Algumas considerações sobre pronúncia das vogais

Por Sandro Gomes*


Em primeiro lugar é preciso entender que as vogais são a base das sílabas, já que é nelas que recai a tonicidade, ou seja, a pronúncia mais intensa, por isso mesmo mais facilmente perceptível. Dito isso, vamos observar que, dentre os fenômenos linguísticos que envolvem o uso de vogais, está aquele que tende a conduzir, principalmente na língua falada, a alterações no modo correto de pronunciar. É o que vamos abordar agora. Observe algumas palavras:

Pães – Pãis / Regente – Regenti / Cortiço – Curtiço / Nódoa – Nódua

Nesses vocábulos, as vogais destacadas são frequentemente pronunciadas utilizando-se o som de outras vogais. Isso ocorre em função de “leis” que presidem o fenômeno da fala e que em geral ganham esse contorno devido a uma maior facilidade ao pronunciar, ou seja, uma lei de menor esforço. Em tese, seria mais difícil, do ponto de vista da fluência do aparelho fonador, pronunciar um e no final, por exemplo, da palavra regente. Como a mais básica função da língua é satisfazer a necessidade comunicativa, essa troca no som de algumas vogais torna-se algo extremamente comum.

 

Sons de vogais e a semântica

Se essas alterações na maneira de pronunciar são comuns na linguagem falada, é preciso ficar atento quando questões semânticas estiverem envolvidas. Imaginemos a seguinte sentença:

Esse é o comprimento ideal.

Muitos utilizariam a pronúncia com u (cumprimento), caso em que, em tese, se estaria referindo à ideia de saudação ou mesura (cumprimentar alguém). Se o objetivo de quem proferiu a frase fosse se referir à ideia de medida (tamanho de algo), poderíamos estar diante de um “belo” equívoco semântico. É claro que, em grande parte dos casos, o contexto em que a sentença foi empregada tenderia a desfazer o mal-entendido, mas nem sempre isso ocorreria, daí a importância de se atentar para a mudança de som de vogais quando envolver problemas de semântica.

 

Sons de vogais e falas regionais

Dissemos acima que muitas vezes a troca de sons de vogais ocorre em função de uma espécie de “lei do menor esforço”. Apesar de isso ser algo bastante comum, não constitui uma questão universal entre os falantes de uma língua, haja vista as diferenças entre falas regionais, que muitas vezes evitam essa mudança na pronúncia de vogais.

Assim, em muitos falares do mundo lusófono certos casos de pronúncia alterada não ocorrem. São exemplos: cortiço e não curtiço, em estados como São Paulo e Paraná, ou valente e não valenti, em regiões do sul do Brasil.

Da mesma forma, certos tipos de falares regionais são responsáveis por outras diferenças na pronúncia de vogais, como podemos ver em expressões como conhecimenhinto, na fala dos paulistanos; paiz (um i pronunciado na palavra paz dos cariocas) ou a pronúncia quase imperceptível de algumas vogais no falar dos portugueses, em termos como barata (b’rata) ou careta (c’reta).

Sobre a pronúncia de vogais esse foi o panorama básico. Muita saúde e paz a todos no ano que temos pela frente. Até a próxima, pessoal!


*Graduado em Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa, Revisor da Revista Appai Educar, Colunista da Appai, Escritor e Mestre em Literatura Brasileira.


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