PEQUENAS ATITUDES, GRANDES MUDANÇAS!

Ao chegar na nova turma, uma professora identifi cou diversos problemas e mostrou como reverteu tudo isso através de um projeto bem estruturado


Afastada da sala de aula há 13 anos, para exercer a função de gestora escolar, a professora Vilma Soares reassume como regente de uma turma na Escola Municipal Carlos Drummond de Andrade, localizada em Duque de Caxias. O que ela não imaginava é que viria um grande desafi o pela frente. A turma já havia passado por diversos profi ssionais e tinha sido montada com alunos que não haviam tido bom rendimento nos anos anteriores.

No primeiro contato, a educadora percebeu muita agressividade, tanto verbal quanto corporal entre eles. “Fui notando que muitos apresentavam baixa autoestima e se recusavam a tirar fotos. Observei também ausência de afeto entre os colegas e com a família, além de problemas na aprendizagem. Poucos alunos dominavam a leitura, e a escrita não havia sido consolidada”, relata Vilma.

Livros dos autores Ziraldo e Ana Maria Machado foram utilizados para discutir a importância da autovalorização e do respeito às diferenças

Como todo projeto nasce de uma necessidade, a professora viu que era preciso uma intervenção pedagógica, que pudesse atuar nesses três problemas: deficiência na alfabetização, agressividade e baixa autoestima. Com tudo isso em mente Vilma idealizou o projeto Laços entre Nós. “A ideia é melhorar tanto as condições de leitura e escrita dos alunos, quanto a convivência entre eles, estreitando as relações de amizade e desatando os nós que o bullying estava causando”, explica a professora.

Além disso, Vilma conta que o intuito principal do projeto é estimular o respeito às diversas diferenças existentes entre os alunos, favorecendo o aumento da autoestima e a empatia entre eles, com vistas ao aperfeiçoamento da leitura e escrita e a inserção e utilização de novas tecnologias em sala de aula. Para que tudo isso fosse possível, a docente dividiu o projeto em 10 etapas:

 

1ª etapa: dinâmica com os responsáveis

O objetivo foi a inserção da família nesse processo. Para isso, a educadora realizou uma dinâmica com os responsáveis dos alunos em reunião, que tiveram que adivinhar a letra do filho nos cartões expostos. A pergunta que constava nos cartões era:

o que meu responsável tem de melhor? Nele, cada estudante respondeu por meio de palavras e desenhos.

 

2ª etapa: sessão de filme

Vilma escolheu para essa etapa o filme Toy Story 4, que aborda a questão da valorização pessoal, da empatia e da amizade. Ao final da exibição foi aberto um bate-papo, e os estudantes puderam expressar verbalmente sobre o que gostaram, perceberam e aprenderam com a mensagem do filme.

 

3ª etapa: cadeira do elogio

Foi criada uma roda com os alunos e colocada uma cadeira no centro. Aquele que se sentasse recebia os elogios dos colegas. A finalidade dessa dinâmica é criar a cultura do elogio entre os estudantes verbalmente.

 

4ª etapa: por dentro e por fora

Um painel coletivo foi montado com as fotos dos alunos com espaço para serem colocados elogios elaborados pelos colegas de classe, através de fi chas. Nessa fase, houve a inserção de gramática com o uso de adjetivos, a produção escrita individual e a revisão coletiva, que foram primordiais na execução dessa etapa.

 

5ª etapa: criação do caderno dos elogios

Nesta etapa os alunos começam a elaborar frases com elogios para os amigos da sua e de outras turmas, além de funcionários, fortificando assim a cultura do elogio, através de um caderno que circula por toda a comunidade escolar.

 

6ª etapa: eu sou VIP

Inspiradas nas brag bracelets, as pulseiras VIPs motivacionais foram criadas para os alunos com a fi nalidade de enaltecer e destacar o melhor de cada aluno, em forma de incentivos.

Eles criaram histórias em quadrinhos através de diálogos construídos em dupla e fizeram a releitura desses diálogos através de fotos com filtro de cartoom

 

7ª etapa: gênero textual bilhete

Eles criaram o “carinhódromo”, um meio de comunicação através de bilhetes afetuosos entre os alunos da turma. Começaram com a participação dos responsáveis, só que dessa vez eram eles que respondiam a pergunta. Nos bilhetes, também foram usados emojis para fazer alusão às mensagens instantâneas. Na ocasião, discutiram o uso das redes sociais de forma responsável, falaram sobre o cyberbullying, sobre a Lei Carolina Dieckmann e foi enfatizado que não há anonimato nas redes sociais, mesmo sendo utilizados nicknames (apelidos).

 

8ª etapa: piquenique literário

Livros dos autores Ziraldo e Ana Maria Machado foram utilizados nessa etapa. Também foram discutidos a importância da autovalorização e do respeito às diferenças.

 

9ª etapa: gênero textual gibi

Criaram histórias em quadrinhos através de diálogos construídos em dupla, incluindo a temática do projeto e criação do cartaz “essa turma não está no gibi!”.

 

10ª etapa: gênero digital

Nessa etapa, desenvolveram o cartaz: E quem disse que essa turma não está no gibi?

Eles também fizeram a releitura dos diálogos através de fotos com filtro de cartoom. A professora trouxe o bullying como um vilão que necessita ser combatido. E para exterminá-lo os alunos precisariam usar superpoderes, como empatia, amizade, amor, carinho e respeito. Para isso, utilizou tecnologias como o QRCODE. Construíram o código em sala de aula, com o superpoder de cada herói, e depois fizeram a leitura de todos os QRCODEs expostos em cartaz.

Após todas as etapas concluídas, a educadora percebeu que os alunos que antes apresentavam vergonha de tirar uma simples foto não apresentavam mais nenhuma atitude que denunciasse qualquer tipo de problema com a autoimagem. “Observei também uma visível mudança no relacionamento entre eles, que antes beirava a agressividade e que deu lugar ao respeito, ao carinho e à empatia”, conta Vilma.

Construíram também um código em sala de aula, com o superpoder de cada herói, e depois fizeram a leitura de todos os QRCODEs expostos em cartaz

E não foi somente a professora que sentiu esses progressos. Todos os profissionais que lidavam diretamente com os alunos também perceberam a mudança comportamental da turma, que antes era barulhenta e agressiva, passando para um grupo harmônico e tranquilo.

Segundo a professora, o engajamento da família no processo de afetividade e de aprendizagem aumentou consideravelmente, a ponto de impactar positivamente no desenvolvimento dos estudantes. “Os alunos que inicialmente só dominavam a leitura passaram a progredir também na escrita de forma natural. Acredito que o ativismo do projeto foi de extrema importância, pois possibilitou a transformação da vida deles, baseado numa educação mais humana, mais participativa e mais cooperativa, sem largar mão da inovação e do uso de tecnologias”, finaliza Vilma.


Por Jéssica Almeida
Escola Municipal Carlos Drummond de Andrade
Rua Goindira, 343 – Imabariê – Duque de Caxias/RJ
CEP: 25266-070
Tel.: (21) 2778-3673
Fotos cedidas pela professora


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