Ansiedade Matemática no ensino
Por Ana Maria Antunes de Campos*
Em novembro de 2024, foi revelado pelo estudo Pisa (realizado em 2022) que 65% dos estudantes brasileiros têm ansiedade em relação à matemática, um índice bem acima da média mundial de 55%. Essa ansiedade, que envolve medo, fuga e aversão a essa disciplina, é um fenômeno antigo, conhecido como “ansiedade matemática”. Os primeiros estudos surgiram em 1957, com a maioria deles sendo realizada fora do Brasil. Aqui, os estudos começaram na década de 1980, inicialmente no campo da psicologia, e só mais tarde se integraram à Educação, especialmente à Educação Matemática.
Na sala de aula, o que se observa é que alguns estudantes se desenvolvem satisfatoriamente, enquanto outros apresentam dificuldades em relação à aprendizagem matemática, mas desconhecem o motivo, não sabendo se é por questões pedagógicas, emocionais ou por algum transtorno de aprendizagem. Essa incógnita dificulta que esses profissionais elaborem o processo de intervenção metodológica de forma a amparar esses estudantes.
Em 2023, defendi minha tese de doutorado sobre o tema e atualmente me dedico ao estudo da ansiedade matemática no ensino, considerando que tanto estudantes quanto professores podem experienciar esse quadro.
A ansiedade matemática em estudantes é caracterizada pelo medo, repulsa, fuga e aversão a qualquer situação que envolva a disciplina, desde as aulas até a realização de contas simples no dia a dia, como dividir uma despesa. Ela se manifesta em duas dimensões: a cognitiva, que se refere à preocupação com o desempenho e as consequências do fracasso, e a afetiva, que está relacionada à tensão em situações matemáticas.
Mapeei os estudos sobre a ansiedade matemática e identifiquei padrões comportamentais de risco que podem se manifestar em estudantes, tanto no contexto escolar quanto no cotidiano. Esses padrões afetam a cognição (se expressando como falhas na memória, problemas de
atenção e distorções na percepção), a afetividade (envolvendo medo, irritabilidade, insegurança e nervosismo) e o aspecto fisiológico (como desarranjo gastrointestinal, sudorese, taquicardia, dor de cabeça e insônia).
Conhecer o currículo e os aspectos técnicos da matemática não é suficiente para garantir o bom aprendizado dos estudantes. É crucial entender que as crenças, atitudes, emoções e valores tanto dos professores quanto dos estudantes influenciam muito esse processo e podem até aumentar a ansiedade matemática. A cultura em torno da disciplina, cheia de estereótipos negativos, dificulta a aprendizagem. Embora a pesquisa tenha mostrado que gênero, inteligência e etnia não são determinantes para o desempenho matemático, é claro que esses tipos culturais podem ser reforçados entre os colegas e impactar a ansiedade.
Fatores no ambiente escolar, como o controle excessivo dos professores, métodos de ensino inadequados e até pressões de familiares e colegas, podem aumentar ainda mais essa ansiedade. Esses aspectos não estão relacionados diretamente ao conhecimento do estudante em matemática, mas afetam o seu desempenho.
Constatei que as atitudes dos professores influenciam diretamente o comportamento dos estudantes e podem intensificar a ansiedade matemática, o que pode continuar ao longo da trajetória escolar, inclusive na universidade. Isso pode levar até mesmo futuros professores a terem dificuldades com a disciplina. Se não for identificada logo no início, essa ansiedade pode fazer os estudantes evitarem cursos e carreiras relacionados à matemática.
Os professores também podem sentir ansiedade, principalmente em relação à sua capacidade de ensinar ou ao modo como lidam com os alunos. Isso não está sempre ligado ao desempenho dos estudantes, mas ao próprio desempenho do professor. Se ele teve experiências negativas com matemática, pode acabar transmitindo essa insegurança aos estudantes, usando métodos tradicionais de ensino que não ajudam no aprendizado. Esse fenômeno é conhecido como Ansiedade Matemática no Ensino.
Para ajudar a reduzir a ansiedade matemática dos estudantes e melhorar seu aprendizado, diversas estratégias podem ser adotadas. Terapias focadas em aumentar a motivação, controlar pensamentos negativos e estimular o treino cognitivo são importantes, assim como o uso de brincadeiras, dinâmicas e tecnologias, como jogos on-line, aplicativos e softwares, que tornam o ensino da disciplina mais acessível e engajador. Recursos como jogos de tabuleiro e a história da matemática também têm mostrado eficácia. Programas de intervenção, incluindo ensino individualizado, técnicas terapêuticas para redução de ansiedade e reestruturação cognitiva são também práticas que devem ser implementadas ao longo da escolaridade para evitar que a ansiedade matemática se solidifique.
*Ana Maria Antunes de Campos possui Pós-doutorado e Doutorado em Educação Matemática pela PUC-SP. Autora dos livros: Jogos Matemáticos; Discalculia; Aprendizagem Matemática e Raciocínio Lógico, todos pela WAK Editora.
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