O papel da creche no desenvolvimento infantil

Entenda a importância desse novo ambiente e de que forma educadores podem estimular o aprendizado nessa fase tão primordial na vida dos pequenos


Como acontece a inserção da criança nesse novo ambiente? De que forma a creche estimula a linguagem e o desenvolvimento motor das crianças? Quais são as brincadeiras mais indicadas para cada idade? Qual a importância da pré-alfabetização? Qual a rotina ideal para cada faixa etária? Para responder essas e outras perguntas a equipe da Revista Appai Educar conversou com especialistas no assunto que vão trazer informações e dicas fundamentais para os profissionais que desejam atuar nesse segmento. Confira!

O primeiro tópico desse tema a ser debatido é a inserção dos pequenos nesse novo ambiente, que precisa ocorrer de forma gradativa. Durante esse processo de adaptação, a equipe da creche recebe a criança e a sua família num lugar pensado para ela, de acordo com a sua faixa etária. É nesse período também que ela descobre um novo ambiente por meio da observação do espaço, dos adultos e das outras crianças que, até então, não faziam parte do seu cotidiano.

A pedagoga da Creche Fiocruz, Andréa Queli dos Santos Veloso, explica que esse espaço deve proporcionar um ambiente de trocas e estímulos que favoreçam a interação e socialização dos pequenos. “Nesse sentido, propostas como rodas de conversas, contações de histórias, relatos sobre situações ocorridas no final de semana, vivências familiares e experiências do dia a dia na creche contribuem para a ampliação do vocabulário da criança e de suas possibilidades de expressão e comunicação”, pontua.

 

O primeiro espaço de socialização da criança

Clara Bousada é professora de Educação Infantil bilíngue

A revista Educar conversou com Clara Bousada, que é professora de Educação Infantil bilíngue e compartilha dicas de pedagogia através das redes sociais, somando mais de 180 mil seguidores. Ela ressalta que a creche tem um papel importantíssimo na primeira infância. “Muitas vezes, é o primeiro espaço de socialização da criança depois da família, onde ela descobre que há um novo mundo para além daquele que ela já conhece. A partir da interação com as outras crianças e a mediação dos adultos, os bebês vão se constituindo cada vez mais como sujeitos de desejos, sentimentos, opiniões”, explica.

A pedagoga destaca ainda que não devemos ver a creche como apenas uma preparação para a pré-escola, mas sim como um espaço importante por si só, em que os pequenos terão a oportunidade de se desenvolver acompanhados de olhares de profissionais que são especialistas em educação. “Os ganhos de frequentar uma boa creche são motores, emocionais, cognitivos e sociais. Por isso, considero bastante relevante o seu papel no desenvolvimento infantil”, garante Clara.

 

Família só educa? Escola só ensina?

A parceria entre escola e família é essencial para um bom desenvolvimento da criança. Clara destaca que muitas pessoas acham que a família apenas educa e a escola apenas ensina, mas na verdade ambas desempenham papéis importantes nas duas funções. “No meu ponto de vista, a escola deve sempre buscar acolher as famílias, suas necessidades e desejos, mas, ao mesmo tempo, se manter segura e confiante de que é ali que estão os profissionais que estudaram sobre pedagogia e educação. Por outro lado, a família deve se manter o mais próximo possível, acompanhando o desenvolvimento da criança, mas também confiando no trabalho que é feito na creche que escolheram. Transparência e diálogo são fundamentais nessa relação. Uma vez que essa parceria é estabelecida, os dois lados se complementam e andam juntos”, afirma a educadora.

 

Como aproveitar ao máximo o desenvolvimento de cada criança?

