Folclore Brasileiro: raiz de uma nação

Saiba por que a diversidade cultural é uma ferramenta primordial para que a riqueza histórica do país seja enaltecida


Nos quatro cantos do mundo, o folclore se faz presente na história raiz dos povos. No Brasil, quem nunca ouviu falar do Saci-Pererê, Curupira e Boto-cor-de-rosa? A palavra “folclore” tem origem inglesa formada pela composição de dois elementos: folk, que significa “povo”, e lore, que quer dizer “sabedoria, conhecimento, cultura”. Diante dessa premissa, podemos refletir sobre a importância da nossa história como parte de um legado.

Não à toa, o folclore se traduz no saber popular que se valoriza e que se perpetua em sua dimensão. É quase impossível falar sobre a história do Brasil, diante de sua imensidão, com tantas influências e tradições, sem deter a atenção com afinco em seu folclore. As pessoas que se interessam pelos conhecimentos, crenças e costumes populares atravessam um incrível e fascinante cenário de aprendizado acerca do legado de uma época ou região, bem como pela identidade cultural. E claro, saem enriquecidos por símbolos que deram origem ao modo de pensar, sentir e agir de nosso povo.

O nosso folclore é destacado por atributos das culturas portuguesa, africanas e indígenas. Essa representatividade pode ser ratificada pelos provérbios, cantigas e lendas, nos costumes e crenças populares, e também nas brincadeiras, danças e comidas típicas. Afinal, ele é a base cultural que expressa o modo de viver de diversos grupos sociais distintos que foram se perpetuando de geração a geração, acumulando valores pelo tempo.

pela riqueza de mitos e lendas e buscaram registrar tais narrativas populares para as gerações futuras. Diversas cantigas, parlendas, festas populares e jogos coletivos caracterizam fortemente o estudo do folclore brasileiro. Ao abordar esse tópico na educação promove-se nas crianças o resgate de memória com o objetivo de manter viva a história cultural do país e de enfatizar a nossa riqueza e pluralidade enquanto nação.

Imagem da série de curtas-metragens de animação “Juro que Vi”

 

Conteúdo interdisciplinar

Além de algumas comunidades e regiões que mantêm acesa a chama dessa tradição, passada de geração a geração, as escolas são as grandes porta-vozes dessa cultura por utilizarem esses conteúdos como fonte de ensino-aprendizagem interdisciplinar, seguindo a orientação da BNCC.

No mês de junho, mesmo com o isolamento social, quase todas elas realizaram seus festejos juninos com muita criatividade, a fim de que essa diversidade seja cada vez mais explorada pelos professores junto aos seus alunos.

 

Folclore brasileiro: um patrimônio cultural

A transmissão oral acerca do folclore, um viés importante na sua preservação, nunca foi tão oportuna como nesse momento em que muitos pais estão trabalhando home office e passando mais tempo com seus filhos.

Sabemos que a diversidade de uma nação é uma de suas maiores riquezas social e cultural. Entretanto não temos o hábito de estimular essa parte da cultura na mesma proporção das festas populares, por exemplo. No Brasil, essa mescla de trajetórias de cada região costuma ganhar mais visibilidade no meio do ano, quando se comemoram os festejos juninos, julinos e agostinos, que é também quando se homenageia o folclore, no dia 22 de agosto.

Nesse horizonte, alguns personagens do folclore brasileiro ganharam ainda mais espaço, sobretudo entre as turmas da Educação Infantil, visando a alfabetização através de materiais lúdicos utilizando essas figuras como fonte de atividades. Permeado de muita narrativa regional, esse conjunto de personagens – Mula-sem-cabeça, Iara, Saci-Pererê, caipora, curupira, boto-cor-de-rosa, Negrinho do Pastoreiro, cuca, boitatá, cobra-grande, vitória-régia, cumadre fulozinha, lobisomem e a erva-mate – nasceu da imaginação coletiva de um povo sendo realimentada através das obras literárias de geração a geração.

De acordo com especialistas, ao trabalharem com o folclore, os professores precisam estar  atentos às informações repassadas aos alunos, em especial os da Educação Infantil e dos primeiros anos do Fundamental I, para que não haja conflito entre as muitas informações, várias delas não confiáveis, jogadas na internet.

