E-BOOK REVISTA APPAI EDUCAR - EDIÇÃO 153

Oralidade naEducação Básica E-BOOK EXCLUSIVO Acomunicaçãooraléabaseparaaconstruçãoderelaçõesinterpesoaissignificativas eparaodesenvolvimentodosalunos.Baixeoe-bokexclusivoquepreparamospravocê! Ano26–153-2023-CIRCULAÇÃO DIRIGIDA – DISTRIBUIÇÃOGRATUITA

1 E-book Revista Appai Educar Oralidade na Educação Básica Mais que ampliar os horizontes, desenvolver competências, fortalecer a comunicação e o aprendizado, a comunicação oral é a base para a construção de relações interpessoais significativas e o desenvolvimento integral dos alunos E - B O O K E XC L U S I VO Confira!

2 E-book Revista Appai Educar Quando falamos sobre oralidade, mesmo sendo uma das formas mais antigas de transmitir conhecimentos, histórias, cultura e interação social, ainda assim continua sendo um desafio, sobretudo no desenvolvimento qualitativo da educação básica. Nessa edição da Revista Appai Educar, especialistas e professores dialogam sobre a oralidade na educação básica e seus impactos na vida dos alunos, seja dentro ou fora das salas de aula. Seja na educação básica ou no ensino superior, a oralidade desempenha um papel crucial no desenvolvimento das habilidades de comunicação dos alunos. Através dessa prática, crianças, jovens e adultos aprendem a articular seus pensamentos, aperfeiçoar a pronúncia e a entonação, ampliar seu vocabulário e adquirir fluência na língua materna. Além disso, a oralidade promove o desenvolvimento de habilidades sociais, como a capacidade de ouvir, dialogar, respeitar opiniões divergentes e construir relações interpessoais saudáveis.

3 E-book Revista Appai Educar Os impasses na comunicação oral No entanto, a chegada de atores novos – como a crescente influência das mídias digitais e o uso predominante de dispositivos eletrônicos, e outros já bem conhecidos da sociedade, como a falta de políticas públicas que pensem a educação como premissa e não consequência – tem em alguns aspectos contribuído para o aumento das dificuldades na comunicação oral, dando origem a situações como, por exemplo, a falta de clareza, a incapacidade de se expressar adequadamente e a dificuldade em compreender discursos complexos.

4 E-book Revista Appai Educar Para a professora de Língua Portuguesa Mônica Silva Tavares, membro da equipe de Coordenadoria de Áreas do Conhecimento, da Superintendência Pedagógica da Seeduc, os desafios da oralidade na educação básica, sobretudo na faixa de 6 a 7 anos, onde muitas crianças ainda não sabem ler e escrever, podem acabar gerando insegurança e dificuldades para se comunicar oralmente ou apresentar ideias com clareza e concisão. “E uma das principais dificuldades é a falta de incentivo e oportunidades para que os alunos se expressem verbalmente na escola e em casa. Além disso, muitas vezes os estudantes têm acesso limitado à linguagem literária e culturalmente rica, o que pode prejudicar a expansão do vocabulário e a compreensão de estruturas linguísticas mais complexas”, pontua Mônica. Um outro fator identificado por ela, que contribui para a dificuldade na oralidade, está centrado também na falta de prática em situações de conversa e debate em grupo, tanto em sala de aula quanto fora dela. Entretanto, Mônica afirma que a escola e os professores podem contribuir para o desenvolvimento da oralidade dos alunos ao oferecerem atividades diversificadas que estimulem a fala e a escuta ativa, trabalhando com o universo cultural do estudante e promovendo a troca de experiências e opiniões. “É importante que as instituições de ensino ofereçam oportunidades para que seja praticada a comunicação oral, através de atividades, como apresentações de trabalhos em grupo, debates, jogos de fala, entre outros, onde os estudantes possam desenvolver suas habilidades comunicativas, além, é claro, da literatura, que deve ser vista como uma ferramenta privilegiada para ampliar esses recursos”, destaca.

