Prática de escrita: atividades para pensar e escrever
Por Sérgio Simka e Cida Simka*
A escrita sempre foi e sempre será fator essencial na existência de qualquer ser humano. Ela representa a porta de entrada de oportunidades para que se viva mais dignamente, e a de saída de pessoas conscientes da transformação que ela proporciona, seja no aspecto intelectual, pessoal, profissional ou social, além de ser facilitadora para se conviver melhor em sociedade. E não há como dissociar a escrita da leitura, recurso igualmente primordial para o despertar do pensamento crítico, possibilitando ao cidadão exercer a sua capacidade de analisar e refletir sobre os mais diversos assuntos e, assim, adquirir autonomia para a tomada de decisões e o protagonismo do próprio existir.
É na escola que o aluno tem, geralmente, o primeiro contato com a escrita e com a leitura. Daí a importância do trabalho do professor, que pode contribuir para o aumento da autoestima textual do estudante, ao proporcionar-lhe atividades de escrita que, ancoradas em uma visão fraterna, resultarão no aperfeiçoamento de sua vida do ponto de vista humano, com clara melhoria na dimensão discursivo-textual, pois ele passará a acreditar em si mesmo e em seu potencial para redigir textos.
Não obstante as iniciativas bem-sucedidas por parte de professores e os avanços percebidos, ainda persistem os calafrios no quadro ensino-aprendizagem, quando o aluno precisa fazer uma redação, ou mesmo fora dele, ao preencher uma ficha de emprego, para justificar o porquê de ser merecedor de determinada vaga. Essa insegurança, ou medo, decorre das aulas nas quais a produção de texto é vista como um produto, em que o aluno se sente intimado a escrever um conteúdo, a ser entregue ao final dos 45 ou 50 minutos de aula, sem que ele domine a sequência de um texto ou possua conhecimento que o habilite a escrever algo de forma segura.
Agindo-se dessa forma não há como se indignar diante do fato de que um em cada dez brasileiros com 15 anos ou mais não sabe ler e escrever, conforme a pesquisa do Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf Brasil), realizada em 2018. Nem se abalar com a informação de que 95.788 estudantes zeraram a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2021, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2022), com 43.391 redações entregues em branco.
Mas há esperança de mudar essa realidade? Sempre. Nós, os professores, não devemos desistir jamais. No intuito de contribuir com nossos colegas de sala de aula, sugerimos três atividades para despertar o interesse do aluno pela escrita, lembrando que, no início desse processo, é indispensável mostrar a ele que, para ser escritor, é necessário ser um exímio observador do cotidiano. Enxergar o que os comuns não veem. Enxergar aquela rosa no meio do asfalto, o azul onde há apenas amarelo, a solidão onde há pessoas passando, ouvir o som do silêncio, o som do seu choro […].
Vamos às atividades.
1. Olhos de positividade
Essa atividade ajudará a despertar no aluno o senso de observação, auxiliando-o a dar aos acontecimentos o significado que desejar, mas exigirá do mestre muita dedicação, já que terá de devolvê-la ao discente com as suas considerações, elogiando sempre a iniciativa.
Peça que escreva, diariamente, durante 15 dias, a respeito de situações com as quais se deparar na escola, no lar, com amigos etc.
Exemplo:
. Situação: No dia 10 de abril, presenciei uma briga de trânsito quando me dirigia à escola.
. Aprendizado: Devemos praticar a paciência quando dirigimos, a fim de evitar confusões, e, acima de tudo, cumprir as leis de trânsito.
O exercício poderá ser repetido sempre que o professor achar necessário retomar a atividade de observação, instrumento valioso para o olhar diferenciado do escritor que estará surgindo. O ideal é que, com o passar do tempo, ele aprenda a não ser tão sucinto nas palavras, conforme o exemplo acima.
2. Criatividade
Além de o professor procurar, constantemente, escritores, precisa estimular a criatividade e a autoestima de seu aluno, enxergando-o como um ser humano único.
Peça que imagine, em um cenário futuro, que terá feito algo tão extraordinário, alguma coisa absolutamente inusitada, que aparecerá em todas as emissoras de televisão e nos telejornais. Solicite que escreva os fatos.
Faça-o entender que sua história vale muito mais do que uma nota.
3. Autoestima Textual
Independentemente de qual seja a metodologia, para que o processo de ensino-aprendizagem tenha êxito, necessário se faz que ela contribua para a mudança interior do aluno e o desenvolvimento de suas potencialidades, sendo a autoestima textual uma delas. Ele escreverá tão somente quando acreditar que é capaz. E praticando.
Peça para que faça o seguinte exercício:
Idealizar uma casa abandonada, que as más línguas dizem ser mal-assombrada. Como não acredita em fantasmas e é superdestemido, quase um Batman, resolve explorá-la para depois contar, por escrito, a sua história. Incentive-o a imaginar-se parado em frente à porta, após ter entrado pelo portão de ferro enferrujado, andado pelo jardim, com mato até o joelho. Ao abrir a porta, que não estava trancada, e antes de dar o primeiro passo, ouve um barulho vindo do interior da residência e… E, a partir daí, deverá imaginar: o que aconteceu? Que barulho era aquele? Que vozes eram aquelas? Vozes? Sim, para incrementar a história poderá contar que, além do barulho, escutou vozes.
Sugerir roteiros é uma boa iniciativa para despertar a criatividade do aluno, até que ele adquira autonomia para caminhar sozinho. O professor, ao adotar uma postura que incentive a escrita, ajudará a libertar o escritor que existe em cada um de seus alunos, e eles, por sua vez, reproduzirão essa ação com todos a sua volta.
*Cida Simka é professora e escritora. Sérgio Simka é Mestre e Doutor em Língua Portuguesa. São autores dos livros “O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática” e “Prática de escrita: atividades para pensar e escrever”
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