RETRATO DA ARTE

Alunos surpreendem com releituras e ganham exposição


Uma escola à frente de seu tempo, em que a arte se revela e mostra o seu lado transformador através da linguagem, da emoção e da percepção criativa. Um projeto proposto pela professora Michélle Santoro Rodrigues da Silva resultou em mais de 40 releituras de obras de arte nacionais e internacionais e uma surpreendente exposição virtual nas redes sociais da no Seeduc.

A manifestação do conhecimento no Colégio Estadual Erich Walter Heine perpassa de maneira interdisciplinar em todos os sentidos, e um desses canais está na disciplina de Artes lecionada pela professora Michélle, que também é Coordenadora Pedagógica na Estadual Francisco Palheta e especialista em Arteterapia.

Estudante Luiza Castro, turma 3.004, encena a obra “Menina com o Brinco de Pérola”, de Johannes Vermee

Localizada na Zona Oeste, em Santa Cruz, a escola de horário integral com formação técnica em Administração avalia seus alunos de uma forma ampla. “Como nosso currículo é diferenciado, aqui eles têm artes no segundo e no terceiro ano do Ensino Médio. Com a terceira série, nós trabalhamos a História da Arte Brasileira, com foco no Enem, integrando os conteúdos com Literatura.

E já é ‘tradição’ o terceiro ano desenvolver trabalhos maiores ligados à linguagem artística. E eles amam.”, enfatiza Michélle.

A aluna Emilly Caroline Simplício da Luz, turma 3.002, encena a obra “Jovem Espanhola Tocando Violão Música 1898”, Pintura de Pierre-Auguste Renoir

De acordo com a escola, ano passado, por exemplo, a comunidade escolar desenvolveu o projeto Diversidade Cultural, um trabalho sobre questões de igualdade de gênero, enquanto o terceiro ano fez uma exposição fotográfica sobre a moda ao longo da história e um desfile sobre moda contemporânea. Já esse ano, explica a professora, o trabalho continuou, mas com uma diferença. Saíram do presencial e se instalaram no virtual.

 

Superando os limites

Dificuldades e ajustes à parte, professores e alunos mais uma vez mostraram que não há barreiras para a disseminação de conhecimento. Contudo, não dá para ignorar os desafios de realizar um projeto tão grandioso num momento tão desafiador, como relata a Coordenadora Pedagógica da escola, Simone Almeida.

“Lançar essa proposta de trabalho logo no começo das atividades remotas, bem no momento em que todos estavam se reconstruindo, foi um desafio coletivo. Apesar de tudo, sabíamos que não era uma tarefa que nossos alunos não dariam conta, pois é uma prática da escola trabalhar com projetos onde cada estudante, cada grupo ou cada turma trabalha separadamente para compor o coletivo”, revela Simone.

Kamila Pereira, turma 3.003, encena Frida Kahlo, pintora mexicana

Entretanto, a grande questão nessa proposta era superar toda a limitação que o novo contexto impunha física e emocionalmente. “Queríamos que esse trabalho mostrasse aos alunos que é possível ver o cotidiano sob uma nova perspectiva, que elementos corriqueiros da nossa vida poderiam servir de inspiração para criar algo novo que ajudasse outras pessoas, por um breve momento, a se desligarem da realidade pandêmica e caótica. A arte tem esse poder de nos conectar com o sentimento e o olhar do outro”, contextualiza.

Em meio ao isolamento, a professora Michélle ressalta que tinha a necessidade de fazer algo a mais. “Eu decidi que doaria máscaras de tecido e, com o material que eu tinha em casa, consegui oferecer 67 unidades para as pessoas que não podiam comprar e que precisavam trabalhar”. E foi nesse elo solidário que chegou às mãos de Michélle, através do Whatsapp, um vídeo de releituras e na mesma hora nasceu a ideia de propor o trabalho para os alunos.

Com o total apoio da Coordenadora Pedagógica Simone Almeida, o projeto teve início entre as turmas do 3º ano. “É muito acolhedor ter uma equipe pedagógica que apoia suas ideias e é aberta ao diálogo, pois não nos sentimos sós. Esse fato faz toda a diferença para nós professores e se reflete em sala de aula. É um elo que não se quebra”, destaca a docente reconhecendo a importância do apoio recebido da escola.

A aluna Ana Clara Batista Diniz, turma 3.005, encena “Madame X”, datado de 1884, de autoria do famoso pintor norte-americano John Singer Sargent

Estratégias traçadas, na semana seguinte, durante a aula de Artes, Michélle passou o vídeo para as turmas 3.002, 3.003, 3.004 e 3.005 e explicou que o trabalho deveria ter como fonte de inspiração o conteúdo sobre releituras. “Eu fiz questão de pontuar aos alunos que aquele projeto seria na verdade uma forma deles se expressarem através daquela atividade”, garante.