5 E-book Revista Appai Educar A especialista em Estudos de Linguagem Fernanda Lessa chama atenção para a retomada das aulas presenciais em 2022, onde os regentes tiveram que lidar com alunos desacostumados com a rotina escolar e com estudantes que apresentaram questões socioemocionais capazes de afetar o desempenho escolar. “Isso acrescido do fato de que a aprovação desses estudantes, por conta da pandemia, teve um resultado negativo, uma vez que uma expressiva quantidade de alunos matriculados em uma mesma turma é dividida entre os três estágios de aquisição da linguagem escrita, a saber: nível pré-silábico, em que as crianças acreditam que se escreve com desenhos; nível silábico, em que elas percebem as incoerências do nível anterior e elaboram a hipótese de que cada sílaba precisa ter uma letra, que normalmente é uma vogal; nível alfabético, onde há uma reformulação da hipótese anterior, fazendo a correspondência relativa entre fonema e letra”, explica Fernanda. Para ela, o desafio de fazer o alunado ler e escrever exige que os professores empreguem teorias que se agreguem às atividades pedagógicas já usadas e que, muitas vezes, se mostram ineficazes. “Reforço que todo o corpo docente, após detectar que a maioria da turma não avança por não ter atingido o estágio alfabético de aquisição da linguagem escrita, precisa, em conjunto, elaborar atividades que consolidem esse processo de aquisição. Não cabe, todavia, apenas ao professor de Língua Portuguesa essa incumbência”, afirma. O que pode ser feito, de acordo com Fernanda, é firmar uma parceria com os professores, a fim de que estratégias pedagógicas sejam apresentadas como auxílio do trabalho que terá de ser feito por todos em prol do avanço dos alunos. “Se assim não o fizerem, o progresso nos estudos não será atingido, e consequentemente a apreensão dos conteúdos não será obtida. Abre-se a possibilidade do emprego de distintas estratégias pedagógicas, tal como o uso de redes sociais, cujo acesso é familiar aos estudantes, já que a linguagem tem uma função social, e a internet é um ambiente frutífero em que circulam infinitos gêneros textuais”, destaca a educadora.

6 E-book Revista Appai Educar A contribuição dos trabalhos orais O uso dos trabalhos orais em prol do aperfeiçoamento da oralidade dos alunos é uma das antigas práticas didático-pedagógicas, pela sua comprovada eficiência no desenvolvimento da comunicação verbal. Entretanto, entre as duas modalidades de uso da língua, a escrita e a oral, a primeira, segundo alguns escritores, acaba recebendo mais atenção, mesmo a fala sendo um dos objetos mais utilizados dentro do contexto da oralidade. Mas, comparado à escrita, ela ainda não recebe o valor devido. Ao contextualizar o assunto, a Coordenadora de Áreas do Conhecimento, Mônica Tavares, atesta que os trabalhos orais são uma das ferramentas mais importantes para o aperfeiçoamento dessa habilidade nos alunos, por contribuírem de diversas maneiras para o desenvolvimento das competências comunicativas. “Primeiramente, as atividades orais incentivam a expressão verbal, estimulando a comunicação de forma mais natural e familiar. Isso pode ser extremamente importante na medida em que muitos alunos, especialmente os mais introvertidos, podem ter dificuldades para se expressar verbalmente e acabam se sentindo inseguros ao falar em público”, relata.

7 E-book Revista Appai Educar Ao utilizar os trabalhos orais como uma estratégia pedagógica, fica notório que os educadores proporcionam aos educandos um ambiente de aprendizagem rico em interação, participação ativa e desenvolvimento de habilidades de comunicação. Essa abordagem holística contribui para a formação integral dos alunos, preparando-os para se tornarem comunicadores eficazes em diversos contextos da vida pessoal, acadêmica e profissional, sobretudo no que diz respeito à organização e à estruturação de ideias. “É importante que os alunos saibam como organizar e transmitir informações e opiniões de forma clara, objetiva e coerente, e isso pode ser desenvolvido por meio de apresentações orais. Este tipo de atividade também permite que eles tenham oportunidade de adquirir habilidades de escuta ativa, que são muito importantes para desenvolver a comunicação em harmonia com a colaboração, uma vez que isso envolve a possibilidade de escutar com atenção e interesse, demonstrar empatia e compreensão e fazer perguntas para clarificar ideias, tanto para a vida acadêmica quanto para a profissional e pessoal”, adverte.

