Revista Appai Educar
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Artigo
Andrea Gouvêa Vieira
Andrea Gouvêa Vieira
Jornalista, ex-vereadora do Rio de Janeiro
No artigo da edição passada falei sobre
o seminário realizado em novembro de
2015 pelo Instituto Lemann e Univer-
sidade de Columbia, em Nova Iorque,
a respeito de novas práticas na admi-
nistração pública no Brasil, com foco na
Educação. No painel sobre o Futuro do
Aprendizado destaquei a apresentação
do professor Paulo Blikstein, da Uni-
versidade de Stanford, desmistificando
a ideia de que, para ganhar escala e
baratear os custos, os cursos
on-line
fariam a revolução da Educação.
Assim como o professor Blikstein, ou-
tros participantes do painel, como Eric
Berttinger, também de Stanford, e Fer-
nanda Rosa, pesquisadora em Colum-
bia, mostraram pesquisas indicando a
impossibilidade do aprendizado sem a
presença do professor na sala de aula.
Entre outras conclusões, o professor
Berttinger mostrou que os resultados
do aprendizado
on-line
são piores do
que os alcançados no ensino presencial
e que essa opção de uso da tecnologia
em substituição ao professor, para
atingir os alunos mais pobres, na ver-
dade pode agravar a desigualdade.
Berttinger terminou com uma pergunta
provocativa: “Quem sabe substituímos
os estudantes por robôs”?
Já Fernanda Rosa mostrou o desper-
dício dos investimentos feitos com
recursos federais em tecnologia da
Educação. Num trabalho de visita a
escolas que receberam laboratórios
de computadores para uso dos alu-
nos, ela mostrou a subutilização e a
impossibilidade de manutenção destes
equipamentos.
Mas vou relatar a contribuição dada
ao seminário pelo secretário de Edu-
cação do Estado do Amazonas, Ros-
sieli Soares, que, ao falar por último,
deixou surpresos e boquiabertos os
participantes do seminário. Não que ele
tenha exposto uma tese contrariando
os achados anteriores, mas porque
mostrou que, em determinadas cir-
cunstâncias, a tecnologia pode ser a
única tábua de salvação.
Com uma apresentação simples e
nada “tecnológica”, mas com fotos,
números e uma fala bem-humorada,
o secretário contou como está levando
os ensinos Fundamental e Médio a mi-
lhares de crianças – precisamente 50
mil dos 450 mil alunos do Amazonas,
através de cursos
on-line
. Em muni-
cípios como o da região da Cabeça
do Cachorro, onde a merenda escolar
leva 100 dias de barco para chegar
(“Hoje está saindo de Manaus o bar-
co levando a comida para o mês de
março de 2016”, afirmou), agora tem
aula de Matemática, Física e Biologia.
Obviamente nessas cidades que ficam
a cinco, sete horas de avião, não há
professores especialistas. Então, a
única saída é usar a tecnologia para
levar a informação.
“Evidentemente, onde não há professo-
res, não há substituição. E onde 52%
dos docentes existentes não passam
na prova destinada aos alunos, o jeito
é usar as ferramentas que a tecnologia
disponibiliza”, ressaltou o secretá-
rio. Assim, o governo do Amazonas
montou um grande centro de ensino
tecnológico em Manaus, de onde são
transmitidas as aulas de disciplinas
específicas, com a presença de um
especialista. Nos municípios, naquele
mesmo momento, estão os alunos nos
centros de ensino locais, acompanha-
dos por um professor da cidade, que
acompanha a aula, ajuda os alunos no
entendimento da matéria e na formu-
lação das perguntas.
Realmente impressionou o relato do se-
cretário Rossieli. E, quando voltar para
o Brasil, vou lá, na Cabeça do Cachorro,
para ver essa maravilha funcionando.
Quando só
a tecnologia
salva