Volta às aulas: o que esperar da educação em 2021?

Especialistas, educadores, pais e alunos falam sobre suas perspectivas para este ano de muitas incertezas e, claro, esperança. Confira as opiniões e saiba como podemos dar a volta por cima para garantir que o ensino de qualidade continue


O ano de 2020 foi desafiador para todo mundo e, em especial, para as famílias que tiveram de manter as crianças em casa sem ir à escola, e os educadores que tiveram que se adaptar às aulas remotas e às inúmeras dificuldades relacionadas a elas. Um novo ano se inicia com muita esperança em relação à vacina, mas também com muitas incertezas e instabilidade por conta da pandemia do coronavírus, que volta a apresentar alta no número de casos. E a pergunta que não quer calar é: como será a educação em 2021?

No momento, há diferentes cenários entre escolas públicas e particulares, que dependem de autorizações do estado e do município para funcionar e de decisões das redes de ensino, das próprias instituições e das famílias. Por isso, a Revista Appai Educar ouviu especialistas, professores, pais e alunos para saber o que eles esperam da educação para esse ano. Além disso, conversamos com uma consultora educacional e psicóloga para ajudar a cuidar da saúde mental nesse período. Confira essas opiniões e também compartilhe a sua através das redes sociais com a hashtag #revistaappaieducar.

 

Relação professor x aluno

De uma hora para outra, professores, alunos e pais tiveram que se adaptar à nova realidade de ensino e enfrentar os inúmeros desafios relacionados à tecnologia e aos demais fatores. O professor de artes visuais e história, Eduardo Madeiro, que leciona em três instituições em Nova Iguaçu, conta que a relação dele com os alunos foi uma alternância de sentimentos de ambas as partes. “No início da pandemia estávamos ansiosos, mas aos poucos mudamos para a empatia, devido ao amadurecimento ocasionado por essa nova realidade”, lembra.

Eduardo conta que no decorrer dos meses foram se atualizando com as novas ferramentas tecnológicas, e ele começou a aplicar uma aula mais leve, com atividades que desenvolvessem o controle emocional nos alunos, com conteúdo que incluísse a participação dos pais/familiares. “No geral, acredito que não foi um ano perdido como dizem, mas sim um ano de experimentar novas possibilidades de aprendizado, e de os alunos compreenderem que, na educação on-line, a disciplina com os horários de estudo é uma necessidade, já que novos hábitos levam tempo para se tornarem rotinas”, explica.

Já o professor de matemática Joel Figueira Jorge, que leciona na escola Alberto Monteiro de Carvalho – Salesiano Jacarezinho – relembra que 2020 foi de muitos desafios para professores e alunos. “Durante todo o ano passamos por diversos treinamentos para levarmos, mesmo que de forma remota, a melhor aprendizagem para nossos alunos. Muitas horas de dedicação contribuíram para um crescimento profissional, nos capacitando para conseguirmos passar o conhecimento de uma forma significativa, pensando sempre no protagonismo dos estudantes.

Quando o assunto é essa relação de professor x aluno, Ana Carolina Malvão – que é mãe de Natalie, de 11 anos, e Bruno, de 9 – conta que teve experiências diferentes com os filhos. Ana Carolina atua como jornalista e, durante a pandemia, trabalhou de home office, por isso conseguiu acompanhar um pouco a rotina dos filhos. Segundo ela, um deles é mais participativo e consegue interagir mais. Além disso, sua turma de terceiro ano do Ensino Fundamental não foi misturada a outras.

Porém, a filha – que estava no quinto ano e é mais tímida – teve a socialização prejudicada pela relação virtual com professores e colegas. “E um outro aspecto: a escola resolveu juntar todo o quinto ano em uma única sala virtual, o que fez mais de 70 crianças de 10 anos ficarem juntas. Pedagógica e emocionalmente é algo insano para a faixa etária. Acredito que para os professores e professoras também não tenha sido nada fácil”, relata Ana Carolina.

 

Tecnologia: solução ou exclusão?

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet. Em números totais, isso representa cerca de 46 milhões de brasileiros que não participam da rede. Com isso, podemos afirmar que a relação com a tecnologia não é igual para todos os alunos. Afinal, muitos ficam impossibilitados ou possuem dificuldades para realizar determinadas tarefas.