8 E-book Revista Appai Educar Por fim, vale acrescentar que os trabalhos orais também permitem que os alunos desenvolvam a confiança em si mesmos e em suas habilidades de comunicação oral, lembra a discente. “Quando os estudantes recebem oportunidade de se expressar verbalmente em público, eles têm a chance de experimentar, testar e aprimorar suas habilidades de acordo com as experiências e o feedback recebidos. A partir disso, eles podem desenvolver cada vez mais a segurança e a autoconfiança para se comunicar oralmente em diversas situações e contextos da vida contemporânea”. Fernanda Lessa pontua que a estratégia pedagógica mais adequada que precisa ser aplicada continuamente pelos professores em suas salas de aula é o efetivo uso da oralidade, um dos eixos do componente curricular de Língua Portuguesa. “Esse item abarca as práticas de linguagem que ocorrem em contexto oral, seja por uma entrevista, uma declamação de poema, a leitura de uma lenda, uma mensagem gravada pelo WhatsApp, um júri simulado, um jogral, uma peça teatral, um debate acerca de uma notícia ou de um evento escolar. São inúmeros gêneros que permitem explorarmos a oralidade do alunado, que normalmente só é levado a trabalhar o eixo da escrita. Precisamos dar voz e vez aos estudantes, que muito têm a nos dizer e que acabam por ficar apenas ouvindo textos sem ter a vivência de um debate construído em sala sobre um assunto em que eles possam opinar”, explica.

9 E-book Revista Appai Educar Educação midiática Em um momento em que a educação midiática está sendo tema de diversos debates, como trabalhar a oralidade dos alunos fora da tela e dos áudios dos apps? Essa é uma das muitas questões que merecem total atenção de pais, alunos e professores. Embora os aplicativos digitais e as telas possam ser ferramentas úteis para a comunicação oral, é preciso lembrar que esta acontece em diversos contextos do dia a dia, como conversas pessoais, apresentações, discussões em grupo e outros tipos de interação social. Por isso, é importante que os professores incentivem e criem oportunidades para que os estudantes pratiquem a comunicação oral fora dos ambientes digitais, frisa Mônica Tavares. “Uma maneira eficaz de estimular a comunicação oral dos alunos fora das telas e aplicativos é por meio de atividades que envolvam o intercâmbio social, que podem incluir jogos de fala, dramatizações, apresentações, debates e outras formas de interação que estimulem a comunicação oral dos alunos. Outra maneira de trabalhar a oralidade fora das telas é por meio da literatura. A leitura em voz alta de textos literários pode ajudar os alunos a desenvolver habilidades de expressão verbal, além de contribuir para o seu desenvolvimento cognitivo e emocional”, argumenta.

10 E-book Revista Appai Educar Um outro ponto destacado pela professora diz respeito à importância da escolha dos textos ser adequada à faixa etária dos alunos, de forma a despertar o interesse e a curiosidade pela leitura, estimulando para que seja praticada em voz alta, trabalhando a comunicação oral em atividades sociais e culturais que mobilizem os estudantes. “Além disso, os docentes podem trabalhar a oralidade dos alunos fora das telas por meio da realização de excursões, visitas a museus e outras atividades que envolvam a comunicação e interação social. Essas práticas permitem que os estudantes experimentem diferentes contextos de comunicação e ampliem suas habilidades verbais”, reforça. Fernanda Lessa acredita que a estratégia pedagógica mais adequada, que ela mesma aplica em sala com os alunos, é a leitura em voz alta de livros e de textos em que os versos levem à musicalidade, proporcionada pelas rimas. “Neste bimestre, estou lendo várias obras. Dentre elas, os estudantes gostaram bastante do ‘Brasiliana: lendas do Brasil em versos de cordel’, de Gonçalo Ferreira da Silva, com ilustrações de Rafael Limaverde. Como parte do estímulo à oralidade, após a leitura de um livro, lanço o desafio para eles produzirem histórias de sua própria autoria, usando versos e rimas”, conta.

