Do clique à consciência

Quando a Inteligência Artificial se torna aliada da aprendizagem crítica


Com sensibilidade e propósito, o professor Eduardo Inez, do Colégio Estadual Alexander Graham Bell, em Duque de Caxias, vem mostrando que a tecnologia pode ser uma ponte entre a alfabetização digital e o pensamento crítico, e não um atalho.  

Docente de Língua Estrangeira (espanhol) e de Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização e Letramento, Eduardo também ministra Letramento Digital no Ciep Etec 035 Marechal Henrique Teixeira Lott. Em suas aulas, a Inteligência Artificial (IA) é mais do que uma ferramenta, é um campo fértil para o exercício da autoria, da ética e da curiosidade. 

 

Blog como sala de aula 

No último trimestre, o professor desenvolveu com as turmas do 7º, 8º e 9º anos um projeto interdisciplinar intitulado Ondas de calor e mudanças climáticas. A proposta desafiou os estudantes a compreender como o aquecimento global afeta diferentes setores da sociedade e a relacionar o tema aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU. 

“Usamos o ChatGPT, o Sora e o Gemini para produzir textos e imagens, além do Blogger, do Google, para publicar o resultado das produções”, explica o professor. A sequência didática foi estruturada em quatro etapas, pesquisa, redação de textos dissertativos, ilustração com imagens criadas por IA e transformação do conteúdo em hipertextos multimodais dentro da plataforma. 

Mais do que aprender a usar ferramentas, os alunos foram convidados a refletir sobre o uso ético e responsável da tecnologia. “A cada passo, reforçávamos a importância de checar as informações e recorrer a fontes seguras, artigos científicos, livros e professores. A IA é apoio, não substituto do pensamento crítico”, destaca Eduardo. 

 

Entre algoritmos e afeto

O projeto revelou uma verdade que ultrapassa a dimensão tecnológica, já que formar leitores e escritores digitais ainda é um desafio. “Encontramos muitos obstáculos, desde o simples ato de recuperar uma senha até compreender os gêneros textuais que compõem um blog”, relata Eduardo. “Há um mito de que essa geração é naturalmente fluente digital, mas muitos estudantes ainda não dominam comandos básicos ou não sabem formular boas perguntas às IAs”, revela. 

Mas com paciência e orientação, o cenário mudou, pontua o professor. “Foi emocionante ver o brilho nos olhos dos alunos quando perceberam que aquele conteúdo publicado era fruto de suas próprias ideias. Eles se tornaram protagonistas da produção e não meros consumidores de tecnologia”, frisa. 

 

Estrutura que sustenta a inovação

Eduardo ressalta que experiências como essa só se concretizam quando há infraestrutura adequada, planejamento didático consistente e tempo pedagógico ampliado. “São necessários equipamentos, internet estável e, principalmente, uma carga horária que permita o aprofundamento. Trabalhar com cultura digital exige de quatro a seis tempos de aula semanais para que a aprendizagem seja realmente significativa”, observa. 

Ele também reforça que inovar requer mais do que acesso, exige intencionalidade pedagógica e a capacidade de transformar o uso da tecnologia em experiência formativa. 

 

Ensinar a pensar: o papel insubstituível do professor

Doutorando em Humanidades e Artes, com menção em Educação pela Universidade Nacional de Rosario (Argentina) e mestre em Ciências da Educação pela Fics (Paraguai), Eduardo Inez defende uma educação que una tecnologia, ética e humanização. “Inteligência Artificial é ferramenta. O professor é quem dá sentido a ela”, afirma. “É o olhar humano que garante o aprendizado, o vínculo e a formação ética dos estudantes”. 

Entre algoritmos, textos e descobertas, sua prática reafirma um princípio essencial, de que educar na era digital é, antes de tudo, ensinar a pensar. Porque, diante de tantas telas, é o olhar humano que ancora o sentido, e é nele que a consciência se acende. Na escola conectada de hoje, o clique pode até iniciar o processo, mas é a escuta, o diálogo e a intencionalidade docente que o transformam em aprendizagem viva. 


Por Antônia Figueiredo  

 

Colégio Estadual Alexander Graham Bell  

Rua Santa Rita, s/nº – Jardim Primavera – Duque de Caxias/RJ 

CEP: 25212-360 

Fotos banco de imagem 


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