Anderson Willian da Costa Porto, turma 3.004, encena “A mulher escravizada Anastácia”,  de Pompéu, datada de 1740 

 

Um celular na mão e uma ideia na cabeça

Conta a docente que a aceitação foi imediata. Apesar da total liberdade dada pela professora para que o trabalho fosse realizado, havia algumas regras a serem cumpridas. Uma delas era que os alunos não podiam se encontrar, cada um tinha que fazer a sua parte com o que tivesse em casa e poderia contar com a ajuda da família.

A aluna Ana Clara descreve que as aulas da professora Michélle deram um novo rumo aos seus dias de isolamento. “Quando ela entrou na ligação meu dia melhorou 100%, parecia que eu não estava só, sabe?, vibra a estudante que, ao receber a pauta, rapidamente iniciou a pesquisa em busca por uma obra de arte. “Peguei a melhor roupa, fiz minha maquiagem e tudo que precisava. Meu dia estava bem diferente, me ajudou muito”, garante Ana Clara Diniz, agradecida à professora Michélle que lançou o desafi o e conseguiu tirá-la daquela rotina. “A arte existe para que a realidade não nos destrua, diz Nietzsche”, filosofa a aluna parafraseando o pensador.

Yan Alves, turma 3.005 , encena a obra “Cabeça de Homem”  de Antônio Rafael Pinto Bandeira, de 1891

 

Contando o tempo…

A partir da data do envio do vídeo inspiração, os alunos tiveram 30 dias para entregar os trabalhos. “E nesse meio-tempo postei para eles alguns links de visitas on-line a museus nacionais, para estimular a pesquisa, uma vez que havia proposto que faríamos uma exposição virtual na página do Facebook da escola e na própria plataforma de ensino remoto”, relembra.

Para a aluna Emilly Carolyne Simplício da Luz, mesmo a distância é uma das matérias com que mais interagiu. “A internet ajudou a busca a ser mais rápida. Eu adorei o trabalho, me senti feliz por ter participado! Minha família e meus amigos também gostaram muito do resultado, disseram que foi muito criativo e legal!”, sinaliza a estudante. E no prazo fi nal, após os 30 dias, mais de 40 versões das mais variadas obras de artes foram entregues com um alto nível de produção, criatividade e afi nco que acabou surpreendendo toda a equipe pedagógica da Erich. “Quando vi o resultado do trabalho deles, eu corri atrás para que fosse publicado pela Seeduc nas redes sociais. Mas não os avisei e, quando já estava no ar, foi uma festa, eu tinha certeza de que eles mereciam serem vistos, as pessoas precisavam saber que na Zona Oeste tem gente batalhando duro, por si mesmo e pela própria sociedade, chega de invisibilidade”, sentencia Michélle.

Para o aluno Anderson Willian, fazer parte desse projeto no ambiente de ensino remoto foi muito tranquilo. “A professora se colocou à disposição para tirar todas as minhas dúvidas. Tive dificuldade em escolher qual obra de arte seria a melhor para fazer uma releitura. Adorei o resultado do trabalho, pois percebi que as pessoas gostaram bastante do produto final da minha releitura e da forma criativa que foi realizada”, diz Anderson.

Essa sensação de dever cumprido com louvor não foi apenas por parte dos estudantes. A Coordenadora Pedagógica Simone Almeida conta emocionada como foi receber os trabalhos.

Estudante Maria Eduarda Dalto de Oliveira, turma 3.004 , encena “Maternidade”, de Tarsila do Amaral

“Fomos tomadas por uma alegria, uma emoção muito grande. Pois pensamos nas dificuldades que cada aluno estava passando (perdas, falta de internet, celular limitado, falta de notebook, computador ou tablet, problemas familiares, enfi m) e como eles lutaram para realizar essa atividade. Acreditamos que uma palavra resume a atitude dos alunos do 3º ano: superação”, pontua a Coordenadora Pedagógica.

A professora Michélle irradia alegria ao falar do resultado do projeto. “Dentro do que está sendo possível fazer, avalio superpositivamente o trabalho, os alunos têm se superado de todas as formas. E individualmente sei que a atividade foi muito ressignificante, já que permitiu que se pudesse olhar o mundo, que já não é mais o mesmo, de uma outra forma, diferente, mas possível”, finaliza a professora.


Por Antônia Lúcia
Colégio Estadual Erich Walter Heine
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