O educador Eduardo Madeiro afirma que o comportamento em relação ao uso da tecnologia foi de fácil adequação nos três colégios onde leciona, porém nem todos tinham acesso à internet fixa ou remota. “E em relação à participação e ao uso da câmera nas aulas, no início observei muita resistência por parte dos alunos em mantê-la ligada, por vários motivos alegados por eles, mas o principal foi a falta de banda. Então, resolvemos respeitar, mas, aos poucos, a participação dos estudantes com as câmeras se elevou, chegando quase à totalidade”, relata.

De acordo com o professor Joel Figueira Jorge, no Salesiano Jacarezinho, assim como em toda a rede, escola e professores estão preparados para o ensino híbrido. “Tivemos muitas possibilidades de formação oferecidas pela escola e também pela inspetoria no ano de 2020 e além disso fomos aproveitando as ofertas de muitos cursos que apareciam em toda a rede. Essa formação contribuiu muito para nossa capacitação no ensino híbrido”, destaca.

Ainda segundo o professor de matemática, muitas dúvidas apareceram no início e foram sendo sanadas durante o ano através desses cursos de formação. “Hoje sabemos que o ensino híbrido não é só mesclar atividades remotas e presenciais, mas também usar durante essas aulas as chamadas metodologias ativas, buscando o protagonismo dos alunos através da personalização da aprendizagem. Dessa forma me sinto preparado, apesar de saber que o professor está sempre em um grande processo de construção”, revela.

Para outra educadora, Bárbara Fernandes, que leciona Língua Portuguesa e Produção Textual em uma escola municipal em Duque de Caxias, essa relação com a tecnologia não foi fácil. “Muitos não têm acesso à internet e a maioria sequer possui computador. A única forma de contato é o celular mesmo. Quase todos apresentam dificuldades em mexer no e-mail. Não têm noções do gênero textual e suas ferramentas”, afirma.

O que ela fez para tentar amenizar esse distanciamento com os estudantes foi criar grupos no WhatsApp. Segundo Bárbara, no início surtiu efeito, mas ao longo do ano o distanciamento foi maior por parte dos alunos. “Poucos faziam alguma devolutiva ou tiravam dúvidas”, lembra. Apesar disso, a professora acredita que essa ainda é a melhor maneira de ter contato com eles. “Seria importante haver um aplicativo que não estivesse com vínculo ao número de telefone ou ainda que a plataforma oferecesse uma aba com um leiaute semelhante ao WhatsApp de conversas e envio de áudio”, sugere.

 

O que esperar da educação para 2021?

Para o professor Eduardo, o ano de 2021 vai ser ainda de grandes transformações e mudanças com a educação híbrida. “Estaremos cada vez mais nos reinventando, buscando nos atualizar nas novas ferramentas tecnológicas. Ficou claro que tivemos um salto na educação, e o propósito de ser inovador/criativo foi uma das habilidades mais trabalhadas entre nós, os professores, em 2020”, afirma.

Para ele, essa evolução do ensino on-line é um novo futuro na educação brasileira. Ele espera ainda que esse avanço contribua para a valorização do professor e que a sociedade possa visualizar ainda mais esse profissional. “Creio que os pais/familiares conseguiram sentir na pele o nosso dia a dia, que foi bastante desafiador, desgastante e emocional em 2020”, garante Eduardo.

De acordo com o professor de matemática Joel Figueira Jorge as expectativas para esse ano que se inicia são as melhores possíveis. “Sabemos que ainda estamos passando por um período de pandemia e que devemos continuar nos cuidando seguindo todas as medidas de proteção contra a contaminação pelo coronavírus, de modo que nossa escola – Alberto Monteiro de Carvalho – Salesiano Jacarezinho – está seguindo todos os protocolos de saúde para que possamos ter a maior segurança no nosso retorno”, garante.