De acordo com Clara, esse é um grande desafio do professor, principalmente em turmas com muitos alunos. Para ela, equilibrar a atenção individual e a dinâmica coletiva nem sempre é fácil, mas é necessário. Cada criança merece um olhar individualizado, sensível e atento dentro daquele grupo, uma ação que respeite suas particularidades. “Um exemplo simples é escolher uma delas para observar mais atentamente durante um momento no pátio ou dentro de alguma proposta. Se você tiver uma auxiliar em sala, avise que, naquela oportunidade, irá se dedicar um pouco mais a olhar uma criança específica – ou um pequeno grupo de 2 ou 3. Observe seus movimentos, registre suas pesquisas, anote falas ou expressões”, exemplifica.

A pedagoga dá outra dica: dentro de sala, se dedique a chamar uma ou duas crianças de cada vez para umas propostas individualizadas, pois nesses momentos você poderá ter seu olhar atento especificamente ali. “Claro que isso depende de certa estrutura de equipe de sala, mas é possível achar pequenas brechas para realizar esses movimentos em alguns dias”, garante Clara.

 

Expandindo conhecimento através das redes sociais

A professora conta que encontrou na área da Educação uma forma de ajudar pessoas e, através das redes sociais, uma maneira de ir além da sala de aula, expandindo conhecimento com outros colegas de profissão. “Nós, professores, temos nosso compromisso de construir planejamentos para nossas aulas, de acordo com os objetivos da faixa etária e com a intencionalidade pedagógica das propostas. Porém, de nada faz sentido um planejamento maravilhoso, cheio de conteúdo, mas que não se conecte com a sua sala de aula, com as suas crianças”, pontua.

Clara ressalta ainda que gosta da ideia de construir o planejamento a partir daquilo que interessa a sua turma, e, mesmo assim, com flexibilidade para mudar completamente o rumo caso algo mais interessante surja num momento. “O planejamento é um guia, uma base, e é importantíssimo que seja feito. Mas é só na hora da prática que podemos de fato escutar as crianças e decidir juntos os caminhos que serão tomados. Por isso não gosto da ideia de planejamentos únicos e rígidos para diferentes turmas. Acho que cada professor deve ter sua autoria e seguir de acordo com seu grupo”, destaca.

A pedagoga conta que recebe muitos relatos de professores que utilizam em sala de aula as dicas que ela compartilha em suas redes sociais. “Comecei ajudando muito quem ainda cursava pedagogia, com os conteúdos, a forma de estudar, a organização. Agora, é ótimo quando consigo dividir também a minha rotina em sala de aula, então várias professoras me falam que usaram ideias minhas em suas turmas ou refletiram de forma diferente sobre determinado tema depois que eu levantei aquele assunto etc. É uma troca muito rica! E é 100% uma via de mão dupla, pois eu aprendo muito com elas também. É bom demais ver como nós professoras podemos ser mais fortes quando estamos juntas compartilhando saberes e experiências”, relata Clara.

 

Como estimular a linguagem e o desenvolvimento motor das crianças?

Uma pergunta e muitas respostas, quando pensamos nas variadas formas de estimulo à linguagem e ao desenvolvimento motor das crianças. Essas e outras indagações vão muito além do campo da teoria, até porque cada indivíduo tem sua especificidade, seu tempo cognitivo, seus desejos e suas necessidades. Entretanto, especialistas afirmam que a infância é a idade do possível, da construção, da descoberta por si mesma e/ou através da participação de terceiros – professores, ambiente escolar – abrindo janelas para novas experiências e transformações.

Dentro desse aspecto, as creches – entendidas como a comunidade escolar formada por diversos atores, professores, funcionários, família e amigos – protagonizam um papel essencial na contribuição do desenvolvimento desse público infantil. A creche, enquanto instituição, recebe, sobretudo dos pais que lá deixaram seus pequenos, a responsabilidade da promoção de uma teia de cuidados que vai desde o acolher, do observar, do brincar, do ensinar, até o salvaguardar aquela vida na ausência da família.