11 E-book Revista Appai Educar Outra estratégia sugerida por Fernanda é a criação de haicai, um gênero textual de forma fixa, construído por três versos, sendo o primeiro e o terceiro formados por cinco sílabas poéticas e o segundo verso, por sete sílabas. Ela conta que, por serem pequenos e divertidos, acabam caindo no gosto dos alunos, que os leem em voz alta para os colegas. “O tema desse haicai pode ser variado e dependerá da particularidade de cada turma. Fazendo esse tipo de trabalho, o corpo discente acaba inferindo que há muitas outras formas de entretenimento que estão à parte das que eles acessam pela internet diariamente”, pontua a docente.

12 E-book Revista Appai Educar O protagonismo dos alunos dentro do seu processo de oralidade Em que medida a oralidade está interligada ao protagonismo dos alunos dentro do seu processo de aprendizagem? A bem da verdade seria difícil ignorar a importância dessa questão, uma vez que, de acordo com os especialistas, a oralidade está intimamente ligada a esse protagonismo, por ser uma das principais ferramentas de que os estudantes dispõem para expressar suas ideias, opiniões e sentimentos em relação, inclusive, ao conteúdo da disciplina que estão estudando. Segundo Mônica, quando os alunos adquirem habilidades de comunicação oral, eles podem ter mais confiança na hora de expor suas ideias e estabelecer um diálogo efetivo com o professor e com os colegas. “Isso contribui para que sejam mais participativos e ativos no processo de aprendizagem, assumindo um papel mais proativo e crítico na sua própria formação. Ademais, o desenvolvimento da orali-

13 E-book Revista Appai Educar dade também está diretamente relacionado à construção de uma identidade pessoal e social dos estudantes. Quando são incentivados a se expressar oralmente, eles têm mais oportunidades de se comunicar em público, de experimentar diferentes papéis sociais e de desenvolver uma autoestima mais sólida, o que lhes permite ter maior confiança em si mesmos e agir como artífices de suas próprias trajetórias”, reconhece a docente. Ainda segundo Mônica, é preciso ressaltar que a oralidade também é fundamental para se desenvolver habilidades essenciais no mundo contemporâneo, como a capacidade de trabalhar em equipe, de argumentar e persuadir, de negociar e de resolver conflitos. “Uma vez que esses recursos são essenciais para que os estudantes se tornem ativos na condução de suas próprias vidas e trabalhem de forma colaborativa, criativa e consciente em um mundo cada vez mais globalizado e complexo. Portanto, é importante que os professores incentivem e valorizem o desenvolvimento da oralidade dos alunos como um elemento essencial no processo de construção do protagonismo e da cidadania ativa”. Fernanda Lessa completa afirmando que, ao trabalharmos o eixo oralidade do componente curricular de Língua Portuguesa, cada aluno tem a oportunidade de ser ouvido e interagir com os seus pares. Em muitas dessas situações, o professor acaba tendo conhecimento de questões socioemocionais que podem estar interferindo no desempenho escolar do alunado. Logo, estimular a oralidade faz cada estudante ser

14 E-book Revista Appai Educar artífice de sua história. Além disso, esse jovem, por meio da oralidade, acaba por expor o que já apreendeu e consegue demostrar isso aos outros, o que eleva sua autoestima para executar muitas das tarefas propostas em sala. Fernanda conta que em seu trabalho como docente do Projeto Carioca da Prefeitura do Rio de Janeiro elaborou um projeto antirracista e delegou aos próprios alunos a pesquisa de campo que fizeram para elencar os tipos de ações que mais atingem os estudantes pretos. Sem a presença da educadora e usando a oralidade, tiveram de ir de sala em sala explicar o projeto e os objetivos. Nesse intervalo, todos os alunos e o professor da turma fizeram um registro anônimo ou não de uma situação em que viveram ou presenciaram e que se configurasse um caso de racismo. Segundo Fernanda, para a surpresa de todos, a participação foi alta e os registros demonstraram que essa ação precisa ser contínua na unidade escolar em que leciona. “Os relatos ratificam o que já pensávamos: o racismo afeta e prejudica a vítima que pode desistir de estudar, aumentando as estatísticas de evasão escolar. Dessa forma, são trabalhados tanto o protagonismo quanto a autonomia dos discentes participantes desse projeto”, explica Fernanda.