O professor Joel ressalta que 2021 será um ano de oportunidades, haja vista que a comunidade escolar terá a chance de colocar em prática tudo que foi aprendido durante o ano passado. “Iremos usar os aplicativos, jogos, atividades lúdicas, tudo que for possível para dar sentido no estudo da Matemática, de forma que essa disciplina se torne a preferida de muitos alunos. Através do uso de metodologias ativas durante o Ensino Híbrido, as aulas ficarão muito mais interessantes, interativas e motivadoras”, afirma.

Uma outra expectativa do professor diz respeito ao início do uso da nossa nova relação de livros (coleção Rotas). “A coleção foi muito bem construída tendo como base a BNCC e oferece para professores e alunos uma quantidade enorme de possibilidades de trabalhar os conteúdos. Ela explora o uso das novas tecnologias e, numa abordagem dinâmica, interativa e significativa, convida o aluno para uma viagem pelas trilhas do conhecimento seguindo os pilares pedagógicos salesianos”, vislumbra o professor que certamente tem consciência de que há muita coisa a se explorar. “Por tudo isso considero esse ano de 2021 muito importante para a formação global do aluno, e as expectativas para colocarmos tudo em prática são imensas”, atesta Joel.

Já a educadora Bárbara Fernandes acredita que 2021 será definitivamente o ensino híbrido sendo aplicado nas escolas públicas. Porém, com grande dificuldade por conta do perfil do alunado e da estrutura que as instituições oferecem. “Os colégios particulares já estavam se adequando às metodologias ativas e ao ensino híbrido, mas como sempre a escola pública corre retardatária nessa esfera. Realmente acredito num direcionamento melhor em relação ao uso de ferramentas virtuais, seja através de e-mails cadastrados, números de celulares com aplicativos ativos ou plataformas mais acessíveis e intuitivas”, explica Bárbara.

Segundo a diretora Adriana Tiago, os professores da escola que dirige passaram por uma capacitação, a fim de aperfeiçoar o manuseio e a aplicabilidade desses equipamentos tecnológicos que hoje já fazem parte de sua profissão. “Os docentes vão tirar de letra o ensino hibrido. E agora é só aguardar para ver todo esse funcionamento na prática e ajustar aquilo que for preciso. Como na nossa escola os professores já trabalharam com várias metodologias ativas, isso vai ajudar e muito nesse momento, além do apoio tecnológico que temos de algumas plataformas em disciplinas como matemática, redação e outras”, explica Adriana.

 

Já para a mãe Ana Carolina, a educação em 2021 será com consciência e afeto. Ela deseja que as escolas entendam a situação que estamos vivendo e que não fiquem na ânsia de aulas presenciais a todo custo, enquanto vivemos uma pandemia grave. “E que, tanto no modelo remoto quanto no retorno presencial, as escolas acolham as crianças com carinho e escuta, não apenas as coloquem em uma sala de aula, virtual ou não, para dar continuidade a um processo”, garante.

 

Ensino híbrido: como vai funcionar?

Em muitos locais, o ensino remoto migrou para o ensino híbrido, no qual os professores precisam dar aulas presenciais e continuar ministrando aulas remotas. Como essa nova mudança vai funcionar daqui para frente? Mas antes de respondermos essa pergunta e apresentarmos algumas opiniões de especialistas, a Appai, através do benefício EAD, traz para o professor muitas novidades acerca da temática Ensino Híbrido, incluindo cursos, palestras, lives, vídeos e muito mais conteúdos que vão não somente contribuir para a capacitação e formação do docente, mas, sobretudo, aprimorar ainda mais a formação prática do professor nesse novo ano que se inicia.  Clique e saiba como ter acesso ao passo a passo dos cursos EAD Appai.

Para entender mais sobre o assunto e auxiliar educadores nessa nova etapa, conversamos com a especialista em educação, consultora educacional e psicóloga Carla Jarlicht, que também atua como palestrante, sobre sua experiência de 20 anos como professora e coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental. Confira!

A especialista afirma que todas essas mudanças ainda são muito recentes, mas parece que o conceito de ensino híbrido vem sendo mal compreendido. Para ela, trata-se de uma combinação entre atividades no presencial, em sala de aula, como vem sendo realizado há tempos, com o modo on-line, no qual as tecnologias digitais são ferramentas empregadas para enriquecer o ensino (e não necessariamente o aluno está fora da escola). “Uma vez que nem todos os estudantes estarão presentes, é possível que o professor precise elaborar um planejamento diferenciado para o grupo que estiver em casa, a menos que esse grupo usufrua das aulas presenciais sincronicamente”, explica.