Essa percepção de responsabilidade dada à escola vai além do papel pedagógico do ensino e aprendizagem na vida dos pequenos e dos pais no desenrolar da primeira infância. Essa chegada da criança a esse novo universo cria, sobretudo para os pais, muitas perspectivas, medos, inseguranças e fantasmas. “A primeira vez que deixei meu filho na creche eu não sei dizer o que mais me amedrontou. Se foi a ideia de ficar longe dele, mesmo que fosse por algumas horas, ou o fato de deixá-lo com pessoas que até então eu conhecia muito pouco”, frisa Daiane, mãe do pequeno Antonio.

 

Qual a importância da rotina para o desenvolvimento infantil?

Psicólogos e profissionais da área afirmam que a rotina da creche é de suma importância, tanto para a criança como também para a família, que num primeiro momento ainda se sente muito insegura, mesmo com toda a visitação prévia e o período de acolhimento geralmente ofertado pela instituição.

Segundo especialistas, a criança precisa ter a sensação de previsibilidade. Isso porque, desde o nascimento, a família já vem construindo essa proximidade com a rotina, quando supre as necessidades básicas da criança ao dar de mamar, ao trocar a fralda, ao conversar, sorrir, brincar, tranquilizar quando estão agitados – seja com a música, contação de histórias ou um ninar nos braços. Toda essa sensação presumível que o dia a dia oferece é fundamental na contribuição para o desenvolvimento cognitivo da criança, sobretudo no que se refere à autoestima, à autoconfiança e à autorregulação emocional, uma vez que o desenvolvimento do cérebro exige um estímulo responsivo, ou seja, que envolva resposta.

 

Ações e atitudes que mais incentivam esse desenvolvimento de 0 a 3

Para a psicóloga e Secretária Nacional de Promoção do Desenvolvimento Humano do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), Ely Harasawa, a boa relação emocional entre pais e filhos no desenvolvimento na primeira infância – até os 3 anos – tem o maior impacto. “Ao confiar no adulto, a criança aprende a regular suas emoções, explorar o mundo com confiança e se comunicar. Crianças apoiadas têm mais chances de serem adultos positivos e seguros”, afirma.

O faixa de 0 a 3 anos não é apenas parte da primeira infância, vai muito além. É o que dizem os especialistas ao afirmarem que a fase inicial é essencial para desenvolver a inteligência das crianças. “Esse é o melhor momento, quando o cérebro responde prontamente. O órgão está pronto para ser estimulado, desenvolver-se”, explica o médico neurocientista e diretor do Instituto do Cérebro do Rio Grande de Sul Jaderson Costa da Costa, na página do MDS sobre a primeira infância.

Algumas dicas de desenvolvimento na faixa etária de 0 a 3 anos dadas pela Revista Crescer: clique para saber mais

 

Todo dia, tudo igual

Desde que nasce é bom acostumar seu filho a seguir uma rotina: estabelecer a hora do banho, de dormir, de comer. Criança gosta disso porque ajuda a formar uma sequência entre os acontecimentos diários, permitindo que ela possa se organizar. Além disso, a rotina está associada a hábitos saudáveis, que são importantes para o seu crescimento, como ter oito horas de sono e se alimentar direito.

Livro amigo

O papel dos pais é fundamental para que as crianças amem ler – e aprendam a fazer dos livros um prazer, não uma obrigação. Os de plástico, no banho, podem ser usados já a partir do terceiro mês de vida. A partir do sexto, quando o bebê já consegue levar objetos à boca com as mãos, deixe livros de pano no berço – além de poder mordê-los, ele não conseguirá arrancar as páginas! Em todas as idades, fale da capa, das figuras, deixe que a criança vire as páginas, ou seja, estimule ao máximo que ela interaja com esse companheiro.

 

De improviso

Criar personagens e sonhar com mundos fantásticos. Tudo isso é importante para desenvolver a criatividade dos pequenos. Contribui, inclusive, para a resolução de problemas. Para tornar a narrativa ainda mais empolgante, que tal testar a capacidade de improviso de vocês dois? Separe figuras de objetos, paisagens, cores, alimentos e animais, que podem ser desenhadas ou recortadas de revistas.

