Cidade-esponja: uma iniciativa que você precisa conhecer, professor.


O que pode ser feito neste sentido no Brasil para neutralizar as cada vez mais constantes e devastadoras tempestades que vem afetando as cidades pelas mudanças climáticas e o efeito estufa? O conceito é novo, porém o princípio é simples e antigo. É só retornar ao que a sábia natureza projetou e nós destruímos com o que chamamos de urbanização.

Para a maioria das cidades – desenvolvimento é quase sinônimo de desmatar, derrubar, asfaltar, cimentar, alterar relevos, canalizar rios, aterrar lagoas e beiras de mar. Já as cidades-esponjas, como o nome já indica, consistem em reimplantar nos espaços urbanos áreas que suguem ou absorvam boa parte da água durante seu percurso pelo solo para que já chegue em menor quantidade aos rios e siga seu curso natural para o mar.

Ou seja, é um retrocesso positivo a permeabilidade natural que fomos eliminando com chamada “urbanidade”.

Essa necessária olhada pelo retrovisor ganha ainda mais urgência com o aumento da quantidade e incidência com que as chuvas estão castigando as cidades – inegáveis consequências colaterais das mudanças climáticas e do efeito estufa. São grandes áreas de alagamentos com fortes transtornos urbanos, sendo algumas ainda agravadas com registros de mortes, desabrigados, desabamentos, desmoronamentos de barreiras e encostas… Somente neste ano já foram incontáveis enchentes, inclusive reincidentes em grandes centros, principalmente na maior capital do país, São Paulo.

É claro que não temos como derrubar ou remodelar tudo para voltarmos ao período “pré-urbanização” para que possamos corrigir os erros, refazendo em um modelo sustentável! Seria uma utopia! Mas muitas medidas simples  podem fazer a diferença.

Algumas cidades da China já estão bem próximas disso. Afinal, para quem consegue construir um hospital inteiro em poucas horas por conta do Coronavírus, não é nada impossível! Num nível menos avançado, mas já fazendo seu dever de casa, registramos também ações em Berlim, Copenhague e Nova York.

Embora o modelo-esponja seja complexo, existem medidas deste pacote mais simples e baratas. Basta vontade política para tal.

Ninguém consegue imaginar que as expressas avenidas marginais de São Paulo sejam desativadas para que as laterais dos rios voltem a ter sua função de alargar as bordas para absorver uma quantidade maior de água em períodos de chuvas.

Também inconcebível que o Rio de Janeiro derrube sua “selva de pedra” para abrir caminhos naturais para o escoamento em direção ao mar.

 

Que Brasília “desasfalte” suas ruas ou Belo Horizonte seja deslocada para permitir a melhor fluência de sua topografia. Porém medidas menos complexas já podem gerar grandes efeitos:

    • Por que não dar descontos aos proprietários de terrenos cimentados que retornarem ao chão de terra ou grama?
    • Por que não aliviar o IPTU de quem plantar jardins e hortas no teto, os chamados telhados verdes?
    • Por que não incluir nos processos licitatórios das concessionárias o uso de asfaltos e calçamentos porosos para substituir os impermeáveis conforme estes forem desgastando?
    • Por que não investirmos em praças verdes nos espaços urbanos ainda vazios ou criarmos concursos entre os moradores por quintais ajardinados?
    • Por que não reflorestarmos encostas e morros?

 

Outras medidas já cotidianas que podem ser enquadradas no formato esponja

  • As novas quadras esportivas deveriam ser em baixo-relevo para servirem de reservatórios quando chover muito;
  • As pistas de skates, pelo seu formato original, podem com uma simples alteração; virar bacias armazenadoras aplicáveis em períodos extremos.

Essas são sugestões perfeitamente aplicáveis nas cidades brasileiras. Porém, outras mais complexas também podem ser implantadas com mais recursos financeiros e tecnologia.

 

Veja o que já foi feito por aí

Jardins de Chuva – criá-los em vários pontos num declive. Em dias comuns são áreas verdes ou de lazer e durante as tempestades funcionam como reservatórios.

Parques Alagáveis – fazendo uma analogia, espaços verdes artificiais que funcionam como a nossa Amazônia ou Pantanal. Abrigam água em períodos de cheia.

Parques Manguezais – um conceito ampliado dos alagáveis, recriando esses espaços naturais.

Abertura de Caminhos – alargamentos e derrubadas de entraves humanos que atrapalham os percursos naturais destruídos.

 

Como surgiu o modelo-esponja?

Após uma tempestade em 2012, que arrasou e alagou Pequim e contabilizou mais de 80 mortes, turistas começaram a reparar que a histórica “Cidade Proibida”, erguida há centenas de anos, ficou completamente seca. Foram pesquisar e chegaram a conclusão de que esse fenômeno ocorreu pelo ainda operante sistema de drenagem original, já naquela época, construído no modelo que hoje estamos chamando de cidades esponjosas.

 

Veja de que forma a China reinventou a drenagem-esponjosa

As primeiras experiências modernas foram realizadas nas cidades de Taizhou e Jinhua, onde radicalmente a urbanização foi readequada com derrubadas de muros, diminuição da concretagem e asfaltamento, desmontagem de canalizações de rios, recuperação de declives do relevo e outras medidas de “desurbanizações”.

Embora, essa mobilização radical não possa ser feita da mesma forma nas demais cidades, boa parte dos conceitos e experiências estão sendo replicados em outras regiões chinesas.

 


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