Carla Jarlicht ressalta que, de uma maneira ou de outra, existe uma mudança radical em relação à proposta de ensino tradicional e tudo caminha cada vez mais para que se torne personalizado. Para ela, como toda e qualquer mudança é preciso tempo, paciência e investimento na formação do professor para que ele possa abraçar esse novo lugar com propriedade e confiança. E esse processo é sempre trabalhoso, podendo ser também estressante caso o professor não tenha o apoio necessário.

De acordo com a consultora educacional, é possível que os professores estejam se sentindo inseguros, principalmente em relação à sua saúde e a de seus familiares e pessoas próximas, considerando ainda que estamos imersos no frágil e incerto contexto da pandemia. “Isso precisa ser legitimado pela escola, que por sua vez necessitará investir no diálogo com seu corpo docente para que juntos possam alinhar expectativas e pensar em outras estratégias para essa nova etapa escolar contemplando o bem-estar de todos, especialmente dos professores, pois são eles que estão na linha de frente com seus alunos”, aconselha Carla.

 

1. Acesse o Portal do Associado com sua matrícula e senha:

2. Ao logar, clique no menu BENEFÍCIOS:

 

3. Clique em Educação Continuada a Distância:

 

4. Na tela que abrir, posicione o mouse em “Educação Continuada On-line”:

 

5. Clique em “Acesse”:

 

6. Após ler as orientações importantes, clique em ENTENDI no rodapé da página:

 

7. Você acessará o ambiente da EAD Appai. Na parte superior basta pesquisar pelo nome do curso que deseja, na caixa abaixo:

 

8. Clique em “Procurar curso”:

9. No resultado da busca, aparecerá o curso pesquisado. Basta clicar sobre ele:

 

10. E na sequência é só clicar em “Iniciar curso” que você iniciará o curso na EAD Appai.

 

 

Como o professor pode cuidar da saúde mental nesse período?

A especialista afirma que a pandemia abalou três necessidades básicas do ser humano: a pertença (relacionada aos vínculos afetivos), a competência (relacionada à capacidade de estar no controle) e a autonomia (relacionada a nossa capacidade de tomar decisões tendo em vista as consequências). Por isso, ela ressalta que é preciso estar atento a esses aspectos em especial porque eles vão reverberar nas formas de pensar, sentir e agir.

Carla Jarlicht explica que precisamos observar os sinais de cansaço, irritação, ansiedade e tristeza. “Sempre que algum sentimento impede aquilo que precisamos realizar, é preciso ligar o sinal de alerta. Respirar, falar sobre o assunto que aperta o peito e buscar ajuda especializada podem ser alguns caminhos”, declara.

Segundo ela, os professores ocupam um lugar de extremo valor dentro da sociedade e que é de bastante responsabilidade, sendo por isso extremamente exigidos. “E vivemos um momento em que todos os olhares se voltam para eles, como se estivesse apenas nas suas mãos a solução para os problemas gerados pela pandemia. Para não cair na cilada do herói, é importante que os docentes entendam que são primeiramente humanos e que por isso podem direcionar para si mesmos o olhar generoso que direcionam para os seus alunos, respeitando, assim, os seus próprios limites”, afirma Carla.

Compartilhando da opinião dos especialistas, a diretora pedagógica Adriana Tiago enfatiza que, apesar de hoje estar muita animada para esse recebimento dos alunos, não podem ser deixados de lado os impactos da atividade home office. “O trabalho em casa exige muito da equipe pedagógica e administrativa, sem falar na parte intelectual. Eu, por exemplo, tive síndrome de ansiedade nesse período. Apesar de torcer para o retorno a fim de estreitar os laços afetivos com os alunos, que são superimportantes para a aprendizagem, as minhas preocupações em seguir e cumprir todos os protocolos de segurança, bem como o bem-estar de toda a comunidade escolar, são constantes”, avalia Adriana.