 

Pergunte sempre

Ao buscar seu filho na escola, você diz: “Como foi seu dia?”. E ele responde: “Legal”. Não era exatamente o que você queria ouvir, certo? Para fugir das respostas genéricas, elabore as questões de maneira que a criança precise expressar o que pensa e justificar sua resposta. Pergunte: “O que você fez de mais legal na escola hoje?”. E ela será obrigada a desenvolver um raciocínio mais elaborado, exigindo que trabalhe habilidades linguísticas e lógicas. Aos 3 anos, ela já consegue relatar experiências pelas quais passou e dizer se foram boas ou ruins.

 

Brincar, guardar, brincar

Enquanto seu filho brinca, insista para que ele se envolva em um jogo por vez, o que contribui para a concentração. Não quer mais jogar boliche? Hora de colocar os pinos na caixa para só depois começar uma brincadeira nova. A partir dos 2 anos, seu filho pode ajudar a guardar o brinquedo que estava usando antes de pegar um outro, pois assim ele desenvolve também o senso de organização. Saiba mais dicas na Revista Crescer.

 

Brincadeiras de crianças, como é bom!

A letra da música, “Brincadeira de criança”, do grupo Molejo, talvez mostre de forma lúdica como o brincar é tão prioritário na vida da criança e na memória do adulto. Essa ação é tão vital no desenvolvimento cognitivo dos pequenos que, em 1999, durante a 8ª Conferência Internacional de Ludotecas em Tóquio, por iniciativa da então presidente da International Toy Library Association (ITLA) – Freda Kim –, foi criado o Dia Internacional do Brincar.

Reconhecida no calendário da Unicef, a data reforça a cada ano essa relevância do brincar, com o intuito de sensibilizar a sociedade sobre a importância dos inúmeros benefícios dessa atividade na vida infantil. Sendo assim, nunca é demais relembrar algumas brincadeiras nessa faixa etária. Vamos recordar algumas?

Ler histórias – desde bebê.
Brincadeira de esconde-esconde.
Brincadeiras de bater as mãos.
Cantar para o bebê – músicas que tragam alegria e diversão.
Passear pela casa, apontando e falando o nome dos objetos que encontrar.
Brincar de texturas diferentes, usando materiais que as crianças não corram o risco de engolir, como esponja e pedaços grandes de tecidos de roupas.
Criar um circuito de escalada engatinhando, usando travesseiros, almofadas e cobertores para formar uma montanha para o bebê atravessar.
Criar fantoches com meias nas mãos.
Brincar de equilibrar uma folha de papel na cabeça.
Brincar de ciranda.
Brincar de mímica de objetos, animais ou ações (sentar, cantar, nadar, estátua).
Brincar de continue a música.
Brincar de imitar sons dos animais.

Criar um circuito em casa, com atividades como se arrastar embaixo da mesa, pular em um pé só, rolar no chão e pular pequenos obstáculos, como uma vassoura no chão.

Brincar de vivo ou morto, e tantas outras diversões que podem e devem ser vivenciadas em todas as fases da criança, uma vez que elas têm um papel ímpar na contribuição do estímulo motor, cognitivo e sensorial dos pequenos, além de proporcionar prazer, alegria e, sobretudo, momentos de muitas risadas, aprendizagens de maneira lúdica, interação e diversão, assim como a troca de afeto e seus muitos efeitos, tanto para quem incentiva a brincadeira, quanto para quem a recebe como estímulo da interação.

 

Educadores de creche também precisam de formação continuada

Com carinho, afeto e tempo para a criança poder brincar e explorar o mundo, o papel da creche certamente será efetivo. A função do educador que trabalha com os pequenos é justamente proporcionar um novo universo de socialização com muita aprendizagem.

A grande maioria dos profissionais que iniciam nesse cargo acaba migrando para a função de professor conforme adquire experiência. Essa vivência é muito valiosa porque não está atrelada somente a educar com cuidado e carinho. Há uma série de afazeres que os docentes precisam dominar.

