O Papel da Escola na Formação de Bons Leitores


Séries iniciais

Mais uma entrevista com Sandra Bozza, profissional de grande bagagem quando os assuntos são letramento, leitura, função social da escrita e por aí vai…

Autora de muitas e excelentes obras, Sandra viaja por todo o Brasil e para fora também, ministrando cursos e dando consultorias. Acompanho o trabalho dela há anos e me sinto muito honrada em poder compartilhar as suas preciosas ideias sobre o papel da escola na formação de bons leitores.

Vamos às perguntas:

Andréa: Que relação podemos traçar entre a formação de bons leitores e o desenvolvimento social?

Sandra: Não parece possível falar sobre a formação de bons leitores sem entrar na discussão da importância da leitura num mundo tão complexo e diversificado como este no qual vivemos hoje. Sim, sabemos que o número de informações e conhecimentos registrados por meio da escrita é tão intenso que, mesmo que passássemos 24 horas por dia lendo, não conseguiríamos tomar conhecimento de sua totalidade. Por isso mesmo, é preciso reconhecer o valor dessas elaborações (escritos e registros) e, dentro do possível, ler o máximo, buscando ao menos diminuir a nossa ignorância, pois o ato de ler, com propriedade, é imprescindível ao desenvolvimento, não apenas individual, mas também social. Uma sociedade que lê cresce em conhecimento, torna-se mais criteriosa, abandona aos poucos a consciência mágica e dá lugar a uma consciência crítica, fundamental nos dias de hoje.

Além do caráter prático e social, que outro papel a leitura ocupa no desenvolvimento cognitivo das crianças?

O ato de ler assume um papel essencial para o desenvolvimento do intelecto da criança. Quando ela lê, as funções cognitivas são desenvolvidas, pois, para que o ato ocorra, é necessário, por exemplo, que exercite a atenção voluntária, o poder de abstração e generalização, dentre outras funções superiores. Portanto, entender isso significa compreender a leitura como algo muito maior do que a simples busca por informações.

A própria possibilidade de inferência e atribuição de sentido vem de leituras e conhecimentos anteriormente adquiridos, que é exatamente onde ocorre a ampliação do conhecimento.

Ao mesmo tempo que o ato de ler trabalha as funções superiores de abstração, generalização e inferência, também as vai consolidando e ampliando, num processo fantástico.

Percebemos claramente o quanto a leitura é uma atividade vital dentro e fora da escola, mas por que, na maioria das vezes, os alunos se queixam da forma como a escola propõe o desenvolvimento da leitura?

A queixa dos alunos guarda uma relação direta com os tipos de textos escolares apresentados. É recente o movimento da escola em ofertar diferentes alternativas textuais. Em geral, eram fragmentados, moralizantes, didatizados, de forma a focar inclusive hábitos comportamentais. Então, tudo fazia sucesso com as crianças, menos os textos da escola. E, para piorar, eles eram tomados como pretexto para sistematizar gramática e ortografia.

 

O que fazer para mudar essa realidade em que a própria instituição, que deveria formar bons leitores, acaba por afastá-los da leitura?

As experiências que venho tendo ao longo de 30 anos, quer alfabetizando, quer trabalhando na formação de professores, mostram que uma forma viável e capaz de trazer excelentes resultados é ofertar aos alunos textos diversificados que circulam na sociedade: lúdicos, informativos, publicitários, entre outros. É através dessa variedade de textos que o professor vai trabalhar a reflexão sobre a intenção de quem o produziu, ao mesmo tempo que novas aprendizagens vão ocorrendo num processo natural e agradável de apropriação dos mais diversos conteúdos neles presentes.

Dessa forma, a gente compreende que a escola tem papel determinante na formação de bons leitores, à medida que trabalha a leitura num contexto real, vivo, proporcionando o desenvolvimento e a apropriação de sentido, de forma significativa e agradável, num movimento de entendimento de que a leitura é fundamental para a inserção na sociedade, e que em especial o ato de ler desenvolve as capacidades superiores, tão necessárias à vida numa realidade complexa como a nossa.


Por Andréa Schoch | Mestre em educação, especializada em formação de professores e consultora Appai por meio da EAD.


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