 

Dicas para ajudar nas atividades cotidianas

Para evitar o aumento de estresse, a especialista recomenda pensar no planejamento da semana, equilibrando suas responsabilidades pessoais e de trabalho. Além disso, é fundamental reservar alguns pontos da semana ou do dia para relaxamento. “Às vezes, parar dez minutos para tomar um café longe da tela pode ser tudo o que se precisa para recarregar, para arejar a cabeça. Se puder se exercitar ou apenas esticar o corpo, melhor ainda! Outra coisa importante é se perguntar quanto às prioridades. Quais são elas de fato? O que é urgente de verdade? Será que é possível distribuí-las, endereçá-las melhor ou até partilhá-las com alguém?”, recomenda.

De acordo com Carla, outro aspecto a ser considerado é relativo ao tempo que vai se passar trabalhando. Se a hora para começar é importante ser cumprida, a de encerrar é igualmente necessária. Por isso, determine (e respeite) o seu tempo! “Nosso corpo precisa de pausas para pensar melhor e para a gente ser mais feliz com o que faz. Da mesma maneira que o professor procura a todo custo e, principalmente no atual contexto, evitar exigências desnecessárias com os alunos, esse mesmo cuidado precisa ser direcionado a ele próprio. Fortalecer o que já faz bem pode ser um caminho mais tranquilo e promissor no cuidado com a saúde mental”, garante a especialista.

 

E os estudantes, o que acham do retorno ao presencial?

Enquanto as escolas e os órgãos oficiais de educação se preparam para pôr em prática uma estratégia para retorno das aulas presenciais, os alunos também se veem na expectativa depois de praticamente um ano sem o convívio com o cotidiano escolar. Algumas questões têm predominado nas preocupações deles.

É o caso de Luciana Lima, que em 2020 começou a cursar o 6º ano em uma escola privada da cidade. Ela mudou de ciclo (iniciando o Ensino Fundamental II) e, antes mesmo de fazer as primeiras amizades, já teve que conviver com os colegas em salas de aula virtuais. “Agora pinta uma certa insegurança em voltar a estar com as pessoas ao vivo, depois de tanto tempo só on-line. Mas uma hora isso ia ter que acontecer, né!”, declara conformada a adolescente de 12 anos.

Uma outra questão que têm deixado alguns alunos intrigados é sobre se de fato ainda há o perigo da contaminação. Jefferson Olímpio, de 11 anos, que cursa a 5ª série do Ensino Fundamental na Escola Municipal Alcides Gáspari, em Higienópolis, Zona Norte da cidade, se mostrou preocupado. Afinal, a sua família tem tomado muitos cuidados durante o isolamento social, já que em sua casa moram duas pessoas que são classificadas como mais vulneráveis. “A gente fica sempre com medo de pegar o coronavírus na escola e passar para as pessoas em casa. Não quero que a minha mãe e a minha vó fiquem expostas à doença”, desabafa em tom de certa apreensão. Como se pode ver através de casos como esses, as autoridades, pais e professores não são os únicos a demonstrar insegurança quanto ao retorno das aulas presenciais.

 

E como fica a BNCC em 2021?

Você sabia que, de acordo com o Ministério da Educação, a perspectiva é de que sejam necessários pelo menos dois anos para recuperar o que ficou para trás em 2020? Apesar de ofuscada pela pandemia do novo coronavírus, o documento que guia as aprendizagens essenciais do ano letivo da Educação Básica, a BNCC, teve a tarefa de dar apoio ao planejamento das redes no ensino a distância, pois ela orienta a reorganização das aprendizagens e repensa a prática do professor.

Ao falar de recuperação de conteúdo, ganhamos uma nova dimensão após meses de covid-19, pois se de um lado estão os alunos, do outro também está a preocupação dos professores em dar continuidade a um ensino de qualidade, o que gera um grau considerável de ansiedade.

Afinal, como serão recuperadas todas as aprendizagens neste ano? Como será possível dar continuidade ao conteúdo? E nesta visão a pergunta que fica: como dar conta de dois anos em um? De acordo com Ivanilde Pereira, coordenadora pedagógica do Colégio Irmão Pedro, em Porto Alegre, não dá para colocar tudo nas costas deste novo ano. “Mesmo se aumentar a carga horária será muito difícil recuperar, pois o aluno tem limites na absorção da aprendizagem. E esse tempo é fundamental, por isso não pode ser acelerado”, ratifica.