Zelar pela organização do ambiente, especialmente o das crianças, se estão todas seguras e se precisam de algo, como troca de fraldas, idas ao banheiro e afins, são algumas ações. Mas há também o cuidado com o auxílio no preparo da alimentação dos alunos, ajudando na elaboração de receitas adequadas para o desenvolvimento deles. Essa meta deve ser exercida junto à área social da creche com um profissional de nutrição.

Além disso, o educador infantil deve cuidar da rotina higiênica das crianças, supervisionando escovação, limpeza do corpo, trocas de fraldas e tudo o que envolva esse aspecto. E claro, outro ponto fundamental para se trabalhar com os pequenos é elaborar brincadeiras lúdicas e educativas.

“A tia da creche”, muitas vezes, é o primeiro contato da criança com o mundo externo. E é por meio da escolinha que os pequenos desenvolvem habilidades motoras, aprendem a se relacionar com outras pessoas da mesma idade e têm contato com experiências diferentes daquelas vivenciadas em casa. Por isso, é tão importante dar atenção à formação de professores.

A responsabilidade é infinitamente grande, pois esses profissionais podem ser os principais influenciadores na formação do cidadão. Por isso, o estudo de práticas pedagógicas é o caminho certeiro para orientar esses professores durante todo o processo educacional.

Luiza Helena Tannuri Lameirão, professora da rede infantil de São Paulo, conta que nas faculdades de pedagogia e nas formações em geral são estudadas várias linhas teóricas. Isso é muitíssimo importante. “São pontos de vista que, muitas vezes, precisam ser complementares, mas que não se baseiam concomitantemente em melhorar a capacidade de observação do educador. Aquilo que está descrito pelos grandes estudiosos  foi uma coisa que eles aprenderam, porque pesquisaram, observaram, mas cada criança mostra o mundo em si”, observou em depoimento à revista.

Para Luiza Helena, a criança pequena é quem mais deve receber atenção. “Ela quer novidades que não encontramos em nenhum contexto pedagógico dos mais recentes ou mais tradicionais e consolidados”, comentou ela.

O ponto de partida ideal para a formação continuada dos profissionais de creche deve vir da gestão escolar, promovendo um espaço de vivência. Um exemplo é um local para possibilitar o desenvolvimento da voz, do canto e da linguagem imaginária para ampliar o repertório dos professores. A sua formação contínua também pode ser realizada por meio de congressos em que os docentes se juntam para atualizar informações e retomar o caminho do viés artístico e da fundamentação pedagógica.

Separar momentos para refletir sobre sua prática na sala de aula e encontrar caminhos para transformar o que achar necessário também é primordial. Além disso, há diferentes formatos de cursos on-line para atualização dos profissionais e conhecimento de novas ferramentas para estimular o aprendizado em sala de aula.

Um exemplo é o Benefício Educação Continuada da Appai, que oferece dois cursos que contemplam essa categoria. Veja:

Cursos de atividades lúdicas

Em 41 aulas, o curso ensina o conceito de ludicidade, o brincar na fase adulta, sobre jogos digitais e muito mais. É uma boa maneira de você aumentar sua bagagem de ideias.

Veja a programação completa aqui!

 

Curso de educação infantil de alta performance

Com mais de 30 aulas, você compreenderá a influência da neurociência na prática pedagógica, os cuidados específicos com bebês de 0 a 3 anos de idade, os aspectos legais da Educação Infantil e as questões executivas.

Veja a programação completa aqui!

 

A gestão da creche também pode realizar estudos e trocar ideias para aprimorar o desenvolvimento profissional. Essa comunicação aberta oportuniza o intercâmbio de experiências e o aprimoramento do educador. Também é fundamental que esse profissional saiba trabalhar a partir das representações dos alunos e consiga compreender como as tecnologias podem ser incluídas no contexto educacional e no seu aprimoramento pessoal.

