BoaMática: mostrando que a matemática não tem nada de má!

A ideia é ensinar de forma afetuosa, trazer a disciplina para a realidade dos alunos e mostrar que ela não é um bicho de sete cabeças


Após alguns anos dando aula, a professora de matemática Vanessa Balbina relembrou os períodos de sua vida como estudante e como docente. Ela buscava entender o motivo de seus alunos não entenderem a disciplina, já que na cabeça dela suas aulas eram maravilhosas! “Me disseram que existe uma diferença entre saber matemática e saber ensinar matemática. A base dessa disciplina não era só um quadro cheio de fórmulas e cálculos complexos, a mente de alunos frustrados só aumentava por não entenderem a matéria, essa ação nas aulas estava sendo aplicada e repassada por mim”, lembra.

A educadora conta que deu aulas em escolas com grande disparidade social entre os alunos. Muitos não tinham o que comer, outros chegavam do trabalho e iam direto para a escola. Foi aí que ela precisou adaptar a matemática para alcançá-los e criou o projeto BoaMática. Uma ação para aproximar os estudantes do conhecimento de forma afetuosa, dando significado ao conteúdo e usando uma linguagem informal, afetando os jovens de forma que ela, como professora, fosse afetada pela realidade deles.

A professora de matemática Vanessa Balbina criou uma ação para aproximar os estudantes do conhecimento de forma afetuosa

Segundo Vanessa, a semente do projeto começava a germinar entre 2006 e 2010, como uma brincadeira durante as aulas e como uma resposta a uma frase “se a matemática fosse boa não começaria com má”. “A ideia é desfazer as ideias vigentes, que afastam as pessoas da matemática, de que muitas não vão compreendê-la, que só quem tem o dom irá entendê-la e que só super-humanos são capazes”, explica.

De acordo com a educadora, o projeto é um método de ensino intercultural da matemática que não distancia o aluno do mundo glocal (global+local), tornando-se uma ação de aplicação e transformação em respeito a uma sociedade multicultural, considerando o tempo de aprendizagem e transformando as diferenças em algo positivo e construtivo dentro da aplicação da BoaMática.

O projeto é um método de ensino intercultural da matemática que não distancia o aluno do mundo glocal (global + local)

São métodos pedagógicos que ajudam desde o despertar do interesse dos alunos no conteúdo até aumentar a sua autoestima, fornecendo um espaço de protagonismo na construção do seu próprio conhecimento em um ambiente mais enriquecido dos saberes de estudantes e professores. “Dentre esses métodos temos as aulas invertidas, colaborativas, gamificação, ‘Dê tempo ao tempo’, que respeita o tempo de aprendizagem de cada aluno, e a minha favorita, que seria o estudo do erro. Dá para sentir o conhecimento se construindo nesse método, pois mesmo os erros nos resultados são importantes. Nada é desperdiçado! O fato de saber como aquele resultado foi alcançado é de suma importância nesse modo de ensino, uma vez que descobrindo o erro dificilmente voltamos a repeti-lo”, garante.

 

Prêmio Shell

Entre 2018 e 2019, a educadora participou de um curso de fenomenologia, que a fez criar as primeiras ideias para o projeto BoaMática: ressocializando jovens através da ciência. “Projeto esse que no futuro entraria para o Prêmio Shell e me tornaria uma das finalistas no concurso. A atividade foi implementada para jovens no sentido de uma intuição de socioeducação para menores infratores com o objetivo de mostrar que, através de uma educação afetiva, significativa e que estivesse ligada à realidade deles, se despertaria o seu interesse para a ciência e mudaria suas vidas de forma positiva”, garante Vanessa.

 

Torneio de robótica

Pouco tempo depois, um torneio de robótica veio como uma grande oportunidade de exibirem a prática dos conteúdos aprendidos em sala de aula. “Começamos os estudos com todos os conteúdos centrados na programação do robô. Entre eles, alguns aplicados nas aulas, como: operações básicas, regra de três simples, potência e unidades de medida. Situações de como converter o giro de uma das rodas do robô de graus para centímetros percorridos foram resolvidas com o conhecimento que eles aprenderam”, explica.

O tema do torneio era relacionado ao meio ambiente e especificamente à água, aos seus ciclos, tratamento, uso e reaproveitamento da chuva. A equipe focou nas missões que dariam mais pontos dentro de um tempo estipulado, com as estratégias prontas continuando as práticas até o dia do torneio de robótica. “No grande dia do evento principal, todos os alunos de todas as equipes dentro da instituição estavam sendo avaliados, antes e durante o evento, como o trabalho e espírito de equipe, divisão das tarefas, animação, foco e outros quesitos adotados pela banca de jurados. Ao fim do árduo trabalho, a vitória, o primeiro lugar no torneio”, lembra Vanessa.

A docente afirma que os resultados positivos que se obtêm são um aumento da autoestima dos alunos, que perderam o medo de arriscar, aprenderam a calcular ganhos e perdas. “Lições essas que são muito importantes para a vida dentro e fora da escola. Os usos dessas ferramentas ajudam a BoaMática a transformar a matemática em um tesouro da cultura humana”, finaliza.


Por Jéssica Almeida
Fotos cedidas pela professora e banco de imagens


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