Para se ter uma noção, de acordo com um artigo publicado no site G1 Educação, as estratégias internacionais trabalham com perspectiva de pelo menos dois anos à frente. No Chile, por exemplo, foi proposta uma flexibilização curricular de três anos. Já na Argentina e no Equador estima-se para 2023. “É preciso pensar também que um prazo de recuperação visando anos à frente pode ser solucionado aos anos iniciais do fundamental, mas será preciso buscar novas estratégias para o Ensino Médio”, alerta Ivanilde.

Mesmo com essa realidade, presente e ainda persistente, a volta às aulas em 2021 pode ser muito proveitosa, dizem especialistas entrevistados pela Revista Appai Educar. O professor de matemática Joel Assumpção pede que os educadores se atentem aos requisitos da BNCC. “Na Base tem todas as orientações que os professores precisam. É importante acompanhar na hora de montar sua performance pedagógica anual. No início do ano letivo sugiro: prever avaliações diagnósticas no começo do ano para ter um panorama real do que ficou para trás; fazer um bom planejamento do tempo do estudante; investir em atividades fora do horário escolar; alunos com níveis diferentes de aprendizagem podem se apoiar. Para isso acho interessante investir em atividades em dupla”, enaltece o professor.

Para a diretora pedagógica Adriana Tiago Costa, da Escola Alberto Monteiro de Carvalho, a acolhida dos alunos em vários ambientes, bem como a recepção de retorno, é muito importante. “Avaliar como está a aprendizagem dessas crianças para saber o que se precisa retomar e os conteúdos que necessitam ser aprofundados é uma das nossas metas, pois esse balanço da aprendizagem realizada em casa deve ser bem acompanhado para que possamos ter um diagnóstico e, sobretudo, saber se os objetivos foram atingidos”, diz a diretora pedagógica.

Já a psicopedagoga Janaína Silva analisa que é preciso lembrar que, depois do intenso isolamento social, há necessidade de planejar também ações para fortalecimento do vínculo dos alunos e famílias com a escola, fazer busca ativa para evitar a evasão, manter a articulação com a comunidade e investir num acolhimento amplo. “O planejamento pedagógico precisa focar na parte física e emocional de toda a equipe escolar, dos alunos e estar preparado com uma metodologia para abranger diversos cenários, sem esquecer os modelos presencial, híbrido e remoto, que serão fundamentais nesse retorno”, indica.

 

Mapa de foco da BNCC

Um dos materiais que tem ajudado muito os professores na hora de planejar as tarefas do ano letivo tem sido os mapas de foco. O Instituto Reúna disponibiliza gratuitamente um material que apresenta aprendizagens prioritárias de cada ano do Ensino Fundamental sob a ótica da BNCC.

A partir do estudo do documento, os arquivos sugerem a progressão de habilidades a serem priorizadas e pontuam objetivos de aprendizagem esperados para cada uma delas, auxiliando o educador na hora de preparar seu material anual.

Faça download aqui

 

Chegou a hora de planejar o ano letivo

Especialistas indicam que neste ano será preciso se reinventar antes de começar as aulas

O ano de 2021 já começou e já é encarado como incerto dentro da educação. Neste cenário de instabilidade, as escolas têm o objetivo de planejar, levando em consideração a presença da pandemia e sem a previsão de vacinação contra a covid-19. Enquanto algumas das reuniões de planejamento serão virtuais, outras já acontecem de forma presencial, seguindo orientações das redes de ensino. Mas, independentemente do formato, para que a reunião seja bem-sucedida, é indispensável preparar os educadores com informações prévias que possam apoiá-los.

Em uma conversa exclusiva para a Revista Appai Educar, a coordenadora pedagógica Solange Teles ratifica que, para início de conversa, toda equipe deve ser envolvida no planejamento. “A reunião para este ano será completamente diferente, pois é preciso viabilizar o ensino remoto ou híbrido, pois não sabemos como essa lógica se sucederá. A princípio, hoje, a volta presencial está marcada, mas não sabemos como será, pois essa doença tem altas e baixas, por isso precisamos focar em todas as possibilidades”, preconiza Solange.