 

É na creche que a pré-alfabetização deve acontecer

A fase em que os pequenos têm contato com as letrinhas começa antes de ir à escola. Ela tem início em casa, com o aprendizado da linguagem e da comunicação. Todavia, existe uma barreira entre ler e interpretar o que está escrito. Existe até mesmo um nome para essa diferença, o analfabetismo funcional. De acordo com o Indicador de Analfabetismo Funcional, o índice de pessoas nessa condição no Brasil entre 15 e 64 anos é de 30% (há 20 anos era de 40%). E isso muito tem a ver com a alfabetização infantil. Os pequenos que aprendem com habilidades inadequadas de pré-alfabetização não conseguem acompanhar essa evolução.

Nos primeiros seis anos de vida, as funções cerebrais estão se estruturando. Por isso, esse é o melhor momento para incentivar os pequenos à linguagem, visto que eles terão mais facilidade para absorver informações.

Em documento publicado no site oficial da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) há afirmação de que “nesta fase da vida da criança, a educação tem como finalidade seu desenvolvimento integral, nos aspectos físico, psicológico, intelectual e social”. Vale ressaltar que cada pessoa é única e possui suas próprias facilidades, dificuldades e características. O educador precisar ter a sensibilidade neste caso e respeitar o estilo de aprendizagem, o ritmo de evolução e o aprendizado do alunado infantil.

De acordo com a psicolinguista argentina Emilia Ferreiro, uma revolucionária nos métodos educacionais contemporâneos, a alfabetização infantil passa por quatro etapas:

Pré-silábica: quando a criança ainda não consegue estabelecer uma relação entre as letras e os sons das palavras.
Silábica: a criança passa a interpretar as letras ao seu modo, atribuindo valor de sílaba a cada uma.
Silábico-alfabética: trata-se de uma evolução da fase anterior, seguindo a mesma lógica, porém a criança passa a identificar algumas sílabas.
Alfabética: ocorre quando finalmente a criança tem domínio sobre o valor das letras e sílabas.

Assim, a escola não deve pular as etapas do desenvolvimento, pois isso é extremamente prejudicial e trará consequências futuras para as crianças nas áreas pedagógica, emocional ou social. Para serem alfabetizadas, elas precisam estar maduras em todos os sentidos, pois o processo de alfabetização apresenta novas etapas, e os pequenos devem estar preparados para vencê-las. Por isso a pré-alfabetização é de suma importância.

É importante lembrar que não existe receita para alfabetizar, mas sim todo um preparo até a conquista da escrita e da leitura. A pré-escola é o começo da longa caminhada escolar, por isso deve ser marcada por um bom começo, que proporcione alegria e satisfação para a criança. Será que é por isso que a primeira professora a gente nunca esquece?

Conheça a rotina dos pequenos

O Ministério da Educação (MEC) estabelece o mínimo de 7 horas diárias para o período integral e 4 horas para meia jornada na Educação Infantil, levando-se em consideração o tempo corrido que a criança permanece na escola. Independentemente do período adotado pela instituição, a rotina nessa fase precisa ser organizada para que não haja momentos de ociosidade que possam gerar estresse e ansiedade ou, muito menos, períodos de agitação excessiva.

As crianças, de acordo com a faixa etária, devem ter tempo para realizar adequadamente todas as atividades sem prejuízo do seu aprendizado. Todos os momentos vivenciados na instituição devem ser oportunos para a promoção do conhecimento.

A equipe da Creche Francesca Zacaro Faraco, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, disponibilizou suas tarefas rotineiras como exemplo. Algumas delas são flexíveis e podem ser alternadas entre si. Veja:

Rotina da Creche

Entrada:
Os professores se dividem entre acompanhar as brincadeiras das crianças e acolher os que chegam com os pais. Assim, há um lanche coletivo.

Roda de conversa:
As crianças se reúnem com o professor para falar sobre um assunto previamente determinado e planejar a rotina.
Atividade dirigida (sujeita a variação de acordo com o clima):
Em sala, pode ser contação de história, desenho, pintura. No parque, a pedida é movimento, faz-de-conta etc.
Almoço e hora do soninho

Higiene:
Ao despertar, as crianças lavam as mãos, escovam os dentes e têm as fraldas trocadas. Todos os colchões são empilhados na sala.

