Memes para aprender
Diante da vastidão de informações disponíveis no ciberespaço, a professora transformou narrativas digitais em aliadas no ensino de História
O que muitos docentes veem como um desafio, Cíntia Beñák, professora do Colégio Estadual Raymundo Correia, em Queimados (RJ), e do Instituto de Educação Santo Antônio, em Nova Iguaçu, transformou o ensino de História em um poderoso aliado. A internet, e mais especificamente os memes, tornaram-se a base de uma metodologia inovadora que une aprendizado e engajamento nas aulas. A ideia nasceu durante a pós-graduação na UFRJ, quando Cíntia desenvolveu uma pesquisa sobre a aprendizagem histórica a partir de memes com a temática do imperialismo europeu. “No mestrado, aprofundei o estudo desse gênero textual, com o objetivo de promover aprendizagens históricas significativas para os alunos”, explica a professora.
Cíntia destaca, no entanto, uma preocupação: a dificuldade que muitos jovens enfrentam para lidar de forma crítica com a avalanche de informações a que estão expostos diariamente. O hábito de salvar e compartilhar conteúdo sem checar sua veracidade tem contribuído para a disseminação de desinformação e fake news. Por isso, a metodologia com memes também busca incentivar uma postura mais reflexiva e criteriosa frente ao consumo de informações.
O papel dos memes no letramento
Memes usados em aula
Toda essa criatividade tem sido trabalhada com os alunos do Fundamental II e do Ensino Médio dos colégios em que a professora leciona, visando ampliar o olhar dos educandos a respeito da contextualização dos muitos fatos históricos estudados em sala de aula. Cíntia cita alguns eixos norteadores do projeto, que vão desde investigar a função dos memes como registros históricos e sua influência na memória coletiva – passando pela análise da representação de temas sensíveis e como eles impactam a percepção pública de eventos históricos e sociais – até estudar o papel desse tipo de expressão na mediação de debates sobre questões complexas, como violência, racismo, feminicídio, machismo e desigualdades de gêneros.
Outros pontos em destaque, esclarece a professora, são a reflexão sobre os desafios éticos e metodológicos na utilização de memes, como fontes na escrita da história, e, sobretudo, o fomento do seu uso em sala de aula alinhado à necessidade de desenvolver habilidades de letramento midiático. “Espera-se que, ao trabalhar com memes, os alunos possam aprender a interpretar e produzir conteúdos digitais desenvolvendo competências críticas em relação às informações que consomem e compartilham nas mídias sociais”, revela a docente.
O projeto da professora Cíntia tem como propósito principal desenvolver o letramento midiático, ampliando o senso crítico dos estudantes diante da vastidão de informações disponíveis no ciberespaço. Esse tipo de ação ou ato de escrever não se limita à leitura e escrita tradicionais, mas abrange a capacidade de avaliar a credibilidade das fontes, identificar manipulações e reconhecer ideologias presentes nas mensagens midiáticas. “O uso de memes em sala de aula possibilita explorar narrativas digitais que muitas vezes carregam discursos racistas e machistas. A proposta visa ressignificar essas mensagens e construir uma aprendizagem histórica com foco na alteridade”, pontua a professora.
Ao longo de sua experiência, a docente já passou por várias propostas didáticas, entretanto essa inclui atividades com as quais os alunos têm proximidade, o que garante um maior interesse para realizarem todas as etapas, que vão desde a análise dos memes com referências históricas, identificação de suas mensagens implícitas até os debates sobre os impactos dessas narrativas. “Além disso, os estudantes são incentivados a ter sua própria produção, exercitando habilidades técnicas, digitais e críticas. Essa abordagem interdisciplinar também dialoga com outras áreas do conhecimento, promovendo uma formação mais abrangente”, frisa.
Os resultados têm sido positivos
Professora Cintia em aula com alunos
Se tem algo que os professores comemoram é quando os estudantes demonstram interesse e engajamento pelo conteúdo. “Os alunos se mostram mais mobilizados, especialmente quando abordamos temas que eles consideram ‘chatos’. O meme funciona como um ponto de conexão entre o conteúdo histórico e a realidade digital em que vivem”, comenta Cíntia. Entre os principais objetivos do projeto está a reflexão sobre temas sensíveis, como racismo, machismo e violência, e a análise de como os memes podem ser usados para fomentar debates e reconstruir memórias coletivas.
O projeto não tem uma culminância específica, já que se trata de uma prática constante aplicada nas aulas de História para turmas dos ensinos Fundamental II e Médio. Depoimentos de alunos reforçam a eficácia da metodologia. Segundo Gabriela Santos, estudante do 2º ano, “a aula com memes é diferente e divertida. A gente aprende sem perceber e ainda discute assuntos que fazem a gente pensar”.
De memes a livro e guia didático
Em linhas gerais, o projeto de Cíntia Beñák exemplifica como as linguagens digitais podem ser incorporadas ao ambiente escolar de forma criativa e produtiva, alinhando-se às necessidades de uma geração conectada e às demandas do mundo contemporâneo. E como apoio a todo esse projeto, os alunos têm acesso ao livro “Também com memes se ensina e se aprende história” (2021), “que é o resultado das aulas-oficinas realizadas durante os anos letivos de 2018 até 2020”, afirmou Cintia, explicando que a obra foi publicad em 2021 com a proposta de divulgar os resultados obtidos para o campo do ensino de história com a finalidade de estimular uma aprendizagem significativa a partir do uso dos memes que circulam na web. O livro conta com a participação das professoras Dra. Ana Maria Monteiro, Sonia Wanderley e Marcella Albaine. A pesquisa envolveu a produção de um Guia Didático on-line para professores com o propósito de orientar e partilhar possibilidades de propostas didático-históricas”, frisa a professora.
Por Antônia Figueiredo
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