criado no programa. Variando aleatoriamente os coeficientes a, b e c da função do 2º grau, apenas um aluno por vez visualizava o gráfico, tendo orientações na mesma hora e aprendendo com os erros, respondendo algumas perguntas, como: A concavidade é voltada para cima ou para baixo (“justifique pelo coeficiente a ser positivo ou negativo”)?; O vértice é ponto de máximo ou mínimo (“justifique pela concavidade”)?; Quantas são as raízes (“justifique pelo delta ser positivo, nulo ou negativo”)?; Qual o valor do coeficiente c (“justifique sinalizando por qual dos eixos podemos observar isso”)?

De acordo com o professor, foi percebido que alguns alunos ainda tinham um pouco de dificuldade e assim foi buscada uma outra abordagem para tentar melhorar o aprendizado deles. “Pensamos em fazer uma adaptação de um dominó para o tema função do 2° grau. A ideia serviu também para atender a um dos instrumentos de avaliação que se enquadra na proposta da Seeduc-RJ, de acordo com o cardápio do projeto Matemática 360º”, ratifica o professor.

O professor criou as peças em arquivo de word, para que fosse impresso de forma facilitadora

Planejamento e criação das peças

Este jogo pode ser aplicado facilmente em qualquer sala de aula. O professor disponibilizou o arquivo em pdf para download em nosso site. Acesse: www.appai.org.br

Nesse dominó, as coisas foram pensadas de maneira que a ponta de uma peça, referente a uma função, possa ser ligada/associada a qualquer ponta de peça referente à mesma função e que não pudesse ser ligada/associada a uma ponta de peça de outra função, equivalente ao que ocorre no dominó comum, em que não podemos ligar pontas de peças com números diferentes.

Foram consideradas informações variadas: lei de formação da função do 2º grau (relação da variável y com a variável x), gráfico (parábola), concavidade, raízes e as quantidades de acordo com o delta, vértice, eixo de simetria, valor máximo/mínimo da função e coeficiente c (relacionando a interseção da parábola com o eixo y).

Para facilitar a adaptação de novos temas, foi preparado um arquivo modelo para dominó de 36 peças e um outro para um jogo de 28 peças, onde temos as planilhas “montagem” e “impressão”, já dimensionadas de modo a ter um bom tamanho para a peça final do dominó e obtendo um satisfatório aproveitamento da folha a ser impressa.

Faça aqui o download do Jogo de Dominó em PDF

Como jogar

Apresenta praticamente as mesmas regras de um dominó comum, mas para encaixar as peças as pontas devem ter pelo menos uma informação que confere e não pode ter informação que diverge.

Para um melhor reconhecimento das peças do dominó, com todas elas expostas juntas e embaralhadas, é preciso escolher uma função e separar todas as peças contendo informações desta mesma função. Assim, temos que ter 8 peças, sendo uma delas o gabão. Depois misturar e escolher outra função e repetir o processo até fazer com todas as funções.

O gabão é aquela peça que tem informações da mesma função, e que foi padronizada com a lei de formação na parte de cima e seu respectivo gráfico na parte de baixo.

É sugerido que participem 4 jogadores e cada um fique com 9 peças, ou então 6 jogadores e cada um com 6 peças, mas que todas as peças de todos os jogadores fiquem expostas para que todos possam visualizar e se ajudar, pois não se trata exatamente de uma competição, mas de um aprendizado colaborativo.

Antes de iniciar o jogo, solicite a cada um dos jogadores que identifique os gabões que possui (temos que ter 8 gabões no total) e depois sortear uma função para começar pelo seu.

É interessante que o professor e os alunos utilizem o Geogebra no celular e no computador, realizando também uma apresentação num projetor, se possível.

Uma dinâmica de aprendizagem

Durante muito tempo, a matemática foi transmitida de forma que os alunos passaram a ficar apreensivos, com receio da disciplina, e ainda hoje é visível este desânimo quanto ao tema em grande parte dos estudantes. Mas com exemplos positivos iguais ao do professor Gleydson, certamente essa visão tende a mudar. “A abordagem de conteúdos através do dominó, por exemplo, é viável e permite um aprendizado de forma lúdica e em equipe. Esse projeto deu tão certo que o mesmo material será reproduzido também no Laboratório de Matemática do polo Cederj CGR, servindo de apoio aos alunos do curso de Matemática EAD/UFF/Cederj”, conclui o professor.


Por Richard Günter
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Coordenador do projeto: Gleydson José Bianquini Couto
Diretora da escola: Vanusa Gloria Cruz Baptista
Fotos cedidas pela escola


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