15 E-book Revista Appai Educar Oralidade e a Língua Portuguesa Ainda hoje muitos associam a oralidade exclusivamente à disciplina de Língua Portuguesa. Mas vamos entender um pouco de onde veio esse olhar. Na opinião de Mônica Silva Tavares, professora da disciplina, a ideia de que a oralidade é um tema exclusivo a ser desenvolvido no componente do idioma tem suas raízes históricas, uma vez que, ao longo do tempo, ele foi o responsável por ensinar normas linguísticas e técnicas de comunicação escrita e oral. Com isso, explica Mônica, acabou sendo monopolizado o tema da oralidade como um de seus principais eixos de ensino e de aprendizagem.

16 E-book Revista Appai Educar “No entanto, é importante destacar que a oralidade é uma habilidade que permeia todos os componentes e áreas do saber. A comunicação oral é fundamental para se desenvolver recursos de argumentação, de trabalho colaborativo e de construção de conhecimento em áreas como as Ciências, a Matemática, as artes e muitas outras. Além disso, a modalidade oral é um tipo de linguagem e, portanto, um instrumento de comunicação que deve ser trabalhado de forma integrada em todos os componentes, independentemente de seus objetos de ensino e de aprendizagem específicos”, desmitifica. Mônica Tavares enfatiza que a comunicação oral contribui para que os estudantes compreendam os assuntos e os conceitos de forma mais clara e objetiva, ao mesmo tempo em que permite que se expressem de forma mais autônoma e criativa. Por isso, é importante que os professores de todos os componentes curriculares incentivem e valorizem o desenvolvimento da oralidade entre os alunos, trabalhando de forma integrada diferentes temas contextualizados, com reconhecimento da comunicação oral como um tipo de linguagem essencialmente necessária à formação básica de quem estuda. Assim, a escola como um todo pode oferecer oportunidades para que se desenvolvam habilidades comunicativas, ampliação do repertório linguístico e, ao mesmo tempo, sejam exercidos o protagonismo e a cidadania ativa.

17 E-book Revista Appai Educar Fernanda Lessa ressalta que equivocadamente o eixo oralidade acaba sendo desprestigiado no decorrer dos anos escolares, sendo intensamente trabalhado na Educação Infantil e, quanto mais o alunado avança de ano, mais é substituído por produções de diferentes gêneros textuais. Como se o ato de falar não fosse algo que acompanhasse as pessoas em todas as fases de interação e de socialização entre os colegas. “O resultado desse descaso são alunos não aptos a fazerem a exposição oral de suas ideias”, alerta a especialista. Ela pontua ainda que, enquanto todos os educadores, independentemente das disciplinas que lecionam, não explorarem a oralidade em suas atividades com a sua turma não teremos alunos protagonistas do processo de ensino- -aprendizagem, algo tão almejado por quem atua na educação. “É notória a afirmativa de que não é papel exclusivo do docente de Língua Portuguesa trabalhar a oralidade em suas classes. Um exemplo disso seria uma aula de história em que os estudantes simulassem com a ajuda do professor os debates feitos pelos gregos na ágora, uma praça pública da Grécia Antiga, onde cidadãos promoviam debates acerca da vida na cidade, entre outras ações. Não restam dúvidas de que quem ministra qualquer disciplina está habilitado a explorar todo o potencial que a oralidade apresenta”, afirma Fernanda.

18 E-book Revista Appai Educar Como trabalhar a oralidade desde a alfabetização até o Ensino Médio? Trabalhar a oralidade iniciando pela alfabetização e chegando ao Ensino Médio envolve diversas estratégias e atividades que podem ajudar os alunos a desenvolverem suas habilidades de comunicação oral em diferentes momentos da sua trajetória escolar. Para tanto, Monica Tavares compartilhou algumas sugestões que podem ser desenvolvidas nos vários níveis da educação básica. Na alfabetização: • Estimule a comunicação oral por meio de jogos de fala, de narração de histórias e de dramatizações simples; • Realize atividades que envolvam a imitação de sons e de ruídos, contribuindo para o desenvolvimento da articulação dos fonemas; • Organize rodas de conversa para explorar a nomeação de objetos, alimentação e tudo que possa contribuir para o aprendizado oral.