Já no Colégio Estadual de Seabra, na região da Chapada Diamantina, na Bahia, a coordenadora pedagógica Janaína Barros propõe que os pontos a serem trabalhados sejam definidos com base no que foi vivido pela comunidade escolar ao longo do ano anterior. “É preciso se conectar com os indivíduos e com os contextos e entender quais as discussões da jornada”, diz a coordenadora que também é formadora no Instituto Anísio Teixeira.

A coordenadora pedagógica Marta Teixeira, da Escola Municipal Francisco Beltran Batistini Paquito, em São Bernardo do Campo, em São Paulo, corrobora que será necessário também adotar o olhar para o percurso de aprendizagem do biênio 2020/2021, considerando conhecimentos, habilidades e conteúdo que não foram trabalhados no ano anterior ou que necessitam ser reforçados. “Vivemos um ano totalmente atípico em 2020, e as avaliações e atividades que nós fizemos ao longo da pandemia será o início do caminho para planejar 2021”, alerta.

Para Solange Teles, as informações prévias devem conter os registros e avaliações que foram feitas no ano anterior. “Os professores podem previamente enviar à reunião os materiais trabalhados para a direção com o intuito de compartilhar as experiências com toda a equipe”, sugere.

Outra dica da coordenadora pedagógica é apresentar um calendário com as reuniões do ano. “Além disso, é importante citar as temáticas e como elas serão desenvolvidas, tudo baseado no projeto político-pedagógico (PPP). Será neste momento que os professores poderão ler e aprimorar seus planejamentos”, enfatiza Solange, sinalizando que uma das formas de realizar essa reunião pode ser pelo Whatsapp. “Antecipar essas informações vai ajudar na hora de o professor contribuir com novas ideias, já que ele poderá pesquisar previamente”, confirma a coordenadora.

 

Pontos primordiais para o planejamento

– Antecipe informações que possam contribuir para que os professores se preparem para o encontro;

– Liste os conteúdos que não foram explorados no ano anterior;

– Combine regras para as reuniões on-line;

– Não esqueça de nenhum membro da equipe escolar;

– Considere atividades que possam ser desenvolvidas de forma remota;

– Aprimore para o ano novo todas as atividades do ano anterior;

– Enalteça as dúvidas para que sejam solucionadas a partir da visão da secretaria de educação.

Além dos desafios em torno da educação a distância, ainda há inúmeras dúvidas sobre sua aplicação. Por isso, é primordial conversar com a equipe sobre essa forma de ensino. Solange Teles diz que a melhor¬¬ didática é pesquisar como outras unidades escolares estão trabalhando. “Há diversas escolas públicas que se tornaram referência nessa modalidade. No próprio site do Ministério da Educação tem conteúdo que pode ser utilizado como inspiração livremente. É importante buscar essas boas práticas e adaptá-las à realidade da sua comunidade escolar”, pondera Solange.

Ela também sugere preparar um material de apoio para os professores, com dicas de leitura e vídeos sobre o assunto, principalmente para os docentes da Educação Infantil. “Por ser uma novidade nessa fase de aprendizagem, tem que conversar nesse planejamento, para sanar todas as dúvidas para que na hora de lecionar tudo saia dentro do previsto. E, neste cenário, a gestão escolar deve ser a grande difusora de possibilidades, por isso a necessidade de trabalhar de forma antecipada para apoiar os professores nessa adaptação”, sinaliza Solange.

A coordenadora ainda ratifica a importância de planejar o ano letivo de 2021 visando a possibilidade de um aluno ter ou não internet em casa, bem como computador ou celular para acessar o conteúdo.

E para finalizar, Solange é enfática em relação ao planejamento: “Hoje o foco deve ser, primeiramente, acolher a equipe, de modo que esse acolhimento seja repassado para os alunos e familiares”.


Por Antônia LúciaJéssica AlmeidaRichard Günter e Sandro Gomes


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