Professor, mais fundamental do que nunca


Que o analfabetismo equivale a uma praga mundial ninguém tem dúvida. Aliás, difícil imaginar que num mundo como o de hoje, onde criações tecnológicas cada vez ocupam mais espaço na vida das pessoas, ainda haja tantos analfabetos. No Brasil, por exemplo, são aproximadamente 15 milhões de pessoas, mais do que a população do Uruguai e da Bolívia somados. Apesar disso, pouco se para pra pensar no que a carência de um bem tão precioso representa na vida de quem acaba privado de poder exercitar a escrita e a leitura.

Segundo uma pesquisa realizada pela Unesco em 2017, quase 800 milhões de pessoas no planeta não aprenderam a dominar nem os mais básicos mecanismos de leitura e escrita. Pessoas que, além de não terem acesso a boa parte das conquistas materiais da humanidade, ainda ficam comprometidas em sua capacidade de aprender, já que o domínio de leitura e escrita é ponto de partida para a maior parte dos aprendizados.

O que nos dá alguma esperança com relação a uma melhora desse quadro é o fato de que uma porcentagem menor desse número é composta de jovens entre 15 e 24 anos. Ou seja, a grande maioria dos analfabetos pertence ao grupo de adultos que não tiveram chance de aprender a ler ou que aprenderam a viver com as limitações impostas por essa condição. A incidência menor de jovens entre analfabetos, por outro lado, significa que de um modo geral os governos têm se preocupado mais do que no passado em erradicar essa triste condição.

No Brasil, os números do analfabetismo deixam bem claro os prejuízos para a vida de quem se encontra nesse grupo. Pesquisas realizadas a partir de dados do Censo educacional brasileiro estabeleceram alguns critérios sociais para determinar qual o impacto da carência de leitura e escrita na vida das pessoas. O primeiro deles é o de qualidade de vida, e revela que os adultos alfabetizados apresentam 77% de chances de desfrutar de condições ao menos razoáveis de vida contra apenas 43% daqueles que não sabem ler nem escrever.

A saúde também é impactada pelo analfabetismo. A pesquisa mostrou que o acesso ou a consciência, por exemplo, da necessidade de evitar o sedentarismo tende a ser bem mais presente nos indivíduos letrados do que nos analfabetos. O resultado disso é que os primeiros apresentam 67% de chances de desfrutar de uma boa saúde em torno dos 35 anos de idade, enquanto a porcentagem para aqueles que não se alfabetizaram não passa de 55%.

Outro ponto onde a presença do analfabetismo é alarmante tem a ver com os rendimentos do trabalho. A chance de alfabetizados obterem um emprego formal, de carteira assinada, é de 71%, caindo para não mais que 45% para aqueles que não sabem ler e escrever. A renda per capta familiar também reflete esse resultado, pois famílias chefiadas ou com presença de trabalhadores analfabetos auferem a metade do rendimento daquelas que apresentam escolaridade, ainda que mínima.

Mas o pior de tudo é o aspecto “hereditário” do analfabetismo. Os números revelam que a chance de um filho de pais analfabetos terminar o ensino médio com apenas um ano de atraso é de meros 38%, contra 69% dos alfabetizados. Ou seja, a maior parte dos que herdam um quadro de analfabetismo familiar tendem a prorrogar o tempo na escola, um fator que está entre aqueles que costumam influir na decisão de abandonar os estudos.

Diante desses números ainda bem preocupantes para que o país possa atingir um nível de qualidade de vida satisfatório, se destacam, além das ações que competem a todos os governos, a atividade de entes da sociedade que resolvem trabalhar para reduzir o analfabetismo. A Appai está entre esses muitos colaboradores voltados para erradicar esse problema, oferecendo oportunidades de qualificação principalmente aos educadores que atuam na difícil e importante tarefa de alfabetizar.

Tanto na educação a distância quanto na presencial, o programa de educação continuada da Appai oferece vários cursos e oficinas direcionados para a formação dos professores, com valiosas observações a respeito de aspectos pedagógicos, cognitivos, sociais e humanos envolvidos no processo de alfabetização. E isso com a orientação de profissionais gabaritados, que têm dedicado sua formação acadêmica a adquirir conhecimento sobre a arte de ensinar a ler e escrever.

Talvez seja desnecessário mencionar a importância dos professores nesse projeto de erradicar o analfabetismo em nosso país. É verdade que precisaremos de um esforço integrado, que envolva todos os setores da sociedade, dos órgãos governamentais às instituições sociais, inclusive do mundo globalizado. Mas seja qual for o tipo de esforço que se faça para atingir esse objetivo, ele nunca poderá prescindir da presença e da qualificação do professor.

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Por Sandro Gomes | Professor, escritor, mestre em literatura brasileira e revisor da Revista Appai Educar.


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