Dia Mundial do TDAH

Por Richard Munhoz*


O Dia Mundial do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), celebrado anualmente em 13 de julho, é mais do que uma efeméride: é uma oportunidade crítica para promover uma reflexão científica, social e educacional sobre um dos transtornos neurobiológicos mais estudados, porém ainda frequentemente negligenciados, no ambiente escolar contemporâneo. 

O TDAH é caracterizado por sintomas persistentes de desatenção, impulsividade e hiperatividade, com início precoce e impacto significativo no funcionamento acadêmico e social do indivíduo. Segundo a literatura especializada, sua etiologia está ligada a alterações neurofuncionais, principalmente nas regiões frontais do cérebro, relacionadas ao controle inibitório, planejamento e regulação da atenção, aspectos intensamente mobilizados no contexto escolar. 

A relevância da data de 13 de julho reside justamente na necessidade de ampliar a visibilidade sobre o TDAH, desconstruindo estigmas e fomentando políticas de inclusão. Este marco simbólico convida educadores, gestores escolares, famílias e profissionais da saúde e educação a romperem com paradigmas reducionistas que ainda veem o TDAH como sinônimo de indisciplina ou déficit moral. Como aponta a psicopedagogia crítica, a aprendizagem não pode ser reduzida à performance comportamental, mas deve ser compreendida em sua totalidade biopsicossocial. 

Do ponto de vista psicopedagógico, é essencial reconhecer que o TDAH impacta a construção do conhecimento de forma transversal. A criança com TDAH pode apresentar dificuldades na permanência atencional, no seguimento de instruções, na organização de materiais e tarefas, além de oscilações na motivação intrínseca. Esses fatores não indicam desinteresse ou preguiça, mas sim uma condição neuropsicológica que exige estratégias específicas de ensino e manejo pedagógico. É nesse cenário que a atuação do psicopedagogo torna-se estratégica: seu olhar clínico-educacional, aliado ao compromisso ético com o sujeito em desenvolvimento, pode transformar a queixa escolar em ponto de partida para uma intervenção personalizada. 

Já sob a ótica da neuropsicopedagogia, campo interdisciplinar que integra conhecimentos da neurociência, psicologia e pedagogia, compreendemos que o cérebro da criança com TDAH opera de modo distinto em termos de autorregulação e funcionamento executivo. Pesquisas em neuroimagem funcional evidenciam alterações na conectividade entre o córtex pré-frontal e outras regiões subcorticais, sugerindo um padrão de maturação cerebral mais lento. Tais achados reforçam a necessidade de práticas pedagógicas adaptadas, que considerem tempos diferenciados de processamento, atividades multissensoriais, intervalos estratégicos e uso de tecnologias assistivas. 

O ambiente escolar, portanto, precisa ser ressignificado como espaço de acolhimento e desenvolvimento de competências, e não de punição à diferença. A gestão escolar tem papel central na construção de um ecossistema educativo inclusivo, que promova formação continuada de docentes, políticas institucionais claras de atendimento à diversidade e articulação com equipes multidisciplinares. A inclusão, neste caso, não pode ser um slogan, mas um compromisso metodológico e epistemológico. 

Neste contexto, o Dia Mundial do TDAH nos convida a olhar para a escola como um território de subjetividades, onde cada aluno é um universo a ser desvendado. Freud nos alertava para o poder do recalque social sobre as manifestações do sujeito; Jung, por sua vez, nos chamava à atenção para os símbolos e as individualidades que compõem a psique. À luz dessas contribuições e amparados pelos avanços da neurociência, é imperativo que a escola se torne um espaço de escuta ativa e respeito às singularidades cognitivas. 

Concluímos, portanto, que celebrar o 13 de julho é mais do que reconhecer a existência do TDAH — é validar o direito ao aprender, ao pertencer e ao ser de milhares de crianças e adolescentes que, mesmo em silêncio, clamam por compreensão e suporte. Que este dia nos inspire a sair da zona de conforto institucional e assumir, com coragem e empatia, a missão de ensinar à altura das necessidades de cada sujeito. 


* Richard Munhoz é psicanalista clínico e infantil, psicopedagogo, neuropsicopedagogo, Mestre e Doutor em Ciências Médicas.  Autor do livro “Análise e Interpretação dos Desenhos. Utilização dos testes projetivos nas clínicas psicanalítica e psicopedagógica”. 


Deixar comentário