A superproteção de alunos com deficiência no ambiente escolar

Por Emílio Figueira*


A inclusão de pessoas com deficiência no ambiente escolar é um tema amplamente discutido e de extrema importância para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. No entanto, a prática de superproteção desses alunos pode resultar em consequências negativas tanto para eles quanto para os demais estudantes, prejudicando o desenvolvimento daqueles com deficiência, afetar sua integração com os colegas e impedir que todos aprendam e se beneficiem da diversidade. 

 

O impacto da superproteção no desenvolvimento social e acadêmico

Em sala de aula, se um aluno com deficiência é constantemente poupado de apresentações orais ou atividades em grupo, ele pode perder oportunidades valiosas de aprimorar suas habilidades de comunicação e de socialização. Essas atividades não são apenas componentes do currículo escolar, mas também são fundamentais para o desenvolvimento de competências essenciais para a vida adulta e profissional. 

A apresentação oral é uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento das habilidades de comunicação. Quando um aluno com deficiência é impedido de participar dessas atividades, ele não tem a chance de praticar e melhorar sua capacidade de falar em público, expressar suas ideias de forma clara e coerente, e responder a perguntas ou feedbacks de seus colegas e professores. A comunicação eficaz é uma habilidade crucial no mercado de trabalho e na vida pessoal, e a falta de prática pode colocar esses alunos em desvantagem significativa. 

As atividades em grupo proporcionam um ambiente onde os alunos podem aprender a colaborar, negociar e resolver conflitos. Para pessoas com deficiência, essas experiências são ainda mais importantes, pois podem enfrentar desafios adicionais na socialização. A exclusão dessas atividades leva ao isolamento social e à falta de habilidades necessárias para interações positivas com os outros. Essas tarefas em grupo são uma oportunidade para os colegas de classe aprenderem sobre as diferentes capacidades e perspectivas, promovendo um ambiente de maior empatia e compreensão. 

Em longo prazo, a superproteção pode limitar as oportunidades de integração social e profissional dos alunos com deficiência. No contexto social, a falta de habilidades de comunicação e socialização pode dificultar a formação de amizades e redes de apoio, essenciais para o bem-estar emocional e psicológico. No ambiente profissional, a ausência de experiências práticas com apresentações e trabalho em equipe resulta em dificuldades para colaborar com colegas, apresentar ideias e assumir responsabilidades que envolvam liderança ou comunicação direta. 

A superproteção também interfere no desenvolvimento da autonomia. Quando alunos com deficiência são poupados de atividades desafiadoras, eles correm o risco de desenvolver uma dependência excessiva de pais, professores ou colegas. Isso impede que eles adquiram a confiança necessária para enfrentar dificuldades por conta própria, tomar decisões e assumir a responsabilidade por suas ações. A autonomia é uma competência fundamental para a independência na vida adulta e sua falta perpetuam ciclos de dependência e limitação. 

A escola é um microcosmo da sociedade, e as habilidades desenvolvidas nesse ambiente são cruciais para a transição para a vida adulta. Alunos que não têm a oportunidade de praticar e desenvolver tais recursos em um ambiente seguro e de apoio podem enfrentar desafios significativos ao entrarem no mundo adulto. A falta de preparo levará a dificuldades na busca de emprego, manutenção de um trabalho e integração em diferentes contextos sociais. 

 

Integração, inclusão no ambiente escolar e estratégias para evitar a superproteção

A verdadeira inclusão significa que todos os alunos, independentemente de suas habilidades, têm a oportunidade de participar ativamente e aprender uns com os outros. Isso promove um ambiente de aceitação, respeito e compreensão mútua. 

A diversidade em sala de aula é benéfica não apenas para as pessoas com deficiência, mas para todos os alunos. Ela promove a empatia, a cooperação e a compreensão das diferenças, preparando os estudantes para viver e trabalhar em uma sociedade diversificada. A interação com colegas com variadas habilidades pode enriquecer a experiência de aprendizado, proporcionando diferentes perspectivas e métodos de resolução de problemas. 

Em vez de superproteger, os educadores podem fazer adaptações razoáveis que permitam que os alunos com deficiência participem plenamente sem serem isolados ou excluídos. Isso inclui o uso de tecnologias assistivas, ajustes no ambiente físico ou modificação de tarefas, mantendo o equilíbrio entre suporte e autonomia. É essencial que os professores e demais profissionais da educação recebam formação continuada sobre como apoiar adequadamente alunos com deficiência. Isso inclui entender as diversas necessidades e como promover a autonomia e o desenvolvimento de cada estudante de forma equilibrada. 


*Emílio Figueira é jornalista, psicólogo e doutor em psicanálise. Entre os livros lançados está “Psicologia e inclusão – intervenções psicológicas em pessoas com deficiência” (Wak Editora). 


Deixar comentário

Podemos ajudar?