“Preconceito é uma ideia, um julgamento preconcebido sobre os outros, sobre os diferentes, a respeito da qual, na verdade, nós não temos um bom conhecimento. ”

Professor Doutor Kabengele Munanga, autor da frase, é também especialista em racismo, identidade, identidade negra – África e Brasil –, atua na USP e é a inspiração para este texto.

O preconceito é universal. Se fazemos parte de determinada comunidade que se considera melhor do que outra, por qualquer motivo que seja – ache que a própria cultura é melhor, a própria religião é melhor, a própria cor de pele é melhor –, o preconceito já foi instalado. Quando nos avaliamos como melhores do que os outros, criamos uma visão negativa desse outro, e isso se denomina DISCRIMINAÇÃO.

Como nasce a discriminação

A discriminação nasce da percepção que uma pessoa pode ter das diferenças entre si mesmo e os outros, entre os membros do próprio grupo e os de outros grupos. É a partir dessas diferenças que se formam os preconceitos, as discriminações e as ideologias delas decorrentes.

Como surge? A sociedade é organizada em classes sociais – formada por burgueses, classe média e pobres –, geralmente cercadas por preconceitos. A ideia de superioridade ou de inferioridade transforma em vítimas aqueles considerados inferiores. Não apenas as classes, mas as diferentes formas de preconceito levam a várias FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO, DESDE RELIGIÃO, GÊNERO, PROFISSÃO, IDADE, ETNIA, CULTURA, NACIONALIDADE e tantas outras.

Hoje o nosso enfoque vai para a discriminação racial. Vamos conhecer a mecânica por trás das ideias de racismo.

A raça e a cor

Você já ouviu falar em melanina? Ela é uma proteína que normalmente apresenta coloração marrom e serve para manter a sobrevivência do corpo humano, pois garante a coloração da pele e evita os danos que a radiação ultravioleta pode causar ao DNA.

Há pessoas que concentram maior quantidade de melanina, por isso têm pele, olhos e cabelos mais escuros, enquanto aquelas com menos melanina apresentam cabelos, pele e olhos mais claros. A raça nasceu dessa relação com a cor da pele.

Por meio da história sabemos que negros e índios foram escravizados durante séculos, e muitas vezes ainda são tratados como inferiores, por conta da desenfreada discriminação baseada em preconceito. É triste observar que até mesmo a ciência foi usada para enfatizar essa inferioridade. E os estudos “científicos” sobre as raças se ampliam até o século XX, quando foram definidas não só as características genéticas e a morfologia das raças como também os marcadores genéticos encontrados em componentes do sangue.

Estudiosos da época classificaram as raças, hierarquizando-as em superiores e inferiores, e dessa classificação e hierarquização nasceu o chamado Determinismo Biológico. Essa teoria absurda, que hoje sabemos ser equivocada, estipulava que as CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E PSICOLÓGICAS do ser humano eram DETERMINADAS POR RAÇA, NACIONALIDADE ou qualquer outro grupo específico ao qual a pessoa pertencesse. O mais grave é que essa corrente teórica determinou a superioridade e inferioridade dos povos e etnias com base nas diferenças biológicas contidas no DNA.

A questão é tão séria que a aplicação do determinismo biológico fez surgir ideias que ainda vemos circular em nosso meio em pleno século XXI: de que todo americano é inteligente, todo português é burro, todo africano é negro e todo europeu é branco.

Sabemos que esses conceitos não são verdadeiros. Tanto não são que, no fim do século XX, estudos aprofundados mostraram que um indivíduo A, da raça negra, poderia ser mais próximo geneticamente do indivíduo B, da raça branca ou amarela, do que de outro indivíduo C, da raça negra. Dessa forma, foi concluído que essa classificação da humanidade em raças não era operante, pois partia de critérios que não se diferenciavam cientificamente. Foi então que, no fim do século XX, O CONCEITO DE RAÇA FOI ABANDONADO, POIS SE CHEGOU À CONCLUSÃO DE QUE NÃO HAVIA COMO CLASSIFICAR A DIVERSIDADE HUMANA EM RAÇAS FIXAS.

O preconceito se combate com a aplicação da lei?

A lei combate os comportamentos concretos que podem ser flagrados e punidos, porém o preconceito está instalado numa dimensão impossível de ser abrangida com a aplicação da lei. Estão no mindset, na mentalidade da pessoa; portanto, para que haja mudança nessa esfera, é preciso EDUCAR.

Por isso, você que é pai ou mãe, professor ou tem a oportunidade de educar alguém, não deixe essa oportunidade passar. Explique, converse sobre o tema, compartilhe essas informações, pois, se é possível alterar o quadro lamentável de preconceito e discriminação, essa mudança ocorrerá a partir de cada um de nós.

Por Andréa Schoch | Mestre em educação, especializada em formação de professores e consultora Appai por meio da EAD.