19 E-book Revista Appai Educar No Ensino Fundamental I: • Ofereça oportunidades para que os alunos possam falar sobre suas experiências e opiniões em grupo; • Realize atividades que envolvam apresentações orais, como trabalhos em grupo e debates; • Incentive a prática da escuta ativa, por meio de diálogos e de trabalhos em que os alunos tenham que ouvir atentamente um ao outro; • Trabalhe o vocabulário e as estruturas linguísticas por meio de atividades lúdicas e interativas, como caça-palavras, cruzadinhas e jogos de perguntas e respostas. No Ensino Fundamental II: • Promova atividades de narrativa, como contação de histórias, produção de podcasts e relatos de experiências pessoais; • Incentive a argumentação e a expressão de opiniões em debates, simulações de julgamentos e apresentações de trabalhos com temas polêmicos; • Trabalhe a compreensão e a análise de textos orais de diferentes gêneros, como discursos, entrevistas e palestras; • Promova atividades que engajem os alunos em situações reais de comunicação oral, como a organização de eventos e a participação em grupos de estudo.

20 E-book Revista Appai Educar No Ensino Médio: • Amplie a complexidade das atividades voltadas para o desenvolvimento da oralidade, incluindo a análise crítica de discursos políticos e de meios de comunicação; • Promova atividades que envolvam a pesquisa e apresentação de trabalhos complexos e elaborados, com defesa oral diante de uma banca examinadora; • Trabalhe a comunicação oral em situações de trabalho em equipe, como forma de estimular a cooperação, a escuta ativa e a fluência comunicativa em grupos diversificados; • Trabalhe a comunicação oral como ferramenta de preparação para o mundo do trabalho, estimulando os alunos a desenvolver suas habilidades de comunicação em entrevistas, reuniões e apresentações em público.

21 E-book Revista Appai Educar Mesmo com todas essas sugestões e ações positivas, não podemos esquecer que a oralidade também pode ser afetada por diferenças socioeconômicas e culturais entre os discentes. Estudantes de contextos desfavorecidos podem ter menos exposição à linguagem oral rica e enfrentar dificuldades para se expressar e compreender conceitos complexos. Da mesma forma, pessoas de origens linguísticas diferentes podem enfrentar barreiras na comunicação oral se o idioma falado na escola for diferente de sua língua materna. No entanto, independente dos níveis de ensino, assegura Mônica Tavares, é fundamental que haja o estímulo da comunicação oral em diferentes contextos, criando oportunidades para a prática da escuta ativa e promoção de atividades lúdicas e complexas que possam contribuir para o desenvolvimento das habilidades comunicativas dos alunos em diferentes níveis. Para Fernanda Lessa, a oralidade ganha destaque na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, por meio de atividade lúdicas, tais como trava-línguas, canções, leitura de um texto em voz alta (com as entonações adequadas) e declamação de um poema. Já nos anos finais do Ensino Fundamental e em todo o Ensino Médio, entram em cena a construção do gênero tutorial; a participação em um júri simulado; a entrevista para um suposto emprego; o discurso em uma assembleia. “Por ter um papel de destaque nas relações interpessoais e na formação da subjetividade, a oralidade deve ser, desde a pré-escola até o ensino secundário, explorada em todas as suas infinitas possibilidades, já que é considerada o cerne da elaboração da subjetividade de cada ser humano”, finaliza a educadora.

22 E-book Revista Appai Educar Por Antônia Figueiredo e Jéssica Almeida Fontes: *Mônica Silva Tavares é professora de Língua Portuguesa, membro da equipe de Coordenação de Áreas de Conhecimento (Cooarc), da Superintendência Pedagógica da Seeduc. Atuando como especialista na Área de Linguagens (Língua Portuguesa), que pertence à Subsecretaria de Gestão de Ensino (Subgen) da Seeduc/RJ. *Fernanda Lessa tem doutorado em Estudos de Linguagem, é Mestra em Letras, ministra palestras, oficinas e cursos on-line, além de atuar como Secretária Executiva do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e como Redatora do Ensino Fundamental na Secretaria Municipal de Educação, ambos em Duque de Caxias. Contato: drafernandalessap@gmail.com. Fotos: Banco de imagens gratuitas do Pexels e Freepik.

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