Além da importância do conceito folclórico, através das pesquisas, os professores podem explorar essas manifestações por meio de músicas, lendas, parlendas, festas populares, entre elas a junina, artesanatos, jogos e brincadeiras que podem ser realizadas, sobretudo, em casa por enquanto.

Essa atividade pode se estender à família através de gincanas que levem o aluno a descobrir dentro de casa objetos que façam parte da sua cultura e também sejam comuns a outros grupos familiares. Aproveite para conhecer alguns livros para celebrar o folclore brasileiro.

 

É preciso reconhecer o passado

Não há como construir um futuro sem ter um passado. Os pequenos, quando chegam  à escola, levam consigo não só a mochila com o material, mas uma bagagem de informações que foram herdadas do contexto familiar, que as atividades pedagógicas poderão reavivar.

Sabemos que os nativos digitais costumam rejeitar o estudo de fatos históricos. A melhor maneira de envolver e despertar a curiosidade dos alunos para temas que são considerados “velhos” é criar um ambiente criativo que demonstre os tempos do folclore, oscilando com os dias de hoje. Por isso, as cantigas e as brincadeiras coletivas, além das histórias contadas com riqueza de detalhes, são atividades que se aliam muito bem às práticas pedagógicas. Além disso, exigem do professor conhecimento e criatividade extras para impulsionar a motivação e despertar o olhar curioso dos estudantes por cenários muitas vezes completamente diferentes do seu.

 

O respeito pela história

É sabido que algumas instituições de ensino ignoram a importância do folclore na criação da identidade cultural e acabam abordando a temática de maneira superficial, mas cabe ao professor tratar cada assunto com sensibilidade suficiente para estimular a inteligência e as emoções alinhadas ao teor pedagógico.

Por isso, existe a pedagogia, pois ela é detentora dos métodos que permitem se adequar às temáticas propostas alavancando o desenvolvimento cultural no estudante, com as estratégias e recursos lúdicos, diferentes dos tradicionais, para assim obter êxito na aplicação do conteúdo.

Outro fato importante é que o folclore não deve ser estudado somente em sua data comemorativa, mas ao longo do ano letivo, ou sempre que houver a percepção de não entendimento sobre a origem dos povos. A instituição pode promover eventos culturais, com a participação da família e incentivo ao teatro, à dança, à música ou a atividades que expressem a importância do resgate cultural, desde que adequadas à idade dos estudantes.

Atentos e questionadores por natureza, os alunos podem encontrar no contato com o folclore muitas respostas para curiosidades. Enquanto recitam, cantam, dançam, brincam e ouvem histórias entre os colegas da escola, conseguem aproveitar da melhor forma possível o universo lúdico e afetivo. E claro, essas atividades devem ser realizadas coletivamente, já que o folclore brasileiro é sinônimo de união, de popularidade, de afetividade e tradição.

 

Olha a cobra… é virtual!

Mesmo com a pandemia, escolas não desanimam e realizam as tradicionais comemorações juninas com muita diversão e segurança.

Impossível não associar os meses de junho, julho e agosto às comemorações juninas. Um momento de tirar a roupa xadrez do armário, fazer aquelas comidas gostosas tradicionais dessa época do ano e juntar a família para curtir as brincadeiras. Nas escolas sempre foi uma tradição, mas esse ano foi diferente por conta da pandemia e precisou de adaptações. Muitas instituições de ensino usaram a criatividade, garantindo que a festa acontecesse em segurança.

Ilustração por Luiz Cláudio de Oliveira / Finalização por Yasmin Gundim

 

O Colégio Pégasus, por exemplo, optou por um drive thru Junino. Na data escolhida, as famílias passaram com o carro na rua da escola e as crianças curtiram o clima e as brincadeiras dentro do veículo. Com direito a brindes e atividades temáticas. O convite aos pais foi feito através do aplicativo da escola, que optou por fazer algo simples e sem custo.