Atividade em roda:
É hora de jogar, cantar ou combinar algo.

Atividade dirigida (sujeita a variação de acordo com o clima):
Em sala, pode ser contação de história, desenho ou pintura. No parque, a pedida é movimento, faz-de-conta etc.
Jantar, higiene e saída na íntegra

Conheça a Creche da UFRGS | E-mail: creche@ufrgs.br

 

No acervo digital da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Maria Carmen Barbosa e Maria da Graça Horn afirmam no texto “Organização do Espaço e do Tempo na Escola Infantil” que, para organizar atividades no tempo, é fundamental levar em consideração três diferentes necessidades das crianças: “As biológicas, como as relacionadas ao repouso, à alimentação, à higiene e à sua faixa etária; as psicológicas, que se referem às diferenças individuais, como o tempo e o ritmo de cada um; as necessidades sociais e históricas que dizem respeito à cultura e ao estilo de vida”, diz o documento.

É interessante aqui reforçar a ideia de que a rotina deve prever pouca espera da parte dos pequenos, principalmente durante os períodos de higiene e de alimentação. A demora pode ser evitada se for organizada a sala de aula de maneira que eles tenham a possibilidade de realizar outras atividades, de forma mais autônoma, tendo livre acesso a espaços e materiais, enquanto o professor está atendendo uma única criança.

Entre as vantagens de adotar uma rotina na Educação Infantil estão:

■ Desenvolvimento da autonomia: a criança cresce procurando independência e liberdade, sem depender dos responsáveis para tarefas que ela mesma pode realizar sozinha. Se ela tem noção dos horários e da sequência de atividades, organiza seu tempo e espaço e não fica à mercê dos adultos para saber o que vai acontecer;

■ Desenvolvimento da linguagem e da motricidade: a capacidade de argumentação caminha junto com a responsabilidade. Isso porque, ao sofrer consequências de suas ações, o indivíduo aprende a dialogar e a se defender. A movimentação da criança também se desenvolve quando ela não tem à mão tudo o que deseja;

■ Interação com os colegas e com o ambiente: como fruto da responsabilidade adquirida, também é desenvolvida a capacidade de interagir, de forma respeitosa, com os colegas e com o espaço que dividem.

 

Ideias práticas para uma rotina de sucesso

Começar o dia com uma atividade atrativa de recepção é muito importante. Esse é o primeiro momento em que a criança terá contato com a sala de aula, o professor e os colegas e, por isso, é fundamental que ela se sinta animada para toda a rotina que irá praticar. Os pequenos podem ser recebidos com música, com cumprimentos especiais e ser convidados a ocupar um ambiente específico onde receberão as primeiras orientações.

Nesse espaço, que pode ser uma roda ou uma grande cabana de lençóis, por exemplo, as crianças podem ser estimuladas a contar sobre o dia anterior, o fim de semana ou as expectativas para os próximos momentos. Essa é a ocasião ideal, também, para que a professora utilize o calendário para falar qual é o dia, apresente a programação que farão juntos e abra espaço para que elas contribuam com alguma sugestão.


Por Antônia Lúcia, Jéssica Almeida e Richard Günter
*Clara Bousada
é pedagoga, professora de Educação Infantil bilíngue e mestra em Educação. Em 2018, ganhou uma bolsa pela PUC-Rio para realizar o curso de verão Experiencing Modern Digital Media Technology na Birmingham City University, na Inglaterra, e durante essa experiência pôde confirmar seu desejo de juntar o conhecimento da pedagogia com a paixão pela área das mídias. Contato: contato@clarabousada.com / Redes Sociais: Clara Bousada (Youtube) e @educaclara (Instagram).
Fotos cedidas por Clara Bousada e do banco de imagens gratuitas do Freepik.


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