Como na festa junina sempre tem gincana, a ideia deles foi forrar o chão da calçada da escola e colocar os kits com sacolas de alças compridas. “Dessa forma, a criança com a vara de pescar conseguiria alcançá-la. Tudo feito prezando pela higiene, desde os preparos dos brindes até o manuseio dos objetos por parte dos estudantes, sempre usando luva, álcool em gel e mantendo o distanciamento social. As famílias fizeram tudo de dentro do carro e os educadores na rua em que fica a instituição. Foi uma forma de diminuir a saudade das crianças através dessa ação”, conta Letícia Rocha, dona do Pégasus.

As famílias fizeram tudo de dentro do carro e os educadores na rua em que fica a instituição. Foi uma forma de diminuir a saudade das crianças através dessa ação

Dias antes da ação, o colégio também disponibilizou receitas juninas em sua página no Facebook. Uma forma de incentivar a criançada a produzir em casa, e quem fizesse poderia enviar uma foto ou vídeo para eles. Além disso, eles mandavam diariamente atividades para ajudar os pais a darem continuidade ao trabalho feito na escola e manter a estimulação e o desenvolvimento dos pequenos. As crianças do fundamental também participaram de um café da manhã com a turma caracterizada, tudo através de ligação de vídeo. “A festa junina é uma das mais tradicionais do Brasil, é muito esperada pelas famílias. Num tempo de pandemia, se torna ainda mais importante. Se temos uma forma de comemorar em segurança, por que não?”, completa Letícia.

As famílias dos alunos passaram com o carro na rua da escola e as crianças curtiram o clima e as brincadeiras de dentro do veículo

 

Atividade para os pequenos

 

Diversão e solidariedade

Outras escolas também encontraram formas de não deixar a folia passar em branco. A rede da Saea (Sociedade Agostiniana de Educação e Assistência), formada pelos colégios Agostiniano Mendel, Nossa Senhora de Fátima e São José, também fez questão de comemorar a data através de um drive thru e foi dado um toque ainda mais especial ao se estimular a doação de agasalhos, kits de higiene ou alimentos não perecíveis.

O Agostiniano Mendel organizou a atividade na porta do colégio. Além da doação, os alunos da Educação Infantil escreveram uma cartinha para quem receberia o material doado, com frases carinhosas, de acordo com a criatividade de cada família. Os itens arrecadados foram enviados para creches em situação de vulnerabilidade.

 

3 dicas para engajar seus alunos em festas culturais

Datas como Festa Junina e Folclore já fazem parte do Projeto Político-Pedagógico (PPP) das instituições de ensino e podem integrar diversas disciplinas. E mesmo que a distância, os professores desfrutam da possibilidade de desenvolver atividades para que os pequenos realizem em casa, virtualmente, com o restante da turma.

1) Coreografias, decoração e textos sobre as temáticas
Na Educação Física, os professores podem trabalhar (e ensaiar) as danças típicas e coreografar as músicas mais populares. Nas aulas de Arte, os docentes podem estimular os alunos a produzirem uma decoração inspirada na data escolhida, como Festa Junina ou Folclore. Já em Língua Portuguesa é possível abordar, entre outras temáticas, o folclore brasileiro e a literatura de cordel. Na aula de História, trazer as origens da festa e explorar sua evolução desde que chegou ao Brasil até os dias de hoje.

2) Origens e curiosidades
Outra dica é mostrar para os alunos que a festa vai além da tradicional celebração. É muito importante trabalhar as origens da data e discutir sua presença na cultura brasileira nas mais variadas formas. Quando você for abordar com os alunos as tradições juninas, por exemplo, é importante explicar o significado de cada uma delas. Além de dar um sentido aos símbolos, desenvolver esses significados com os alunos pode estimular sua curiosidade e, também, sua participação nessa festividade.

Os alunos da Educação Infantil escreveram uma cartinha para quem receberia o material doado, com frases carinhosas, de acordo com a criatividade de cada família

3) Regionalidade
A multiculturalidade do Brasil também se faz presente nas festas juninas de todo o país. Ainda que tenham a mesma origem, as festividades das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste são bem diferentes das praticadas no Norte e no Nordeste. Isso acontece, principalmente, por que cada local coloca sua identidade cultural na celebração. Dessa forma, apresentar as várias realidades regionais para seus alunos é uma forma de trabalhar valores, como o respeito à diversidade cultural.


Fontes: Pais e Filhos / Brasil escola
Por Antônia Lúcia, Jéssica Almeida e Richard Günter


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